Não Pare a Chuva escrita por sheisbia


Capítulo 3
Capítulo 3 - Irmãos


Notas iniciais do capítulo

Digam oi pro Ge! Capítulo feito na pressa, espero que gostem.



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    Como outro dia qualquer, eu acordei atrasada. Depois de me arrumar e comer alguma coisa tive que andar até a escola. Dessa vez tive um pouco mais de sorte, não chovia. O tempo estava bom, não ótimo, bom apenas.
    Quando cheguei na escola, não haviam mais alunos entrando: todos estavam em suas salas. Corri pelos corredores grandes e mal iluminados até chegar em minha sala, quase desistindo por falta de ar. Finalmente cheguei, batendo umas sete vezes seguidas na porta, que foi aberta em seguida, sem delonga.
    — Me desculpa professor, posso entrar? — arfei, dando um sorriso ao pedir.
    — Entre. Nicole, você já ouviu falar em despertador?
    — Eles são tão caros! — Sorri irônica e sentei-me em meu lugar.

    O professor ignorou e continuou a explicação da matéria. Penny, Livia e Julie estavam lá, quase ninguém faltava naquela escola, era horrível. Sorri ao vê-las e copiei o que estava escrito no quadro. Não demorou muito até a aula chegar ao fim, e outro professor entrar. Aproveitei enquanto o professor John ainda tentava manter os alunos em ordem para falar com Julie.
    — Oi, tudo bom? — atualmente, se faz essa pergunta por educação, ninguém se preocupa de verdade com seu bem estar.
    — Tudo — ela sorriu.
    — Julie, vai ter uma festa bem perto daqui no fim de semana, quer ir?
    — Claro, quem vai?
    — Minhas amigas ali — virei os olhos em direção às duas, que conversavam. — Eu e alguns amigos, não precisa se preocupar em ficar sozinha.
    — Tudo bem então. Eu... posso levar um colega? Só pra garantir.
    — Pode sim.
    — Ok, então, onde vai ser?
    — Te ligo depois pra confirmar o lugar e a hora. Mas e aí, como foi seu feriado?
    — Foi interessante, eu não saí de casa nem nada, fiquei vendo uns filmes — ela riu. — Pra ser sincera, eu não gosto muito de agitação.
    — Eu entendo. Mora com os seus pais?
    — Moro, eles e meu irmão.
    — Ele tem quantos anos?
    — É um pouco mais velho que eu, aliás, ele estuda aqui.
    — Que legal! Se for bonito pode me apresentar, tá? — ri, fazendo-a rir em seguida.
    — Pode deixar, o nome dele é Georg.
    — É um nome bonito — eu sorri. — Você parece ter uma família interessante.
    — Você acha? Sei lá, somos tão normais, ou quase.
    — É que normal é uma coisa que eu não vejo há muito tempo. — Eu sorri triste.

    John finalmente deu início a sua aula e eu virei-me e tratei de copiar tudo o que ele dizia, quase nunca passava lições no quadro, mas era importante anotar cada palavra de suas explicações.
    Algum tempo depois a sirene para o intervalo ecoou por toda a escola, arrumei minhas coisas e esperei para que pudesse sair junto com Julie, eu não queria ficar grudada o tempo todo com ela, mas sei o que é ser nova na escola e sei que ela não gostaria de ficar sozinha. Andamos e conversamos até o pátio, de lá avistei um garoto conversando, vestido de preto.
    — Julie, se importa se eu for falar com um amigo meu? Tenho que resolver uma coisa.
    — Não, pode ir. Eu vou achar o meu irmão — ela sorriu, segura.

    A deixei e fui até o garoto, que estava no meio de uma rodinha de garotos, eu conhecia quase todos.
    — Bill, posso falar com você?
    — Nin? — todos me encararam. — Agora?
    — Não, daqui a nove meses, quando nosso bebê nascer — sorri sarcástica e o vi ficar vermelho, os outros garotos não sabiam se acreditavam ou não.

