Prelúdio escrita por CamillaVicter


Capítulo 7
Capítulo 7 - Olhos Diabólicos


Notas iniciais do capítulo

Nem tão demorado dessa vez, aqui está!!! Espero que gostem!



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Capítulo VIIOlhos Diabólicos

 

Eu acordei repentinamente. Minha respiração era descontínua e ofegante. Minha pulsação latejava de forma audível em minha cabeça. Eu me virei de bruços na cama e sufoquei um grito no travesseiro.

Esperei por alguns minutos naquela posição até que meu corpo parasse de tremer. Quando eu achei que já estava razoavelmente calma, me levantei e caminhei hesitante até o banheiro. Enchi a mão de água e joguei no rosto. Isso me acalmou um pouco.

Mas não o bastante.

Já há algumas semanas que eu tenho tido esses pesadelos. Sempre o mesmo. Exatamente igual ao que eu tinha tido poucas semanas antes do meu seqüestro. A voz confiante de Catherinne ecoou na minha cabeça... Premonição!

A repetição e a continuidade deles só confirmavam o que a ninfa do fogo tinha dito. Um tremor involuntário percorreu a minha espinha. Eu me apoiei na pia e respirei fundo várias vezes até me acalmar outra vez.

Já era de se esperar que eu estivesse acostumada com o sonho. Mas, por mais que eu já soubesse exatamente o que iria acontecer e a hora em que iria acontecer, eu não conseguia deixar de me assustar.

Agora então, que haviam proibido que Matt falasse comigo, os pesadelos eram ainda mais freqüentes.

Já haviam se passado quase dois meses desde que eu resolvi reagir. E, como eu tinha prometido a mim mesma, eu tentei fugir. Da mais variadas maneiras. Todas acabaram com o mesmo sentimento frustrante.

Primeiro, eu tentei fugir durante a aula. Mas os meus acompanhantes perceberam as minhas intenções antes que eu pudesse finalizá-las. Mark ficou furioso. Trancou-me durante uma semana naquele quartinho. Mas os professores começaram a desconfiar da minha ausência e ele foi obrigado a liberar-me novamente.

Nas vezes seguintes, Lohainne me aplicou um castigo mais eficiente. Pelo menos era o que ela pensava. Cada vez que eu tentava algo arriscado demais, eles me deixavam sem comer. Parecia um método bom (para eles) de início. Exceto por um detalhe. Minha companhia fiel acordava-me no meio da noite para satisfazer a minha fome.

Mas isso era muito arriscado. Não demorou muito para que os outros percebessem que o castigo não estava me afetando. E demorou menos ainda para que eles percebessem que era o Matt que me ajudava.

Não teve jeito. Há algumas semanas Lohainne, apesar de não expulsá-lo, proibiu-o de falar comigo. E para garantir que ele cumpriria, instalou um detector de presença na porta do meu quarto. Ela era avisada sempre que alguém chegava perto de mim.

Eu voltei para o quarto para pegar o meu uniforme, quando alguém bateu três vezes na porta. Era o sinal de que eu estava atrasada.

Eu vesti a roupa apressada e depois amarrei o cabelo desajeitadamente em um rabo-de-cavalo. Eu olhei desgostosa para a minha mão esquerda. Ela era o motivo da minha inabilidade. Ela estava engessada, porque três dos meus dedos estavam quebrados. Aquele era o resultado de um acesso de fúria que eu tive alguns dias atrás...

 

Flashback:

Eu já estava bastante estressada com uma recente fuga fracassada. Fora o fato de que já tinha mais de uma semana que eu não falava com Matt. Meu irmão havia me lançado mais um olhar de desprezo. E Josh, como sempre, tinha passado a viagem toda, depois da aula, despejando suas provocações em mim. Quando nós descemos do carro, eu não agüentei e parti para cima dele. Não surtou efeito nenhum, é claro, pois ele é infinitamente mais forte do que eu. Mas eu descontei toda a minha raiva nele, antes do Vinnícius me separar dele. E Josh, na tentativa de se defender, acabou quebrando os meus dedos.

