Meu Anjo Vampiro escrita por Lice Lutz


Capítulo 20
Capítulo 18 - Sete Dias (parte I)


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/86699/chapter/20

Por Isabella Swan


Jacob. 

Sua presença era tão grande e dominante em mim, que seu rosto era tudo que eu enxergava, mesmo sob a constante camada de lágrimas e chuva que encobria meus olhos. 


Por favor. Por favor. Ele também não.


Quantas vezes aquele pedido silencioso ecoara por minha mente, desde que peguei a estrada até La Push? 

Eu não tinha a mínima idéia, assim como não sabia como fazer o desespero aquietar-se em meu peito. A minha única certeza – gritante e incapaz de ser ignorada – era a de que eu não suportaria outro golpe como esse. 

Seria o nosso fim.

Impossível de crer – ou não – pode-se sobreviver sem sua alma e sem um coração que funcione plenamente – sou a prova existente disso. Mas alguém já ouvira falar de um sobrevivente sem o corpo? 

Pois era justamente isso – meu corpo – que Jacob possuía. Eu pertencia a ele. Na verdade, fora uma forma inconsciente de entrega. Meu próprio coração optara por fazer isso; doara-se a ele apenas para que assim, encontrasse forças o suficiente para continuar batendo. 

E o que eu faria a seguir, se o coração dele, parasse de bater? A única parte viva em mim, correndo o risco de morrer...

Era insuportável pensar. Automaticamente, meus dedos apertaram-se ainda mais ao redor do volante e minha mente encarregara-se de fazer vivida, a lembrança das palavras de Quil.

- Foi apenas um acidente, Bella. Nada grave. – ele dissera, numa tranqüilidade inacreditável – Vai ficar tudo bem. – escutei um sorriso surgir em sua voz – Sabe, nós, lobos, nos curamos rápido. – o sorriso transformara-se em um riso audível – Não se preocupe.

Eu não tive tempo para expressar qualquer reação. O desespero fizera-me pegar as chaves da caminhonete e dirigir insanamente até a reserva – que parecia ter criado pernas, e estar caminhando para bem longe de mim.

- Vai ficar tudo bem. – repeti a promessa de Quil, na esperança de que repetidas as palavras em voz alta, elas ganhariam um poder milagroso e o salvassem.

E eu realmente queria acreditar que sim, que pelo menos uma parte de mim, permaneceria sã – na medida do que pode ser considerado sadio, quando não se tem mais nada, é claro. Mas a sensação já conhecida de perda, preenchia, a cada metro ultrapassado, um pouco mais do vazio que restara da partida da minha alma.

Milagres.

Eles não existem. Pelo menos não do tamanho que eu preciso. Nenhum coração foi restaurado ainda, nenhuma alma reconstruíra-se milagrosamente e muito menos uma vida fora ressuscitada.

Para que continuar ignorando a minha morte em vida? Mesmo se Jake sobreviver ou não ao ataque cruel de Victoria, eu continuarei na mesma situação: presa neste mundo que já não me pertence, nesta existência torturosa e sem sentido. 

Ele morrera. E não há nada que possa mudá-lo.

Sendo assim, não existe nada que possa mudar o meu atual estado. Ele fora embora, encarregara-se de levar minha alma e meu coração, porém esquecera meu corpo aqui. Por que fizera isso? Por que deixara-me queimar neste inferno cruel que explode dentro de mim?

Será que ele não pode perceber que não existe mais nada sem ele? Meus olhos são inúteis e cegos, desde que os seus se fecharam. Meus lábios tornaram-se mudos e não funcionam, desde que não podem chegar até os seus. Minha pele deixara de sentir, onde se diluem as suas caricias que poderiam diminuir minha dor. 

Estou completamente entregue a ele; estou complemente entregue a morte.

É tolice querer encontrar uma saída, ressuscitar um corpo já morto. Assim como ele, eu não voltarei mais. Não neste corpo. Não neste mundo em que ele não está.

Por favor, ouçam: October – Evanescence

As lágrimas sempre tão constantes em meu rosto, por um instante, sumiram. Meus olhos, curiosos por estarem vendo nitidamente pela primeira vez em tanto tempo, vasculharam assiduamente tudo ao meu redor.

Foi aí que eu entendi o porque, daquela reação involuntária do meu corpo.

Logo, uma formação rochosa destacara-se ante toda a paisagem costumeira daquela estrada familiar. Não havia nada depois dela, somente a fúria da água gelada que consumiria tudo o que conseguisse atrair. 

"Eu não posso correr mais

Eu caio diante de você

Aqui estou eu

Eu não tenho nada sobrando"

Aquele era o abismo da morte. 

E era para onde eu estava indo. 

