-ninguém vai adotá-lo. - a mulher ruiva cruzou as pernas ao falar com o homem sentado atrás da mesa.

-Ele não pode ficar aqui pra sempre, Elliade.

-Os pais dele estão desaparecidos e o garoto não lembra de nada. Deixe ele. Espere mais. alguma coisa tem de acontecer. Nell tinha um número de conta bancária na bolsa quando foi achado. quando fizer dezoito anos pode se virar. Verificamos e pertence aos Krame. é só por isso que sabemos o nome dele.

-O garoto tem orelhas de gato. Nem humano ele é.

-Ele é muito novo, Rudolph. Não se pode largar uma criança de nove anos na cidade e simplesmente ir embora.

-Ele tem uma casa, Elliade. Deixe ele lá.

-Sem ninguém que cuide dele?!

-Os Krame tinham um mordomo e uma empregada, não tinham?

-Colocar ele na direção de uma empresa grande, assim?! - Elliade desaprovou totalmente os meios do homem.

-Ele vai se virar. é tudo dele.

O garoto escondido ouvia tudo. O fato de estar sozinho no mundo era fardo demais para uma criança. Ser jogado num mundo que não conhecia sem avisos nem recomendações.

Colocou a mão no olho enfaixado. Não enxergava mais com ele. Era isso que era ser cego? Mas o olho continuava normal em cor e aparência.

Se não tivesse sido agredido por um grupo de garotos maiores talvez não estivesse ali, escondido em um canto, refletindo sobre o próprio sangue. Os seres humanos não tinham coração?

Ele olhou o álbum de fotografias achado dentro de uma pilha de coisas velhas, a metade completada por ele depois que o achara.

Elliade tinha o ajudado, a única pessoa que se condoera com a sorte de um garoto meio-humano que não conhecia o próprio nome.

Jogado na neve, sangrando, a mão em cima do olho furado, encolhido a um canto, um cobertor, uns papéis, alguma comida e um pendrive dentro da bolsa grande que já estava com ele quando acordara no mundo.

Aquele pendrive tinha salvado a vida dele. Insone embaixo do cobertor, ainda olhava o volume escondido no tecido do álbum, a última "página" preenchida, com o objeto que o trouxera ali.