Segui correndo pela estrada em plena manhã de sábado. Eu tinha de chegar ao terminal antes que fosse tarde demais. Tinha que encontrá-lo para dizer que ainda o amava. Tudo o que fiz foi um erro, mas meu arrependimento me fez ver o quanto fui idiota.

         Cheguei ao terminal rodoviário. Corri para baixo da construção azul, protegendo-me da forte chuva. Com a correria, mal tive tempo de trazer um guarda-chuva. Apenas coloquei um casaco com capuz e saí para procurá-lo. Não podia ver nada naquele momento. Havia pessoas por toda a parte. O frio e o mal tempo fizeram com que todas se acomodassem dentro e fora da antiga rodoviária. Saí empurrando quem aparecia no caminho. Não poderia ser tarde demais para encontrá-lo. Ele tinha de estar aqui ainda.

         Pedi a Deus para que eu o encontrasse em meio a tantas pessoas. Pedi com fé para ter a chance de abraçá-lo e de olhar em seus olhos. Uma única chance de dizer que o amo. Procurei por todos os cantos. O terminal rodoviário é muito grande, logo cansei e acabei escorando-me em uma coluna. Comecei a pensar no erro que cometi beijando aquele cara. O aperto em meu peito me fez chorar perdida nos pensamentos. Chorei olhando os rabiscos nas paredes e na coluna em que me escorava. Via corações e palavras de amor escritas a carvão. Senti como se minha vida não mais fizesse sentido sem ele. Como se as palavras de amor escritas nesse antigo terminal nunca pudessem fazer parte de minha vida.

         Virei meu rosto e parei de olhar aquelas mensagens de amor rabiscadas por estranhos. Senti o frio tomar conta de meu coração. Nada mais poderia fazer. Meu amor se perdeu para sempre de mim e é tudo minha culpa. Conhecemos-nos pelo computador. No começo era apenas conversa, mas logo tudo ficou diferente. Ele mostrara a mim que nem tudo na vida era ruim. Que um dia ele iria me encontrar e me fazer feliz ao seu lado. Ele me amava muito e sempre escrevia, através de mensagens, o quanto eu era importante. Eu, porém, nunca sequer disse que gostava dele. Gostava de ler suas mensagens de amor, pois sabia que era a única pessoa no mundo que realmente se importava comigo, mas nunca acreditei que ele realmente viesse me encontrar.

         Ontem à noite, eu conheci um cara simpático que me levara para sair. Eu acabei tentando esquecer o garoto que conheci na internet. Pensei que era tudo ilusão de minha cabeça. Meu amor, minhas esperanças. Em meio à madrugada, acabei beijando meu novo namorado, quando percebi quem estava me observando. Nunca vou esquecer o frio na espinha quando o vi parado na porta do restaurante segurando uma rosa e limpado as lágrimas, que escorriam de seu rosto. Ele saiu correndo e eu fiquei em choque. Não podia acreditar que ele viera de tão longe para me encontrar. Acabei por abandonar meu par naquela noite e fui procurá-lo. Tentei de tudo para encontrá-lo. Liguei para seu celular, mandei mensagens e e-mails. Tudo sem respostas.

         Agora eu estou aqui, depois de uma mensagem de “adeus” que recebi. Vim para cá como último recurso de encontrá-lo. Uma última esperança de dizer, pela primeira vez, que o amava. De dizer que tudo o que ele fez por mim é que me motivou a viver.

         Olhei em meio à multidão e vi um banco de concreto. Nele, vi uma mochila azul rasgada. Meus olhos, mais uma vez, se encheram de lágrimas quando reconheci a mochila. Eu já a havia visto em uma das fotos dele. Corri em direção a ela e a segurei com muita força. Comecei a chorar enquanto abraçava aquela mochila que ainda tinha o cheiro de perfume. Comecei a pensar em todas as frases de amor que recebi dele. Do quanto fui ingrata com seus sentimentos e que agora eu o perdi de minha vida. Eu só queria senti-lo em meus braços uma única vez. Queria que tudo fosse diferente. Que acabassem as promessas em texto e pudesse tornar real seu contato, seu amor. Eu o amo muito para perdê-lo agora.