Entrei na sala rapidamente. Lucy e Jéssica acenaram. Fui sentar do lado delas.
Vi Alex falando com a professora, na porta. E aquela garota estava junto com ele.
Mesmo com minhas amigas tagarelando ao meu lado, continuava pensando no sonho. Nem me dei conta quando Alex terminou de conversar. Só vi que ele estava vindo novamente em minha direção.
Logo percebi o porquê. Um dos únicos lugares vazios na classe estava do meu lado.
-- Posso sentar? -- ele perguntou. Não respondi na mesma hora. Eu estava nervosa.
-- Pode s-sim. -- respondi. As palavras não sairam exatamente como eu queria, mas acho que ele entendeu.
-- Alex! -- chamou uma voz vindo do outro lado da classe. -- Vem sentar perto de mim!
Vi que era aquela mesma garota. Olhei para o rosto de Alex. Estava em dúvida. Olhei em seus olhos castanhos.
-- Eu gosto mais deste lugar. -- ele respondeu e virou o rosto para mim. Fiquei paralisada. Não consegui pensar em nada para dizer.
Seus olhos brilhavam. Ele fez um movimento com a boca. Parecia que ia falar alguma coisa.
-- Bom dia classe. -- disse a professora, impedindo ele de falar. -- Fiquem sentados.
A professora era magra, tinha cabelos grisalhos, olhos tão azuis que chegavam a ser cinzas. E ela era muito brava.
Sua voz era estridente. Ela parecia uma bruxa.
-- Melayne! -- sussurrou Lucy em meu ouvido. -- Essa professora me da medo. Lucy pegou o celular para mandar uma mensagem para uma garota no fundo da sala.
A professora, que estava escrevendo regras na lousa, virou os olhos para observar a classe.
-- Eu disse que permitia celulares na sala? -- ela gritou. Sua voz aguda ecoou pela sala. Lucy quase caiu da cadeira.
A professora se aproximou de Lucy e confiscou o celular. Nem dei atenção. Estava pensando no sonho. A voz da professora me lembrava a da criatura de meu sonho. Mas isso era impossível.
O sinal tocou de repente. Todos da classe saíram correndo. Lucy e Jéssica chegaram perto de mim.
-- Eu simplesmente ODIEI essa professora. -- reclamou Lucy. -- ela pegou meu celular e eu ainda levei uma advertência! No primeiro dia!
-- Quem mandou pegar o celular? -- retrucou Jéssica, para irritar a amiga.
Elas ficaram discutindo por um bom tempo. O tempo passou muito rápido. Quando me dei conta, já era meio-dia e quarenta. Todas as classes foram até o portão.
E , novamente, aquela garota estava com Alex. Ela olhou para mim, com os olhos cheios de fúria.
Então comecei a pensar no sonho. E no medo. Minha perna doía cada vez mais. Não sabia o que estava acontecendo.
Ela virou o rosto.
-- Alex, me leva para casa? -- ela disse, se fazendo de vítima.
-- Não posso.
Ela se virou e foi embora.
Eu não conseguia mais ficar em pé.
Mas, para minha enorme surpresa, Alex segurou a minha mão. Foi quando uma lembrança me atingiu. A lembrança daquela mão gelada em meu ombro. Era igual a de Alex. Protetora.
Olhei em seus olhos. Estavam preocupados.
-- Você está bem? -- ele perguntou, sem nem me conhecer direito.
-- Estou. Eu só... machuquei a perna. Ele não parecia acreditar, mas não disse nada.
Então, ouvi a mesma voz de meu sonho.
"Saia de perto dele. Ou vai se arrepender, humana inútil."
Aquilo me assustou. Mas eu não ia sair de perto de Alex. Principalmente porque aquilo era só uma ilusão. Uma voz que vinha de minha mente. Não era real. Eu acho.
-- Sou Alex. -- ele disse. -- E você?
-- Mel. Melayne. -- eu respondi, nervosa.
Eu estava tensa. Aquela voz era muito parecida com a daquela garota.
-- Não ligue para Cléo. Ela é muito ciúmenta. -- parecia que Alex estava tentando me acalmar.
O nome da garota era Cléo. Mas, o que ele quis dizer com "ciúmenta"?
-- Quer que eu te leve para casa? Você não está conseguindo andar direito. Apenas assenti com a cabeça. Não queria dizer nada e fazer papel de boba. Coloquei me braço em seu ombro, para ganhar apoio. Ele colocou o seu em minha cintura.
Aquela cena era um pouco estranha. Ele ia me levar até minha casa daquele jeito?
Por mais que eu gostasse de Alex, eu sabia que havia concorrentes. Mas não tinha certeza de quem era.
Mas eu não liguei. Principalmente porque aquele era o melhor momento da minha vida.