Saga Sillentya: as Sete Tristezas escrita por Sunshine girl


Capítulo 1
Prólogo - A Despedida


Notas iniciais do capítulo

Mais uma fic de minha autoria, bem longa, dividida em cinco partes, porém recheada de muito mistério, suspense, aventura, ação e romance!
Espero que gostem!!
Boa Leitura!!



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A Despedida

 

 

 

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Por que existimos, afinal?

 

Essa é uma pergunta que eu me faço constantemente, sempre que olho para dentro de mim mesma e vejo apenas o vazio...

 

Eu não costumava levar tão a sério a resposta dessa pergunta, pelo menos até alguns meses atrás.

 

Eu costumava ver o mundo com meus próprios olhos, a minha própria maneira, sempre observando o tempo passar como uma mera telespectadora. Nunca reagindo às forças que sempre me rodearam e que sempre agiram sobre mim. Era exatamente assim que eu costumava ser, alguém invisível, alguém ignorado, alguém que não existi.

 

De certa forma eu consegui envolver a mim mesma com meus medos e meus segredos mais obscuros, formando uma capa “mágica”, se é assim que preferir chamá-la, e isso é o que mantém todas as pessoas normais afastadas de mim, digo normais porque elas vivem por algum motivo, elas respiram por alguma razão, elas reagem a tudo o que está em volta delas, mas eu, eu existo apenas por existir, vivo apenas por viver, respiro apenas por respirar. E eu devo a essa manta sombria de infelicidade e remorso o fato de que ninguém tenta aproximar-se de mim, antes que elas o consigam na verdade, minha aura negra as afasta como as cargas similares de dois imãs.

 

Eu sempre esperei que minha vida seguisse o seu curso monótono e infeliz até o dia de morte, e não haveria o quê passar diante de meus olhos quando eu enfim estivesse no meu leito de morte, simplesmente porque não haveria nada para passar. Eu poderia fazer as mesmas atividades que qualquer pessoa comum realizaria, eu ia a escola todos os dias, quase nunca matava aula, aplicava-me aos estudos, ajudava minha mãe em sua floricultura, embora eu odiasse flores, talvez porque elas conseguissem transmitir para mim paz de espírito e beleza, e essas duas coisas sempre conseguiam afugentar a nuvem negra e chuvosa que entorpecia toda a minha alma e o meu corpo. Tinha planos de seguir para a faculdade, e então trabalhar, ter as minhas próprias coisas, mas nunca ter uma família. Em meus sonhos para o futuro, eu me via velha e grisalha, enrugada, mas totalmente solitária, largada em um leito frio ou em uma velha cadeira de balanço, esperando que a morte viesse buscar-me... Tudo isso graças a minha manta “mágica”.

 

Sem aquela manta sombria eu sabia que não poderia sobreviver no mundo real, eu estava protegida sob aquela capa, ainda que só e vazia, mas completamente segura.

 

Cada célula do meu corpo tinha plena consciência daquela floresta horripilante e silenciosa ao meu redor, cada planta viva, cada folha seca levemente depositada no chão, cada rocha fria e dura, cada raiz de árvore, cada animal ali.

 

O ar denso e frio circulava pelas copas das árvores, eu sabia que a falta de sol naquele dia e as nuvens acinzentadas bloqueando qualquer tipo de luminosidade era um presságio do que seria minha vida a partir daquele momento. Eu sabia perfeitamente o que seria de mim depois daquele dia.

 

Meus pulmões sorveram o aroma da floresta, o ar frio e pesado forçou minhas vias respiratórias, comprimindo meus pulmões, a falta de ar que me apanhava era sufocante.

 

E embora minha alma e o meu coração soubessem que o tão temível dia da despedida havia chegado, eu não conseguia dizer adeus. Estive protelando aquele momento por tanto tempo e ainda assim não estava pronta para deixá-lo ir.

 

Elevei meus olhos até a face dele, sua expressão estava serena como sempre, embora eu visse a dor em seus olhos castanhos-escuros, profundos e belos. Os lábios estavam rígidos, traçando uma linha reta, acho que como eu, ele não sabia como dizer adeus.

 

O vento soprou violentamente pela floresta, agitou meus cabelos negros, jogando-os diretamente em meus olhos, cobrindo parcialmente a minha visão. Sua figura parecia imóvel a meus olhos humanos e limitados, mas eu sabia que no segundo seguinte ele ia embora, eu sentia isso no fundo de minha alma sombria.

