Alice
Doía-me a barriga e a cabeça para não falar que sentia o meu corpo todo dorido. Só queria voltar a dormir para fugir da dor. Mas não conseguia, estava de olhos fechados mas não conseguia voltar a mergulhão na escuridão tranquilizante.
- Vamos sedá-la. Ela está cheia de dores. – Ouvi uma voz ao fundo.
- Quando é que depois, ela vai acordar? – Ouvi o Jasper. O Jasper estava ao meu lado.
- Daqui a umas horas. Ela acabou de acordar da cirurgia, é normal estar cheia de dores.
- Está bem. – Concordou o Jasper. Por muito que eu quisesse estar com o Jasper, eu queria primeiro fugir das dores. O corpo todo doía-me. Comecei a sentir-me sonolenta de novo e voltei a cair na escuridão e a dor desapareceu.
Voltei a acordar mais tarde. Os meus olhos pesavam e a dor ainda estava presente, mas eu queria estar com o Jasper, agora. Tentei abrir os olhos a primeira vez, mas eles estavam muito pesados. Passado um bocado voltei a tentar abri-los, consegui mas via tudo embaciado. Pisquei várias vezes até ficar tudo nítido. Olhei à minha volta e reparei que estava sozinha. Mas eu tinha ouvido o Jasper, ele esteve aqui. Levei a minha mão à barriga para acariciar, mas já não tinha barriga. Tinha desaparecido. Levantei a camisola que tinha vestida e vi que tinha um enorme penso na barriga. O que tinham feito com o Will? Onde é que ele estava? As máquinas começaram a apitar descontroladamente. Eu estava em pânico. Entrou uma enfermeira a correr, no quarto.
- Está tudo bem. – Disse ela tentando acalmar-me.
- O Will? – Perguntei desesperada.
- Quem é o Will? – Perguntou a enfermeira.
- O meu bebé. – Respondi. – Onde está o Will?
- Neste quarto, não esteve nenhum bebé, pelo menos desde que comecei o meu turno.
- O que aconteceu ao Will? – Perguntei desesperada. Já sentia as lágrimas a molhar as minhas bochechas.
- A senhora precisa de se acalmar, acabou de sair de cirurgia.
- Eu quero ver o Will. – Supliquei.
- Vou ver o que consigo saber, mas precisa de se acalmar.
- Eu estava grávida de sete meses e meio. O que aconteceu ao Will? – Continuei a questionar a enfermeira. Eu queria saber o que tinha acontecido ao Will. Porque é que ele não estava no meu ventre? Eu estava apenas de sete meses e meio.
- Alice! O que se passa? – Perguntou o Jasper entrando no quarto. Ele estava com um ar cansado.
- Jasper, o Will? – Perguntei a chorar.
- Shh! Alice, tem calma. Ele está no berçário, onde estão os recém-nascidos. Ele precisa de estar numa incubadora. – Explicou o Jasper limpando as lágrimas que escorriam das minhas bochechas. Fiquei mais aliviada, pensava que tinha perdido o Will. – Pode ir. – Disse o Jasper para a enfermeira. – Eu fico com ela. – A enfermeira saiu do quarto.
- O que aconteceu? – Perguntei. Só me lembro de sentir alguém a bater no meu carro e depois a Maria apareceu e quando se foi embora, apareceu uma mulher chamada Alyson. Não me lembro de muitos pormenores.
- A Maria bateu no teu carro. A placenta deslocou-se. Tiveram que fazer uma cesariana de emergência. Foi grave. Estiveste quase a morrer, Alice. Não sabes o medo que eu tive em perder-te. – Desabafou. – Alice, eu fui um idiota contigo, desde o começo. Primeiro abandono-te grávida, depois envolvo-me contigo e apareço com uma namorada. Volto a deixar-te grávida, ainda por cima com uma gravidez anémica. Quando volto e penso que tudo vai ficar bem, aparece a Maria. Alice, eu só quero que tu me desculpes por todos os erros que cometi. Eu sei que não é fácil e que te magoei muito, mas eu amo-te tanto. Eu nunca tinha sentido tanto medo na vida quando o médico disse que tu poderias morrer. Eu prometo que a partir de agora, eu vou ser o melhor marido possível e um óptimo pai. Eu vou cuidar de vocês todos e não vou deixar que mais nada vos aconteça. Tu és a minha vida, Alice, eu não te quero perder. – Levei as mãos aos lábios dele para o calar. Eu percebia que ele se sentia culpado por tudo o que tinha acontecido. Via-se no seu olhar. Mas eu não o culpava. Ele não tinha culpa absolutamente nenhuma.
- Shh, Jasper. Eu já te desculpei por tudo isso, não penses mais no que fizeste no passado. O passado agora não importa. Precisámos de nos preocupar com o futuro. Está bem, Jasper?
- Mas, se…
- Mas nada Jasper. Eu não te culpo pelo que aconteceu. Eu já não me preocupo com o passado. Apenas quero viver o presente e preocupar-me com o futuro. – Disse-lhe sorrindo. – Eu amo-te tanto Jasper e quero passar o resto da minha vida ao teu lado e ao lado dos meus filhos.
