Novos Olhos escrita por Maybe Shine


Capítulo 4
Como minhas orelhas viraram atração pública


Notas iniciais do capítulo

Gosto desse capítulo porque aparece o Logan. Espero que gostem!



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Não é que não goste de conhecer outras pessoas, nem que eu seja, sei lá, uma pessoa misantrópica ou anti social. Acho que já disse, trata-se apenas de timidez. Isso da para entender bem fácil, só não entendo é como a Suzana pode não entender.

Fui atacada logo que coloquei o pé na clinica.

Não adiantou nada dizer que não, não queria conhecer o resto do pessoal, Suzana segurou o meu braço e foi me arrastando até onde todos os outros estavam. Demorou um pouco para chegarmos lá, porque a Suzana não consegue caminhar rápido, e isso só ajudou para que todos percebessem que estávamos por ali.

 Suzana ficou um tempo olhando para mim quando chegamos ao banco e todos aqueles olhos estavam em nós, então disse.

- Gente, essa é a Alex. Ela acabou de se mudar para a cidade.

Nessa hora todos tinham esquecido de ficar olhando e passaram a falar ao mesmo tempo. Acho essa coisa de conhecer gente nova uma coisa muito estranha, mas nem disse nada.

Uma das garotas, a que estava na cadeira de rodas e parecia ser magrinha demais, disse que eu estava muito vermelha e chamou a atenção de todos para o fato de minhas orelhas estarem sofrendo do mesmo mal. A partir daí minhas orelhas viraram o assunto central.

- É mesmo, estão vermelhas. Que bizarro...

- Eu não consigo ver.

- Isso é porque você não vê quase nada mesmo, Duda.

- Né?

Risadas. Olhavam para minhas orelhas e soltavam mais risadas.

 

Eu sabia que eles não estavam debochando de mim ou algo assim, por isso ri junto.Depois de um tempo foi bem legal, porque a gente foi conversando e o assunto foi mudando e logo ninguém mais parecia estar interessado em fazer piadinhas com a garota nova, ou com as orelhas dela.

 

Umas das funcionarias da clinica apareceu na porta chamando a gente. Foi nessa hora que fiquei meio perdida de novo, porque sabia que tinha que ir para algum lugar para fazer alguma coisa, mas não sabia ao certo onde e o que iria fazer.

- Alex, você vem comigo – disse Suzana toda sorridente, e me explicou que nossa rotina na clinica seria parecida, mas nem a de todo mundo era, porque tem que exercitar outros músculos e fazer outros tipos de fisioterapia.

Acabei tendo que me enfiar em um maio e cair na piscina. Tudo estava bem demais até aquela hora. Devia ter imaginado que logo alguma coisa iria acontecer, alguma coisa ruim, porque coisas legais nunca duram muito tempo.

- Alex, você esta indo muito bem. Isso! Muito bom – a professora ficava dizendo essas coisas, segurando na minha perna e falando que era para movimentar desse jeito, esticar aqui, dobrar ali.

Tentei fazer todas as coisas, e vi que a Suzana também estava se esforçando para fazer. Elas olhavam para mim e diziam que estava ótimo, só que nem adiantava ficar falando todas aquelas coisas porque eu sabia que não estava indo super bem, e sabia que do jeito que estava fazendo não era o jeito certo.

Pedi para sair daquela aula um pouco mais cedo porque estava cansada.

 

Entrei no vestiário e vesti uma roupa seca batendo tudo com muita força. Eu tinha ficado com muita raiva mesmo, e nessas horas me da uma vontade de bater tudo e dane-se o resto. Nessas horas também não adianta tentar conversar comigo nem nada, porque não escuto, e também não gosto de falar.

Mas as pessoas nem sempre sabem dessas coisas, e as vezes vem falar comigo mesmo quando não quero conversar com elas. Foi o que aconteceu.

Depois de sair do vestiário sentei sozinha em um banco no jardim. Não havia ninguém ali fora.

- Oi, posso me sentar?

