The Devil Next Door escrita por M4r1-ch4n


Capítulo 21
Capítulo 20 (Parte 2/2)




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          Abrindo a porta devagar, Die observou como o quarto escuro foi progressivamente iluminado pelo feixe de luz que vinha do corredor, o aposento ainda mergulhado em trevas com a janela fechada e impedindo a entrada do sol do lado de fora. Em silêncio, o ruivo encostou novamente a porta atrás de si, caminhando com um misto de ansiedade e hesitação até a cama que Kaoru ocupava.
          O publicitário estava deitado com a barriga para baixo, uma das suas mãos sob o travesseiro enquanto a outra estava próxima ao seu rosto, seu braço fazendo um ângulo de noventa graus. As cobertas estavam na altura dos quadris, todas emboladas entre as pernas do homem de cabelos roxos; parecia que ele havia se revirado bastante ou então sofrido com um sono agitado.
          Die decidiu sentar na beirada do colchão, a cama mal registrando o movimento cuidadoso do ruivo. Da sua nova posição, ele notava duas trilhas quase apagadas, mas ainda visíveis no rosto do publicitário: lágrimas. Kaoru provavelmente havia chorado por causa dele e saber daquilo havia feito o outro homem sentir como se dezenas de lâminas afiadas tivessem se encravado no seu coração.
          Por que ele estava se sentindo tão culpado e como se fosse o pior homem do universo? Forçando a memória, Die só conseguia lembrar de uma única ocasião em que ele se sentiu tão mal: quando sua primeira namorada largou-o pelo melhor amigo, na sétima série. Depois disso, ele não conseguia pensar em nenhuma outra situação onde ele havia sofrido como naquele momento ou então se preocupado o suficiente para verificar se havia machucado mais alguém no meio do caminho.
          Niikura Kaoru era alguém... Especial.
          Perdido nos seus pensamentos, o ruivo não notou que uma de suas mãos havia encontrado a curva do quadril de Kaoru, onde seus dedos começaram a subir e descer em carícias suaves por vontade própria.
          O movimento, porém, bastou para acordar o outro homem do seu descanso leve e agitado, os olhos cansados do publicitário focalizando justamente a imagem daquele que ele menos queria ver.
          - Urgh. - o outro grunhiu, chamando a atenção de Die - Não é possível. Eu não sei o que eu fiz para merecer isso, juro que não sei.
          Apesar de tudo, o homem mais novo sorriu ao ouvir aquelas palavras; pelo menos Kaoru estava falando como sempre, mesmo que sua voz estivesse engraçada e meio pastosa por causa do sono. Deixando seus dedos inertes, mas sem removê-los do corpo do outro, ele decidiu que era melhor começar a acertar as coisas:
          - Kaoru?
          - Hah, que ótimo. Outro sonho. Ou pesadelo, não sei. - o homem de cabelos roxos se virou na cama, sentando-se por fim e encarando o ruivo com olhos vermelhos, assustando o mais novo dos dois perceptivelmente - Vai embora. Eu não quero ver você aqui, sonho ou não-sonho.
          - Kaoru, eu não sou um sonho. Eu estou aqui. - ele replicou pacientemente, procurando pelas mãos do outro, mas sem obter sucesso; o publicitário removeu-as do alcance de Die instantaneamente - Eu quero conversar com você.
          Os olhos castanhos de Kaoru piscaram várias vezes até o mais velho dos dois finalmente entendeu que aquilo não era mais um delírio da sua mente: Ando Daisuke estava ali, sentado na beirada da cama e querendo conversar. E, para o bem da sua sanidade, a roupa de médico havia desaparecido.
          - Parece o seu estilo: confundir primeiro e explicar depois.
          Um certo prazer maligno correu pelas veias do publicitário quando ele notou que as suas palavras venenosas haviam causado alguma reação no outro; Die havia se encolhido de uma forma quase imperceptível, mas parecia estranhamente resignado ou... Arrependido.
          Hah. Ando Daisuke arrependido? Só na próxima vida.
          - Kaoru, eu... - o ruivo parou de falar por alguns segundos, virando para o lado e encarando o guarda-roupa de Shinya no escuro. Ele não fazia idéia de que quando encontrasse Kaoru teria tanta dificuldade de colocar em palavras o aperto insuportável que ele sentia no seu coração - Me desculpe.
