Warning Sign escrita por Olivia


Capítulo 2
Capítulo 2




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Eu acordei cinco da manhã, me sentindo mais cheia de vida, mais animada. Normalmente, essa era a hora que eu conseguia dormir.

O meu problema era a insônia, que vinha me perseguindo há algum tempo. Ela ia e voltava, e nas últimas semanas estava bem forte, eu só dormia por uma ou duas horas. Eu não queria tomar remédios, mas acabava tomando quando não fazia muito mais do que pegar no sono na escola.

Eu me levantei da cama e desci as escadas até a cozinha, atrás do meu cereal e leite para o café da manhã. Enquanto eu comia, olhei a janela e vi que tinha chovido de madrugada, mas já tinha parado.

Eu estava cheia de energia, com uma bicicleta pronta para ser usada...

Birkdale School não ficava muito longe da minha casa, eu ia de ônibus até lá, mas eu decidi variar um pouco.

Subi as escadas depois de lavar a pequena louça e fui me arrumar no meu quarto.

O uniforme era extremamente tradicional: saia plissada xadrez em tons de bege marrom e blusa de botão branca. Como estava frio, eu coloquei uma meia calça, meu keds e um blazer pretos. Fui até o banheiro, escovei meu cabelo, os dentes e fiquei encarando o espelho.

Eu estava claramente mais saudável. As manchas roxas embaixo dos meus olhos antes eram agora apenas borrões, que graças ao corretivo sumiram.

 

Coloquei minha mochila nas costas, desci as escadas, fui até a garagem, peguei a bicicleta e comecei a pedalar, indo em direção a avenida e em uns vinte minutos eu estaria na escola.

Cheguei lá com tempo de sobra, ainda faltavam mais vinte minutos até o sinal tocar. Eu fui até o meu armário guardar algumas coisas e esperar Leah, mas ela já estava lá.

“Wow, você por aqui essa hora?” Ela disse, sorrindo. “E cara, o que aconteceu com você?”

Por um minuto eu achei que a surpresa dela fosse algo negativo, mas depois eu me lembrei que eu parecia viva de novo.

“Eu dormi.” Eu disse as palavras bem devagar, era difícil de acreditar ainda.

“Não acredito!” Ela estava claramente feliz por mim. “Hm, espera. O que foi que fez esse milagre acontecer?” Eu imediatamente desviei o olhar para qualquer outro ponto. “Opa! Quem?” É, eu nunca serei atriz.

“Nada Leah, eu só peguei no nosso vendo TV. Só isso.” Eu abri o meu armário e comecei a jogar tudo o que tinha na mochila lá dentro.

“Anna, não mente pra mim.” Ela ficou séria de repente.

“Luke, foi Luke.” Eu soltei, com medo de ela ficar brava comigo se eu não contasse. Ela começou a sorrir de orelha a orelha e eu comecei a pensar que as coisas seriam melhores se eu ficasse de boca fechada. “Não foi realmente culpa de Luke o meu sono ter aparecido. Nós brigamos, isso seria algo que tiraria o meu sono ainda mais.”

“Você precisa me contar isso direito...” Ela me puxou pelo braço, indo em direção a sala em que teríamos a primeira aula.

Eu consegui contar a ela tudo antes do professor chegar, e depois tivemos aula de matemática. Eca.

 O tempo foi passando e eu tive mais duas aulas com Leah, para depois ter outras duas com Anthony. Ele era meu melhor amigo, mas eu achei melhor não contar nada para ele. Claro, não tinha nada espetacular a ser contado, só algo como “Seu amigo é um idiota”, mas ele iria defender Luke, e eu não precisava ouvir o quanto ele era fantástico.

Era hora do almoço, e eu iria vê-lo pela primeira vez no dia.

Desci com Anthony até o refeitório, pegamos nosso almoço e sentamos numa mesa junto com Liam e Leah.

“Anna, a noite foi tão boa assim?” Liam perguntou, depois de nós todos conversarmos um pouco. Eu corei quando Leah limpou a garganta.

