Summary: Algumas rotinas devem ser criadas para que outras não sejam esquecidas.

Ficlet não betada!

Não consegui esperar até dia 10 de Outubro para postar. Pequena homenagem ao Warrick Brown.

Com o passar dos meses

No primeiro mês de casamento, Gil e Sara voltavam de carro para casa. Sara dirigia, pegou trauma de deixar que outras pessoas dirigiram o carro onde ela está. Gil pediu para Sara deixá-lo na lotérica e voltaria para casa a pé. Sara perguntou o motivo e Gil desconversou. "Preciso pagar algumas coisas, mudar endereços de outras. Coisas chatas." Ele lhe sorriu e ela não viu qualquer mentira, deixou-o ir.

No terceiro mês de casamento, Sara flagrou Gil saindo da loteria com um estranho sorriso no rosto. Parou o carro na esquina e Gil pareceu surpreso, assustado, desconcertado. Ela perguntou ironicamente sobre "outras" contas, Gil perguntou se ela estava com ciúmes de uma lotérica. Nem um nem o outro responderam, e Sara passou o dia de cara fechada.

No quinto mês de casamento, Sara começou a suspeitar que Gil a estava traindo com a mulher que trabalhava na lotérica. Ele tinha, Sara lembrava, a mania de se interessar por mulheres diferentes por pura curiosidade em suas peculiaridades. Pensou em segui-lo, mas preferiu esperá-lo para o jantar. Foi a primeira vez que Gil se sentiu incômodo na presença de Sara. Jantaram em silêncio.

No sétimo mês de casamento, Gil chegou atrasado em casa e Sara perguntou o motivo. Gil enrolou, enrolou e acabou por não dizer o motivo. E ela explodiu, foi a primeira vez que brigaram, foi a primeira vez que Sara chorou por causa de Gil, foi a primeira vez os dois se mostraram inexperientes em lidar com os sentimentos de outras pessoas. Gil quis voltar para Las Vegas, Sara quis ir trabalhar.

No nono mês de casamento, Sara chegou mais tarde em casa e tudo estava em silêncio. Pensou automaticamente que Gil ainda não tinha chegado e ficou irritada. Deixou a chave na mesa sem olhar para o chaveiro. Quando foi para a cozinha, notou algo diferente em cima da mesa. Alguns dólares estavam perfeitamente dobrados, embaixo deles havia duas pequenas folhas. Em uma delas, um "Parabéns" escrito em vermelho e em letras garrafais chamava a atenção. A outra folha era uma cartela cheia de números, vinte deles estavam marcados a caneta, grampeado a ela os números ganhadores. Iguais. Sara foi para a sala e viu Gil dormindo. Óculos no rosto e um jornal com palavras cruzadas no peito, as mãos dele descasavam em cima do papel. Sara sorriu.

No décimo primeiro mês de casamento, Sara perguntou por que Gil tanto ia à lotérica. Ele a levou lá. Uma das paredes era marcada por vários papéis e cartazes repletos de números. Gil disse que a lotérica lhe lembrava Las Vegas. Sara olhou para Gil que fitava aqueles números como se estivesse em um cassino. Ela associou e finalmente entendeu. Números, cassino, Las Vegas, apostas, Warrick Brown. Ambos ficaram até a lotérica fechar encarando os números, sentindo as pessoas virem e irem, sentindo o passado vir e ir. Sara sentiu vontade de chorar e sentiu saudades do Warrick.

No décimo segundo mês de casamento, Sara começou a ir à lotérica, todas as semanas, todas as sextas. Apostava em alguma cartela, observava os números nos cartazes da parede e ia para casa. Sara não gostava de apostas, mas algumas rotinas devem ser criadas para que outras não sejam esquecidas.