The Devil Next Door escrita por M4r1-ch4n


Capítulo 1
Capítulo 1




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          Abrindo as cortinas do seu novo apartamento, Kaoru colocou a mão direita sobre os olhos, vendo até onde sua vista alcançava. Era uma boa vizinhança. A maioria dos prédios por ali não era muito alta, e o alto homem conseguia enxergar uma massa de verde que ele supunha ser um parque.
          Deixando a janela, Kaoru voltou para o interior do seu apartamento. Ele já estava parcialmente mobiliado, mas todas as coisas que havia trazido consigo de Hyogo ainda estavam em caixas, que por sua vez estavam empilhadas umas em cima das outras.
          Ele não conteu um pequeno grunhido. Iria demorar muito tempo até tudo ir para o lugar.
          Cansado por antecipação, Kaoru se abaixou do lado do sofá coberto com um plástico que estava cheio de poeira e abriu uma das caixas cor de papel pardo no chão. Montes de peças de bonecos de Gundam Wing apareceram. Bom, pelo menos a sua coleção estava inteira.
          Levantado-a com cuidado, ele atravessou a sala e o corredor, deixando a preciosa caixa no cômodo que havia escolhido para ser seu quarto. Sua bagagem de mão estava ali dentro também, e ele aproveitou para rapidamente revirar uma das suas sacolas atrás de sua carteira. Ele precisava abastecer a cozinha.
          Tateou um dos bolsos da sua calça, procurando pelo maço de cigarros que teoricamente, deveria estar com ele. Piscando, ele se deu um tapa na testa, lembrando que estava decidido a parar de fumar.
          Desesperadamente precisando de um cigarro, ele saiu do apartamento, caminhando para o elevador. Esfregando as mãos e tentando não pensar na sua necessidade urgente de fumar, ele observou que o prédio era relativamente calmo e só havia um outro apartamento além do seu no andar.
          Niikura Kaoru, 26 anos completados há não muito tempo, pensava na guinada radical que sua vida havia dado. Apenas três anos após ter terminado sua faculdade, ele já estava transferido para Tokyo, trabalhando em uma das filiais da capital da empresa. Formado em publicidade, Kaoru era conhecido pelo seu bom gosto, criatividade e competência.
          Passando a sua mão esquerda pelos seus cabelos roxos, ele saiu do elevador e caminhou para a rua, ainda ligeiramente apreensivo. Embora morasse em uma grande cidade, nada se comparava com a grande capital japonesa, metrópole mundial e que influenciava a vida de milhões de pessoas no Japão e no mundo. Não seria muito difícil se perder.
          Olhando uma última vez para o seu novo endereço, ele desceu a rua, procurando por algum lugar que pudesse fazer as compras. Seria bom se houvesse uma loja por perto; ele gastava a maior parte do tempo criando e trabalhando nos seus projetos, e não sobrava muito tempo para abastecer a casa. Ou procurar o caminho de volta, caso se perdesse.
          Colocando as mãos nos bolsos da sua calça, Kaoru se sentia realizado. Jamais pensara estar indo tão bem na sua vida profissional. Um sorriso surgiu nos seus lábios ao pensar nisso.
          Mas em compensação, sua vida amorosa...
          O segundo pensamento fez o sorriso desaparecer, então ele optou por ficar com a primeira linha de raciocínio, entrando em uma loja à sua direita.