Mas a briga acabou tendo um desfecho que compensou os meus dedos quebrados e o meu “castigo”. Porque quem engessou a minha mão foi, obviamente, Matt.

Foi a última oportunidade que eu tive de falar com ele e também, a mais intensa.

Ele era tão delicado e cuidadoso que eu mal senti dor enquanto ele manuseava a minha mão. Vinnícius permaneceu nos vigiando, como Mark havia ordenado. Mas Matt engenhosamente pediu que ele fosse buscar um copo de água para mim, para que eu me acalmasse. Vinnícius nos olhou desconfiado, mas obedeceu mesmo assim.

Matthew ficou com a cabeça baixa por alguns segundos, mas logo voltou o olhar para mim. Seus olhos eram cautelosos.

— Eu sinto muito, Chris... — ele sussurrou. Sua voz era baixa e apressada. — Não consegui pensar em nenhuma maneira de falar com você...

Eu suspirei concordando com a sua tristeza. Eu também não tinha gostado da separação. Eu queria confortá-lo. Queria dizer-lhe que ficaria tudo bem... Mas não era verdade. Ele olhou em meus olhos e afagou carinhosamente meu rosto.

— Eu vou te ajudar a sair daqui... — ele disse decidido. Eu prendi a respiração. Será que eu tinha pensado alto? — Nem que isso custe a minha própria vida!

Eu ofeguei amedrontada com suas palavras. Proibi-me de imaginá-lo morto por minha culpa. Não era justo que ele sofresse por minha culpa. Esse tinha sido o motivo pelo qual eu me afastei da minha família. Para protegê-los. Eu não suportaria ter que me afastar dele também...

Eu encarei-o receosa. Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ele tirou um cordão do seu pescoço e colocou-o em minha mão boa. Eu analisei-o. Tinha uma corrente simples, dourada. Era o pingente que chamava atenção. Era um lindo lobo prateado e, pousada em seu focinho, estava uma borboleta dourada. Eu sorri agraciada com a beleza da peça.

— Eu quero que fique com você... — ele disse. — Foi da minha mãe. O lobo sou eu. E a borboleta é você... Ou o que você se transformará! — ele explicou.

Eu percebi a comparação facilmente. Não era justo! Eu não merecia alguém tão bom ao meu lado. Eu desviei o olhar do pingente para olhá-lo nos olhos. Eu sorri extasiada com a emoção do momento.

— Nossa, Matt! Isso é tão...

Não pude terminar. Antes que eu pudesse completar, meus lábios foram selados pelos dele. Era um beijo repentino, mas intenso. Inalei o seu perfume deslumbrada. Meu coração palpitou freneticamente. Minha respiração tornou-se loucamente ofegante. Meu sangue ferveu sob a pele, ardendo em meus lábios. Ele se separou de mim, assustado.

Ele analisou-me clinicamente. Era óbvio que ele estivera ouvindo as oscilações do meu corpo. Seu olhar era... Preocupado.

Sorri encorajando-o enquanto tentava recuperar o fôlego e diminuí a distância entre nós. Não precisei de mais nada. Seus lábios já estavam colados nos meus mais uma vez. Todas as minhas preocupações esvaíram-se imediatamente. A enfermaria poderia estar pegando fogo. Eu não perceberia.

Eu já havia tido alguns relacionamentos antes, mas nada se comparava ao furor do que eu estava sentindo naquela hora. Eu podia sentir a emoção fluindo entre nós. O beijo dele tinha um gosto que me lembrava menta e... Chocolate. Tinha também um outro gosto diferente que eu não consegui identificar...

Tão repentinamente como começou, ele interrompeu o beijo. Eu estava arfando, mas não consegui impedir um sorriso de formar-se em meus lábios. Ele manteve a testa encostada na minha. Eu olhei-o nos olhos, afundando na escuridão deles.