Eu estava olhando para os lados procurando alguma resposta convincente quando o vi Luke entrando pela porta. Ele não estava sorridente como sempre, ele estava chateado. Bravo. Parecia que sua energia tinha vindo pra mim e ele ficado sem nenhuma. Ele veio andando em minha direção, olhando para mim, com seus olhos pretos fulminando.

“Posso falar com você?” Sua voz era dura.

“Claro.” Eu dei espaço para que ele sentasse no banco, ele negou.

“Lá fora.” Eu assenti e me levantei, dando um último olhar que mais parecia um pedido de socorro à Leah.

Nós andamos em silêncio até o gramado da escola, que era bem típico de filmes.

“O que foi?” Eu perguntei, quando o silêncio ficou insuportável.

“Por que você pegou meus cigarros?” Ele perguntou entre os dentes. Um gelo me subiu a espinha.

“Que cigarros?” Eu menti. Eu tive que mentir, levar um soco não era uma opção.

“Não minta Anna. Antes de te ver ontem eu tinha cigarros no meu bolso e quando cheguei em casa eles tinham sumido.”

“Pra começo de conversa, eles não deviam estar lá.” Eu disse, agora brava também.

“Isso é assunto meu. Se você quisesse um, podia ter pedido.”

“Ew, eu não quero!” Eu disse, franzindo o nariz.

“Eu sim, então me devolva.” Ele deu um passo em minha direção e eu dei um para trás.

“Eu não peguei Luke.” Eu disse as palavras calmamente, porque a raiva dele estava me dando... Medo.

“Urgh, você não se importa de qualquer jeito.” Ele disse se virando para voltar para dentro da escola, mas eu segurei seu braço, bem forte.

“Seu idiota, é lógico que me importo! Se eu não me importasse, não teria jogado fora.”

Eu percebi meu erro quando um sorriso começou a brotar no canto de sua boca até que ocupasse um grande espaço. Oh deus, como eu sou burra.

“Você se importa!” Ele disse, sua voz não era mais dura. Sua energia tinha voltado, ele estava alegre, e ele estava se aproximando muito.

“O quê? Eu não... Eu...” Eu comecei a gaguejar feito uma idiota. Urgh, nada mais podia ser dito para me salvar.

“Você se importa.” Agora sua voz era baixa, não havia necessidade de falar alto, já que estávamos tão perto.

“É claro, se você morrer por causa dessas coisinhas, sou eu quem vai ter que consolar meus amigos chorões.” Eu tentei parecer segura, mas eu estava bem incomodada.

“Ah é?” Ele relaxou um pouco, indo para trás.

“Sim.”

“Você não ia chorar nem um pouquinho?” Ele desafiou.

“Não ia.” Eu cerrei os olhos.

“Nem um pouco de nada?” Ele fingiu surpresa nos seus olhos e eu rolei os meus.

O sinal tocou e ele nunca pareceu soar tão doce. Eu saí correndo, mesmo que minhas próximas aulas fossem ao lado dele.

“Mas que coração de pedra, Anna Pritchard!” Ele disse, eu pude ouvir sua gargalhada de longe, se distanciando.

 

Eu fiquei sentada no chão do palco olhando para minhas unhas, tentando ver algo nelas que me fizesse tirar a ansiedade do estômago. Era aula de teatro, e Luke era minha dupla de drama.

“Onde está Luke, Anna?” A professora me perguntou. Ele estava atrasado... Eu não devia ter corrido, eu devia tê-lo esperado.

“Eu acho que ele não deve demorar.” Eu sorri, tentando parecer segura do que tinha dito. Ele podia muito bem matar aula.

“Muito bem classe, procurem seu par que hoje nós vamos fazer o espelho.” A professora disse e a classe toda pareceu se movimentar enquanto eu fiquei olhando para a porta do auditório, esperando...

“Dizem que quando você olha pro telefone, ele não toca.” Uma voz disse atrás de mim e eu me virei bruscamente. Luke estava parado em pé com seu sorriso de lado. “Eu acho que acontece o mesmo com portas de auditórios.” Ele se sentou ao meu lado e eu me virei para ele, para começarmos o exercício.