Olhei  para o lado. Meu cabelo estava molhando os ombros e escorriam algumas gotas d’água pelo rosto. Murmurei que sim, e o garoto que estava parado alguns metros atrás sentou-se.

 Ele era um dos amigos de Suzana, consegui lembrar dele, mas não me lembrava de tê-lo ouvido falar.

Quando sentou ele não disse nada, eu também não abri a boca. Fiquei encarando meus joelhos com raiva, como se eles tivessem feito algo muito ruim, e até cheguei a apertá-los.

 Depois de um tempo ele disse chamar-se Logan. Disse também que já sabia meu nome e que não era para mim ficar com vergonha nem nada, mas que ele tinha um segredo para me contar.

Ele aproximou seu rosto do meu e sussurrou algumas palavras. Pensei que seria uma coisa super emocionante, tipo, ele me contando que na verdade era um Power Ranger,  mas ele apenas disse que as orelhas dele também ficavam vermelhas quando estava com vergonha.

Ri um pouco, porque foi realmente engraçado, mas logo minha risada desapareceu.

- Alex, aconteceu alguma coisa? – perguntou Logan, assim, como se fosse meu amigo, ou como se fosse importante para ele saber se tinha acontecido algo.

- Pensei que você fosse um Power Ranger. Sabe, poderia ser o azul ou o vermelho, tanto faz. Eu não gosto tanto do força animal, mas força mística...

- Do que você esta falando?

- Nada, esqueça.

Depois de uns minutos de silencio ele tocou de leve meu braço.

- Esta tudo bem com você?

O olhei de novo, agora me sentindo toda péssima, e disse num tom bem ríspido:

- Aconteceu alguma coisa? Se não tivesse acontecido nada você acha que eu estaria aqui? Você acha que eu estaria nessa clinica idiota?

As vezes a gente fala demais. Mas, as vezes, algumas coisas chateiam muito a gente. Nesse caso estava chateada comigo mesma por não conseguir fazer uns exercícios  fáceis em uma piscina rasinha, que até uma criançinha que ainda não sabe andar faria melhor.

Logan me olhou espantado por um tempo, mas logo um sorrisinho torcer seus lábios. Seu rosto suavizou.

- Não é fácil nos primeiros dias aqui - disse ele –, parece que vamos fazer tudo errado e que nunca vamos conseguir melhorar. Mas não é nada disso.

- Claro que é!

- Essa coisa é muito chata.

- Que coisa?

- Essa coisa de ser pessimista e não acreditar que uma hora as coisas vão dar certo.

- Mas as coisas já deram errado, não tem como darem certo.

- Não é que as coisas deram errado, Alex, é só um obstáculo.

- É só um obstáculo – imitei o que ele disse, mas usei um tom de deboche.

Ele riu  e me olhou, não com dó ou confuso, mas com aquele mesmo sorriso calmo no rosto.

- Você pode não acreditar, Alex, mas eu sei bem como você se sente.

- Duvido muito.

Ele encolheu os ombros, olhei para seu rosto pela primeira vez. Olhei para seus olhos. Eles eram de um castanho bem escuros, bem densos.

- Ok, eu sei que pra cada um a sua dor é diferente. Mesmo que a gente tente entender, cada um sente de um jeito, e cada um sabe como esta se sentindo...

- Você esta se contradizendo.

- Acho que sim.

Logan riu um pouquinho, antes de voltar a falar.

- Só quero dizer que tem pessoas que já passaram por situações muito parecidas com a que você esta passando, e que para elas, compreender é fácil.

- Você é uma dessas pessoas?

- Acho que sim, e acho também que seria bem melhor caso você começasse a ver todos que estão aqui como pessoas dispostas a lhe ajudar.

- Acho que isso é difícil.

- Eu sei, mas da para tentar, não é?

Disse que achava que sim e o Logan sorrio, mas eu não achava que dava para tentar, porque  achava que não precisava da ajuda de ninguém.

 


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Notas finais do capítulo

Mas então, querem mais?