Sem tirar os olhos do penhasco, minhas mãos automaticamente soltaram o volante, após – sem ter a mínima consciência da ação – ter estacionado o carro no acostamento da estrada. Meu corpo movia-se em direção àquela formação rochosa, totalmente subordinado à força atrativa que àquelas pedras tinham sobre mim. 

Quando o vento gélido e a chuva entraram em contato com a minha pele, simultaneamente, recordei o dia em que saltei daquele maldito penhasco; o dia fatídico, que matara duas almas, porém deixara de castigo eterno um coração – o meu teimoso coração. 

"Entretanto eu tentei esquecer

Você é tudo o que eu sou

Me leve para casa

Eu lutarei por isto"

A sensação veio nítida. O vento batendo gélido e furioso contra o meu rosto, fizera meu coração dar um salto, com aquele súbito de emoção. A adrenalina corria com força em minhas veias; podia senti-las saltando sob minha pele, por onde quer que aquela substância prazerosa passasse. 

"Quebrado

Sem vida

Eu desisto

Você é minha única força"

Porém a lembrança não era o suficiente. Eu queria senti-la plenamente, queria revivê-la. Aquele pequeno palpito em meu coração, fora a primeira emoção que senti depois de tanto tempo. Aquela adrenalina misturada e dissipada em meu sangue era a única prova de vida que havia em mim. E tão súbita como viera, iria embora rápida e definitivamente. Não haveria mais nada depois daquela emoção.


"Sem você

Eu não posso continuar

Não mais

Sempre de novo"


Assim que pisei sobre o solo formado por pedras úmidas, uma garoa tímida começara a cair. Eu fechei os olhos, desfrutando das caricias que as gotinhas de água faziam sobre minha pele. Dei mais um passo em direção ao abismo, e um arrepio passara por todo o meu corpo. Estremeci, porém continuei a minha caminhada, passo a passo. Até que cheguei à beira do penhasco. A chuva aumentara em intensidade, e um vento furioso batia contra o meu rosto – era como se o céu estivesse revoltado.

Olhei para baixo, e mais um surto de lembranças arrebentara em minha mente. Permiti-me olha-las com cuidado, sorrir com algumas. Afinal, aquele era o filme da minha vida; exatamente aquele que as pessoas dizem que roda, quando a Morte vem buscá-las. O que eu não imaginava, é o quão poderosas elas seriam. Fizeram-me cambalear, e de repente, vi-me de joelhos no chão, a alguns centímetros do abismo. 

O vento soprou mais furioso desta vez, uivando de forma sôfrega. Talvez este tenha sido o alerta de que ele havia chegado. Teríamos a oportunidade de nos despedir, então. Sorri ao pensar nisso. 

"Minha única esperança

(todo o tempo que eu tentei)

Minha única paz

(me afastar de você)

Minha única alegria

Minha única força

(eu caí na sua abundante graça)

Meu único poder

Minha única vida

(e amor é onde estou)

Meu único amor"

- Bella... – ele me chamara. Eu fechei os olhos, um claro reflexo do poder que ele tinha sobre mim.

Não havia voz em seu chamado, apenas uma outra corrente mínima de vento a trouxera a mim – talvez eu finalmente tivesse esquecido o precioso som da sua voz... Mas eu sabia que era ele. Não sei como posso prová-lo, mas ele estava lá.

- Edward... – respondi-o, enquanto minhas mãos abraçaram o meu peito, antes que ele caísse vazio e despedaçado no chão.

Um súbito silencio instalara-se. É provável que até o meu coração tenha parado naquele momento. A chuva parara e o vento também. Senti-me desesperada e logo as lágrimas tomaram conta dos meus olhos. O que? Ele havia desistido de se despedir de mim?

"Eu não posso correr mais

Eu me entrego a você"

- Diga-me adeus, Edward... – disse-lhe, e em seguida sorri – Ou talvez um até-logo.

Outra rajada de vento trouxera-me a sua resposta muda – e o mundo teria voltado a girar.

- Não faça isso. – ele respondera, trazendo seu intenso perfume até mim. Senti-me tonta, completamente entregue a ele. 

"Eu sinto muito"

- Eu só estou indo te encontrar, Edward. 

- Não precisa. Eu estou aqui com você. Como sempre estive e estarei. 

"Eu sinto muito"

Diante daquela resposta, a verdade transmitida por suas palavras sem som, eu não pude conter o impulso de virar-me para trás e procurar pelo rosto perfeito do meu anjo. 

Impulso idiota e masoquista.

É claro que ele não estava lá. É claro que enquanto eu continuasse nesse mundo, eu não voltaria a encontrá-lo. Então por que ainda continuar? 

