Saga Sillentya: as Sete Tristezas escrita por Sunshine girl


Capítulo 14
XIII - Lendas antigas


Notas iniciais do capítulo

oie!!!

demorei de novo, mas voltei!!

capítulo que conta a origem dos Mediadores!!

Boa leitura!!



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Capítulo XIII – Lendas antigas

 

 

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A água quente escorria por minha pele, levando junto com ela todas as minhas tensões. Eu tentava ao máximo esquecer todas as minhas preocupações, esvaziar minha mente, e por alguns minutos fugir de toda essa loucura que era a minha vida há pouco mais de um mês.

 

Fechei o chuveiro e imediatamente as tensões voltaram; Realmente eu não podia fugir daquilo por muito tempo. Enrolei-me na toalha e tratei de limpar o vapor de água quente que havia se acumulado no pequeno espelho acima da pia.

 

Fitei meu semblante, e constatei que havia algo diferente em mim. Talvez fosse apenas a minha imaginação, talvez não.

 

Observei minuciosamente cada detalhe novo que havia sido empregado em meu rosto. Meus olhos não mais estavam opacos ou sem qualquer vida. Minha pele ainda estava tão alva quanto a neve, porém um leve rubor destacava-se nas maçãs de meu rosto.

 

Meus lábios voltavam-se em um singelo sorriso, e todo a minha face possuía uma nova cor, novas feições. Talvez as emoções estivessem expostas em minha pele translúcida e refletissem o meu novo estado de espírito. Como um espelho para a minha alma.

 

Algo diferente brotara dentro de mim naqueles dias, algo bom, que eu jamais carregara comigo durante toda a minha vida.

 

Suspirei perante o meu reflexo e ainda enrolada na toalha, deixei o banheiro, dirigindo-me até meu quarto.

 

Vesti-me rapidamente, secando meus cabelos em seguida. Voltei ao banheiro, onde escovei meus dentes. Depois, atirei-me sobre a cama, disposta a fazer o dever de casa e cansada demais para tentar ocupar minha mente com qualquer outra coisa, eu dormiria.

 

Abri meus cadernos, e enquanto eu tentava focar toda a minha atenção nas tarefas, minha mente disparava para bem longe dali. Eu a sacudia, tentava reorganizar meus pensamentos, lembrar-me do que estava fazendo, mas era uma batalha perdida. Eu não conseguia conciliar o que eu queria fazer com o que eu precisava fazer.

 

E eu confesso que foi com muito esforço que eu acabei por terminá-lo.

 

Guardei meu material novamente na mochila, apaguei a única incidência de luz naquele quarto, o abajur em cima do criado-mudo, e enrosquei-me debaixo do edredom.

 

Meus olhos vagavam pelo meu quarto silencioso. E naquele momento eu só desejava uma única presença ali; Eu ainda esperava por sua visita, como ele havia me dito pouco antes de se retirar da loja de minha mãe.

 

Inconscientemente, minhas mãos flutuaram até a gaveta do criado-mudo, buscando, ansiosas, pelo pequeno pedaço de tecido que ele deixara comigo pela tarde, para estancar um pequeno sangramento em meu dedo.

 

Claro que eu o havia limpado, removendo a minúscula mancha avermelhada dele. Mas, ainda assim ele aquele pequeno pedaço de tecido conseguira guardar o seu cheiro.

 

Aproximei o tecido de meu rosto, aspirando o cheiro que ficara impregnado nele. E era exatamente como eu lembrava, minha memória conseguira guardar aquele pequeno detalhe seu, que fazia tanta diferença para mim.

 

E fiquei a contemplar aquele pequeno pedaço de pano que lhe pertencia. Pressionei-o contra o meu peito, cerrando meus olhos. Relaxei meu corpo, tentando fazer com o que o sono chegasse.

 

E adormeci algum tempo depois.

 

Logo, a dimensão dos sonhos se mostrara para mim; E eu adentrei nela, distanciando-me da realidade.

 

A escuridão envolveu-me, e por poucos segundos, tudo fugiu de meus olhos.

