Por favor, ouçam: Salvami – Sonohra

Minha Bella permanecera imóvel enquanto todos colocaram suas rosas em seu respectivo lugar. Seu único movimento perceptivel, era o abrir e fechar de suas palpebras, abrindo caminho para que as lágrimas tocassem-lhe a face. Vagarosamente, atraveu-se a olhar para os lados, fitando as mãos vazias das poucas criaturas que estavam na cerimonia. Percebera então, que ela era a unica que ainda não havia ido despedir-se de mim. Com os olhos transbordando em lágrimas, pôs-se a caminhar rumo a minha lápide. Olhei-a se distanciar, a medida em que a chuva caia intensamente.

O céu aqui em cima é meu
Sou uma alma, quero voar

Ao ficar apenas a alguns centimetros da lápide, o ritmo de seu coração aumentou. Senti que suas pernas a trairiam a qualquer momento, então corri ao seu encontro, envolvendo protetoramente meus braços ao seu redor. Ela, nada sentira.

”Na, na, na, na, na, na, Na, na, na, na, na, na, na Na, na, na, na, na, na, na”

Suas mãos irrevogavelmente trêmulas, guiaram a rosa branca até seu destino. Com um paupitar mais forte em seu coração, suas lágrimas passaram a escorrer em um ritmo mais intenso, doloroso.

”Olhe-me! Sinta-me!
Estou aqui, toque-me! Eu sinto o frio, dessa rua, salve-me!
Salva-me! “

Como se eu pudesse enchergar cada um de seus pensamentos atravéz de seus, olhos, as imagens do nossos ultimos minutos em Volterra, preencheram minha visão, tirando-me momentaneamente do presente. Eu podia jurar, que Bella também pertimira-se a reviver estas cenas. Lembrei-me, numa nitidez perfeita, de sua voz implorando-me para que parasse. Seus olhos encontrando aos meus, num reflexo puro de arrepedimento. Os Volturi se aproximando, para nos levarem até sua fortaleza. A voz tensa de Aro, sentenciando minha morte. Nossa despedida. Nossos lábios enrroscando-se numa perfeita harmonia de saudade, medo, desespero, e o mais verdadeiro e puro amor. Jane nos interrompendo, levando-me até o palco de morte. O quatro matadores cercando-me. A escuridão levando-me a um lugar obscuro. Meu encontro com Deus. E por fim, minha nova forma de existir como anjo.

”Diga-me! Ouça-me!
Estou aqui, aguarde!
A chuva e a neve sobre as asas, salve-me! “


Seu choro desesperado, dificultando-lhe a respiração, tornava-se cada vez mais forte. Sem lutar contra o impulso de tocar-lhe, abracei-a com todas as minhas forças. E como das outras vezes, Bella não sentira nada.

- Sinta-me, Bella. Eu estou aqui. - implorei, com a voz embargada

”Existem também
Eu vejo a alma, quero voar
Na, na, na, na, na, na, na Na, na, na, na, na, na, na Na, na, na, na, na, na, na”

Rendi-me ao desespero. Bella deveria estar me sentindo aqui. Não deveria? Deveria sentir-se protegida. Eu era seu anjo. Não era para isso que eu ainda existia? Para cuidar-lhe? Ou este seria o meu castigo, o meu inferno pessoal?

”Olhe-me! Sinta-me!
Estou aqui, toque-me!
Eu sinto o frio, dessa rua, salve-me!
Salva-me! “

Um soluço rompeu minha garganta. Eu podia sentir cada gota de chuva roçar minha pele invisivel. Ela tinha que me sentir...
- Eu estou aqui, Bella. Sinta-me! Eu nunca vou te abandonar... Nunca.

”Diga-me! Ouça-me!
Estou aqui, aguarde!
A chuva e a neve sobre as asas, salve-me! “

Mas era inutil, frustante. Ela nada sentia, por mais que eu gritasse, implorasse e a abraçasse com toda a força que me era concedida.
- Sinta-me, Bella. Eu estou aqui. Sinta-me, por favor. - implorei-lhe, beirando ao histerismo.

