Através dos Seus Olhos escrita por ReLane_Cullen


Capítulo 2
Livro Aberto




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Enquanto eu caminhava em direção ao meu armário para pegar o meu caderno, uma garota, de cabelos loiros e olhos castanhos veio até mim.

“Olá, meu nome é Jessica Stanley.” Ela cumprimentou sorridente.

“Bella Swan” Respondi com um meio sorriso.

“Você é nova aqui, não?” Sinceramente, eu não estava acostumada a ser tão notada, muito menos numa escola com tantos alunos.  Eu me perguntava se isso seria uma coisa boa ou ruim.

“Primeiro dia.” Respondi enquanto abria o meu armário e pegava o meu material ali dentro.

“Você conhece  o Cullen?” Há, então tinha um motivo para ela estar falando comigo. Se eles fossem os populares ou os esquisitos da escola, logo logo eu estaria sendo o tópico principal das fofocas. Se é que eu já não era.

“O Jasper? Pode-se dizer que sim.” Tecnicamente, eu o conhecia do início da aula. Mas é claro que ela não precisava ficar sabendo dos detalhes.

“Isso explica o porquê você sentou na mesa dele. Eles são bastante seletivos com as amizades.” Sinto uma pontinha de inveja, ou é impressão minha?  Hum, então eles são os populares, o que me faz perguntar o por quê do nada eles me puxaram para o grupo.

“Oh! Você conhece uma garota baixinha, de cabelos repicados...”Resolvi me aproveitar que a fofoqueira de plantão estava ao meu lado, e perguntei sobre o que mais me incomodava naquele momento. Eu ainda não entendia aquele olhar que ela me deu. Será que ela já tentou sentar na mesa junto com eles e foi barrada? Será que eu iria enfrentar outras garotas assim? Quer dizer, o Emmett e o Jasper eram muito bonitos, e a julgar pelo Jasper, eu supunha que o irmão dele fosse tão lindo quanto ele. Aquela deveria ser a mesa que toda garota gostaria de sentar. Meu sonho de ser invisível parecia cada vez mais distante.

“Ah sim, Alice Brandom. Ela é a namorada ou ex-namorada do Jasper. Eles vivem terminando e reatando, que eu nem sei mais o que eles são. Por que?” Peraí, namorada? Acho que agora eu estava começando a entender algumas coisas. Jessica continuou me olhando de uma maneira curiosa, louca para saber o motivo da minha pergunta, mas eu não iria dar esse prazer a ela.

“Nada não. Hora de ir para a aula. Você faz música?” Ela fez uma cara estranha para a minha pergunta, como se fosse óbvio que ela não fizesse.

“Não. Teatro.” Ela respondeu. ”Até mais, Bella”

“Ok. Até mais.” Jessica foi embora e eu fechei a porta do meu armário e saí andando, em direção a minha primeira aula naquele dia.

Enquanto eu ia andando para a minha aula, eu estava pensando em tudo o que eu havia descoberto nos últimos minutos. Agora eu entendia perfeitamente o motivo de Jasper ser tão agradável comigo. Ele queria apenas fazer ciúmes a sua namoradinha. Isso era ridículo. Como ele pode usar uma pessoa desse jeito? Será que ele não sabe que as pessoas tem sentimentos? Ou será que ele é realmente alheio a isso tudo?

O que mais me irritava nisso tudo é que aquilo havia se tornado público. Pelo visto toda a escola vira ou ao menos sabia que eu tinha sentado na mesa junto com eles. Na manhã seguinte, todos iriam estar rindo de mim pelos corredores, afinal eu seria a idiota que acreditou poder sentar com os populares. Acho que era isso que eu mais sentiria falta do meu colégio em Phoenix, eu era uma desconhecida. Eu passei quatro anos lá, e eu praticamente nunca fui notada. As pessoas só me enxergavam quando eu caía da escada, ou escorregava no pátio, mas elas não sabiam realmente como eu era. Tudo era tão mais fácil. Agora, aqui no meu primeiro dia, eu já estou sendo comentada por todos os cantos. Eu duvidava que a tal Jessica ficaria quieta, ainda mais quando eu falei que conhecia o Jasper.