    Ele não respondeu, apenas pegou em meu braço e andamos até um lugar bem afastado de toda a gritaria — tenho que confessar, mesmo no penúltimo ano aquilo parecia a quinta série.
    — Você adora chamar atenção, né? — ele ficou sério.
    — Desculpa Bill... Quer decidir o nome da criança? Eu acho que vai ser um menino — eu disse alisando a barriga e em seguida soltei uma gargalhada alta e o deixei mais irritado. — Tá, agora é sério. Por que não me contou que Tom estava aqui?
    — O quê?!
    — Por que não me contou?
    — Porque era pra ser só uma visita, ele não disse que ficaria mais de uma semana, então não tinha motivos, só isso.
    — Tá, hoje é sexta-feira, ele disse que chegou segunda. Será que não podia ter me avisado?
    — Por que você se importa? — um silêncio breve se fez entre nós, ele me encarava confuso.
    — Não me importo, mas ele era meu amigo, faz cinco anos que não falo com ele, eu queria pelo menos dar um 'oi'! Sem contar que ele é o seu irmão.
    — Me desculpa,  eu deveria ter contado.
    — Tudo bem, eu só queria saber porque você estava me escondendo.
    — Eu não escondi — ele abaixou a cabeça, pensativo. — Eu não te entendo.
    — O quê?
    — Você pode ficar um mês sem falar com todo mundo e está tudo bem, mas se eu deixar de te contar alguma coisa eu estou errado. Você é egoísta, Nin.
    — Como é? Bill, não tem nada a ver. Eu fui pra casa da minha avó, não tinha como eu falar...
    — Poderia ter ligado.
    — É, mas não liguei. Eu tava assustada, eu não sabia o que tava acontecendo, a situação era outra.
    — Com você é sempre diferente — disse com desdém, eu estava indignada, o que estava acontecendo?
    — Para com isso, você sabe como as coisas estão e...
    — Você acha que só você sofre no mundo, não é? Eu entendo, mas e se fosse ao contrário? Se eu ficasse uma semana te ignorando, você ia mesmo entender? — ele estava sendo estúpido.
    — Você não tem pais que brigam todas as noites, uma mãe que depende de remédios pra poder dormir, um pai que mal sabe sua idade e não tem que lidar com culpa nenhuma! — Gritei. Senti lágrimas invadirem meus olhos, mas as segurei.

    De repente, se esvaiu a expressão de raiva em seu rosto, dando lugar à uma expressão de tristeza, de pena. Ele se aproximou de mim e me abraçou. Nada do que eu disse era mentira, eu só tinha os meus pais como parentes, também tinha minha avó mas ela estava doente, quase nem se lembrava de quem eu era.
    — Me desculpa — eu disse.
    — Tá tudo bem.
    — Eu sei que eu só penso em mim, me desculpa...
    — Esquece isso — ele me interrompeu, se afastou um pouco e me olhou sorrindo. — Sério.

    A sirene tocou novamente, encarei o chão por alguns segundos.
    — Bill, eu só tenho você de família, e eu sei que isso soa idiota — eu sorri. — Mas eu não quero ficar sozinha.
    — Você não vai, pára de desconfiar de tudo, certo?
    — Mas...

    Ouvi uma voz me chamar, era Julie. Ela me olhava de longe e dizia para me apressar antes que chegasse tarde novamente. Bill a encarou curioso, eu sinalizei que já iria.
    — Quem é ela?
    — Julie Listing... Ela é nova, parece ser uma pessoa boa — sorri, ele continuava encarando-a. — Eu vou até lá, já cheguei atrasada hoje!
    — Tudo bem, se cuida — ele beijou meu rosto. — A gente conversa na saída.

    Eu sorri e me afastei, seguindo em direção à Julie. Ela me encarava com um olhar confuso.
    — Desculpa a demora.
    — Depois diz que não tem namorado, né? — Ela sorriu.
    — O quê?! — eu soltei um riso. — Ele é só um amigo de infância.
    — Ah, entendi... Vocês pareciam tão, sei lá, juntos.
    — Eu sei, quem vê acha isso mesmo, mas é sério, não rola nada entre nós — eu sorri.
    — Sei... Acho que já vi ele antes, se não me engano meu irmão conversa com ele.
    — Sério? E ele veio?
    — Veio, eu acabei de falar com ele... Eu te apresento depois.

