Acordei varias vezes durante a noite, não consegui dormir, estava com medo do que iria enfrentar no outro dia.

Era como se fosse o meu primeiro dia de aula, eu teria que conhecer todas as pessoas novamente, me adaptar ao colégio.

Quando olhei  pela janela já era claro, pulei da cama, tomei meu banho, me arrumei e desci.

Minha mãe já estava com o café na mesa e meus irmãos estavam ainda se arrumando.

- Bom dia flor – ela disse dando – me um beijo na mina testa.

- Bom dia – falei enquanto sentava-se à mesa, como não sabia qual era o meu lugar de costume,escolhi um  aleatoriamente.

Ou minha mãe me conhecia muito bem,ou estava estampado na minha testa o meu medo.Pois nem precisei falar algo para ela responder.

- Não se preocupe, seus irmãos e a Nicole vão estar com você, tudo vai ficar bem, e logo você vai se lembrar de tudo meu anjo.

As palavras caíram sobre uma luva no meu coração agitado e com medo. Eu confiava no que ela me dizia,sentia –me aliviada com suas palavras.

- É tudo o que eu espero.

Depois de alguns minutos meus irmãos desciam pelas escadas rindo e brincando. Tudo ali era muito natural para todos e fácil,era um ambiente de amor e felicidade que se instalava ali.

- Olha ai mãe o James quer usar a minha roupa, esse pirralho – o Jonhy falava o empurrando.

- Não sou pirralho, diz isso pra ele mãe – o James falava com um singelo biquinho.

Tive de rir com essa, ele era um amor de garoto, às vezes adulto e outras vezes apenas um simples garotinho de 12 anos.

- Parem vocês dois – Minha mãe exclamou em um tom autoritário pra eles – Agora tomem café e vamos. – completou séria para eles.

No mesmo instante eles pararam e a obedeceram sem reclamar.

Terminei meu café, subi pra escovar meus dentes e dei uma rápida olhada no espelho desci indo em direção ao carro

Não demoramos muito pra chegar ao colégio, depois de uns 10 minutos já podia ver certa quantidade de alunos amontoados em frente ao colégio.

Estremeci com isso, estava com as mãos geladas, pernas bambas e um frio enorme na barriga. Minha mãe reparou que estava com medo e pegou na minha mão,tentando me reconfortar com seu toque.

- Vai ficar tudo bem – ela disse me encorajando.

Não tinha mais escapatória, teria que descer e enfrentar de uma vez por todos o que me esperava.

Para a minha sorte, Nicole estava me esperando na porta do colégio, assim que desci ela veio ate a mim e me abraçou.

- Bom dia amiga,que bom que você veio,vou estar com você. – ela disse, pegando minha mãe me puxando pra nossa sala.

Enquanto passava pelo corredor, ouvia sussurros das pessoas sobre mim “Nossa coitada dela perdeu a memória”. “Não se lembra de nada”. “Olha aquele machucado no braço dela,horrível“ .

Esses comentários me atingiam, não gostava de pessoas falando de mim pelas costas e muito menos sentindo pena de mim.

Em fim chegamos à nossa sala de aula, não sabia onde sentava e muito menos com quem sentava, pra minha sorte, eu sentava - se com a Nicole. Assim seria mais fácil de passar o tempo.

Durante toda a aula, o intervalo e a saída, vinham pessoas falar comigo, sempre com as mesmas perguntas.

“Como você esta?”. “Foi muito grave? “.“Você realmente não se lembra de nada?”Será que você vai se lembrar algum dia ?”

Perguntas na qual já estava cansada de responder.

Enquanto saia do colégio com Nicole reparei que o Cauã estava encostado no seu carro em frente ao colégio. Quando nos viu um enorme sorriso se formou na sua boca e veio em nossa direção.

Abraçou-nos e pegou a minha mochila. Desde que acordei naquele maldito hospital ele sempre estava do meu lado, sempre muito gentil, compreensivo, sempre respondendo minhas perguntas e acima de tudo muito carinhoso comigo.

- Vou te levar para casa minha querida, se importa? – perguntou

- Claro que não.

Despedi – me de Nicole e entrei no seu carro, percebi que não estávamos indo para minha casa, pois não me lembrava desse caminho.

- Onde estamos indo? – perguntei curiosa

- Vou te levar ao shopping, você quer? Se não quiser nos podemos voltar. – ele respondia envergonhado e atropelando as palavras

- Tudo bem então. – respondi

- É uma coisa que você gosta de fazer, ai pensei que poderia ajudar a você se lembrar. – completou  

Quando chegamos vários garotos passavam por nos e olhavam pra mim, e soltava alguma cantada, sentia minhas bochechas corarem com isso e o Cauã estava com uma expressão de raiva quando os garotos me elogiavam.

Escolhemos qualquer filmes pra assistimos,entramos na sala,escolhemos nossos lugares e o Cauã foi comprar pipoca pra nos.

O filme foi tranqüilo, terminou e saímos para o carro. Quando estávamos de saída ele me deixou ali sozinha e disse que voltava já.

Fiquei esperando por ele e ele chegou atrás de mim me assustando.

- Uma flor para uma flor – ele disse se virando - se  pra mim,quando o olhei estava com um buquê de flores vermelhas na mão,nessa hora tinha certeza que minhas bochechas estavam em brasas. – Não são tão lindas quanto você, mas realça sua beleza exuberante. - ele disse com um sorriso enorme no rosto.

- Nem sei o que dizer...Obrigada. – Não tinha nem palavras para agradecer as flores e aos elogios.

Peguei o buquê e nos dirigimos ao carro, ele abriu a porta pra mim, como um perfeito cavalheiro que demonstrava ser.

O trajeto de volta foi normal, apenas conversávamos sobre o que eu achei da volta às aulas, se eu tinha me lembrado de algo.

Estava tão envolvida na nossa conversa que nem me dei conta quando que estávamos estacionados em frente a minha casa.

- Muito obrigada por hoje, eu adorei, apenas de não me lembrar de nada, eu sei que somos a muito amigos – Eu lhe disse o abraçando.

- De nada, o prazer foi todo meu, você vai se lembrar. – Apertou –me mais no abraço

Quando nos separamos, estávamos a um passo de nos beijarmos, nossos lábios estavam próximos, podia sentir seu hálito perto de mim.

Afastei-me de imediato, ele tomou um susto mais não falou nada. Despedíamos-nos e eu entrei em casa.

Fui direto pra o meu quarto precisava colocar os meus pensamentos no lugar.

Meu Deus o que eu estava fazendo? Pelo o que me dizem nos somos melhores amigos, eu devo lhe amar como um amigo e ele também. Mas o que aconteceu la em baixo ?

Minha cabeça parecia que ia explodir, eu tentava me lembrar de alguma coisa, andava de um lado para o outro no quarto, pensando e pensando nas coisas.

Meus pensamentos foram interrompidos com o meu celular chamando, levantei – me para ver quem era e era uma mensagem.

De: Cauã

Quando olhares para as flores lembre-se de mim, pois estarei lembrando-se de você.

Um beijo.

Com aquela mensagem foi que piorou os meus pensamentos. Já estava ficando agoniada com todos esses acontecimentos.

Deitei-me na cama ate que a sonolência começou a dominar a minha mente. Nesse momento, me senti aliviada, pois tinha o desejo de que um lindo sonho seria o único a me confortar naquela noite.