Guerreiros celestiais de Ártemis – Odisseu

- Marin, tem certeza de que esse caminho leva até aquele templo?

- Não se preocupe, Nala. Eu observei bem os caminhos antes de entrarmos no Santuário.

Ainda bem que Marin estava acostumada com tais observações. Eu também estava, com certeza, já correra por muitos caminhos desconhecidos para encontrar Atena em batalhas anteriores. E nos últimos anos, no Brasil, andara por lugares estranhos à procura de pistas para investigações policiais. Mas aquela situação tão absurda me deixara realmente transtornada, e acabara não observando bem o local.

Água escorria por paredes de pedra, rochas altas se erguiam à nossa volta e o ar tinha um estranho brilho dourado. Com nossas armaduras já vestidas, andávamos com cuidado para não fazer muito barulho, se houvesse alguém por ali, que fôssemos nós a surpreendê-lo. Mas uma energia conhecida por mim emanou pelo ar.

- Você sentiu, Nala? Tem alguém por aqui.

Olhei aos meus pés, queria ter certeza, e a consegui quando a água que deslizava pelo chão endureceu, cristalina e gelada. Arregalei os olhos, abrindo um animado sorriso quando caiu entre meus dedos um pequeno floco de neve.

- Hyoga!

- O que?

- Isso é gelo! Eu sabia que nunca confundiria esse cosmo. É o Hyoga!

- Tem mais alguém com ele.

- Sim. É o Shiryu, mas tem um terceiro cosmo que não conheço, e é muito poderoso. Deve ser um inimigo.

Corremos na direção de seus cosmos, chegando a um lugar mais aberto entre as rochas. O corpo do Dragão está caído na poça d'água, as asas de sua Kamei se fecham, como se seu cosmo se esgotasse e uma crosta de gelo o encobre. Minha voz praticamente não sai.

- Sh... Shiryu...?

Um estranho homem estava no meio do local, com uma vestimenta muito parecida com a de Teseu, porém de um tom mais próximo do marrom, ao invés do prateado. Seus cabelos são arrepiados e castanho acinzentados, os olhos castanhos e bravios fitam um só local, para onde seu braço se estende. À sua frente, em posição de ataque, os olhos azuis e os cabelos loiros estão congelados com a crosta de seu próprio gelo. Meus olhos se abrem num espanto cheio de preocupação, quando o gelo se estilhaça e seu corpo cai inerte ao chão.

- HYOGA!

Mas ao tentar me aproximar, o olhar daquele homem se voltou para mim como se fosse me retalhar. Parei na sua frente, com expressão bravia e inconformada, os dentes rangiam e os olhos brilhavam. Sem poder se levantar, Hyoga ergue apenas o olhar para mim, cheio de dor.

- Nala... O que faz... Aqui?

- Hyoga... – e voltando a fitar o inimigo – Desgraçado... Eu vou acabar com você!

- Hum... – tornou ele – Você é uma Amazona de Atena? Então derrotarei você também. Não a pouparei por ser uma garota.

- E quem é que te pediu clemência? – respondi ferina.

Saltou rapidamente, reunindo uma esfera púrpura em sua mão, e atirando-a contra mim. Era muito rápido e poderoso, e eu não pude me esquivar. A técnica me envolveu por completo, e sem ter reação, senti minhas energias se esvaírem, numa profunda e intensa dor. Quando a luz de seu cosmo se foi, ele já estava muito perto, me atingindo com um chute. Caí fortemente contra o chão, podendo ver em imagem turva a mão de Hyoga se estendendo em minha direção.

- Não... Nala...

O guerreiro celestial voltou a falar, trazendo informações que não entendíamos.

- O sangue de Atena está acabando. Os Cavaleiros que desafiam os Deuses também morrerão.

- Do que... Está falando. – perguntei fazendo força para me erguer enquanto Marin me dava apoio.

- Que para proteger vocês, ela está derramando o próprio sangue na fonte da redenção.

- O que?

- Não permitiremos! – tornou Marin.

Elevo meu cosmo contra ele, as garras crescem com o brilho do cosmo, que se espalha à minha volta. Os olhos do Cisne se enchem de preocupação.

- Nala, não faça isso!

Mas não ouvi seu apelo, concentrava-me apenas em atingir o inimigo.

- "DENTES DE SABRE!"

Os feixes cortantes de minhas garras não o atingem, a trajetória é mudada por algum campo de energia emanado por ele e minha técnica parece se concentrar em sua própria mão. Como que se desesperando ao ver a cena, com o pouco que lhe restara de forças, Hyoga se ergue.

- NALA, FUJA!

À frente de seu corpo, como num turbilhão, toda a energia de meu ataque se concentra entre suas mão, numa grande bola de puro cosmo. Minha expressão se enche de surpresa. O que era aquele guerreiro, afinal? Ele impulsiona toda aquela grande quantidade de energia de volta para mim, e vejo, diante de meus olhos, uma esfera de meu próprio cosmo avançar rapidamente em minha direção.

- Mas o que... AAAAAAHHHG!

- Nala!

Era Marin quem chamava por mim, o Cisne perdera a voz, completamente paralisado, com os olhos já marejados, boquiaberto e com a mão novamente estendida para mim. Shiryu também tentava se erguer, ofegante, olhando em minha direção.

- Droga... Nala...

O Anjo ainda nos olhava com desprezo, vendo que eu ainda tentava me levantar, e que Marin já tomava posição de combate.

- Atena entregou a Terra para Ártemis sem nenhuma resistência. Se não tem uma Deusa esperando por vocês, por que ainda lutam?