 

Devo ter perdido a conta de quanto tempo permaneci exatamente envolta naquela escuridão, antes que ela me deixasse novamente e eu visse o estranho cenário diante de mim.

 

Só então me dei conta de que estava de olhos fechados. Decidi abri-los a fim de enxergar a verdade, e onde minha imaginação fértil havia levado-me agora.

 

E me surpreendi com o que vi.

 

Olhei em derredor, analisando minuciosamente aquele ambiente novo e estranho. Ponderei por alguns segundos, enquanto perguntava-me onde estava.

 

Aquele local não era parecido com nada do que eu já tivera visto na vida. Lembrava-me mais uma construção antiga, de estilo e arquitetura clássicos.

 

Meus olhos moveram-se do assoalho lustroso e brilhante até as gigantes pilastras de pedra branca polida que sustentavam o anguloso teto.

 

Havia tantos detalhes incrustados nelas, tantas formas, tão bem desenhadas e elaboradas.

 

E só então eu percebi que me situava em um imenso salão. Não havia ninguém por perto, nenhuma presença lá.

 

Minha curiosidade atiçou-me, e meus pés moveram-se até um dos grandes alicerces. Eu ainda não acreditava na perfeição daquela construção.

 

Toquei com meus dedos as linhas em alto-relevo que compunham os desenhos. Reconheci o que seria a figura de um homem. Pelo menos a meus olhos pareceu-me ser isso.

 

Notei que em seu encalço estava um exército gigantesco, todos os guerreiros portando as suas espadas e seus escudos.

 

O mais estranho naquela figura era o adversário daquele general, – julguei-o como tal, por estar na liderança – havia uma diferença considerável entre eles.

 

Talvez fosse o fato de que aquele exército esmagador lutaria contra apenas um homem.

 

Que tolice, pensei comigo mesma, que tipo de pessoa teria coragem suficiente para peitar um exército todo?

 

Bufei, eu estava presa a um sonho, e ainda assim não conseguia esquecer-me de histórias tão absurdas quanto as que eu estava acostumada a ouvir nas aulas de história.

 

Meus dedos deixaram o desenho, e minha curiosidade mais uma vez impulsionou-me a percorrer cada centímetro daquele salão.

 

Devo tê-lo circulado por várias vezes, e cansada de explorá-lo, decidi procurar por uma saída daquele silêncio mortal.

 

Rondei-o novamente, buscando uma passagem, uma porta, qualquer coisa que me desse acesso à outra parte daquela construção.

 

E como na maioria dos sonhos, a porta apareceu como mágica diante de mim. Minha mão moveu-se até a maçaneta dourada, empurrando-a, e notei que ela também possuía vários detalhes incrustados na madeira avermelhada, e então ela abriu-se.

 

Meus olhos curiosos, imediatamente trataram de varrer aquele novo ambiente em busca de algo interessante. E para a minha total surpresa, e diferentemente do salão de outrora, aquele local não estava desabitado, muito menos silencioso.

 

O estilo clássico ainda predominava, porém havia algo de diferente ali, talvez fosse a mobília, as sete cadeiras acolchoadas, todas em tons escuros, com ouros e pedras preciosas incrustados em suas estruturas chamava e muito a atenção.

 

Lembravam na verdade a tronos, tamanho o seu luxo e beleza. Mas todos estavam vagos, vazios.

 

Havia pinturas nas paredes, todas belíssimas, coloridas, retratando paisagens, palacetes antigos, e rostos que eu jamais vira.

 

Porém, meus olhos não se prenderam a isso também, porque o que na verdade chamara a minha atenção desde que eu pusera os olhos naquele novo ambiente, estava em seu centro; Sete figuras misteriosas, envoltas em mantos luxuosos de um vermelho escarlate.

 

Eles formavam uma espécie de círculo, todos estavam de mãos dadas, enquanto que seus semblantes eram ocultados pelo capuz do belo manto rubi.

