Dois dias já haviam se passado desde que Renesmee conhecera Jacob.

 

Estava jogada em sua cama, a saia e as anáguas formavam um volume em suas pernas, enquanto seu tórax se afundava no colchão de mola. A longa trança estava caída de seu lado direito. Seus pensamentos flutuavam sem ter mera noção se para onde estavam indo. Quando se depararam com a imagem de um cigano moreno, com olhos estreitos e negros. Renesmee sem perceber, ficou se lembrando dos olhares trocados.

 

— Srta. – Renesmee saltou na cama, caindo sentada. Claire havia lhe dado um baita susto. Teve vergonha de seus pensamentos.

 

— Perdão. – Claire se desculpou.

 

— Me fez um favor. – Renesmee murmurou, grata por ter espantado as lembranças de Jacob.

 

— Seth esta aos prantos, e deseja ver a Srta. – Renesmee sentiu o coração apertar, se levantou as pressas, ajeitando o vestido enquanto descias as escadas.

 

Seth estava de pé, no meio da sala. Os olhos cheios de água. Renesmee não se importou com as roupas sujas, o abraçou. Seth retribuiu, mas logo se soltou.

 

— Russel expulsou os ciganos das terras dele. – Renesmee sentiu algo estranho em seu lado esquerdo, uma pequena e fraca punhalada?

 

— A Srta. Tem que fazer alguma coisa! Eles não podem partir! – Seth secava os olhos com a manga da camisa que um dia já fora branca.

 

— As terras são dele... – Renesmee odiava ter que sucumbir a qualquer um, principalmente a Russel. E ainda não tinha aprendido a dançar.

 

—Vou pensar em alguma coisa. –A moça abraçou novamente Seth.

 

 

 

Alec estava a caminho da casa de Renesmee, estava um tanto indignado por ela ter ido a uma festa cigana, mas o que ele poderia fazer? Se ele tentasse controlá-la, logo ela o descartaria. Não se doma um corcel de primeira, primeiro o faz confiar em ti.

 

 

 

Jacob estava tacando pedras ao longe, não era a primeira vez que alguém os expulsava. Mas dessa vez, tinha algo a mais... Algo que o fazia querer ficar. Sam se aproximou, atirando uma pedra também.

 

— Não vai ajeitar suas coisas? – Jacob olhou para Sam, desdenhando.

 

— Depois.

 

— Carlisle está muito aborrecido de ter que deixar a cidade. – Sam se sentou na grama.

 

— Só mais um burguês. – Jacob deu os ombros.

 

— Estive pensando... Ele deve ser o pai da burguesinha. – Sam concluiu.

 

— Da Renesmee? – Jacob se curvou, pegando mais algumas pequenas pedras.

 

— Ele não deve ter gostado de ver a filha conosco.

 

— Faz sentido. – Jacob atirou a ultima pedra.

 

— Ela é divina. – Sam sorriu, de modo que demonstrava que ele estava interessado.

 

— Sem dúvidas, mas não passa de mais uma burguesa acostumada a ter tudo.

 

— Realmente, tenho tudo o que desejo. – Jacob e Sam se viraram assustados ao ouvir a foz da burguesa. Renesmee sorriu, fechando a sombrinha. Seth estava ao lado dela.

 

— O que fazes aqui? – Jacob observou o colar em seu pescoço, preço por um fitilho de seda vermelho. A pedra era tão marrom e profunda como os olhos da dama que o ostentava.

 

— Soube que Russel os expulsou. – Seth fez sinal para Sam o seguir, ele revirou os olhos mas o seguiu. Ficaram afastados, mas ainda conseguiam ouvir a conversa.

 

— Mandou a filha vir ver se já partimos?-Jacob sorriu. Os seios da Renesmee não são os maiores, mas são tão pálidos que parecem leite.

 

— Filha? Não. Não sou filha daquele crápula. – Renesmee rangeu os dentes.

