Era só mais uma tarde chuvosa em Forks, coisa comum de se acontecer por aqui. A única coisa não normal nisso era eu sentado no sofá de casa vendo tempo passar enquanto a mulher que amo está em um aeroporto partindo para longe de mim. Pra sempre.

Nunca sofri por nenhuma garota, mas ela era diferente. Seus olhos, seus lábios, seu corpo, sorriso, tudo nela me fazia tremer, fazia meu cérebro trabalhar lentamente, mas do que o normal.

Lembrar dos seus beijos, seus carinhos, os sorrisos que me dava sempre que eu a surpreendia de alguma forma. Era dolorido saber que não teria mais nada daquilo novamente.

A chuva não parava, continuava a cair sem cessar. Algo que já estava me irritando mais do que o normal.Minha mente dizia que esse era o certo, que ela deveria seguir seu caminho e que era melhor esquece-la. Mas meu coração não. Ele gritava, implorando para que eu levantasse meu traseiro preguiçoso daquele sofá e corresse o máximo que pudesse para impedir a mulher que amo de me deixar.

Até agora eu ainda não havia entendido o que aconteceu, ela estava indo embora e eu ao menos sabia o motivo de sua partida. Rebobinei cada momento em minha mente, como um filme voltando ao inicio.

Eu sentiria sua falta, sempre, pro resto de minha miserável e tediosa vida. Ela era o meu motivo de acordar todos os dias, era por ela que eu respirava, era por ela que eu existia.

Queria ter forças pra correr atrás dela, mas sabia que já era tarde demais e que mesmo eu correndo o máximo que meu corpo pudesse agüentar, quando chegasse lá, ela já teria partido. Queria poder ir junto com ela.

Porque não fui? Porque fiquei aqui vendo as coisas acontecerem bem na minha cara e ao menos entendi o que se passava?

- Filho levante-se desse sofá, - dizia papai – ficar aí olhando a chuva cair não vai trazê-la de volta.

- O que foi que aconteceu para que ela se fosse? – indaguei.

- Você não sabe? – retrucou olhando-me nos olhos. – Pense bem filho, você não sabe mesmo o que aconteceu?

Na minha mente havia uma enxurrada de lembranças, todas as coisas que vivi com ela, cada momento precioso que passei ao seu lado, cada palavra dita. Voltei a dois dias atrás, quando ela se despediu de mim, dizendo que iria embora e que jamais voltaria.

“Flashback on”

- O que acha? – perguntou animada.

- Você quer que eu vá com você pra Flórida? – perguntei.

- Sim, papai me deu um apartamento lá, podemos morar juntos e você freqüentar a faculdade. – explicou.

- E quanto à vida aqui? – indaguei.

- Nos voltaremos quando nos formarmos e também visitaremos nas férias e data importantes. – falou.

Seus olhos brilhavam, ela realmente queria isso. Mas eu queria? Eu gostava de viver aqui, com meu pai e minha irmã, gostava dos meus amigos, da chuva que sempre caia ao fim de cada tarde, não queria perder nada disso.

- Porque você vai? – perguntei.

- Jake, nós já conversamos sobre isso. Eu vou pra faculdade, espero por isso há tanto tempo. – respondeu.

- E quanto a mim? – indaguei.

- Você vai comigo! – respondeu.

- E se eu não quiser ir? – perguntei.

- Não quer ficar comigo? – retrucou, seu olhar mudando do animado e feliz passou para um duvidoso e cheio de medo.

- Não é isso, mas não quero ir embora, largar tudo. – respondi.

- Não vamos largar tudo, é só a faculdade. – falou. – Vamos voltar!

- As coisas mudam Nessie, e se as coisas mudarem lá? – perguntei.

- Mudarem como?

- Não sei, se elas mudarem, só mudarem. Eu gosto de como as coisas são aqui. – expliquei.

- Não entendo, nós vamos estar juntos, não é isso que importa?

- Não sei mais se é só isso que importa. – falei.

- Como? – perguntou com os olhos arregalados.

- Não quero largar as coisas aqui, meus amigos, minha vida. – respondi.

- Nós vamos construir coisas Jake, juntos.

- Não mais. – falei.

Eu não queria que as coisas fossem desse jeito, queria ficar aqui com a minha Nessie para sempre, sabia que seriamos felizes. Aqui tínhamos tudo o que precisávamos, não tínhamos de sair daqui para nos encontrar, eu já havia encontrado ela, não precisava de mais nada.

- Está abrindo mão de mim? – perguntou incrédula.

- Quero ficar. – respondi simplesmente dirigindo-me a casa.

- Então eu vou! – falou convicta.

Apenas continuei a andar e entrei em casa, logo voltaria a chover.

“Flashback off”

- Eu a deixei ir. – respondi a papai.

- Sim, e é por isso que ela está no aeroporto indo embora. – concordou.

- Mas foi o que ela quis, ela quis me deixar, quis ir embora, pra longe de mim. – falei pensativo.

- Filho, às vezes as pessoas precisam mostrar o que sentem. – disse.

- Como assim?

- Você não mostrou a Nessie o que queria. – respondeu.

- Sim, eu mostrei. – respondi. – Disse que queria ficar.

- Você disse que “você” queria ficar, mas não disse que queria que “ela” ficasse. – papai disse olhando-me com ternura.

Era verdade, eu jamais havia dito para ela que não fosse, que ficasse comigo, apenas disse que eu não iria.

Será que se eu lhe dissesse agora que queria que ela ficasse ainda assim ela iria embora? Levantei-me do sofá para pegar o celular que estava sobre a mesa. Seu numero eu tinha de cor, não precisava nem pensar e ele já me vinha à mente.