 

Meus ouvidos trataram então de captar os sons que eles emitiam, era um tipo de reza sincronizada e estranha. Todos diziam aquelas palavras ao mesmo tempo, em uníssono, enquanto as estranhas palavras eram despejadas naquele ambiente silencioso, quebrando-o, rompendo-o por definitivo.

 

Adentrei vagarosamente a aquele ambiente, impelida por minha curiosidade. Como nenhum deles tornava os seus olhos para a minha figura, julguei ser um daqueles sonhos em que tudo o que você faz é testemunhar, presenciar. E só então notei que eu havia me enganado; uma das sete figuras não estava de mãos dadas às outras, pelo contrário, concentrava-se um pouco mais afastado dos demais, no centro do círculo, embora seus lábios movessem-se, murmurando sua reza mal audível a meus ouvidos.

 

Olhei ao meu redor novamente e espantei-me com o que vi, havia muitas figuras em mantos vermelhos, espalhadas por todo aquele salão, recostadas às paredes, porém, em total silêncio.

 

Seus olhos permaneciam fixos e vidrados no ato que acontecia no centro daquele salão.

 

 Meus pés arrastaram-se até o meio daquele salão, onde a cena inusitada desenrolava-se. Tentei observá-los através das frestas de seus corpos, e notei que aquela única figura que não permanecia de mãos dadas aos outros, tratava-se de um ancião.

 

Ele era o único ali naquele círculo a não usar seu capuz, mas era estranho que seu rosto a meus olhos parecesse distorcido, como se minha vista estivesse embaçada.

 

Tudo o que eu podia memorizar de seu semblante eram os olhos azul-celestes, penetrantes, frios, como duas safiras brilhantes. E os cabelos grisalhos e lisos, penteados cuidadosamente para trás.

 

Não podia ver mais nada.

 

Circulei-o, só então notando o objeto que estava contido em suas mãos; uma longa e afiada lâmina prateada, com desenhos em alto-relevo em sua bainha e em seu cabo.

 

Só então cheguei à constatação de que aquilo devia ser um ritual. E um calafrio percorreu todo o meu corpo no mesmo instante.

 

Distanciei-me do ancião, circulando sua figura pela direita. E então fiquei completamente sem reação.

 

Porque eu finalmente descobri o que aquelas sete figuras circulavam, eu descobri o centro de seu círculo e arrependi-me de tê-lo feito quase que imediatamente.

Porque acorrentado a uma mesa de madeira negra, circular, estava um homem.

 

Seus pulsos e tornozelos eram tomados pelos grilhões de ferro, prendendo-o a estrutura da mesa, enquanto aqueles estranhos seres pareciam submetê-lo a uma espécie de tortura.

 

Aquela era a única explicação para o que meus olhos testemunhavam, o modo como seus globos oculares giravam em suas órbitas, de forma enlouquecida, agonizante.

 

E seu corpo retorcia-se sobre a estrutura da mesa, suas costas arqueavam-se, e ele tentava debilmente liberar seus pulsos, puxando-os, e seus movimentos eram limitados pelas correntes grossas.

 

Vi que enquanto as tenebrosas figuras murmuravam suas rezas ao seu redor, o homem contorcia-se. Era algo apavorante de se olhar.

 

Demovi meus olhos da cena, tornando a fitar as figuras silenciosas no canto daquele imenso salão.

 

Meus orbes percorriam de forma atenciosa cada figura enfileirada naquela parede. Nenhum daqueles semblantes chamava a minha atenção, nenhum deles era conhecido ou familiar. A não ser por um.

 

Meu olhar deteve-se no rosto impassível, nos olhos indiferentes, fitando o chão lustroso daquele salão. Suas feições inflexíveis, rígidas em nada mudaram quando o coro de vozes exaltou-se, subindo várias oitavas enquanto a reza aumentava o seu ritmo, passando a ser pronunciada de forma poderosa.

 

Aquele era o semblante que me trazia mais paz, felicidade e bem-estar agora. Aquele era o semblante que iluminava os meus dias nebulosos, e trazia o sol para o meu mundo nublado.

 

Porque quem estava ali, assistindo a toda aquela cena, indiferente a tudo o que estava acontecendo, era Aidan.