 

— Então o que queres? – Renesmee tentava não corar, mas era fato que os olhos de Jacob não saiam de seu decote.

 

— Fazer uma proposta. – Jacob ergueu apenas o lado direito dos lábios. – Pensos que, se quiserem ficar, podem acampar nas minhas terras. – Renesmee tinha terras de sobra, seus empregados nem davam conta de cuidar de tudo.

 

— Em troca? – Jacob pensou em Carlisle, ele ficaria feliz.

 

— Vós mi cê me ensinas a dançar. – Renesmee sorriu.

 

— Não. – Jacob não iria se render desse modo. Seria se deixar ser comprado.  A deixaria implorar.

 

— Boa viagem. – Renesmee reabriu a sombrinha, caminhando delicadamente para Seth.

 

Jacob não estava entendendo? Era  só um teste?

 

Seth, sem entender, prendia as lagrimas. Juntou-se a Renesmee, pisando forte na grama, em protesto. Depois de já terem se afastado tempo suficiente, Seth indagou.

 

— Srta. Por quê fez isso? – Renesmee se virou sorrindo.

 

— Não se preocupe, ele vai aceitar. – Renesmee queria ter absoluta certeza, mas dessa fez só tinha duvidas.

 

 

 

Quil estava acabando de limpar o estábulo, quando Claire entrou, trazendo um pedaço de bolo de milho e uma xícara de café. Quil largou a pá, submergindo as mãos no balde de água e as secando na camisa. Claire se sentou em um dos montes de feno.

 

— Deve estar com fome. – Quil ainda não acreditava que ela seria sua.

 

— Claro. – Ele pegou o prato, se sentando ao lado de Claire. – Se tudo correr como espero, dentro de duas semanas a casa fica pronta. – Claire sorriu como uma criança.

 

— Vou começar a fazer o vestido. – Claire se esticou, beijando a bochecha do Quil.

 

— Faça o mais belo que souber. – Claire sorriu, enquanto corria para contar a Renesmee e a Sue.

 

 

Renesmee desceu do cavalo, que Seth ficou de guardar e subiu as escadas, encontrando uma Alice furiosa na varanda.

 

— O que houve? – Renesmee se assustou.

 

— Alec esteve aqui, e não se agradou em nada em saber que vós mi cê estava no acampamento. – Disse Alice raivosa. Renesmee estava deixando Alec escapar. Alice não podia permitir isso, tinha que fazer a irmã casar-se.

 

— Lamento ter gastado os cascos do cavalo. – Renesmee passou por Alice, se desviando da irmã furiosa.

 

— Ele disse que volta amanha. – Renesmee deu os ombros, mas no fundo gostou de saber que o veria amanha.

 

— Srta!- Claire clamou por Renesmee.

 

—Sim? – Renesmee retirava as luvas.

 

-Quil disse que a casa estará pronta em duas semanas.- Renesmee sorriu.

 

— E os moveis? – Renesmee não queria desapontar Claire, só não queria iludir a amiga.

 

— Eu tenho o básico. – Claire tinha o indispensável.

 

— Vão dormir em uma casa de solteiro? – Renesmee sorriu.

 

— Por enquanto. – Claire deu os ombros.

 

— Se Quil não se importar, temos alguns moveis no quarto que fora de Rosalie, pode pegar o que quiser. – Renesmee se direcionou para as escadas, estava cansada.

 

— Srta! Já me deste a terra, e agora me deste os moveis. Nunca poderei lhe agradecer.

 

— Podes sim, apronte meu vestido para amanha. – Claire assentiu. – E o vestido? Já tens?-Claire negou.

 

— Vou usar o tecido que a Srta. me deu. – Renesmee negou com a cabeça.

 

— Se casará de branco. Alice, podes ir a cidade amanha? Poderia comprar os tecidos e visitar Jasper.

 

Alice consentiu, estava querendo pular de alegria, mas segurou a mascara de desdém.