          Quarenta e cinco minutos depois, Kaoru entrava no seu prédio de volta. Carregando cinco sacolas de compras, até ele próprio havia se assustado com a quantidade de macarrão instantâneo que havia comprado.
          Assim que parou para esperar o elevador, o homem de cabelos roxos notou a presença de três mulheres que conversavam alto perto do mesmo. Apertando os olhos, ele viu que não eram apenas mulheres; eram indivíduos do sexo feminino de beleza inacreditável.
          Uma delas vestia o que poderia ser considerado a mini-saia da mini-saia, mostrando muito das suas pernas brancas antes de serem cobertas por botas de plataforma e cano longo. Na parte de cima, um top justíssimo que ressaltava todas as suas curvas. Tinha o longo cabelo preto e liso, e maquiagem pesada nos olhos; uma segunda mulher também tinha o cabelo parecido, porém com mechas vermelhas, e usava uma calça que parecia se agarrar às pernas dela. Na parte de cima, uma regata extremamente decotada que quase jogava seus seios para fora. Finalmente, a terceira delas não era japonesa, tendo olhos azuis e cabelo levemente ondulado loiro, trajando um vestido curto preto e sandálias de salto alto.
          - Boa tarde, bonitão.
          As três riram. Kaoru teve certeza, a partir daquele cumprimento, de que se tratavam de prostitutas.
          E ele estava pensando tão bem da vizinhança até então.
          Ignorando descaradamente o cumprimento de uma das três, ele quase decidiu subir pelas escadas quando o elevador parou no térreo. A loira abriu a porta e deixou que as outras duas entrassem primeiro, e esperou Kaoru fazer o mesmo. O jovem publicitário hesitou um pouco, mas acabou entrando no elevador, notando o quão apertado ele ficara com quatro pessoas e mais cinco sacolas de compras de tamanho avantajado.
          A viagem até o apartamento de Kaoru, no terceiro andar, foi curta, mas durou o suficiente para que uma delas apertasse a parte traseira do seu corpo. Sem mãos para reagir por estar segurando as sacolas, o publicitário tentou evitar ficar vermelho, mas sem sucesso. A risada das outras mulheres apenas confirmou as suspeitas de que ele deveria ter ficado corado e contrastado maravilhas com o seu cabelo roxo.
          Quando o elevador parou no terceiro andar, ele saiu aliviado do mesmo. Ele mal teve tempo de comemorar o fim do sofrimento quando notou que as três garotas desceram atrás dele.

          Incrédulo, ele pousou as cinco sacolas no chão enquanto buscava a chave do seu apartamento em um dos bolsos da sua calça. As três garotas de programa pararam na porta ao lado da sua casa e tocaram a campainha.
          Em questão de segundos, a porta foi aberta e um homem alto, sem camisa e vestido com uma calça preta tão agarrada quanto a de uma das japonesas apareceu, o cabelo vermelho com as raízes pretas destacando seus olhos, já contornados com lápis preto. Ou então o seu vizinho havia levado dois socos, um em cada olho, deduziu Kaoru.
          O rosto tinha feições harmônicas e masculinas, extremamente encantadoras. Os lábios se partiram num sorriso, deixando ver dentes perfeitos.
          - Vocês estão na hora. Entrem, entrem... - sua voz era melodiosa, e as três garotas trocaram olhares significativos entre si e depois olharam para Kaoru, antes de entrar no apartamento. O publicitário havia se esquecido completamente das chaves, estarrecido com a cena.
          A porta não se chegou a fechar quando foi aberta de novo com risadas vindo de dentro do apartamento, uma das duas japonesas saindo e parando na frente de Kaoru.
          O jovem quase entrou em pânico ao ver a prostituta se aproximar dele, enlaçá-lo pelo pescoço e subir os dedos da mão esquerda devagar pelo seu tórax protegido por um casaco velho. Os dedos da mulher pararam na frente dos seus olhos, quando Kaoru finalmente desviou o olhar do sorriso da garota de programa à sua frente para o que ela tinha nas sua mão.
          As suas chaves.
          Corando furiosamente, ele pegou a chave e a garota se voltou para trás, entrando novamente no vizinho. Ainda vermelho, o publicitário rapidamente girou a chave do seu próprio apartamento de número 304.
          Abaixando-se para pegar as sacolas de comida que havia deixado no chão para destrancar a sua casa, ele ouviu um segundo comentário.
          - Bem-vindo, vizinho!
          Erguendo-se, Kaoru se encontrou cara a cara com os olhos mais cheios de segundas intenções e zombaria que ele já havia visto.
          Ignorando o morador do 305, o homem de cabelos roxos entrou na sua casa, fechando a porta. Quando havia trancado-a por dentro, ouviu a voz do ruivo que tinha por vizinho de novo:
          - Belo traseiro!
          E o complemento de uma das garotas:
          - Com certeza!
          Os quatro riram e bateram a porta. Kaoru se apoiou na parede mais próxima, quase pulando de susto quando ouviu o barulho de algo sendo jogado contra a parede, no outro apartamento.
          O que ele dizia mesmo sobre "boa vizinhança" mais cedo?



Continua...

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