— Vinnícius está voltando... — sussurrou ele em meus lábios.

Sua respiração era tão ofegante quanto a minha. Eu não queria soltá-lo. Agarrei-me a ele com toda a minha força, mas ele desfez o meu aperto facilmente. Sorri ao perceber que ele estava tão relutante quanto eu em separar-se.

A minha agitação ajudou um pouco a disfarçar o que tinha acontecido.

Quando Vinnícius entrou na enfermaria novamente, ele entregou-me o copo de água e brincou com o meu nervosismo.

— Se acalma, garota! Eu não acho que o Josh vai querer se vingar... — ele disse.

Eu ri. Vinnícius poderia até não entender o significado do meu riso, mas mesmo que o Josh quisesse se vingar de mim, naquele momento, eu não me importava.

Fim do Flashback.

 

Três batidas na porta tiraram-me dos meus pensamentos. Eu rapidamente peguei a minha mochila e joguei, desastradamente, os livros dentro dela. Eu estava de costas para a porta, mas eu pude ouvi-la abrindo.

— Você está atrasada! — falou Laís secamente.

Eu não respondi. Terminei de guardar minhas coisas na mochila e segui a lobisomem. Eu olhei para ela, analisando-a. Ela não era em nada parecida com a minha amiga Stephanie. Seus cabelos eram loiros e curtos. Repicados na altura do queixo. Seus olhos eram, obviamente, negros. Ela era mais ou menos da minha altura.

Ela encarou-me friamente enquanto me levava pelos corredores brancos em direção à saída. Ela tinha começado a me tratar com frieza desde que descobriu que o Matt gostava de mim. Antes, ela tratava-me maternalmente. Quase com preocupação. Agora, ela agia com descortesia e falta de educação. Eu tinha fortes desconfianças de que ela gostava do Matt. Eu prendi a respiração com esse pensamento.

Ela era incomparavelmente mais bonita do que eu. Sem falar no fato de que ela era uma lobisomem, o que dava ao Matt uma chance muito maior de ser feliz com ela do que comigo. Será que ele tinha consciência de que a lobisomem era apaixonada por ele? O que ele faria se soubesse?

Eu ofeguei alarmada com o pensamento.

Laís fuzilou-me com os olhos. Desviei o olhar assustada.

Não, ela não pode estar apaixonada por ele. Eu estou apaixonada por ele. E nada jamais poderá se comparar com o que eu sinto. É impossível que ela o ame mais do que eu.

Mas... E se ele a ama mais do que a mim?

Eu não tenho nada de especial. Nada que possa prendê-lo a mim. Eu não sou bonita. Nem forte. Eu estou fragilmente submetida aos desejos dos lobisomens. Minha família é inimiga dele (e me odeia, devemos acrescentar). Resumindo... Eu não tenho nada que o faça desejar-me mais do que a ela.

Meus pensamentos foram interrompidos quando Laís parou-me em frente a um grande portão de madeira e vendou os meus olhos.

Eu pude ouvir o burburinho, da conversa dos outros três, cessar assim que eu atravessei a porta. Laís empurrou-me bruscamente para dentro do carro. Eu a ouvi sentando-se ao meu lado.

Alguém deu a partida no carro e, em alguns segundos, já estávamos em movimento.

Mal tive tempo de sintonizar novamente a minha mente nas minhas preocupações anteriores, uma vez que a voz insuportavelmente irritante de Josh tomou conta dos meus ouvidos.

— Ah... Mas a filhote de morcego tinha que se atrasar, não é?

O sarcasmo tingiu sua voz. O som vinha da minha frente, do banco do motorista.

Nem parei para pensar no que eu estava fazendo. Eu armei o meu pé, da melhor maneira que pude, e dei um forte chute nas costas do banco. Eu senti o carro balançar para um lado e para o outro enquanto ele tentava manter a direção. Ele rangeu os dentes, insatisfeito.