 

— Mas Srta... – Claire ia começar a dizer que não era preciso, que Renesmee já havia lhe dado muita coisa. Renesmee lançou seu melhor olhar ‘de cale a boca’ e subiu as escadas.

 

 

 

Alec se sentou no banco da praça, Demetri o acompanhava, estavam esperando Anita sair da Igreja, queria ver quem era a dama. Alec estava furioso, Renesmee havia ido novamente de encontro aos ciganos e logo todos iriam começar a falar. Ela seria ainda mais falada. Porém, não era só isso que o estava incomodando. Ele estava se sentindo enciumado. Estava sentindo ciúmes de um bando de homens velhos e barbudos.

 

— Vai voltar lá amanha? – Demetri perguntou.

 

— Não vou desistir. – Alec falou entre os dentes.

 

— Ali esta ela. – Alec seguiu o olhar de Demetri, encontrando uma dama de cabelos negros, pele clara  e olhos azuis. Tinha uma bela típica das mulheres européias, era sem duvida linda. Um alinda dama. Mas os cabelos cor de fogo de Renesmee ainda a superavam.

 

— Uma linda dama. – Alec sorriu, vendo a garota se afastar, ela não os havia visto.

 

— Ela é mais acessível que a Cullen.

 

— Talvez eu goste de desafios. – Alec sorriu.

 

 

 

Sam estava inconformado. Por algum motivo desconhecido, ele queria permanecer nessa cidade. Estava tentando convencer Jacob a dar as benditas aulas a Burguesa, quando Carlisle chegou.

 

— O que esta se passando por aqui? – Carlisle  tinha a face calma, sem preocupações.

 

— A burguesa ofereceu as terras dela, e Jacob não aceita.

 

— Ela ofereceu as terras em troca das aulas de dança. Esta querendo provar que pode me comprar. – Jacob falou serio.

 

— E conseguiu? – Carlisle falou sorrindo.

 

— Não com terras. – Jacob continua serio.

 

— Ela só quer aprender a rodar uma saia. – Sam bufou.

 

— Mudaste de idéia em relação a nossa permanência? – Carlisle olhou serio par Sam.

 

— Se todos querem isso, posso querer também. – Jacob ainda não entendia as palavras de Sam, ele não era de mudar tão facilmente de idéia.

 

— Talvez ela sem consiga dançar. – Carlisle deu os ombros. – Poderia ao menos mostrá-la que não pertence a esse mundo. – Carlisle estava apenas blefando, qualquer um pertencia a qualquer mundo. Ele fora um medico antes de conhecer Esme.

 

Jacob pensou nas palavras de Carlisle... Talvez ele devesse mesmo mostrar a linda burguesa que o lugar dela e nos grandes sofás com as anáguas armadas. E não com os ciganos.

 

 

 

Renesmee já estava pronta para ir se deitar. Estava acabando de escovar os cabelos, quando Sue bateu a sua porta. A moça dos cabelos de fogo se assustou, seria seu pai a passar mal? Levantou-se as pressas, erguendo a barra do robe. Abriu a porta com o coração pulsando.

 

— O que estas acontecendo?

 

— Desculpe lhe incomodar a essa hora, Srta. Mas ele exige em falar com vós mi cê.

 

— Quem? – Renesmee se acalmou, mas ainda não entendia.

 

— O menino Seth e o um outro homem. Não creio que a Srta. Deva descer. – Renesmee sorriu.

 

— Como assim? – Renesmee ajeitou o robe, tapando o máximo dos seios.

 

— O homem, ele não me parece um cavalheiro. Temo pela Srta. – Renesmee riu, passando por Sue. Pegou o castiçal, acendendo as três velas.

 

— Não se preocupe, posso me cuidar sozinha. – Renesmee desceu as escadas graciosamente, os cabelos soltos. A porta da sala estava entreaberta, eles estavam do lado de fora.

