Destinys Play escrita por Bella P


Capítulo 7
Capítulo 6




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Capítulo 6

 

O lobo freou em sua corrida ao ver-se na fronteira de Forks em pleno fim da madrugada, onde as luzes da cidade ao longe sob a neblina densa da noite se faziam notar gradativamente entre a chuva fina que caía sobre a mesma.

- Se acovardando nos últimos minutos do segundo tempo Jacob? - a voz de Leah soou na mente dele e o lobo virou-se para encará-la ao seu lado. O pelo úmido dela brilhava contra a luz fraca e artificial que vinha da cidade ao longe e Black podia jurar que o focinho alongado possuía um sorrisinho de escárnio.

- Onde ouviu isto?

- Aquele Cullen grandão é viciado em esportes... Uma hora a coisa acaba entrando na sua mente por osmose. Um inferno! - o resmungo saiu como um ganido por entre os caninos de Leah e Jacob soltou uma risada que soou como um latido baixo e rouco. - Mas e então? Vai ou racha?

- Me dê uns segundos.

- Qual é Jacob... Com medo de vampiros há essa altura do campeonato? Estou perdendo o respeito por você. - Jacob rolou os olhos.

- Você nunca teve respeito por mim para começo de conversa, Leah. Ou por qualquer outra pessoa.

- Isto não é verdade!

- Sério? Cite um nome então? Qualquer nome.

- Harry e Sue Clearwater.

- Respeito pelos pais é diferente, é uma coisa incutida naturalmente em nós. No caso de Harry e Sue era mais medo mesmo... - outra risada que saiu como um latido rouco. - E eu não estou com medo. Acontece que...

- Não está pronto para ver no que a sua adorada Bella se tornou? Se te consola, ela não é mais tão estabanada e até que ficou com uma carinha melhor. Deixou de ser tão simplória.

- Talvez...

- Ou está se borrando com o fato de que agora que ela é uma vampira, vai estar tão puta por tê-la abandonado que pode te bater e desta vez é capaz de quebrar o seu queixo? - Leah provocou e Jacob a encarou de rabo de olho.

- Não creio que seja para tanto. Só porque ela virou uma membra cativa do clube dos sangue-suga não quer dizer que possa me derrubar tão fácil. Eu já era uma criatura sobrenatural antes mesmo dela sair brilhando à luz do sol por aí. - resmungou em um tom extremamente amargo e as risadas de Leah ecoaram em sua mente diante do humor ácido de Jacob do qual ela sentiu falta nos últimos meses.

- Então vamos embora poderoso alfa...

- Não sou alfa Leah. Não oficialmente.

- Detalhes, detalhes. - Leah rolou os olhos. - Mas e então? Vamos? Os segundos já se tornaram minutos meu caro, seu tempo acabou. Hora de encarar a realidade.

- Ugh! - foi toda a responta sábia de Jacob no mesmo momento em que Leah disparou montanha abaixo, entrando em uma pequena trilha pela floresta e sendo logo seguida pelo outro lobo. Ambos correram em silêncio por entre as árvores, com as suas patas grandes e pesadas chocando contra a terra e galhos caídos sendo o único som ecoando pela mata e quando ao longe as luzes provindas de uma pequena casa fizeram-se conhecida, a dupla parou em um deslize sobre o solo úmido.

- É isso aí poderoso alfa, hora do show. - sem aviso Leah retornou a forma humana, prontamente desamarrando as roupas de seu tornozelo e as vestindo. Jacob sacudiu sua grande cabeça peluda e desviou o olhar, dando alguma privacidade a companheira. Havia se desacostumado as formas da mulher depois de seis meses. - Está esperando o quê? Convite por escrito?

Jacob soltou um bufo entre os caninos e tão rápido quanto Leah retornou a sua forma humana, desamarrando as suas roupas apressado do tornozelo e as vestindo antes que a mulher pudesse ter a chance de dar uma segunda olhada em sua pessoa.