          - Desculpar?
          - Eu sei que isso não basta, mas... Kaoru, eu estive procurando você desde a hora em que você saiu do hospital. Eu estava à beira de um colapso nervoso, não consegui encontrar você em nenhum lugar, ninguém tinha visto você... Até que eu finalmente pensei em ligar para o Shinya, que só concordou em me dizer onde você estava depois de ouvir a minha explicação.
          Aquilo fez o mais velho dos dois erguer não apenas uma, mas duas sobrancelhas. O secretário era a pessoa mais justa, meiga e confiável que ele conhecia em Tokyo; se o homem loiro havia concordado em ajudar Die, então alguma coisa o ruivo deveria ter feito para merecer a informação.
          Mas exatamente o quê?
          - O quê você quer de mim, Daisuke?
          O ruivo ergueu a cabeça e fitou Kaoru, não entendendo a pergunta.
          - Como?
          - Veio até aqui por quê, para me dizer que está a seis horas sem dormir por minha causa? Você tem idéia de quantas horas eu não dormi por sua culpa? De quantos cigarros eu voltei a fumar por causa do nervosismo em que você me colocava constantemente? Tem idéia das pilhas e pilhas de trabalho que eu tive de fazer enquanto você foi meu chefe interino? Quer que eu conte quantas vezes eu tive meu apartamento invadido ou o número de situações onde a minha paciência foi levada até o limite e muito além?
          Um momento longo de silêncio se abateu entre os dois, apenas quebrado pela respiração repentinamente ofegante de Kaoru. Com um brilho assustador no olhar, o publicitário concluiu:
          - Não venha tentar comparar seus sofrimentos com os meus, Ando Daisuke. Você não tem como ganhar de mim nessa modalidade.
          E sem mais palavras, o homem de cabelos roxos se virou e deitou novamente na cama, encarando o lado oposto ao que Die se encontrava. Aninhando-se no travesseiro mais uma vez, ele nem se deu ao trabalho de pedir para o ruivo ir embora; o homem mais novo com certeza seria esperto o suficiente para reconhecer um fora como aquele.
          O colchão se movimentou e o publicitário deduziu que o outro havia se levantado. Aquela realização, no entanto, trouxe sentimentos misturados para Kaoru, como sempre ocorria quando o ruivo estava envolvido. Ele sentia raiva e muito ressentimento do outro por todos os momentos ruins que ele havia acabado de enumerar, mas ao mesmo tempo ele não podia negar que Die havia mudado sua vida, de um jeito ou de outro. Ele não era mais a mesma pessoa sisuda e fechada de Hyogo; ele era alguém consideravelmente mais apto a perceber o mundo do jeito como ele era, sem contar que era mais amigável e bem-sucedido do que jamais fora na sua terra natal. O novo Kaoru era uma pessoa melhor, embora angustiada.
          - Kaoru... Eu sei que você quer que eu vá embora, mas acho que eu devo uma explicação, pelo menos. Quando eu digo que não existem mais jogos ou regras é porque você acabou com todas elas há muito tempo, talvez mais do que você perceba. Eu sempre encarei relacionamentos como uma brincadeira, onde o prêmio era a conquista; depois disso, eu simplesmente não me importava. Mas...
          O publicitário sentiu sua respiração parar sozinha, como se ele não controlasse mais os músculos do seu corpo.
          - Você foi a primeira pessoa que não caiu por nenhum dos meus truques, Kaoru. E eu bem sei que utilizei todos eles. - um sorriso pequeno e traidor tomou conta do rosto do homem mais velho, ignorado por Die graças à escuridão do quarto - Dinheiro, beleza, todo tipo de investida física e ofertas indecentes... Nada funcionou com você, absolutamente nada. E quanto mais eu me esforçava para conquistá-lo, mais você condenava as minhas atitudes.
          O ruivo não fazia idéia dos esforços hercúleos que foram necessários para resistir.
          - E quando eu finalmente consegui beijá-lo... Kami-sama, Kaoru. Você não tem idéia alguma do que você fez, tem? Eu achei que havia chegado à vitória, mas eu estava errado: foi a minha queda. Você continuava destruindo cada tentativa minha, mesmo enquanto nós dois ocasionalmente travávamos alguns embates mais... Íntimos. E quando tudo chegou ao seu ápice, eu tive certeza de que não tinha mais volta.