 Ah, mas o ele iria ouvir poucas e boas da próxima vez que eu o encontrasse.

Eu estava tão distraída que acabei esbarrando em alguém e derrubando todos seus livros no chão.

“Desculpe” eu disse levantando os meus olhos para encarar a criatura mais magnífica que eu já tinha visto. Ele era perfeito. Tinha os cabelos numa cor de bronze, completamente desarrumados, o nariz dele era angular, e os lábios dele eram cheios e rosados. Eu queria poder ver os olhos dele por trás daqueles óculos escuros que ele usava. Aposto que eram tão lindos como todo o restante dele.

“Você deveria prestar atenção por onde anda.” Ele falou ríspido. Tudo bem que eu sou um pouco desastrada, mas precisava ficar com esse mau-humor todo, só por que eu derrubei as coisas dele no chão?

“Eu pedi desculpas.”  Ele se abaixou para pegar as coisas no chão, tateando até encontrá-las. Eu me abaixei para ajudá-lo a pegas as coisas, mas ele me impediu.

“Só por que eu sou cego, você acha que eu não sou capaz de me virar?” Ele falou como se a minha ajuda fosse um insulto para ele. Nessa hora que eu me dei conta do que ele tinha falado.

 “Você é cego?” Eu perguntei surpresa. Ele não parecia ser cego. Quer dizer ele não usava uma bengala nem nada.

“Não, uso óculos escuros só de curtição.”  Ele falou ríspido mais uma vez, e eu me perguntava qual era o problema dele.

“Você é sempre assim tão mal-educado?” Perguntei no mesmo tom que ele usava comigo.

“Não, só quando encontro pessoas como você.” Pessoas como eu? Como ele podia me julgar o tipo de pessoa que eu era em míseros segundos? Eu queria poder rebater, mas eu não tinha forças.  Aquela era a minha deixa, eu não podia mais ficar ali, eu já sabia o que iria ocorrer em seguida.

Larguei-o ali, eu já podia sentir os meus olhos arderem e as lágrimas caírem. Eu odiava que os meus sentimentos e meus dutos lacrimais tivessem um relacionamento tão próximo. Fui correndo para o banheiro lavar o meu rosto. Eu sabia que iria chegar atrasada na aula, mas era isso ou chegar com os olhos vermelhos e o rosto todo molhado de lágrimas.

Depois de me recompor fui até a sala. Bati na porta e entrei. O professor já estava lá, mas felizmente ainda não havia começado a aula.

“Você deve ser Isabella Swan” Ele falou com um sorriso, e eu sorri de volta. Finalmente uma pessoa verdadeiramente amistosa naquela escola.

“Apenas Bella.” Respondi a ele, que assentiu com a cabeça.

“Ok Bella, eu sou o Sr. Banner, você pode sentar-se ao lado do Sr Cullen.” Meu coração falhou uma batida ao ouvir aquele nome. Me lembrava da conversa que eu teria com o Jasper mais tarde. Olhei para a direção na qual o professor tinha apontado e eu pude sentir a raiva subindo pelo meu corpo e minhas bochechas ficando vermelhas. Então aquele era o tão famoso Edward Cullen?

Eu não sabia se elas estavam vermelhas de raiva ou por causa dos olhares que todos os alunos da sala direcionavam a mim. Lentamente fui me aproximando do lugar que o professor me indicara. Infelizmente aquele parecia ser o único lugar vago da classe. Era muito azar para uma pessoa só. Puxei a cadeira e percebi ele apertando o maxilar.

“Desculpe, mas o lugar está ocupado.” Ele disse ríspido. Aparentemente ele era mal-educado com qualquer pessoa, independente de quem seja. Nessa hora eu me lembrei do que Emmett havia falado sobre ele. Edward era anti-social. Acho que essa era a perfeita definição para ele.

“Desculpe, mas se houvesse outro lugar vago eu com certeza estaria nele.” Falei o mais raivosa possível, enquanto eu depositava a minha mochila na mesa.