 

Por um momento eu o temi. Temi-o mais do qualquer coisa que em toda a minha vida.

 

Todo o meu ser o temia e queria afastar-se dali o mais rápido possível. Fugir daquele ambiente, fugir daquela loucura.

 

Mas eu não pude.

 

Porque no instante seguinte, o ritual chegava ao seu ápice, o coro subiu mais algumas oitavas, as palavras eram proferidas com velocidade pelas figuras em mantos vermelhos, e o ancião no meio do círculo retirava lentamente a lâmina da bainha, o som metálico ecoando por todo o salão.

 

E enquanto ele a levantava acima de sua cabeça, mirando o corpo daquele pobre homem que ainda se retorcia de dor, eu quis despertar, quis abrir meus olhos e sair daquele lugar.

 

Mas antes que eu pudesse, três palavras da estranha língua foram pronunciadas em alto e bom tom pelo ancião e memorizadas por mim. Poucos antes que seus dedos fechassem-se ao redor da lâmina prateada e ela descesse com velocidade, rasgando o ar ao seu redor e encontrasse o seu alvo.

 

- Sarva sotros terpirás!

 

 

Meus olhos abriram-se, então eu soube que havia despertado. Porém, antes mesmo que eu pudesse sequer respirar aliviada, algo se moveu nas sombras, sobressaltando-me.

 

 

Sentei-me na cama, alarmada pelo possível perigo, e pronta para gritar, porém a sombra misteriosa revelou-se para mim, recuando das sombras e então eu soltei todo o ar que havia armazenado para gritar.

 

Era Aidan.

 

- Desculpe se a assustei. – murmurou ele um pouco receoso.

 

Repousei minha mão sobre meu peito, meu coração martelava violentamente contra ele. Cerrei meus olhos e tentei diminuir a minha respiração.

 

- Tudo bem. – eu o desculpei e então algo me ocorreu – Como você entrou? – eu questionei, ainda sobressaltada.

 

Fitei sua face, ele devia estar se divertindo muito às minhas custas. E quando ele sorriu, eu desisti daquela idéia.

 

- Não, espere! É melhor que eu não saiba.

 

- Como quiser. – respondeu-me ele ainda se divertindo.

 

Bufei no escuro e só então percebi que meus dedos agarravam de forma possessiva o lenço que ele havia deixado comigo pela tarde. Eu ainda não fazia questão de lembrar do sonho de agora pouco, muito menos de tentar desvendá-lo.

 

Tornei meus olhos sobre sua figura, minha curiosidade cintilando em meu semblante.

 

- E por que você está aqui? – perguntei-lhe um pouco receosa de que ele se ofendesse com a minha pergunta.

 

Sua face desmoronou, e a decepção surgiu em seu lugar.

 

- Quer que eu vá embora? – perguntou-me ele, a voz um pouco tristonha.

 

- Não! – exaltei-me e ele sorriu novamente, então tratei de corrigir minha gafe – Quer dizer, bem, eu só queria saber o motivo de sua visita. Não parece haver perigo aqui. – comentei de forma irônica.

 

Ele riu novamente.

 

- Só queria me certificar de que você estava bem, e eu devo lembrá-la de que a alertei de minha visita.

 

- Eu só não esperava que você fosse aparecer no meu quarto à noite, enquanto eu dormia. – expliquei o meu lado para ele.

 

Aidan sorriu, e então deu um passo na minha direção. Ele hesitou, e depois deu outro passo. Ajeitei-me na cama, como que para incentivá-lo, e deu certo, ele deu mais um passo e depois se sentou nos pés da cama.

 

Seu olhar estava um pouco cauteloso, como se estivesse se certificando de que não havia hesitação de minha parte. Mas eu estava segura, e ele notou isso.

 

Seus olhos desviaram-se dos meus por longos segundos, fitando o nada. E o silêncio que se instaurou ali me incomodou.

 

Eu estava prestes a rompê-lo, mas ele foi mais rápido e sua voz soou firme e decidida.

 

- Devia voltar a dormir.