- Você está sendo ridículo, já te vi nu antes. - ela riu e o adolescente pôde jurar que sentiu as bochechas esquentarem. Momento embaraçoso. Se Kaylee estivesse ali agora para vê-lo iria perturbá-lo pelo resto da vida, dizendo que Jacob Black não era tão impenetrável quanto aparentava ser.

Sua expressão que já estava contrariada fechou-se mais ainda somente por pensar nisto.

- O que foi? Dando para trás agora? Ou o cheiro ruim dos Cullen já chegou ao seu nariz? Estou surpresa, pensei que tinha perdido o tato depois de tanto tempo convivendo com simples mortais.

- Leah... Seria extremamente doloroso para você calar a boca?

- Não sei. Seria doloroso para você criar culhões e ir logo na direção daquela maldita casa? - rebateu e Jacob abriu a boca para soltar um bom palavrão, mandando a mulher bem para aquele lugar, mas resolveu se segurar. Mal tinha posto os pés em Forks e já estava perdendo a cabeça, coisa que não havia acontecido em todos os meses que ficou em Chicago. O que acontecia com aquela maldita cidade que sempre o fazia perder a paciência em questão de segundos? Deveria ser algo na água. Com certeza era algo na água.

Aos poucos os dois foram saindo da parte mais densa floresta e aproximaram-se da choupana que estava completamente acesa como uma árvore de Natal. Jacob inspirou profundamente e se arrependeu em seguida do gesto quando o cheiro de vampiros entrou queimando pelas suas narinas e chegou aos seus pulmões, o fazendo lacrimejar de leve. Leah soltou uma risadinha ao seu lado.

- Frouxo. Anda perdendo o tato Black.

- Vai perseguir o próprio rabo Clearwater. - foi a resposta seca dele enquanto Leah apertava o passo e ia em direção à casa, mal chegando a porta de entrada e a mesma sendo aberta largamente pela última pessoa que Jacob queria ver logo no primeiro minuto de seu retorno a Forks: Edward Cullen.

- Black. - a voz de Edward tinha um tom indiferente e distante, regado a pouco caso e nada amigável, como sempre.

- Cullen. - Jacob respondeu em seu usual tom arrogante, com um rosnado saindo pelo canto da boca e os olhos estreitando automaticamente ao mirarem o vampiro sendo emoldurado pela porta da casa, cuja luz vinda de dentro da mesma cortava a sua silhueta lhe dando um aspecto surreal. Ambos ficaram se encarando por segundos, minutos, tensos, em silêncio, se avaliando como os dois predadores que eram prontos para disputarem espaço quando uma voz tilintada veio de dentro da construção.

- Onde ele está?! - e Edward foi deslocado de sua posição por uma mão pálida como o mais branco mármore enquanto outra figura surgia na entrada da residência do jovem casal Cullen.

Jacob gostaria de dizer que conhecia aquela criatura que se apresentava diante dos seus olhos, mas confessava que ela era uma completa estranha. Trajando roupas de grife e com os cabelos escuros emoldurando uma face imaculadamente perfeita, Black não conseguia ver nos traços milimetricamente bem feitos o que um dia foi a mulher que ele amou e a sua melhor amiga: Bella Swan. Nem ao menos os olhos achocolatados que ele tanto apreciava estavam mais lá. Agora eles eram de um vermelho bem claro, ganhando tons de bronze e se destacando horrores em contraste com toda a palidez da pele.

- Jacob Black! - o grito e a voz estrangeira chamando o seu nome também era irreconhecível. Não havia o tom nervoso e inseguro, nem ao menos o tremular que ele acostumara-se quando Bella tendia hesitar para realinhar os seus pensamentos antes de dizer alguma coisa ou o atropelo de palavras que o fazia ficar confuso diante do que ela estava falando. Era tudo claro, melodioso, até mesmo durante a histeria da mulher. - Como você pôde fazer isto comigo? - como um raio ela havia saído da soleira da porta e cruzado o gramado da frente e em poucos segundos estava cara a cara com Jacob e a sua mão cortou o ar como um borrão e seus dedos gélidos chocaram-se contra a bochecha quente do transmorfo.