Eu dei um risinho debochado quando percebi que o meu chute tinha causado efeito.

— Não sei quem foi o cachorro vira-lata que se atrasou ontem, não é? — falei entredentes.

Laís tirou a venda dos meus olhos. Já estávamos na estrada principal.

Eu pude ver Josh abrir a boca para retrucar, mas Vinnícius sibilou irritado.

— Xii! Já vai começar outra vez... — ele reclamou.

Ele tinha razão. Já era praticamente uma rotina. Todo dia o lobisomem me provocava. E, dependendo do meu humor, eu cedia às suas implicâncias.

Hoje, por exemplo, eu estava realmente irritada. As cenas do meu pesadelo ainda passavam vívidas por meus olhos. O que me dava uma sensação cruciante que tornava ainda mais urgente a necessidade de fugir.

Eu havia passado a noite inteira tentando idealizar um novo plano para escapar. Eu já tinha tentado fugir de todas as maneiras possíveis e imagináveis. Exceto por uma. Havia um plano que eu ainda não tinha tentado.

Se tinha uma coisa em que os dois lados da guerra concordavam plenamente era com a lei inviolável do segredo. Tanto vampiros e ninfas quanto lobisomens e ogros prezavam, acima de tudo, a ignorância por parte dos humanos. Os dois lados estavam de acordo que a falta de conhecimento humano protegia tanto a eles quanto a nós. E nenhum dos lados jamais ousou desviar desse princípio.

Isso fez com que eu me perguntasse: se, por algum acaso, alguém da minha família viesse, publicamente, e me levasse, o que eles poderiam fazer? Sem expor o segredo, não havia nada que eles pudessem fazer.

Mas tinha um pequeno detalhe que foi o único motivo para eu não ter tentado esse plano ainda...

Se eu o chamasse, ou se eu gritasse por socorro no estacionamento do colégio, meu irmão me atenderia e viria até mim ou ele me ignoraria completamente como tinha feito nos últimos meses?

Essa pergunta me impediu de levar a idéia adiante.

Na minha frente, Josh explodiu em gargalhadas. Minhas especulações não tinham durado mais de um segundo.

— Eu nem fiz nada dessa vez... — disse ele ao Vinnícius. Um sorriso malicioso formou-se em sua face. — Ela é que ainda está chateada porque não conseguiu me bater...

Pela segunda vez em menos de dez minutos, eu senti o sangue subir à cabeça.

— Urrgh! Idiota! Eu só não esmigalhei a sua cabeça porque o Vinnícius me tirou de cima de você! — eu rosnei.

— Rá! — ele exclamou. — Não fui eu que quebrei os meus dedinhos...

Ele riu deliciado com a provocação enquanto parava o carro no estacionamento do colégio.

— Umpf! — eu resmunguei saindo do carro. Josh me lançou um sorriso maldoso e eu virei o rosto infantilmente. Então, eu bati a porta do carro com força na intenção de demonstrar a minha raiva.

Mas nada me preparou para o que aconteceu a seguir...

O som da batida da porta foi bem maior do que o normal, o que fez com que nós nos virássemos novamente para olhar.

Meu queixo caiu com a cena diante de mim. Vinnícius deixou escapar um assobio chocado.

A porta do carro que eu tinha batido estava brutalmente retorcida. Ela fazia um V para dentro do carro. Era como se um rinoceronte tivesse batido de cabeça na porta.

— Meu Deus! — exclamou Vinnícius.

Ele me encarou chocado. Nem Josh ousou tecer qualquer comentário.

— Como você fez isso?

— Eu... Er... Eu não... — gaguejei. Nem eu mesma sabia como eu tinha feito aquilo.

Eu analisei os rostos, apavorada. Choque. Era isso que eu via. Até mesmo a quieta e apática Evellyn demonstrava algum assombro. Laís encarava, boquiaberta, o estrago no carro, mas estava sem reação. Vinnícius me olhava apavorado. E Josh olhava em volta tenso.