“Você está fedendo fumaça.” Eu franzi o nariz. De repente a demora dele foi explicada.

Ele imitou minha careta, começando o exercício. “Impressão sua.” Ele deu de ombros, eu imitei.

“Para com isso, Luke.” Eu pedi.

“Você se importa.” Ele sorriu, mas eu me recusei a reproduzir isso.

“Cale a boca.” Eu mostrei a língua pra ele, que me imitou e depois piscou e sorriu, eu fiz o mesmo ainda que fosse forçado.

Ele apontou para ele mesmo, fez um coração com as duas mãos e depois apontou pra mim. Eu cerrei os dentes e fiz o mesmo, sem nenhuma emoção.

Nós ficamos em silêncio, um fazendo gestos e o outro imitando. Os dele eram sempre coisas como beijos, piscadas e corações, enquanto os meus eram demonstrações de socos e afins. Por mais que pareça estranho, acabou se tornando divertido.

O sinal bateu e Luke se levantou rapidamente, esticando sua mão para me ajudar a levantar e eu a segurei, sendo puxada para cima em seguida.

Desci do palco e peguei minha mochila encima de uma das centenas de cadeiras do auditório.

“Você vai na cafeteria hoje?” Luke perguntou, ao meu lado. Eu mexi no meu cabelo, bagunçando um pouco e tentando pensar numa resposta. Era óbvio, eu não ia; eu tinha que patinar. Mas eu queria poder ir, eu queria vê-lo. Infelizmente.

“Hoje não.” Eu apertei meus lábios, formando uma linha fina.

“Por que não?” Ele arqueou as sobrancelhas.

“Eu não trabalho lá na verdade.” Eu comecei a andar e Luke me acompanhou. “Eu só ajudo às vezes, hoje eu tenho outras coisas pra fazer.”

“Ah.” Ele parecia... Decepcionado? “O que por exemplo?” Ele abriu a porta do auditório e esperou que eu passasse. Eu o olhei em questionamento, mas não disse nada arrogante: o clima bom não precisava ir embora.

“Patinar.”

“Onde?” Ele me olhou com um sorriso malicioso.

“Eu já te disse que não vou contar!” Eu ri da teimosia dele.

“Qual o problema? Você não quer que eu descubra que você não patina bem?”

Eu fechei a cara em resposta. “Eu patino muito bem.”

“Então prove.” Nós colocamos o pé dentro da sala de inglês, nossa próxima aula.

O professor já tinha entrado então eu corri para o meu lugar – bem longe de Luke.

Eu evitei contato visual com ele a aula inteira, precisava tirar ele da minha mente.

Eu suspirei. Meu controle estava indo por água abaixo, eu estava baixando guarda e deixando que qualquer sentimento por ele ocupasse espaço e isso já não parecia mais tão errado.

Eu rasguei uma folha do meu caderno, rabisquei “Ice Sheffield”, amassei e joguei para ele que depois de ler, sorriu e disse algo como “Estarei lá.”

 

 

Eu pedalei devagar e calmamente da escola até Ice Sheffield, o rinque de patinação. O caminho era longo, eu não tinha pensado nisso quando fui de bicicleta até a escola, mas agora que já estava feito eu tinha que ir com calma para não ficar sem energias antes mesmo de precisar delas.

Nesse ritmo eu tive tempo de por meus pensamentos no lugar – ou de pelo menos tentar. Era como se tivessem duas vozes lutando dentro de mim, a razão e a emoção. Uma, a razão, dizia que eu estava certa no começo, eu tinha que continuar longe porque era óbvio que eu iria me machucar e não era isso que eu precisava. A emoção... A emoção dizia que eu tinha que tentar, tinha que me abrir, tinha que confiar nos sentimentos e que não importasse o resultado, eu ia ter alguma coisa para contar aos meus netos no final das contas.

De repente pensar não estava ajudando de jeito nenhum, eu só queria dormir de novo.