 

- Estou sem sono e além do mais tive um pesadelo, não acho que eu consiga voltar a dormir tão cedo.

 

- Que pesadelo? – perguntou-me ele, a curiosidade tinindo em sua voz.

 

- Nada demais, foi apenas um pesadelo. – tentei mudar o rumo da conversa, eu ainda não queria que as lembranças daquele sonho estranho preenchessem minha mente.

 

Aidan pareceu contentar-se com isso, baixou seu olhar novamente.

 

- Ainda acho que você devia voltar a dormir. – murmurou ele.

 

Eu sorri e depois decidi cutucá-lo, a fim de descobrir mais sobre ele.

 

- Olha quem fala, nunca te vejo dormindo. Você é quem devia dormir um pouco.

 

Ele mordeu minha isca e sorriu instantaneamente.

 

- Eu não preciso de tantas horas de sono quanto você.

 

- Então você dorme? – eu o questionei, apenas para confirmar o que ele havia dito.

 

- Sim, mas não com tanta freqüência.

 

- Isso é estranho. – concluí – Você não precisa comer, mas ainda assim precisa descansar o corpo.

 

Ele deu de ombros e prosseguiu.

 

- Você descansa o corpo enquanto dorme, e nem mesmo eu sou de ferro.

 

- Claro! – exclamei, divertindo-me com ele – Ninguém é de ferro.

 

Ele sorriu e depois insistiu mais uma vez naquele assunto.

 

- E agora, está pronta para voltar a dormir?

 

- Ainda não. – murmurei de forma despreocupada. Na verdade eu me sentia como aquelas crianças teimosas que não querem dormir de maneira nenhuma e cujos pais só faltam ajoelhar e implorar para que elas concedam o seu desejo.

 

- E o que quer fazer então? – perguntou-me ele, acho que no fundo ele ainda esperava que eu me desse por vencida e voltasse para a dimensão dos sonhos, vãs esperanças.

 

Ponderei por alguns segundos até que me lembrei de um fato.

 

- Quero saber a origem de sua espécie. – murmurei de forma decidida, disposta a dissuadi-lo daquela idéia de fazer-me dormir.

 

Aidan pareceu um pouco relutante no inicio, mas depois se rendeu com um longo suspiro.

 

- Muito bem então. – concordou ele – pelo quê quer começar?

 

Fui categórica quando respondi.

 

- Quem foi o primeiro de vocês?

 

Sua resposta também foi objetiva.

 

- Salazar.

 

- E qual a história por trás de todos vocês?

 

- A história que conta a origem de minha raça é apenas uma. E é difícil dizer exatamente quando o primeiro de nós nasceu.

 

Ajeitei-me novamente, preparando-me para ouvir a história que seria contada.

 

- Tudo o que sabemos é que foi em uma época remota, em era de trevas e destruição. Eu disse a você anteriormente que os antigos eram espíritos do caos e que eles vagavam livremente pelo plano dos mortais. Não havia restrições, não havia nada que pudesse limitar seu poder de destruição. Então a humanidade vivia sob um pesado jugo, sempre oprimida pelo poder de destruição desses espíritos.

“Até que um homem chamado Riguran cansou-se de tanta opressão e caos e tomou uma ousada iniciativa. Riguran iniciou uma longa jornada até o local onde os espíritos habitavam e fez um pacto com essas estranhas formas de poder. Em troca da ajuda desses espíritos para deter os antigos, Riguran permitiria que eles usassem o seu corpo como um recipiente, concedendo a sua própria carne como preço a ser pago.

Claro que os espíritos aceitaram a oferta e assim teve inicio uma das maiores guerras que a humanidade já presenciou. Que culminou é claro com a derrota dos antigos e o seu banimento para o plano espiritual. Diz a lenda que a partir daquele dia houve separação entre os dois planos, e que os espíritos aliados de Riguran atravessaram a fronteira para se certificar de que nenhum deles conseguiria regressar para o plano físico.

Desde aquele dia então, os antigos passaram a serem subjugados à vontade e ao desejo de Riguran. Sempre que ele os chamasse, eles viriam, e lutariam suas batalhas”.