Eu percebi o que ele estava fazendo e olhei também. Não havia praticamente ninguém no estacionamento. Talvez o meu atraso não tenha sido de todo ruim.

Mas um par de olhos me prendeu onde eu estava. Eles me encaravam preocupados. Um par de olhos verdes.

— Droga! — Josh gritou. — O vampiro nos viu. Vamos embora antes que eles venham até aqui!

Ele entrou rapidamente no lado do motorista. Os outros o seguiram.

Eu não me mexi. Meus olhos estavam focados no meu irmão que agora corria na minha direção. Eu dei um passo na direção dele, mas um par de braços me segurou pela cintura.

— Vamos, Chris! Não faça nenhuma besteira... — sussurrou Vinnícius em meu ouvido.

Ele me puxou em direção ao carro, mas eu lutei contra os seus braços me debatendo violentamente. Fracassei miseravelmente. Eu senti meus pés sendo arrastados de volta ao carro.

— Não! — eu gritei. Minha mão instintivamente se erguendo em direção ao meu irmão. Ele estava a poucos centímetros de nós quando Vinnícius me puxou e Josh acelerou cantando os pneus.

Eu senti seu olhar derrotado abrindo a ferida em meu peito. Instintivamente eu pus a mão no vidro do carro querendo poder tocar meu irmão ao invés disso.

Não! Não! Não! Minha mente gritava.

Me desculpe, Dimitri! Eu queria gritar.

Chris? É você? A voz do meu irmão falou em minha cabeça.

Eu olhei ao meu redor procurando a procedência da voz. Ninguém parecia ter percebido nada.

Meu Deus! Será que eu estou tendo delírios? A vontade de estar ao lado do meu irmão seria tão grande a ponto de eu ouvi-lo? Definitivamente, eu estou ficando louca.

Eu é que estou louco! O que você está fazendo na minha cabeça, Chris? Falou a doce voz de Dimitri novamente. E, mais uma vez, só eu escutei.

Eu é que te pergunto. O que você faz na minha cabeça?

Ok! Agora eu enlouqueci de vez. Eu não só estou ouvindo vozes, como também estou respondendo a elas.

Espera um minuto. Eu prendi a respiração. Será que eu não estou tendo mais um daqueles flashes? Vampiros podem conversar mentalmente entre eles...

Tem razão! Meu Deus, Chris! É você mesmo?

Não! Quem mais seria? — eu respondi sarcasticamente.

Nossa! É muito bom ouvir a sua voz... Espera! Sua voz ficou séria. Chris, o que foi que aconteceu agora?

Ai, Dimitri! É difícil de explicar...

Fique tranqüila, Chris! A gente está bem atrás de você! Uma voz diferente, mas conhecida que tentou me acalmar.

Klauss? É você? Nossa! É tão bom ouvi-los! Espera!

Eu ofeguei assustada.

Vocês estão atrás de mim?

É!

Não prestei atenção em quem me respondeu. Eu tentei me virar, mas não percebi que o Vinnícius ainda me segurava firmemente. Ele entendeu o que eu estava tentando fazer e olhou para trás também.

— Droga! — o ogro exclamou. — Josh! Eles estão atrás de nós...

Chris... Está tudo bem? A voz preocupada do meu irmão falou em minha cabeça.

Não, Dimitri! Não está tudo bem! Vocês não podem me seguir...

Por que não? Você não quer a nossa companhia? Perguntou a voz grosseira de Klauss.

Eu ponderei por um segundo se contar a verdade seria a melhor maneira de mantê-los afastados. Mas, de que iria adiantar? Eles estavam na minha cabeça. Eles iriam saber se eu mentisse...

Não é isso, Klauss! É porque eles são muitos! Eles vão matar vocês!

Eu ouvi uma risada e reconheci como sendo do meu irmão. Ah! Eu sabia! Eu não te disse, Klauss? A Chris ainda ama a gente!