    Apesar de tudo, acho que Julie não acreditou nessa história, ninguém nunca acreditava, inclusive quando conheciam apenas um de nós. No começo da adolescência, nossos pais até tentaram nos aproximar, mas logo perceberam que era inútil, o que eu sentia pelo Bill não era paixão, era afeto. Eu o conheço desde que me lembro que sou viva, crescemos juntos, somos irmãos. Apesar de não estarmos vinculados pelo mesmo sangue, nossa amizade é tão intensa que a gente chega a esquecer que não é da mesma família. Isso era outro motivo para não querer perdê-lo: nunca, em lugar algum eu acharia alguém que soubesse tanto sobre mim. Eu me sentia bem assim, não importa o que os outros pensavam.
    Depois da aula, quando a sirene ecoou, todos os alunos saíram eufóricos para irem logo pra casa. Permaneci junto a Julie e Penélope, Livia já havia saído há algum tempo, Penny me contou que ela estava ficando com um garoto, nem entrei em detalhes. Andamos juntas até a calçada enquanto conversávamos, Julie apontou para um garoto e disse que aquele era seu irmão, ele estava conversando com Bill e mais dois garotos.
    — Georg! — ela chamou sua atenção. — Essas são minhas amigas, Nicole e Penélope.

    Nós o cumprimentamos, de cara percebia-se que os costumes deles não eram nem de longe os mesmos que os nossos. Georg e Julie se pareciam muito. Depois de um tempo Bill falou algo com Penny que eu não pude escutar, eles também eram amigos, só para constar.
    — Vocês dois são tão parecidos — eu disse.
    — Ela puxou a minha beleza — ele disse e ela bateu em seu ombro, rindo.
    — Então, você conhece esse aí? — voltei meu olhar ao Bill, sorrindo com certa malícia.
    — Você é amiga dele? — Georg perguntou intrigado.
    — Eu não, você acha mesmo que eu me misturo com esse tipo de gente? — rimos.
    — Ela é minha irmã também — ele disse se aproximando. — Praticamente.
    — Aliás, Bill, essa é a Julie.

    Como se ele não soubesse... desde que nos aproximamos dos garotos ele não tirou o olho de Julie, era como se ela tivesse algo especial que prendesse sua atenção. Achei engraçado mas decidi não comentar nada. Os outros dois garotos foram embora logo após conversarem um pouco com a gente, Penny também foi. Não tínhamos praticamente nada pra fazer então continuamos nos... "conhecendo", até que um garoto chegou e deu um aperto de mão estranho em Georg.
    Era o Tom.
    — O que você tá fazendo aqui? — perguntou Bill, fazendo seu olhar fixar-se em nossa direção, ou pra ser mais exata, em mim.
    — Vou comprar umas coisas — ele respondeu. — E aí, baixinha? Cadê a minha blusa? — dessa vez ele falou comigo, claro.
    — Eu tô ótima e você? Obrigada por perguntar — disse cínica. — Eu não vou poder te entregar hoje, vou sair a tarde toda... Te entrego fim de semana.
    — Blusa? Que blusa? — Bill perguntou.
    — Fim de semana é amanhã — disse Tom.
    — Eu não disse em qual fim de semana — sorri vitoriosa e encarei Georg. — Você também conhece ele? Precisa fazer mais amizades, hein! — brinquei, fazendo-o rir.
    — Espera aí, que blusa? — Bill ainda se esforçava pra entender.
    — A que ela roubou de mim.
    — Você que mandou eu ficar com ela!
    — Mas o que essa blusa tem de especial? Credo! — disse Julie.

    Eu comecei a rir baixinho junto ao Tom, me toquei que estava tarde assim que vi o relógio de pulso que ele estava e puxá-lo pra perto de mim. Notei que teria que correr pra não me atrasar para o almoço com minha mãe... correr mesmo.
    — Ai Céus! Gente, eu tenho que ir! — Gritei, já dando passos largos e me distanciando. — Tchau pra todo mundo, Julie eu te ligo depois!

    Eu sai em um passo muito apressado, quase correndo. Ouvi a risada exagerada de Georg e Julie e notei a expressão confusa no rosto de todos. Eu gostaria de ter ficado um pouco mais.


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Notas finais do capítulo

Bom gente, eu fiz o final do capítulo correndo e agora não dá mais pra se arrepender. Espero que gostem e se tiverem duvidas falem que eu explico, ok? Ah, e só pra deixar claro O GUSTAV ESTÁ NA HISTÓRIA, ele só não entrou ainda, relaxem



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