 

- Mas, você disse que o primeiro Mediador foi Salazar e não Riguran. – eu o interrompi, confusa.

 

Aidan sorriu de uma forma completamente maravilhosa e então me explicou.

 

- E é verdade. Riguran foi aquele quem fez a diferenciação entre os dois planos, aquele quem derrotou e baniu os antigos. E você não permitiu que eu continuasse a história. – ele reclamou.

 

- Desculpe, prossiga.

 

- Depois da batalha, Riguran notou que algo dentro dele havia mudado, talvez depois de tantas concessões por sua parte aos espíritos, eles realmente o tivessem mudado. E Riguran jamais voltou a ser o que era.

“Ele notou que com o passar dos anos, seu corpo não envelhecia no mesmo ritmo que os demais ao seu redor. Ele não sentia fome, raramente dormia, havia aprendido o idioma dos espíritos, e o principal de tudo, ele havia ganhado o dom de manipular a energia de tudo o que flui ao seu redor.

Séculos se passaram e Riguran ainda se encontrava no auge de suas forças e de sua juvenescência quando seu primeiro filho nasceu, Salazar. Riguran percebeu que o filho apresentava os mesmos dons e habilidades que ele, porém um pouco modificados. Salazar foi o primeiro Mediador, pois foi incubido de continuar o legado de seu pai, escolhido para proteger e manter esse equilíbrio que foi estabelecido entre os dois planos.”

 

- Então Salazar era o filho primogênito de Riguran, – concluí – e aquele que também foi designado para manter o equilíbrio entre o plano físico e o espiritual.

 

- Exatamente.

 

- E o que houve depois? – eu o questionei.

 

- Depois de muitos séculos após a batalha, Riguran faleceu e seu filho permaneceu em seu lugar. Dizem que esse fardo foi passado de pai para filho por muitas vezes. E foi nessa época também que os humanos começaram a nos servir. Eu não gosto de comentar sobre esse período, muito menos concordo com o que eles fizeram. Foram muitos anos de sofrimento e perdas para a sua raça. Até...

 

Ele fez uma pequena pausa e seus olhos voltaram para a minha face, seus lábios projetando-se em um singelo sorriso.

 

- Até que um de vocês iniciou a rebelião. Foram épocas difíceis e batalhas incessantes, mas finalmente vocês derrotaram o último descendente direto de Riguran, Paladium.

 

- E o que houve depois? Com o último descendente de Riguran morto...

 

- É claro que aquela altura nós já éramos muitos e sobreviveríamos. Mas depois que os humanos conseguiram livrar-se de nosso jugo, teve inicio a Era das Sete Tristezas. Onde os sete Mediadores mais poderosos assumiram o dever de manter o equilíbrio e fundaram Sillentya, jurando nunca mais importuná-los. E então eles passaram a serem chamados de As Sete Tristezas e tem sido assim desde então.

 

- Então foi isso.

 

- Sim, e como vocês já haviam sido libertos de nosso regime de servidão, nós achamos melhor não mais importuná-los, temendo uma batalha como a de outrora. Então, nós simplesmente nos afastamos da humanidade, ocultando a nossa existência até os dias de hoje, enquanto todos aqueles anos atribulados eram apagados das memórias de todos vocês, nas nossas elas jamais foram esquecidas, pelo contrário, ensinou-nos a respeitá-los. E nós ainda nos encontramos assim, esquecidos, com nossas existências completamente ocultadas, embora nossas funções ainda sejam executadas e nosso dever seja mantido.

 

- E onde exatamente fica Sillentya? – perguntei-lhe.

 

- Em Roma. – respondeu-me ele tranqüilamente.

 

- Roma? – eu repeti, um pouco confusa – Pensei que você tivesse vindo de Nápoles. – comentei, lembrando-me da primeira informação que eu conseguira obter dele.

 

Aidan riu levemente e depois me explicou.

 

- Eu gosto de Nápoles, de certa forma é aonde eu passo a maior parte do tempo.