O rosto do adolescente virou diante do impacto do tapa e ele sentiu sangue brotar no canto da boca e dor surgir nos músculos de sua face e ao contrário do que acontecera há mais de um ano, Bella não recuara gemendo de dor diante da estupidez de tê-lo batido. Ao invés disto ainda o mirava com os seus olhos de cor estranha e com o rosto anormalmente belo contorcido em fúria. O sangue de Jacob ferveu.

- Faça isto de novo e eu arranco a sua cabeça. - veio a resposta atravessada seguida de um olhar escurecido de raiva.

- Você não ousaria! - Bella o desafiou, o mirando com a mesma intensidade.

- Não é mais feita de porcelana Bells, pelo contrário, é de mármore. Não terei compaixão por sua carinha bonitinha. - a ameaça veio seguida de um rosnado que foi ecoado por Edward que em milésimos de segundos encontrava-se ao lado da esposa exibindo um canino de maneira ameaçadora para o rapaz. - Você também vai na onda sangue-suga. 'Tô querendo desmembrar você faz tempos.

- Que lindo! - o tom sarcástico de Leah chegou aos ouvidos deles. - Não podia ter se aguentado um pouquinho garota? Teve que bater logo de cara? Agora o lobinho ficou irritado. Depois do trabalho que eu tive? E se ele resolver enfiar o rabo entre as pernas de novo e se mandar, como nós ficamos?

- Seria bem a cara dele. - Edward soltou em um tom de deboche e Jacob deu um passo a frente com toda a sua postura na ofensiva, pronto para atacar o vampiro, no entanto uma mão gelada espalmada em seu peito o fez parar de pronto e o seu olhar descer para o membro e a dona do mesmo, encontrando o olhar repreendedor de Bella.

- Dois minutos Jacob! Você está de volta por dois minutos e já estão brigando. É praticamente um círculo vicioso. Será que não poderiam simplesmente se comportar? - as íris avermelhadas da mulher foram do lobisomem para o marido, implorando em silêncio que eles se controlassem e não fizessem uma cena àquela hora da noite na frente da casa. Jacob recuou um passo, o instinto e a mente retornando a antigos hábitos que remetiam a sempre atender aos pedidos de Bella, mas também para fugir da frieza que a mão dela emanava através do tecido fino de sua camisa. Aquilo era apenas mais uma constatação do que ela era agora.

- Jacob? - uma voz mais amigável e bem-vinda veio da casa e segundos depois Jacob viu-se com os braços ocupados por um Seth animado que o apertava contra o seu corpo em um abraço forte.

- Ei Seth... - disse sem jeito, o soltando pouco tempo depois e mirando o garoto que parecia ter crescido mais nestes meses em que esteve longe de La Push.

- Você veio Jacob. Eu falei para Leah que você viria, falei que você nos ajudaria apesar de tudo, que não era mesquinho e não guardaria rancor. Mas ela não acreditou em mim. Mas eu acreditei, eu acreditei que não ia nos deixar na mão, porque você tinha prometido uma vez que sempre que eu precisasse estaria aqui para mim. E aqui está você. - o sorriso de Seth era largo e Jacob sentiu um aperto no coração de culpa. Talvez se tivesse ficado em vez de fugido com o rabo entre as pernas o garoto não estaria afundado naquela confusão até o pescoço. Agora cá estava ele imprimido na cria de Edward e Bella, pronto para entrar em uma guerra com outros vampiros e sem nenhum apoio da alcateia de La Push.

- Seth... - Edward cortou o falatório do jovem lobo. - Se você está aqui fora, quem está lá dentro com a Nessie? - os olhos castanhos do adolescente ficaram largos em um pulo ele girou sobre o gramado coberto por uma fina camada de gelo e disparou de volta para a casa, desaparecendo pela porta.