          Ápice. Se por ápice Die queria dizer a noite em que eles haviam feito sexo pela primeira vez, Kaoru também tinha certeza de que ele havia cruzado a última e derradeira linha que o separava da possibilidade de retorno à vida como ele conhecera até então.
          - De um empreendimento tolo em busca da conquista você passou a um vício, Kaoru. Qualquer regra foi abandonada aí, porque eu não estava mais no controle dos meus sentimentos. Provoquei, empurrei você até o fim dos seus limites, busquei com todas as forças a quebra da sua resistência a mim, confesso; mas você já tinha feito o mesmo comigo sem perceber. Há meses eu não olho para qualquer outra pessoa ou sinto vontade de correr meus dedos por uma pele que não seja a sua, de ouvir um timbre de voz que não seja o seu ou de conduzir qualquer outro homem ou mulher a um orgasmo.
          ...Sentimentos. Die tinha sentimentos em relação a ele, não só um incansável desejo físico. Kaoru percebeu que era exatamente o quê ele vinha sentindo há muito tempo, sem conseguir entender ou classificar.
          - Sabe, Kaoru. Eu sou um idiota, como o Shinya falou. Eu não soube agir de forma diferente quando alguém especial apareceu. Eu não soube... Demonstrar o que eu sentia ou parar de machucar uma outra pessoa ligada a mim.
          Não agüentando mais, o publicitário sentou na cama, suas mãos agarrando o lençol sob elas com força. Encarando Die com uma intensidade inexplicável, ele mesmo sentiu uma profunda agonia ao ver o rosto do ruivo com lágrimas correndo livremente sobre as suas bochechas. Kaoru não entendia como ele tinha vontade de correr e gritar que estava tudo bem e ao mesmo tempo sentir que tudo aquilo era mais do que merecido pelo ruivo.
          O outro ergueu os olhos que até então estiveram no carpete do quarto, se assustando ao ver que o objeto das suas afeições o observava de volta. Um sorriso curvou os lábios magníficos de Die para cima, tornando o ruivo mais belo do que Kaoru já havia visto até então.
          - Não espero que você entenda ou corresponda a qualquer coisa, Kaoru. Não mesmo, não dessa vez. Aishiteru.
          Limpando o rosto com a ponta dos dedos, o mais novo dos dois se virou de costas e abriu a porta, saindo no mesmo silêncio em que ele havia entrado no quarto. Estupefato, Kaoru continuou sentado na cama, encarando a porta na esperança infantil de que tudo aquilo tivesse sido um sonho; pelo menos aí quando ele acordasse já não lembraria mais das palavras tão poderosas do ruivo ou então...
          O barulho da porta do apartamento de Shinya sendo fechada confirmou os piores medos do publicitário naquele momento: não só Ando Daisuke havia realmente estado ali, confessado tudo e ido embora no final como Kaoru percebeu que ele era capaz sim de retornar o mesmo amor que Die havia reconhecido existir entre eles.
          Na escuridão do quarto, o publicitário se permitiu erguer o dedo do meio da mão direita ostensivamente para o teto, esperando que Deus tivesse sentido aquela ofensa silenciosa. Se o Criador de todas as coisas estava procurando por um modo de fazer as coisas ficarem mais intensas e confusas, ele havia conseguido. Ou quem sabe tudo aquilo havia sido apenas a obra do demônio, em especial aquele que residia na porta vizinha à sua.


Continua...


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Notas finais do capítulo

Olá par todos!

Antes de mais nada, peço mil perdões pelo sumiço - mas pretendo compensá-lo com a postagem rápida do capítulo 21 que já está prontinho. n_n Isso pode ser uma boa ou má notícia: afinal, o próximo capítulo é o último da história.

Respondi a todos os comentários (finalmente!) e aproveito para agradecer a todo o apoio de vocês, de coração! E, mais uma vez, desculpas pelo corte no capítulo - não sabia que o Nyah! iria encrencar com o tamanho do capítulo. Provavelmente a mesma coisa vai acontecer com o 21.

Beijos para todos!
Mari-chan.



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