“É muito azar.” Ele respondeu. Acredito que ele havia reconhecido a minha voz. Eu sempre li que as pessoas que perdem um dos sentidos, acabam apurando mais os outros. Pelo visto a memória auditiva dele era ótima.

“Digo o mesmo.” Respondi, antes de voltar a minha atenção para o professor, que no momento estava pedindo silêncio a turma.

“Bem Classe, eu sei que as aulas mal começaram, mas eu preciso falar como vocês sobre o seu trabalho de conclusão de curso. Todos os professores se reuniram esse fim de semana, e decidimos fazer algo diferente esse ano. As apresentações serão em duplas, para forçar o convívio e aumentar a discussão e a criatividade. Então, a pessoa que está ao seu lado é exatamente a pessoa com quem você irá trabalhar pelos próximos meses.” Por favor, diga que os meus ouvidos não ouviram direito. Isso não poderia estar acontecendo. Eu definitivamente era a garota mais azarada do mundo.

“Ótimo!” Falamos juntos. Bom, pelo menos temos sincronia em reclamar da decisão dos professores.

O restante da aula passou que nem percebi. Eu estava pensando no quão rápido eu me encrenquei com dois membros de uma mesma família.

O sinal ecoou indicando o fim da aula. Rapidamente, me levantei dali e fui a caminho do meu armário. Eu precisava ficar o mais longe possível daquele garoto. Como uma pessoa podia ser tão grosseira com alguém que mal conhecia? A minha irritação só aumentou quando eu vi quem estava ao lado do meu armário, o outro Cullen. O que eu tinha feito para merecer aquilo? Eu tinha duas opções: Confrontá-lo ou fugir. A última opção me parecia extremamente tentadora. E eu já ia colocá-la em prática, quando ele olhou para a direção na qual eu estava e me viu. Agora já não adiantava correr, só me restava enfrentá-lo. Ajeitei a minha mochila no ombro, e suspirei indo em direção a ele.

“E então, como foi a aula?” ele perguntou animado, e eu diria até mesmo interessado. Se as circunstâncias fossem outras, provavelmente ficaríamos amigos. Ele parecia ser uma ótima pessoa, exceto pelo fato de me usar para fazer ciúmes na namorada.

“Pode parar como o joguinho, que eu já sei de tudo.” Falei ríspida e ele me olhou confuso.

“Bella, do que você está falando?” Bancando o inocente? Essa é velha demais, nem eu caio nessa.

“Para você é Isabella. Não precisa se fazer de desentendido não, por que eu já sei que toda essa simpatia é para fazer ciúmes à sua namorada, ou ex-namorada, sei lá. Foi divertido enquanto durou, mas fique longe de mim, e eu falo sério.” Ele me olhava com a boca aberta, talvez tentando processar tudo o que eu tinha falado.

“Bella...” Ele tentou falar, mas eu o cortei. Não queria ouvir as explicações, nada do que ele me dissesse mudaria a opinião que eu havia formado, eu só ficaria ali perdendo o meu tempo.

“Adeus Jasper.” Foram as últimas palavras que eu disse, antes de ir embora dali, deixando-o sozinho.

Na saída da escola precisei ir para casa de ônibus. Charlie havia ficado preso na delegacia e não iria poder vir me buscar. Por um lado eu estava feliz, sinceramente sair da escola dentro de uma viatura policial não faria nada bem para a minha vida social. Como se eu tivesse alguma! Por outro lado, enfrentar o transporte público, também não estava no topo da minha lista.

Nessas horas que eu sentia falta da minha caminhonete. Ela podia não passar dos 60 Km/H, mas pelo menos garantia que eu chegasse nos lugares, sem depender de transporte público ou de qualquer outra pessoa. Eu queria ter vindo com ela para Chicago, mas minha mãe disse que ela  não agüentaria. Eu tentei argumentar com ela, mas foi em vão. Antes de ir embora de Phoenix, eu fiz questão de esconder a caminhonete na casa do meu melhor amigo. Se eu conhecia bem a minha mãe, ela iria vendê-la na primeira oportunidade que ela tivesse. Pelo menos com o Jacob, ela estaria segura.