 

- E por que você não fica em Roma com todos os outros?

 

- Eu também não entendo isso. – confessou-me ele – Embora eu esteja preso a esse mundo pelo resto de minha vida, tanto por minha lealdade quanto por minha gratidão, acho que não consigo parar de almejar que um dia eu simplesmente me liberte dele.

 

Entendi o que ele estava dizendo, como ele mesmo dissera para mim uma vez, ele jamais encontraria o que deseja nesse caminho, embora ele saiba que jamais poderá livrar-se dele.

 

- Eu entendo. Mas você ainda não me explicou por que Roma.

 

- Meu mentor gosta de Roma, ele gosta de relembrar a queda do Império Romano e a morte de César.

 

- Vocês... vocês tiveram algo a ver com a morte de Júlio César? – perguntei, incrédula.

 

- Quem você acha que influenciou Brutus e o senado a traí-lo e assassiná-lo?

 

Mantive minha expressão tomada pelo choque. Em quantos outros fatos históricos eles estiveram envolvidos?

 

- E então, pronta para voltar a dormir? – sua voz rompeu todos os meus pensamentos, e ele ainda insistia na idéia de que eu deveria voltar a dormir.

 

- Só mais uma pergunta. – tentei enrolá-lo mais um pouco.

 

Aidan assentiu e eu finalmente lhe perguntei aquela dúvida que estava me corroendo desde que eu acordara de meu pesadelo e o vira em meu quarto, vigiando-me.

 

- Por que exatamente você estava aqui?

 

Ele pareceu um pouco relutante, mas como em todas as outras vezes pareceu ceder.

 

- Eu quero protegê-la, Agatha, de tudo o que possa machucá-la.

 

- Mas, esse não é o seu dever. – murmurei tranqüilamente – Sua única função em South Hooksett é deter esse desertor.

 

Ele riu novamente antes que pudesse se explicar.

 

- E eu já não lhe disse que agora estou fazendo o que quero e não apenas cumprindo ordens.

 

Senti uma pontada de felicidade naquele momento. Ele se preocupava comigo e o mais importante, queria a todo custo proteger-me.

 

Deslizei até a ponta da cama onde ele se encontrava, peguei em suas mãos novamente e depositei nelas o lenço que ele havia deixado comigo pela tarde.

 

Fitei seu semblante no escuro, seus olhos ainda estavam cautelosos, porém havia um brilho diferente neles.

 

Voltei para a cabeceira da cama e ajeitei-me sob as cobertas novamente, recostando minha cabeça no travesseiro.

 

E sua voz ecoou pelo meu quarto mais uma vez.

 

- A partir do momento que você foi envolvida nessa história, Agatha, isso se tornou pessoal para mim. E o seu bem-estar é a minha prioridade agora.

 

- Entendo. – murmurei, e então bocejei.

 

- Bons sonhos. – ele me disse.

 

Sorri uma última vez e então adormeci novamente, e em sua presença, aqueles estranhos pesadelos não voltaram mais a me incomodar. E mais uma vez eu dormi uma noite tranqüila, sem sonhos. Sendo que em meus pensamentos o seu semblante prevalecia, afastando todos os meus temores e toda a minha solidão.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

ahhhh mais um pouco foi revelado!! se bem q falta tanto ainda!!! RSRSRSRS

e atenção aos sonhos da Agatha, eles revelam muito da trama da fic!!!

obrigada a Sonhadora Girl por recomendar a música Bring me to Life do Evanescence para a fic!!! menina, vc tá certa, a música é perfeita pros dois!!! brigadin!!!

quem quiser recomendar uma musica pra fic é só mandar o nome e a banda!! só faço uma unica exigencia: que seja internacional!! (eu não vou muito com a cara das nacionais)

e bem a letra tem que combina com o Aidan e a Agatha...então se alguém tive uma sugestão é só mandar!!!

próximo capítulo preparem as almofadas do medo, pq o terror aparecerá aqui mais uma vez!! ainnn q medo!!

RSRSRSRS

Até a próxima!!!

Beijosss