 

Inconscientemente meus dedos apertaram o pingente redondo que estava em minhas mãos, ela fechou-se em punho e eu poderia ter esmagado a jóia se quisesse. Mas, todo o meu corpo sabia que depois que ele enfim partisse, aquela jóia seria a minha única lembrança de que sua presença em minha vida não fora uma mera ilusão, que eu não havia imaginado todos aqueles meses de felicidade, sim, felicidade, algo que eu sentira pela primeira vez em toda a minha vida.

 

Agindo por instinto eu lancei meu corpo para a frente, minhas mãos ainda em punho tentaram detê-lo, mas eu apenas agarrei o ar, e não seu corpo como era de meu desejo. O choque deixou-me desolada, abatida, meio morta, como se eu tivesse desconectado-me de meu corpo.

 

 E então eu senti uma estranha presença atrás de mim, bem próxima ao meu corpo, estremeci quando senti seus dedos longos mexerem nos fios de meu cabelo, afastando-os de meu pescoço, descobrindo minha orelha esquerda, e então seus lábios aproximaram-se o suficiente para que eu sentisse seu hálito quente enquanto ele sussurrava as palavras que selariam aquela despedida para sempre.

 

Permaneci completamente desnorteada, cerrei meus olhos, inspirando profundamente o aroma da relva, aquilo parecia revigorar-me, devolver-me um pouco da realidade, como alguém que desperta de um sonho pela manhã. Não um sonho bom, mas não um pesadelo também, fico com o meio-termo, pois é exatamente assim que eu defino Sillentya.

 

Um mundo de perfeição, de coisas inimagináveis, encantadoras, belas, atrativas, e ao mesmo tempo, perigosas, hostis, misteriosas e essencialmente poderosas. Um mundo onde nenhum humano sobreviveria, nenhuma pessoa sensata atreveria a colocar os pés, mas que mesmo assim, enfeitiçou-me, encantou-me, arrastou-me para ele. E fez-me mergulhar nele sem o menor temor.  

 

E porque foi naquele mundo de ilusões que encontrei a primeira coisa que pareceu fazer algum sentido em minha miserável existência, aquilo que preencheu meu vazio, que me deu um motivo para continuar respirando, para viver a cada dia, mas, depois que ele partisse o que seria de mim?

 

Seus lábios de veludo sussurraram em meu ouvido, selando aquele momento tão perturbador para mim, o fim havia chegado afinal. E eu podia sentir o vazio arrastar-se até mim outra vez, desejoso por me tragar novamente, loucamente obcecado por devorar minha alma tola.

 

O vento soprou mais uma vez, agitando as folhas secas ao nosso redor, formando um imenso redemoinho que nos cercava por todos os lados, mas a magia estava lá, eu podia senti-la, eriçando os pêlos de meus braços, de minha nuca, arrepiando minha pele gelada.

 

Abri meus olhos para a realidade, eu não estava mais presa e agarrada a minhas ilusões infantis, eu podia enxergar a verdade, embora não quisesse aceitá-la, eu podia vê-la, podia senti-la.

 

A floresta tornou-se silenciosa novamente, sombria e completamente aterrorizante a meus olhos. Minha respiração estava lenta, suave, o torpor impedia-me de sentir o desespero novamente, eu estava tão sem vida como uma pedra, talvez nem mesmo uma pedra pudesse comparar-se a mim naquele momento, rochas costumam serem sólidas, fortes, resistentes, preenchidas em seu interior, mas eu não, eu estava apenas... oca. Não era forte, não era corajosa suficiente, não era um exato modelo de integridade e muito menos tinha algo dentro de mim de que pudesse vangloriar-me. Eu era apenas uma humana, uma tola e solitária humana.

 

Apertei a jóia em minhas mãos quando senti o calor do estranho atrás de meu corpo afastar-se vagarosamente, e então meu mundo desabou, minhas paredes cederam, meu castelo sombrio havia sido desfeito pelas ondas traiçoeiras do mar, e então tudo girou, meus joelhos cederam, eu perdi a consciência, perdi a única coisa que me motivava realmente a continuar essa vida medíocre, perdi aquele que me completava, mas principalmente, eu perdi o grande amor de minha existência vazia e fútil.