Meu pai chegou um pouco antes da hora do jantar. Como eu não estava com a mínima vontade de cozinhar, e aparentemente a dispensa continuava praticamente vazia, fomos até o restaurante da esquina.

“Como foi a aula hoje? Ele me perguntou, entre as garfadas que ele dava no seu macarrão ao molho sugo.

“Legal.” Esperei por um segundo para ver se Charlie havia captado o sarcasmo na minha voz, aparentemente ele não havia. Se fosse Renée ali, a história seria bem diferente. Minha mãe sempre me falou que eu era muito fácil de se ler. Que eu não conseguia esconder as minhas emoções dela. Ela dizia que eu era um livro aberto.

Essa era uma das coisas que eu nunca consegui entender perfeitamente no meu relacionamento com a minha mãe. Ela conseguia olhar para mim e imediatamente dizer que algo estava errado, mas nunca nos entendíamos perfeitamente. Era como se enxergássemos  o mundo de uma forma diferente, como transmissão digital e analógica, uma era  límpida e com sinal perfeito, a outra era ruidosa e a maioria dos sinais se perdiam pelo caminho. Acho que eu nem preciso dizer qual delas sou eu.

“Bella.” Charlie me chamou me acordando dos meus devaneios.

“O que foi?”

“Eu precisava falar com você.”

“Sobre?”

“Meu trabalho. Quando sua mãe ligou para cá, avisando que você vinha morar comigo, eu expliquei para ela que eu uma vez por semana trabalhava no turno da noite. Eu não tenho um dia específico, e algumas vezes eu se quer trabalho, mas...”

“Tudo bem pai, eu posso passar uma noite sozinha em casa.” Se ele soubesse que enquanto morava com a minha mãe, eu já havia passado muito mais do que apenas uma noite sozinha em casa.

“Não Bella, eu não posso deixar você ficar sozinha no apartamento. Essa cidade é muito perigosa, e você não conhece ninguém aqui.”

“O que vai fazer então? Me levar para trabalhar com você?” Perguntei bem humorada, mas parecia que Charlie não compartilhava o meu bom humor.

“Claro que não”. Ele respondeu autoritário, como se aquela fosse a mais absurda das hipóteses “Eu andei falando com um amigo meu sobre isso, e ele disse que você poderia passar a noite lá se você quiser. Ele inclusive já havia comentado com a esposa, e ela está ansiosa para conhecer você. Eles tem dois filhos adolescentes e a casa deles vive cheia de jovens, acho que pode ser uma ótima oportunidade para você fazer amigos aqui.”

Parecia que Charlie compartilhava a mesma preocupação de Renée sobre a minha vida social. Eu nunca tive muitos amigos. Em Phoenix, eu tinha apenas três: Jacob, Leah e Seth. E isso sempre incomodou muito a minha mãe, ela sempre foi do tipo de ter ‘um milhão de amigos’.

“E quando você vai trabalhar à noite?” Perguntei interessada. Afinal, eu realmente estava interessada em saber o quão próximo eu estava de ser jogada na casa de estranhos.

“Sexta-feira. Mas nós vamos jantar lá amanhã para você conhecê-los.”  Jantar com eles? Eu não sei se isso ajudaria ou pioraria a situação. Acho que eu preferia ser jogada aos lobos de uma vez só, e não ter que conhecê-los antes.

“Isso é realmente necessário?” Perguntei ao meu pai. Eu esperava que ele dissesse não.

“Foi um convite da Esme, ela realmente está animada em conhecer você.” É aparentemente eu não tinha escolha.

“Está bem.” Me dei por vencida.

“Não precisa ficar receosa, os Cullens são ótimas pessoas.” Meu pai falou com um sorriso reconfortante, e eu ouvi um estalo na minha cabeça. Ele tinha falado Cullens?

“Cullens?!” Ferrou! Algo me dizia que aquilo não era uma simples coincidência.


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