"Em toda a minha amargura

Eu ignorei

Tudo que é real e verdade

Tudo que eu preciso é você"


Foram sete dias sem nenhum mísero sinal de sua existência; sete dias, sem a melodia de sua voz preenchendo meus batimentos cardíacos, sem seus toques gélidos e inexistentes. Exatos sete dias para a construção deste mundo e a mesma quantia para a comprovação de que eu não pertenço a ele, sem você aqui, Edward Cullen. 

"Quando a noite cai sobre mim

Eu não fecharei meus olhos

Eu estou muito vivo

E você é muito forte"


Julieta não viveria num mundo sem Romeu; Heathcliff enloqueceu sem sua Catherine. Eu vivi e enloqueci nesse mundo no qual Edward não existe. E agora imploro, suplico para finalmente encotra-lo. 

- Leve-me para seu mundo, Edward. 

"Eu não consigo mentir mais

Eu caio diante de você

Eu sinto muito

Eu sinto muito"


O vento me abraçara, e eu senti cada milimetro do meu corpo desgastado e cansado arrepiar-se. Porém não obtive nada mais do que isso. 

O silêncio logo começara a apoderar-se inteiramente de mim. Dei-lhe permissão para calar meu coração de uma vez e fechei meus olhos, enquanto buscava num desespero infindável outros olhos – seriam eles que me guiariam para a eternidade. Queria recordar cada traço do seu rosto perfeito, afinal aquela seria sempre a imagem do meu paraiso. Eu estaria com ele e nele, assim que nossas almas se unissem outra vez, num laço permanente e inquebravel.

"Minha única esperança

(todo o tempo que eu tentei)

Minha única paz

(me afastar de você)

Minha única alegria

Minha única força

(eu caí na sua abundante graça)

Meu único poder

Minha única vida

(e amor é onde estou)

Meu único amor"

Não era preciso repetir as ultimas palavras que disse, quando saltei pela primeira vez. Ele saberia e as escutaria de qualquer maneira; minha mente estava aberta à ele. Mas como impedir seus lábios de pronunciarem, aquilo que seu coração – ainda que demasiadamente fraco – grita a cada batida?

- Eu te amo.

Ainda de olhos fechados – e com a imagem do meu anjo brilhando atravez deles – tateei com o pé maravilhada o ar abaixo de mim, infinito e ao mesmo tempo tão definitivo. Apenas mais alguns centimetros, e tudo estaria finalmente acabado. Não era egoismo, talvez aquela fosse a coisa mais altruista que eu já tenha feito: ninguém mais sofreria com minha dor, ninguém mais teria que conviver com um corpo morto e fétido. 

Apenas um passo.

E ele fora dado.

"Constantemente ignorando

A dor consumindo-me

Mas dessa vez o corte é muito profundo

Eu nunca serei enganado de novo"


Fiz menção de abrir os olhos. Quiz mantê-los bem abertos para ver e desfrutar minusciosamente de cada detalhe do caminho que me levaria até ele. Senti com um prazer imensurável cada molecula do ar bater com uma força cruelmente desumana em mim. Encarei o mar negro, tornando-se cada vez mais próximo. Era eminente a presença da morte ali, e eu sorri ao perceber isso.

Apenas mais alguns segundos.

"Minha única esperança

(todo o tempo que eu tentei)

Minha única paz

(me afastar de você)

Minha única alegria

Minha única força

(eu caí na sua abundante graça)

Meu único poder

Minha única vida

(e amor é onde estou)

Meu único amor"


O baque brutal do encontro do meu corpo com as águas frias e violentas, trouxera aos meus ouvidos a sinfonia que mais aguardei por toda a minha existencia. Diferentemente do meu primeiro salto, não tentei lutar contra a fúria do oceano. Ao contrario, deixei-me ser conduzida de acordo com a sua vontade, batendo nas pedras, girando e girando. 

Eu podia sentir a negritude da morte invadir cada um dos meus orgãos, numa ansia descontrolada. Meus pulmões queimavam, implorando por ar e querendo se livrar de qualquer maneira daquela agua que os afogava. Ao mesmo tempo em que meu coração tornava-se cada vez mais leve, aliviado por não conduzir mais dor a cada pulso. 

Num ultimo suspiro, meu coração batera e gritara a razão pela qual existira: Edward.

E então, eu vi o meu paraiso, bem ali na minha frente. Finalmente o tinha alcançado. 

"Minha unica esperança

(todo o tempo que eu tentei)

Minha única paz

(me afastar de você)

Minha única alegria

Minha única força

(eu caí na sua abundante graça)

Meu único poder

Minha única vida

(e amor é onde estou)

Meu único amor"


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Heey!
Por favor, me digam o que vcs acharam desse capitulo. Intenso? Insano? Acham que a Bella morreu? Acreditam que o Edward realmente estava ali?
Tudo o que eu posso dizer, é para esperarem pelo próximo capítulo. Ele sim é estranho e é a chave para o desfecho de MAV.
Beijos e mordidas, nhac!