Bolo de Maçã escrita por IsaWonka


Capítulo 1
maçã?




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           Arthur andava por um imenso pomar e, de mãos dadas com ele, de cada lado, havia dois garotos. Ambos de cabelos louros como o do inglês e olhos também claros. Não paravam de falar um segundo sequer e queriam sair correndo atrás de borboletas cada vez que uma delas passava pela frente do trio.

           — Ela é azul! — gritou o menor deles.

           — É, deixa a gente ir! — insistiu o outro.

           — Não — reclamou o inglês, segurando-os mais firmemente. — Vocês vão se perder por aí. Olhem o tamanho disso.

           — Mas... — o canadense encheu os olhos de lágrimas e o americano imitou-o logo depois.

           Arthur começou a ficar sem ação. O que iria fazer para que eles não abrissem o berreiro ali e agora?

           — Esperem, não chorem — olhou para os lados, agoniado e sem jeito. — Eu levo vocês até a macieira e nós pegamos algumas frutas de lá. E se alguma borboleta estiver ali, eu deixo vocês a seguirem. Mas só se ela também for azul.

           Ambos os garotos sorriram e concordaram, festejando. Era claro que o choro não era verdadeiro e o inglês sentiu-se irritado por ter sido enganado. Alfred começou a parabenizar Matthew pela ideia e seguiu cantando uma melodia desafinada, da qual a letra era composta, inteligentemente, pela palavra “maçã”. Sem demora, o canadense entrou na brincadeira, fazendo uma espécie de segunda voz.

           Os dois pequenos saltitavam enquanto cantavam. Estavam passando pela parte das cerejeiras e logo a letra da música mudou para a fruta em questão: cereja. Arthur olhou para os dois e não pode deixar de sorrir com a alegria deles. Seus olhos afinaram-se e ele suspirou, tranquilo. Por mais que fossem pestes, gostava muito daquelas crianças.

           O vento fazia seu trabalho, bagunçando todos os cabelos ali e chacoalhando as árvores frutíferas. O céu estava azul, salpicado de pequenas nuvens extremamente brancas e o sol estava ameno. Nem frio, nem calor. O clima estava perfeito.

           Naquele pomar havia apenas frutas que se desenvolviam facilmente em clima temperado. Saíram do domínio das cerejeiras e estavam no das ameixeiras. A letra da música continuava mudando conforme as árvores que eram vistas. Além dessas, havia também framboesa, damasco, pêra e nozes. O clima temperado oceânico, característico daquela região do sudoeste do Canadá, fazia bem às plantas. Estavam todas carregadas de frutas, prontas para serem colhidas.

           A letra com “framboesa” ficara engraçada, fazendo os garotos — e até mesmo o inglês — rirem. Ao longe, começaram a avistar as macieiras.

           Não eram árvores muito grandes ou imponentes, mas havia qualquer simpatia nelas, um ar especial. As que possuíam frutos estavam salpicadas de vermelho entre o verde das folhas, enquanto que, as mais atrasadas, estavam salpicadas de branco, cobertas de flores delicadas — talvez tão bonitas quanto qualquer rosa branca.

           Quando estavam bem próximos, a letra voltou à sua forma original e a expectativa de ver uma borboleta aumentou. Qualquer coisa era desculpa para sair correndo.

           Longe das outras macieiras, estava uma das maiores, anunciando o tipo de território que começava ali. Fazia uma sombra razoável e dava pra ficar em baixo dela. Um redondo de grama, apenas ao redor daquela árvore, fazia um tapete perfeito para quem quisesse sentar-se ali.

           — Meninos, eu vou precisar de uma escada — avisou o inglês. — Eu vou ver se tem alguma aqui por perto, deixada pelos empregados. Mas confio em vocês, não saiam daqui. Entendido?

           — Sim! — responderam em uníssono.

           Arthur sorriu e deu as costas para os países, indo atrás de algo que o deixasse alto o suficiente para alcançar as frutas.

           Alfred e Matthew sentaram-se na grama, à sombra da macieira.

           — Está pensando no que eu estou pensando? — perguntou o americano.

           — Sair daqui e desobedecer? Não.

           — É claro que está! — Alfred deu um tapinha no braço de Matthew, como se quisesse acordá-lo. — Ele nos deixou aqui do nada e vamos simplesmente ficar... Parados?

           — Claro que sim — o canadense balançou a cabeça afirmativamente, mexendo com a grama, arrancando pequenos punhados de vez em quando.

           — Então eu vou sozinho.

           — Não vai. Senão, vou ficar de castigo junto.

           — Então seja esperto e fique de castigo com um motivo.

           — Não.

           — Tudo bem, que seja... — suspirou o americano, chateado. Alfred não queria ter que ficar sem fazer nada.

           — Logo o tio Artie volta — avisou o canadense. — Aí você voltará a fazer qualquer coisa.

           O americano voltou a se sentar, ao lado de Matthew. Ficaram ambos calados e brincando com a grama. Tudo estava quieto até que Alfred resolveu jogar um punhado dela no canadense.

           — Ei! — protestou o menor. — Pare com isso!

           — Que foi? É uma guerra — encorajou o americano.

           Matthew levantou-se e correu atrás de Alfred que, por sua vez, também saiu correndo. Ficaram como dois bobos correndo em volta da macieira até cansarem. O americano jogou-se na grama, deitado, percebendo que Matthew havia se jogado ao seu lado.