- Eu também, Alice. – Disse ele unindo os nossos lábios num beijo carinhoso. Acabámos por nos separar e eu sorri para ele. Ele era o homem da minha vida.
- Como está o Will? – Perguntei de seguida. Precisava de saber como estava o meu homenzinho.
- Está estável. Ainda está entubado porque não consegue respirar bem sozinho, mas a enfermeira e o médico dizem que daqui a uns dias já consegue. Ele é tão bonito e pequenino.
- Jasper, quero vê-lo. – Pedi agarrando a sua mão. Eu queria tanto vê-lo, queria ver como é que ele é.
- Primeiro, o médico tem de ver se está tudo bem contigo, depois vamos ver o Will, se o médico autorizar. Ele acabou de adormecer, também, por isso, vamos dar um tempo para quando tu fores lá, ele estar acordado. – Disse o Jasper, carregando num botão. – Agora, acalma-te e diz-me como é que te sentes.
- Dorida. – Respondi.
- Vai passar. – Disse ele acariciando a minha bochecha. – Nem sabes o susto que nos pregaste.
O médico apareceu no quarto, minutos depois. Primeiro esteve a verificar os sinais das máquinas para ver se estava tudo estável e depois examinou e desinfectou a sutura, para não infectar. Quando ele saiu, uma enfermeira, veio trazer uma cadeira de rodas para eu puder ir ver o meu bebé, o médico autorizou-me a ir vê-lo. Queria tanto que ele pudesse ficar comigo no quarto. O Jasper ajudou-me a sentar na cadeira e depois levou-me até ao berçário, onde estava o meu bebé. Quando o vi, houve um aperto no meu coração. Ele estava cheio de agulhas e estava entubado. Ele era tão pequenino e já tinha que passar por isto. O Jasper chegou a cadeira mais perto da incubadora para eu puder tocar-lhe.
- Ele é lindo. – Disse acariciando a sua bochecha. O Jasper apenas sorriu. O Will começou a piscar os olhos. Estava a acordar. – Olá, pequenino. – Disse sorrindo para ele. Ele olhou para mim. Tinha os olhos castanhos, tinha a cor dos meus olhos. – Ele tem os olhos castanhos! – Admirei.
- Pois tem. – Disse o Jasper sorrindo. – É o que eu mais gosto nele.
- Gostava tanto de o puder amamentar. – Disse.
- Daqui a uns dias já vais puder. Ele agora precisa de melhorar para ir para casa. E tu também. – Disse ele acariciando a minha mão.
- Eu só queria que ele não passasse por isto. – Desabafei, acariciando a bochecha do meu homenzinho. Não queria que ele sofresse pelos meus erros, apenas isso.
- Eu sei. Eu também não gosto de o ver assim, mas o mais importante é que estão os dois vivos, e agora é o que apenas importa. – Disse ele. – Alice, precisas de ir descansar.
- Eu quero ficar mais um pouco com ele. Pelo menos até ele adormecer. Para não sentir a nossa falta. Ele está aqui sozinho, Jasper.
- Está bem. Até ele adormecer.
Fiquei a acariciar a sua mãozinha até ele começar a piscar os olhos. Era sinal que estava a ficar com sono e ia adormecer. Quando ele acabou por cair no sono, o Jasper levou-me de volta ao quarto. Eu queria continuar com ele, custava-me deixa-lo, ali sozinho.
O Jasper ajudou-me a deitar na cama e eu aconcheguei-me nela. Doía-a o corte que tinha na barriga.
- Está bem, Alice?
- Sim. – Respondi sorrindo um pouco. – Jasper, como estão as nossas princesinhas? – Perguntei preocupada.
- Elas estão com a Rose e estão bem, dentro dos possíveis.
- O que queres dizer com isso?
- A Liv quando soube que tu estavas no hospital chorou até conseguir adormecer e a Amber guarda tudo para ela, para não assustar a Liv. A Rose disse que na noite do acidente, ela adormeceu a chorar. Mas eu há bocado liguei para a Rose, e ela disse que elas estavam melhores, só queriam ver-te. A ti e ao Will.
- Quando é que elas vêm cá? – Queria tanto vê-las. Elas estavam também a sofrer e eu não queria isso para elas. Queria que elas soubessem que estava tudo bem.
- Amanhã, vou pedir para a Rose trazê-las. Está bem?
- Está bem. – Respondi sorrindo. Nesse momento, uma enfermeira entrou no quarto com o tabuleiro com o jantar. Estava meio perdida nas horas. Comi satisfatoriamente, pois não comia há algum tempo e depois fiquei a conversar com o Jasper até a exaustão se abater sobre mim. Eu queria continuar a falar com ele, mas os olhos começaram a pesar.
- Alice, não lutes contra o sono. Precisas de descansar para recuperares. Dorme. – Disse ele carinhosamente. Sorri para ele e depois, deixei-me levar pelo sono.