”Diga-me! Ouça-me!
Estou aqui, aguarde!
A chuva e a neve sobre as asas, salve-me! “

Bella estava tão imersa em sua propria dor, que era incapaz de sentir qualquer outra coisa além de dor. Sofrimento. Angustia. Seus olhos que antes eram o meu mar particular, agora eram a unica parte de si que poderia expressar algo. Doia em mim, fita-los. Doia em mim, vê-la se auto-destruir daquela forma. E eu, que estava ali, unicamente para cuidar-lhe, nada conseguira fazer.

- Eu te amo, Bella. - disse, dando-me por vencido.

”Olhe-me! Sinta-me!
Estou aqui, toque-me!
Eu sinto o frio, dessa rua, salve-me!
Salva-me! “

Dedilhando as letras que cumpunham o nome, Bella, pela primeira vez desde que voltemos de Volterra, tentara falar, sussurando para mim:

- Descanse em paz, meu amor - ela disse, num sussurro inaudivel, até por ouvidos vampiricos.

- Não, Bella!! Eu estou aqui! Por você... - respondi, minha voz não passava de um doloroso sussuro.

”Diga-me! Ouça-me!
Estou aqui, aguarde!
A chuva e a neve sobre as asas, salve-me! “


Uma nova avalanche de dor, me atingira, quebrando ainda mais os pedaços restantes de minha alma. Acariciei sua face, na inutil tentativa de secar suas lágrimas e as gotas de chuva que escorriam em sua pele.

- Você é a unica razão para eu ainda existir, Bella. - disse-lhe, docemente, pousando meus lábios sobre sua testa.

”Salve-me!
Na, na, na, na, na, na,na Na, na, na, na, na, na, na Na, na, na, na, na, na, na”

Assim que me afastei, Bella perdera o equilibrio. Tentei - sem sucesso - segura-la, mas minha nova forma, não pertira que eu a segurasse. Se não fosse por Jacob, Bella teria caido no chão.

- Eu sinto muito, Bella. De verdade. - disse, puxando-a para um abraço.

Bella correspondera ao seu abraço, suas lágrimas, ao tocar a pele febril de Jacob, secavam estantaneamente, o que me dera um certo alivio, por não ve-la chorar tão intensamente.

Jacob a guiou até a viatura de Charlie, enquanto eu apenas os observava de longe, me sentindo o anjo mais inutil que já existira. Alice, que estava encostada no capô da viatura, fez uma careta ao ver Jacob.

- Bella. - chamou -a - Foi uma tarde dificil para todos nós. - Bella assentira - Descanse, e coma quando chegar em casa - pedira, a puxando para um abraço.

- Não se preocupe, sang... Alice. Eu irei cuidar dela. - Jacob garantira.

- Disso eu não posso ter certeza, cach... Jacob. - respondeu Alice, groseiramente. Ela não podia ver o futuro de lobisomens, e de quem estava em contato com eles, o que a deixava extremamente irritada.

Com um sorriso que mais pareceu uma careta, Bella despedira-se de Alice, sendo praticamente carregada por Jacob até a viatura. Eu os acompanhei, é claro. O caminho fora feito - outra vez- em absoluto silêncio, sendo quebrao apenas pelo batimento dos corações e a respiração entre-cortada de Bella.

Ao chegarmos na casa dos Swan's, Jacob obrigara Bella a comer, o que a deixara um pouco irritada.

- Tenho que ir, Charlie. Billy me espera. - disse, despendindo-se - Se cuida, Bell's. - deu um beijo na testa de Bella, e foi-se.

Com um longo suspiro, Bella subira até seu quarto. Pegou agumas roupas, e fora tomar banho - dei-lhe um pouco de privacidade para seu 'momento humano'. Eu podia escultar o tintilhiar da agua sobre sua pele, e o som de seu pranto ritmado com o do chuveiro. Por quanto tempo eu ainda teria de suportar ve-la chorar? O que eu poderia fazer para ao menos amenizar sua dor? Com estas indagações, Bella saira do banho, deitando para durmir. Ela se encolhera abraçando fortemente os joelhos. Eu não tinha forças nem para chegar perto dela.

- Meu amor, não chore mais. Por favor. - disse-lhe, enquanto camiinhava lentamente em sua direção.

Abracei-a com todas as minhas forças, sem me preocupar em machucar-lhe - eu não possuia nenhuma força fisica. E como, na ultima madrugada, cantei-lhe sua canção de ninar, esperando que com isso, a dor aquietasse, deixando-a descansar.

- Boa noite, meu amor.