Ele me olhava nos olhos. Eu fazia o mesmo.

Não sabia se dizia alguma coisa ou se continuava calada. Estava tudo no mais completo silêncio.

-- Filha? -- minha mãe entrou no quarto. Alex saiu logo depois de sua entrada.

-- Mãe...

-- Não precisa dizer nada. Vamos.

Não entendi a reação dela. Era estranho demais.

Cheguei em casa exausta. Não sabia o que fazer. Eu corria perigo de vida. Mas como eu podia estar tão calma. Não fazia sentido.

Alex servia como um calmante. Quando estou perto dele, não consigo mais pensar em nada. Como se o mundo não existisse.

O problema é que Cléo vai fazer alguma coisa. Ela pode atacar a qualquer momento.

Resolvi ver se a caixa estava segura. Abri meu diário. Não havia nada. Alguem tinha roubado a caixa. E só consegui pensar em uma pessoa. Cléo. Não sei quando e nem como ela conseguiu pegar, mas pegou.

Não sei por que, mas senti a sensação estranha de que eu não estava sozinha.

-- Não se preocupe. Sua caixa está aqui.

A voz vei de trás de mim. Não era a de Cléo. Era a de um garoto.

Olhei para trás. Segurando a caixa bem atrás de mim, estava um garoto. Ele tinha cabelos pretos e olhos vermelhos. Assim como os da criatura.

-- O que está fazendo com essa caixa? -- perguntei, com medo, mas ao mesmo tempo, nervosa.

-- Eu estou a protegendo. E estou te protegendo também.

Me protegendo? E eu preciso de proteção?

-- Musa me pediu para vir e te proteger. -- ele disse. Mas quem era Musa?

-- Musa? -- perguntei.

-- Você já a conhece. Foi ela que te deu a caixa.

A criatura. Ela que me deu a caixa.

-- Musa é aquela criatura de meu sonho?

-- Ela não é uma criatura. E não foi um sonho. -- ele responeu. Não fiquei nervosa. Ele não parecia preocupado.

Ouvi a porta do quarto se abrindo. A criatura de manto preto estava lá.

-- Musa! -- disse o garoto.

Ela tirou o manto. Não acreditei no que vi.

Por debaixo daquela aparência de morte, não estava um monstro horrível. Ela tinha cabelos pretos e lisos. Mas seus olhos ainda eram vermelhos. Sua pele era completamente branca, como a do garoto que ela enviou para me "proteger" não sei do que.

-- Este é Léo. Ele vai ficar junto de você, para te proteger. -- ela disse.

-- Não preciso de proteão. -- revidei.

-- Cléo é muito perigosa. Você corre o risco de perder a vida. -- sua voz ainda era preocupada.

Se eles estavam tão preocupados, por que me deram a caixa?

-- Vocês são bruxos, fadas, ou o que? -- perguntei. Eu sei que humanos eles não são.

-- Preferimos ser chamados de feiticeiros. -- disse Léo.

Feiticeiros? Por que a minha vida é tão confusa?

Musa desapareceu de repente. Fiquei sozinha com Léo. Não estava entendendo o que estava acontecendo. Eu precisava falar com alguém normal. Como Lucy ou Jéssica. Ou, principalmente, Alex.

Abri a porta. Léo segurou meu braço.

-- A onde vai? -- ele perguntou. Não é possível que ele queira saber de tudo que eu faço.

-- Vou sair. -- respondi depressa.

Me soltei e desci correndo as escadas. Quando fui abrir a porta, ele se colocou na minha frante, me empedindo de sair.

-- Você não vai a lugar algum. Você está sob minha proteção. Preciso saber onde vai.

-- Vou visitar uma amiga! -- eu estava quase gritando. Não queria ficar sendo seguida por um feiticeiro.

Ele estava desconfiando de mim. Eu precisava falar com Alex. Ele me deixata seu telefone na última vez que me visitou.

-- Posso pelo menos usar o telefone?

-- Pode. -- ele revirou os olhos.

Peguei o telefone e liguei para Alex.

-- Alô? -- ouvi sua voz vindo do outro lado da linha.

-- Alex, sou eu, Melayne. Pode vir me visitar. Estou precisando falar com você.

-- Claro. Já estou indo.

Ele desligou. Eu fiz o mesmo.

Léo estava me encarando. Ele parecia desconfiado.

Eu estava sendo protegida por um garoto. Um garoto que era feiticeiro. Um garoto que... não era Alex.