Ela não me atendia, talvez estivesse decepcionada demais para querer me ouvir, mas eu não desistiria. Peguei as chaves do carro e sai correndo de casa, não precisei dizer a papai aonde iria, ele já sabia que eu não iria desistir dela.

Durante todo o trajeto não parei de ligar, não deixaria de lutar por ela, e se quando chegasse lá, ela já tivesse ido, eu pegaria o primeiro avião para a Flórida, buscaria ela e a traria pra mim.

A neblina fazia a estrada ficar escura, a chuva me impedia de dirigir mais rápido, eu queria chegar logo, queria vê-la, abraça-la e dizer que o que eu mais queria era estar com ela.

Uma luz forte veio em minhas vistas e não consegui mais enxergar nada. Um baque surdo e eu estava sendo arremessado junto ao carro para qualquer lugar.

Ela havia finalmente atendido ao telefone. Mas agora eu não podia falar, o carro girava no ar e tudo parecia se mover devagar. Senti uma dor forte na cabeça e gritei, gritei por ela. Ouvi sua voz me chamando, mas já era tarde demais, eu já não podia responder.

Era tudo muito estranho, não conseguia sentir meu corpo e sabia que não estava consciente. Mas ainda assim eu a tinha comigo, seu cheiro, seu gosto, tudo, era como se eu ainda estivesse acordado.

“Flashback on”

- Eu te amo mais que tudo. – eu disse acariciando seu rosto.

- Eu também te amo mais que tudo. – respondeu.

Colei meus lábios aos seus, seus doces lábios, carnudos rosados e macios. Era ali que eu me senti bem, feliz. Tudo nela me fazia sentir especial, o jeito que me olhava e me tocava. Para ela eu era especial, ela era a única que me fazia sentir realmente importante.

Ali deitados na grama dos fundos da casa dela, sob a luz do luar e das estrelas, em uma noite especial em que a natureza nos permitiu que não chovesse para que aproveitássemos, tivemos nossa primeira vez.

Jamais esquecerei de seu corpo se despindo pra mim, sua pele ardente como fogo, cintilando a luz natural da noite. Nossos corpos se tocando, o prazer de tê-la pra mim como nenhum outro jamais teve.

Fundidos em um só, nossas almas e corpos se unindo de uma vez, para jamais se separarem. Seus gemidos, ela clamava meu nome, e eu o dela. Pedindo mais e mais de mim, e eu dela.

“Flashback off”

Sentia choques, e também mãos em mim. Na terceira descarga elétrica acordei. Tinha uma luz forte que me impedia de enxergar. Aos poucos minhas vistas foram se acostumando com a iluminação do lugar.

Vi médicos se abraçando comemoravam algo, só depois fui reparar que comemoravam por eu estar vivo. Então era isso eu havia sofrido um acidente no meio do caminho para o aeroporto.

Não havia chegado lá, olhei em um relógio de parede a cima de uma porta. Já era madrugada, Nessie já havia ido embora. Essa hora já deveria estar longe, chegando à Flórida.

Eu havia fracassado, não havia chegado até ela, e dito que queria que ficasse, que ficasse por mim, por nosso amor. Preferiria ter morrido.

- Filho! – senti os braços de papai me envolvendo.

Vozes por toda parte, minha irmã chorando, eles agradeciam a Deus por eu estar aqui, eu já não. Eu me arrependia de não ter chegado até ela, me arrependia de não ter morrido. Nem pra morrer eu era bom o suficiente.

- Jake! – ouvi sua voz.

Ela estava aqui, estava sim eu podia ouvir e sentia sua presença. Estava preso a uma penca de fios que não me permitiam me mover, queria arrancá-los e correr, correr para seus braços, jurar amor eterno e jamais permitir que se afastasse.

Vi seu rosto, estava molhado e seus olhos vermelhos. Ela havia chorado. Senti seus braços me envolverem e puxei meu braço até que pudesse finalmente agarra-la com todas as forças que tinha no momento. Os fios se soltaram, mas eu não liguei, ela estava aqui, ela não havia ido embora. Ficou, ficou por nosso amor.

Seu chorinho no meu ouvido e suas mãos acariciando minha nuca me fizeram acreditar que ela me amava, amava sim e queria ficar comigo.

(...)

- Jake cuidado com esse pé! – pediu ela, ralhando comigo por não ter ficado na cama como mandou e ter saído andando pela casa mesmo estando com o pé engessado.

- Eu poderia ficar sem a perna, mas não sem você! – falei olhando-a nos olhos.

- Eu te amo! – disse sorrindo.

- Eu também. – falei. – Porque você ía?

- Ia aonde?

- Embora, porque ia? – indaguei.

- Você disse que ficaria, não que queria que eu ficasse. – respondeu. – Você nunca me pediu pra ficar.

- To pedindo agora! – falei.

- Quer que eu fique aqui, com você?

- É, quero que fique, por mim, por nós dois. Não vou ser feliz sem você. – respondi.

- O que fazia na estrada naquela noite? – perguntou.

- Ia te buscar. – respondi.

- Você ia me impedir de ir embora?

- Não, só ia pedir pra ficar. – falei.

Seu sorriso se espalhou pelo rosto de boneca. Seus lábios carnudos e rosados se esticando na mais bela demonstração de felicidade. Suas mãos voaram para meu pescoço, seus lábios nos meus.

- Eu fico! – respondeu sorrindo.

Puxei-a pela cintura, para mais um beijo. Era assim que deveria ser, juntos pra sempre.

N/Kamii

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