- Nessie? - Jacob mirou Leah.

- O monstrinho. - foi a resposta dela seguida de um rosnado baixo de Bella com direito a exposição de um canino saliente.

- Linguajar Leah. - repreendeu Bella.

- Não vou ser hipócrita Bella. Antes de nascer ninguém morria de amores por aquela garota, exceto a loira psicótica e você, e eu ainda não morro de amores então não vou ficar dando falsos sorrisos por aí e fingindo que vou com a cara da pirralha. - o rosnado de Bella tornou-se mais profundo e ameaçador.

- Bella... - Edward soltou em um longo suspiro. - Isto também está se tornando um círculo vicioso: as suas discussões com a Leah. - o rosnado cessou rapidamente. - Melhor entrarmos, não é mesmo? - ofereceu, dando meia volta e seguindo o caminho da casa. Bella em um piscar de olhos estava ao lado do marido e Leah hesitou e muito antes de acompanhar os dois vampiros. Jacob os observou entrar na casa e depois de minutos de indecisão os seguiu, inspirando profundamente e desejando, ao menos desta vez, ter a capacidade de poder prender a respiração por um longo período de tempo, porque o lugar fedia. Ah se fedia.

 

oOo

 

Denver estava tão fria quanto Chicago, foi a primeira coisa que Kaylee atestou assim que saiu do aeroporto e pegou um ônibus para a rodoviária da cidade, comprando uma passagem para Seattle assim que chegou lá e acomodou-se em uma das cadeiras de plástico duro de uma das plataformas e pondo-se a esperar pela sua hora de embarque.

Ainda tentava entender o porquê da loucura de sua tia Winnie em arrumar todas as suas coisas em sua mochila de viagem e mandá-la atrás de Jacob. Certo que gostava do garoto, ele era uma boa companhia, divertido e bem humorado, com o tempo acabou tornando-se um adicional em sua pequena família, mas a súbita partida dele não era motivo para o histerismo de Winifred. Ela havia simplesmente surtado ao saber que ele havia ido embora.

E então, depois de encontrar a autorização da viagem que assinara tempos atrás para a sua ida com o time da escola para Detroit, depois de conseguir uma passagem para o voo de 1:45 hrs da manhã para Denver, a mulher a levou para o aeroporto, entregou para a sobrinha uma boa quantia de dinheiro e um cartão de crédito, a abraçou com força e desejou boa sorte com a ordem de “não voltar para casa sem o Jacob”.

Não que Kaylee tivesse alguma coisa contra dita ordem, na verdade iria lutar com unhas e dentes para cumpri-la e se fosse preciso traria Jacob de volta pelos cabelos, embora a cena só de imaginar seria hilária. Ela, alguém que não chegava nem ao peito do nativo, tentando forçar um homem que com certeza era capaz de levantar um carro com um braço só retornar para Chicago o puxando pelos cabelos curtos e negros. Bem, não morreria por tentar.

Mas de uma coisa tinha certeza: não deixaria Bella vencer mais uma vez. Não a conhecia, mas já não gostava dela só pelas histórias que ouviu de Jacob. Como ela pôde trocar alguém maravilhoso como ele por outro era impossível de imaginar e quando o rapaz estava finalmente ajustando a sua nova vida ela resolvia retornar e desestruturar tudo de novo.

A chamada pelo alto-falante da rodoviária anunciando o embarque para Seattle interrompeu todos os devaneios de Kaylee que ergueu-se do banco, trazendo a mochila consigo e indo em direção ao ônibus indicado, mostrando ao fiscal a passagem, sua identidade e autorização de viagem, embarcando e acomodando-se em seu assento após guardar a mochila no porta-volume. Seriam umas boas horas de viagem e desta vez as aproveitaria para dormir e deixar para refletir mais tarde, bem mais tarde, antes que tantos pensamentos começassem a lhe dar dor de cabeça.


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