Eu mal pude compartilhar da alegria do meu irmão. Um novo alvoroço estava surgindo dentro do carro. Josh manobrava o carro desesperadamente tentando despistá-los. Entrando em ruas e mais ruas.

Dimitri! Me escute. — eu pedi. — Não nos siga! Não vai adiantar de nada...

De maneira nenhuma!

Preste atenção! Eles não sabem que eu estou falando com vocês... Eles não sabem de nada! Provavelmente eles me levarão a aula amanhã novamente. E aí, em público, a gente foge!

Eu não vou te deixar agora, Chris!

Não! Não! Não! Superproteção agora não!

Eu tinha dito aquilo mais para mim mesma, mas eu ouvi a risada de Klauss se divertindo com o meu pensamento. Então, uma idéia surgiu na minha mente.

A Patrícia está aí?

Eu estou aqui, Chris! — falou a voz maternal da vampira na minha cabeça.

A Stephanie está com vocês? — eu perguntei.

Está sim!

Por favor! Por favor, Patrícia! Você, junto com a Stephanie, segurem esses dois! Você ouviu o meu plano! É a coisa mais inteligente a fazer!

Ela tem razão, Dimitri! — ela disse.

Não! Não! Nem pensar! — falou ele exasperado.

Por favor, Dimitri! — eu pedi.

Não sei dizer o que eles resolveram porque as vozes sumiram da minha cabeça.

Eu voltei a prestar atenção ao que acontecia no carro. Vinnícius vociferava ameaçadoramente com Josh. Eles estavam discutindo o melhor caminho. A agitação era tanta que eles nem se lembraram de colocar a venda em mim. Mas o Josh fazia tantas voltas que era difícil eu me localizar.

Por fim, depois do que pareciam infindáveis voltas pelo sul da cidade, nós chegamos novamente no esconderijo. Vinnícius me arrastou para fora do carro e depois, para dentro do lugar.

— Me solta! — eu gritei. Ele me ignorou.

Eu estava tão irritada que eu não prestei atenção ao que Josh e Vinnícius discutiam ao meu lado. Eu só peguei o final.

— Mas... o que você acha que ele vai fazer com ela? — perguntou Vinnícius.

Josh me olhou pelo canto do olho e sussurrou.

— Eu não sei!

 

**********

 

Eu suspirei entediada. Já fazia pelo menos umas cinco horas desde que Vinnícius e Josh me trancaram aqui. Mark, a Dra. Magda, Vinnícius, Josh, Laís,... Todos já passaram por aqui. Mas nem depois do meu ataque de histeria, eles me disseram: por que raios eu estou trancada na enfermaria?

Tentei, inutilmente, entender o que eles conversavam todas as vezes que entraram e saíram daqui. A maioria eram frases desconexas e apreensivas. Mark, por exemplo, parecia extremamente ansioso por algum motivo. Como se ele quisesse muito fazer alguma coisa, mas algo o estava impedindo. E, o que realmente me deixou assustada, a Dra. Magda parecia extraordinariamente animada.

Eu havia passado as últimas horas tentando imaginar o que poderia deixá-los tão alvoroçados... O que havia acontecido no estacionamento não deveria ser um motivo de preocupação... Ou não?

Talvez eles tenham percebido que minha família ainda estava preocupada comigo, uma vez que eles nos seguiram por um bom tempo... Isso seria um motivo de preocupação.

E se a Patrícia não tiver conseguido convencê-los e Dimitri e Klauss nos seguiram até aqui? Provavelmente isso causaria uma batalha desnecessária e violenta. Estremeci imaginando as perdas irreparáveis a que isso ocasionaria dos dois lados.

Não é justo!

Meus pensamentos foram dissipados por uma confusão do lado de fora.

A porta da enfermaria foi aberta abruptamente. Mark passou por ela apressado sem nem olhar para mim.