 

Enquanto mergulhava naquelas águas profundas e negras, ocorreu-me algo, lembrei-me de como tudo aquilo se iniciara, como aquele vendaval chegara em minha vida, agitando-a, sacudindo-a, colocando meu mundo todo de cabeça pra baixo, demolindo as paredes que sempre me isolaram de todo o restante da população, tirando o efeito daquele sedativo que eu sempre usara para não sentir absolutamente nada, e toda essa mudança chegara até mim com uma simples troca de olhares e um imenso sentimento de gratidão.

 

Oito meses atrás quando eu o conheci, quando eu o vi pela primeira vez, aquele que me tiraria daquelas águas escuras, que me mostraria o seu mundo, um mundo que parecia fazer mais sentido para mim. Oito meses atrás, quando todo esse alvoroço conseguiu despertar-me de meu sono profundo e levar-me para uma nova realidade, ainda que mítica e perigosa, mas uma realidade...

 

Meus olhos embaçados e minha mente atordoada puderam lembrar-se do dia exato em que todas aquelas mudanças aconteceram, uma nova era foi apresentada bem diante de meus olhos incrédulos, um novo alvorecer chegara até mim, encobrindo-me com seus raios cintilantes e calorosos, calorosos o suficiente para que desintegrassem a manta que me cobria, brilhantes o bastante para que cegassem completamente, mas aquela cegueira não era algo ruim. Na verdade, ter os olhos toldados para a realidade é algo bom, escapulir de seus piores medos e de meu próprio mundo sombrio pareceu-me algo bom, na verdade mais do que bom, pareceu-me a minha salvação, embora aquela decisão furtiva tivesse suas conseqüências posteriores.

 

Uma nova dimensão foi apresentada para mim, e em meu sonho mais obscuro eu jamais teria conseguido imaginar tantos mistérios, tantos segredos, tanto poder, como quando eu conheci no mundo de Sillentya, o mundo dos antigos, o mundo dos mediadores, o mundo ao qual ele sempre pertenceu, Aidan Satoya, aquele quem mudou minha vida, minha alma, toda a minha perspectiva, aquele quem mudou o meu mundo e me trouxe para o seu, trouxe-me para Sillentya, o mundo do qual eu nunca mais conseguiria escapar, o mundo que me prenderia com todas as suas correntes e os seus elos, tornando-me sua prisioneira eterna, fazendo-me sua serva de sangue e alma, sua devota mais fiel e cega.

 

Algo em minha vida estava prestes a mudar, algo em mim ganharia um novo rumo, um novo sentido, diferente do qual eu vinha seguindo durante os últimos anos.

 

Porque quando se encontra aquele quem lhe fora predestinado, é quase impossível lutar contra esse destino, e isso eu tive de aprender da maneira mais difícil, isso eu tive de testemunhar por mim mesma.

 

O despertar de minha vida estava para começar, e disso eu podia muito bem me recordar, enquanto meus olhos vagavam entre o real e o absurdo, enquanto minha mente entorpecida rumava a inconsciência, e meu corpo repousava grácil e gentil no tapete de folhas secas naturais e terra úmida.

 

A brisa gélida ainda arrepiava minha pele exposta, as folhas ainda despencavam das árvores altas e imponentes, como uma cascata incessante, caindo sobre meu corpo imóvel, pinicando em meu rosto e em meu braço. Meus dedos fecharam-se novamente contra o pingente oval de rubi em minhas mãos, aquela foi a minha última reação antes de afundar naquelas águas negras e pesadas da inconsciência. E em meu último pensamento ele estava, com sua face serena que eu estava tão acostumada a admirar, e então me rendi a aquela fraqueza, entregando-me de corpo e alma a ela, deixando que ela lentamente me dominasse e dispusesse de mim à vontade .

 

-Não... se... vá... – meus lábios sussurraram pouco antes do torpor assumir de vez o controle sobre minha mente e então eu vi a escuridão, e ela abraçou-me, envolveu-me com seus braços gélidos, selando de uma vez por todas aquela despedida indesejada, e não senti, ouvi ou vi mais nada, apenas a negridão, apenas isso, nada mais...

 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

as músicas que me inspirei para essa fic são pertencentes às bandas, WT(Within Temptation), Nightwish, We are the Fallen e Flyleaf...
em breve retornarei com o 1º capitulo...
Por favor comentem! suas opniões são cruciais para mim!!
Até breve então!!