 

Jacob estava encostado na coluna, de frente a porta. Esperando pela empregada voltar e anunciar que a Cullen não podia atendê-los. No fundo, Jake torcia para ela não descer, não tinha certeza se queria mesmo ter esse tempo ao lado da burguesa. A porta se abriu, rangendo, e uma dama vestida de branco apareceu. Os cachos cor de cobre caindo sobre os ombros, chegando a cintura. Ela estava apenas de robe, o que fez Seth se virar para o lado. Ele nunca havia visto uma dama tão pouco vestida.

 

— Já está tarde. – Renesmee falou seria, mas Jacob estava preso nas curvas da dama.

 

— Perdoe-me. Vim lhe dizer que estou disposto a lhe provar que não  consegues dançar – Jacob sorriu, erguendo apenas o lado direito dos lábios.

 

— Se é isso que achas. – Renesmee sorriu. – Seth, o que há? – O menino estava vermelho.

 

— Não é nada Srta. – Ela sorriu, voltando a olhar para Jacob.

 

— Onde preferes dar as aulas? – o vento brincava com os cabelos e com o robe de Renesmee, deixando muitas vezes suas canelas a mostra.

 

— Tem um clareira a pouco. – Renesmee juntou os lábios, não sabia de onde ele se referia.

 

— Se quiseres, amanha eu venho lhe apanhar. – Seth se ofereceu, espiando pelos lados dos olhos Renesmee, não estava resistindo.

 

— Pois bem. Te espero, então. – Renesmee assentiu.

 

— Logo após o almoço. – Jacob estipulou um horário.

 

— Certamente. Agora, se me dão licença, estou exausta. – Renesmee fez a referencia, fechando a porta em seguida.

 

— Vamos, garoto, esta tarde para um menino ficara acordado. – Jacob bateu levemente na cabeça de Seth.

 

— Ela estava apenas com os trajes de dormir. – Seth cochichou. Jacob gargalhou.

 

— Ela estava de robe, ainda há uma camisola e peças intimas por baixo. – Seth arregalou os olhos.

 

— Eu nunca havia visto uma dama assim. – Seth confessou.

 

— Sinta-se honrado, pois teve a sorte de ver uma das damas mais belas. – Seth sorriu.

 

— Gostas dela? – Seth parou. Olhando Jacob.

 

—Não, garoto,  apenas sei admirar uma linda mulher. – Seth voltou a andar.

 

— Sabe... Dizem coisas muito estranhas sobre ela. – Jacob se viu curioso.

 

— Coisas como o que? – Seth começou a narrar tudo o que já ouviu sobre Renesmee a Jacob, tiveram assunto para uma longa caminhada.

 

 

 

Renesmee não conseguia dormir. Estava ansiosa demais, queria logo dançar. Havia até se esquecido da visita de Alec. Seus pensamentos estavam transtornados, voltando sempre para o sorriso safado de Jacob, e como ele a olhava. Talvez não fosse uma ideia tão sábia passar as tardes ao lado dele.

 

 

 

Anita escutou um baque surdo, que vinha do andar de baixo. Pensou que talvez fosse seu pai, mas ele havia dito que passaria a noite na fazenda. Mesmo com um leve sentimento de medo, Anita decidiu descer para verificar. Anita acendeu as três velas do castiçal e desceu as escadas, estava tudo em silêncio. Anita ja estava voltando para a escada quando foi surpreendida com um vulto saltando em sua frente.

 

-O que?-Anita sentia o ar faltar. Estava com medo.

 

Anita elevou o castiçal, revelando o rosto e a arma da pessoa que estava em sua frente. Anita sentiu o corpo inteiro tremer diante do olhar frio em sua frente.

 

-Vós mi cê...- Anita sentiu algo atravessar o robe, uma dor forte foi acompanhada por um som grosso. Um tiro acertara seu coração. Que ainda ousou bater antes de se entregar.  Anita caiu de joelhos, vendo a face fria em sua frente. Esse era seu fim, sua morte.