 

Cheguei ao rinque, estacionei a bicicleta e corri para dentro. Eram três da tarde e meu treino começava às três e quinze. Fui até o vestiário e coloquei meu collant azul que tinha alguns paetês transparentes para dar um brilho. Não era o que eu ia usar na apresentação, mas um dos meus favoritos.

Eu peguei meus patins antes de guardar a mochila no armário e fui até o rinque vazio. Normalmente estava cheio, mas nessa temporada de patinação era reservado para os esportistas e seus treinadores. A minha, Ellen, estava me esperando na grade.

Ela era loira de cabelos lisos, mas sempre presos em um rabo de cavalo. Seus olhos eram castanhos escuros e ela tinha uns trinta anos. Nós não éramos chegadas, era um relacionamento bem professor-aluno ou algo do tipo.

“Treine até onde a gente parou da sua coreografia.” Ela disse quando eu me levantei depois de por meus patins. Eu assenti e fui até a entrada da pista enquanto prendi meu cabelo num rabo de cavalo apertado.

Eu dei algumas voltas na pista para acostumar meus pés e parei no centro, esperando a música começar.

Eu ia dançar um instrumental de uma orquestra, era calmo no começo apenas com violinos e violoncelos e depois ganhava uma batida com a bateria com o tempo de seis minutos.

Eu comecei a patinar e dançar, partindo para piruetas e rodopios e então para dois saltos seguidos. Eu finalizei com um sit-spin – uma pirueta em que eu ficava quase sentada apoiada em um pé enquanto minha outra perna ficava esticada.

Eu fiquei repetindo a sequência por uns quarenta minutos e, quando acabei a última, fui pega de surpresa com aplausos.

Eu estava de costas para onde o som vinha, mas meu coração já sabia quem estava lá, e ele estava quase saindo pra fora do peito de ansiedade. Eu me virei lentamente para encontrar seu olhos... Azuis. Anthony?

Uma onda de desânimo correu pelas minhas veias e eu patinei lentamente até a grade, onde ele estava.

“Ei, você por aqui.” Eu disse, forçando um sorriso.

“Eu pensei em ver como você estava indo, muito bem pelo jeito!” Ele disse animado, sem perceber o baixo tom na minha voz.

“Obrigada.” Eu sorri, corando um pouco agora. “Você, hm, você veio sozinho?” Eu perguntei, mexendo no meu anel.

“É, eu estava a caminho de -“ Ele mesmo se interrompeu quando viu decepção no meu rosto. “O que foi?”

“O que foi o quê?” Eu me fiz de desentendida.

“Você não queria que eu tivesse vindo?” Ele não parecia triste, parecia preocupado.

“Que bobagem, Ant!” Você só podia ter vindo acompanhado... “Eu só estou um pouco cansada.”

“Ah, sim.” Ele sorriu.

“Anna, você precisa treinar.” Ellen disse, com a voz calma e sem tirar os olhos do seu caderno.

“Eu te vejo amanhã então.” Anthony disse, entendendo a indireta.

“Ok, bom resto de dia.” Nós rimos e ele me deu um beijo na testa, saindo depois e eu voltei para minha patinação.

 

Eu deitei na minha cama, mole, meio morta, e fiquei encarando o teto branco. Não senti necessidade de me aconchegar dentro das cobertas, embora eu estivesse tremendo de frio. Pontos de interrogação flutuavam pela minha cabeça, e exclamações idiotas apareciam às vezes.

“Por que ele não foi?”

“Porque ele só queria fazer brincadeiras!”

“Oh, pelo amor de Deus!” Eu me sentei na cama rapidamente e apoiei minha testa contra meus punhos fechados.

Quanta idiotice, quanta bobagem. Eu acho que nunca consegui não me apaixonar por ele de qualquer jeito, o sentimento devia estar apagado, eu tinha conseguido tirar a minha atenção disso e, agora que ele ficou próximo, era como se tudo tivesse voltado. Tudo e mais um pouco.

Eu fiquei rolando na cama, tentando lembrar como eu tinha pegado no sono a noite passada. Isso me levou a lembrar dele, e de hoje, na aula de teatro, as provocações. De fato, eu me importava.


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