— Você não pode fazer isso! — gritou alguém que seguia o lobisomem.

Meu coração deu um salto ao vê-lo passar pela porta. Tive um súbito impulso de gritar de felicidade, mas me contive. Matthew parecia... Apavorado.

Mark lançou-lhe um olhar ameaçador.

— Eu posso fazer o que eu quiser! Eu tenho autoridade suficiente para isso...

— Mas... E a Lohainne? Você não pode fazer isso sem consultá-la... — eu pude ouvir o desespero em sua doce voz. Eu me desesperei junto. O que o estava afligindo? Não podia ser nada bom.

— Não podemos esperar mais pela Lohainne! Já mandei que ela fosse avisada... Não há mais nada que eu possa fazer! — falou Mark sombriamente.

Ele virou-se de costas para o Matt. Eu não prestei atenção ao que ele estava fazendo. Meus olhos estavam em Matt.

Ele balançou a cabeça melancolicamente e olhou-me aflito por frações de segundo. Logo seu olhar voltou-se novamente para o Mark e uma nova expressão torturada surgiu em seu rosto.

— Não! — ele gritou, dando um passo na direção do lobisomem.

Mas Josh — e eu nem vi de onde ele surgiu — se colocou entre os dois colocando a mão no peito de Matt em um sinal de aviso.

— Vinnícius! Rayanna! — chamou Mark. Os dois entraram, obedientemente, na enfermaria. — Segurem-no!

Matthew mal teve tempo de se defender e logo os dois estavam segurando-o.

Eu, que estivera quieta até agora, gemi desgostosa ao vê-lo tão impotente. Mark deu uma gargalhada ao perceber o meu desespero.

— Quem diria... — ele provocou. — O que o nosso pai diria se soubesse que você se apaixonou por um lobisomem, Chris?

Eu não respondi. Eu sabia o que aconteceria. Meu pai provavelmente não diria nada, mas se sentiria imensamente traído. Exatamente como estava agora... Pensando que eu o havia trocado por meu irmão insensível.

As raízes da inimizade entre vampiros e lobisomens eram tão arraigadas que pouca gente as conhecia profundamente.

Mark leu facilmente a minha expressão.

— Você pensa que é diferente de mim, Chris? — ele falou abrindo a ferida em meu peito. — Você é pior! A dor que você causou a ele... Você pode viver cem mil anos e nem assim ele te perdoará completamente.

Eu mordi o lábio absorvendo as suas provocações. Por mais que eu não quisesse, aquilo era verdade...

— É mentira! Chris... Não escute o que ele diz! Ele é um... — Vinnícius tapou a boca de Matt antes que ele terminasse. Ele e Rayanna começaram a arrastá-lo para fora da enfermaria, mas Mark os conteve com um simples gesto com a mão.

— Deixem que ele fique e assista! Talvez isso lhe ensine uma lição...

Fique e assista? Meu Deus! Meu cérebro latejou dolorosamente. O que eles estavam planejando fazer? Não! Uma melhor pergunta seria: o que eles estavam planejando para mim?

— Magda! Prenda-a!

A cientista veio até mim incrivelmente ansiosa para obedecê-lo. Eu não consegui me mexer, em choque. A lobisomem prendeu-me firmemente deitada na maca com tiras de couro.

Meu cérebro parecia não estar assimilando as coisas que aconteciam.

Eu só fui perceber o que estava por vir quando uma cena passou por meus olhos. Quando eu vi, várias coisas aconteceram simultaneamente...

Um arrepio percorreu a minha espinha. O medo invadiu minha mente inebriando-a. Todo o meu corpo começou a tremer convulsivamente. E um grito agonizante escapou por meus lábios.

As pessoas na enfermaria não eram nada.

Eu entendi tudo.

E só vi uma coisa.

Os olhos negros diabólicos de Mark.


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Notas finais do capítulo

É isso, people!! Vou implorar por reviews só para não perder o costume! Pleeease!!!