- Como se você se importasse com a resposta! – disse me levantando, e para Marin – Deixe, Marin... Ele feriu Shiryu, feriu Hyoga. EU vou dar um fim nisso!

Concentrei meu cosmo, e mais uma vez ataquei, mas novamente o oponente o desviou, concentrando-o para si, e atirando-o em minha direção. Mantive-me firme em minha posição, mas vi gelo envolvendo a esfera de energia, que se transformou numa imensa bola congelada e se partiu ao meio. Já sem forças, desabei novamente nos braços de Marin.

- Meu Deus, como ele pode ser tão forte?

O Cisne se erguera novamente, atirando com determinação seu ataque para me proteger. Agora com seu cosmo a se elevar mais uma vez, cheio de poder, com sua Kamei brilhando mais do que nunca, movimentava-se leve, com todo o estilo e graça de um cisne, preparando mais uma de suas técnicas. Mantinha o olhar sério a fitar o inimigo, que acabara de virar em sua direção.

- Nós, Cavaleiros de Atena, enfrentamos diversas vezes adversários muito mais poderosos que nós. Não me deixarei ser derrubado tão facilmente. E você, Anjo de Ártemis... Fique longe da Nala! "PÓ DE DIAMANTE!"

As correntes de gelo circundam ao seu redor e desaparecem em cristais enquanto, ao olhar para a parte alagada, vê que a água se eleva preenchida de poder. Debaixo dela surge Shiryu, transformando a corrente em um dragão de água e desferindo um golpe direto.

- "COLERA DO DRAGÃO!"

O gelo envolve o guerreiro, a crosta é atingida e não ele, e a água se espalha por todo o local, congelando a tudo, mergulhando os Cavaleiros na crosta gelada enquanto o adversário desliza pelos morros gélidos formados.

- HYOGA! SHIRYU!

O gelo se parte, os dois caem novamente desacordados. Os olhos de Hyoga ainda estão entreabertos, a expressão inerte, parecia... Morto. Corri para junto dele, ainda cambaleando, puxando-o e abraçando seu corpo gelado.

- Hyoga... Hyoga, responde...

Os olhos do inimigo se encontram com os meus, os dele de desprezo, os meus de raiva. Ele nada disse, mas eu falei com convicção.

- Não deixarei que você vença. Nós sempre lutamos até quase a morte, sempre fomos até o fim, mesmo depois de perder amigos e entes preciosos. Por nunca desistirmos, e por nossos sentimentos tão fortes é que conseguimos fazer milagres. Por Atena, pela Terra e por nossos amigos... Continuarei lutando!

- A humanidade será destruída e recomeçará do zero! – disse, mais uma vez concentrando a esfera de energia roxa em sua mão.

Shiryu se levanta, junto com Hyoga, que se coloca à minha frente. O Dragão sentencia com firmeza.

- Nós lutamos sempre juntos pelos ideais de Atena. O poder de nossos cosmos quando decidimos lutar mesmo que morramos, para proteger Atena. Esse poder nem você, nem os Deuses, conhecem.

- Nós, Cavaleiros de Atena, já vencemos batalhas perdidas contra Deuses. Nós não desistiremos nunca. Nala... Você e Marin devem sair daqui.

Os dois se preparavam, elevavam ao máximo seus cosmos para lutarem novamente, juntos. Meus olhos se encheram de lágrimas temerosas, e me agarrei a Hyoga, abraçando-o com força.

- Não, Hyoga! Não vou sair daqui, não vou sem você!

- Nala... Por favor, confie em nós.

Marin toca meu ombro, nada diz, só continua no caminho que levaria ao grande templo central. Olhei ainda para seu rosto, enxugando as lágrimas.

- Vocês alcançam a gente, né? Hyoga...

Ele apenas sorriu, o mesmo sorriso doce e gentil que não via há anos, e que me deu segurança e confiança para seguir adiante. Corri na direção de Marin, olhando para trás uma última vez antes de sumirmos no cânion.

A esfera de energia púrpura estava poderosamente concentrada entre as mãos do guerreiro celestial, enquanto o cosmo verde do Dragão se eleva ao ápice em volta do Cavaleiro, com os longos cabelos erguidos por sua própria energia. O cosmo gélido e alvo do Cisne também está em seu máximo e seus cabelos parecem brilhar como ouro debaixo do brilho de sua energia.

Sentimos as três imensas energias explodirem atrás de nós, o poder da tempestade gélida e de enormes corredeiras se unem num único e imensamente poderoso ataque contra a rajada de cosmo do inimigo. Um brilho mesclado de branco, verde e roxo quebra o tom escuro que fica entre as paredes de pedra. Tudo desaparece de repente, nem um sinal de cosmo se sente no ar.

- Marin, eles...

- Não se preocupe. Eles nos alcançarão mais tarde. Ou você não confia na promessa do Cisne?

- Sim... Confio. – e em pensamentos – "Shiryu, Hyoga, estejam bem... Por favor, Hyoga, não morra."

Os dois estão caídos no chão, inconscientes. O guerreiro de Ártemis caminha na direção oposta, de costas para eles, mas para no caminho, com o olhar incrédulo, falando consigo mesmo.

- Quer dizer... Que humanos como eles são capazes de vencer um Anjo como eu, Odisseu?

Seus cabelos se estilhaçam com o gelo, seu estômago está marcado pelo golpe dos dois. O corpo entra em colapso e parece explodir numa mistura das energias que recebera dos Cavaleiros, se destruindo e desaparecendo numa esfera de energia púrpura que consome os restos esmigalhados de sua armadura.

Continua...