           Ofegante, Alfred virou-se com a barriga para baixo e apoiou-se nos cotovelos, suspendendo um pouco o corpo. Aproximou-se um pouco mais do canadense e depois ficou quieto.

           — Que é? Se for jogar grama em mim de novo... — advertiu Matthew.

           — Não vou fazer isso — garantiu Alfred.

           — Então o que vai fazer? Posso ser novo, mas não sou bobo o suficiente para não saber que você está tramando qualquer coisa.

           — Hah... — riu o americano. — De onde tirou essa ideia?

           Matthew levantou uma sobrancelha. Ainda sentia uma necessidade relativamente grande de oxigênio e voltou a olhar para o céu entre as folhas e os frutos da árvore.

           Aproveitando um pequeno momento de descuido canadense, Alfred beijou-o nos lábios. Como eram crianças, o beijo foi apenas um “selinho” levemente demorado.

           Assim que se separaram, Alfred caiu novamente na grama. Estava corado — mas não tanto quanto Matthew. O canadense queria perguntar por que o americano fizera aquilo, mas não conseguiu. Voltou a sentir que precisava respirar com mais profundidade e dedicou-se a acalmar o corpo trêmulo.

           Um sorriso sorrateiro ainda pairava pelo rosto do americano quando Arthur voltou. Sem a escada.

           — Se você não achou a escada... — começou o canadense, ainda desajeitado. — Como vamos fazer?

           — Eu seguro vocês, é o único jeito.

           — Legal! — exclamou Alfred.

           O inglês coçou a cabeça. Como iria fazer aquilo? Começou a prever uma tragédia.

           De um jeito qualquer, segurou as duas pequenas nações, erguendo-as um pouco mais.

           — Ainda não alcanço — avisou Alfred.

           Arthur quis rir pelo malabarismo que estava fazendo, mas conteve-se. Sabia que rir costumava tirar a força das pessoas e que só pioraria tudo. Tentou se esticar um pouco mais, e tudo parecia estar indo bem, até que Matthew colocou um das mãos sobre o olho do inglês, que pulou de dor.

           — Ai! — exclamou.

           Com o pulo, Alfred alcançou uma das frutas e anunciou, vitorioso:

           — Peguei!

           Logo depois, veio o desequilíbrio e o tombo. Com o puxão para pegar a maçã, o americano balançara a árvore, o que fez com que várias maçãs maduras caíssem, bombardeando o trio. Cada um levou, pelo menos, duas “maçãzadas” na cabeça.

           Arthur sentiu-se levemente irritado. Seu olho ainda ardia e suas costas começaram a doer. Mas os outros dois estavam rindo. Riram ainda mais ao ver a cara fechada do inglês.

           O americano pegou uma das maçãs e fez questão de atirar em Arthur, acertando-lhe a cabeça com mira precisa. Matthew riu ainda mais, deitado na grama, segurando duas maçãs que haviam caído em sua cabeça. O episódio fez o inglês lembrar-se de Newton.

           — Agora temos pra todo mundo — disse o canadense, bem-humorado.

           — Graças a mim! O herói! — bradou Alfred.

           — Não — cortou Arthur. — Graças ao Matthew. Ele que enfiou a mão em um dos meus olhos e me fez pular. Você foi só o secundário. Ou terciário.

           — Quê? Como assim? — o americano fulminou ambos com o olhar, cruzando os braços e armando um bico logo depois.

           — É, isso mesmo. Estou contente que não tenha ficado cego. Senão eu nunca mais veria vocês. Em especial, esse canadense — riu com a própria piada e achou melhor ficar quieto pra não ter que se explicar. — Bom, recolham tudo isso e vamos andando.

           — Que vamos fazer com tantas maçãs? — perguntou Matthew.

           — Não sei... Que tal um bolo? Deixo vocês me ajudarem se não demolirem a cozinha.

           — Mas... — relutou Alfred. — É você que vai fazer? Digo... Vamos aprender com você?

           — Sim, qual o problema?

           — Nenhum... N-nenhum mesmo — o americano segurou o riso, junto com Matthew.

           — Ah, é assim?! — Arthur percebera. — Então façam vocês. Quero ver se são melhores do que eu.

           — Qualquer um é... Ops — Matthew colocou a mão sobre a boca, como se quisesse deixar claro que tinha sido sem querer.

           Arthur fechou os olhos, irritado e corado, divertindo os garotos outra vez. Todos seguraram as camisetas, fazendo aquela cestinha clássica, e colocaram as maçãs ali.

           Na caminhada de volta, o céu já estava escurecendo. O vento ficara levemente mais frio, já que a companhia do sol estava indo embora. As nuvens começaram a mudar de cor — do branco para um rosa-alaranjado.

           As risadas continuavam e Alfred tirava sarro de tudo com a ajuda do canadense. Arthur começou a esquecer o comentário sobre suas habilidades culinárias e passou a rir junto com os meninos. Sabia que aquilo era verdade — o que poderia fazer, se ele mesmo sabia disso? Chamaria alguma empregada para ajudar.

           Quando chegaram à casa, a noite já havia caído.


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Notas finais do capítulo

Reviews. Caso contrário, vão levar maçãzadas na cabeça. (y)