Ikuto.

A única coisa que me ecoava na cabeça era o nome dele. Aquele que eu tanto observava de longe. Aquele que sempre quis acompanhar. Aquele que eu amava profundamente.

Admiro que não foi assim tão surpreendente quando a Amu me disse que eles haviam começado a sair juntos. Amu gostava dele e, por muito que me custasse admitir, Ikuto gostava dela.

Mesmo que ela fosse desastrada, ela poderia dar ao Ikuto tudo o que ele precisava. Os dois podiam ser felizes.

E mesmo assim, o nome dele continuava a ecoar na minha cabeça.

Levantei-me da cama e fui até à janela. Abri a janela e fechei os olhos enquanto a brisa fazia os meus cabelos loiros balançarem. Não era a primeira vez que isto acontecia; desde que eles estavam juntos que eu não conseguia dormir normalmente. Os meus olhos já começavam a demonstrar cansaço, e haviam várias pessoas que começavam a ficar preocupadas, como a Sanjou-san e o Kukai.

Kukai.

Suspirei aborrecidamente ao lembrar-me dele. Sempre a querer fazer competições de ramén, o idiota.

Ikuto.

Sempre Ikuto. O único com quem eu realmente me importava. Ele não iria querer que eu ficasse triste por algo assim. Decidida, fechei a janela e voltei a deitar-me, com esperanças de voltar a adormecer. Não resultou.

Ikuto...

~x~

Mais uma tarde em que o sol brilha intensamente no céu azul e em que a temperatura se encontra bastante elevada para a estação do ano em que nos encontramos.

Já estou aqui há horas, sozinho. O cansaço é visível em mim e devido à temperatura gotas de suor escorrem pela minha cara.

É, estou a jogar futebol!

Seria mais um dia normal, afinal não há um dia em que não jogue futebol, mas hoje é diferente!

Não estou a jogar futebol porque assim o faça todos os dias, estou a jogar porque o futebol é a única coisa que me faz esquecer os problemas.

Ou pelo menos fazia…

Acho que hoje nem o futebol resulta.

Porque é que digo isto?

A minha cara de aborrecimento diz tudo, errei golos quase certos e falhei passes que nunca falhei na vida, bastante estranho para mim.

Ao meu lado, o meu Chara Daichi grita comigo. Acho que ele fica mais frustrado com todos estes erros do que eu.

Não me importa, já há algum tempo desliguei-me dos sermões que o meu Chara insiste em dar. Ele sabe o porquê dos meus falhanços, mesmo que não o diga directamente. Acho que é o único que sabe o que eu estou a sentir, afinal ele é uma espécie de coração.

A razão dos meus falhanços?

Essa razão tem lindos cabelos loiros, uns grandes olhos violetas e um feitio nada acessível.

Hoshina Utau…

Malditas competições de ramén!

Será que ela não percebe?

Acho que não…Ela só tem olhos para o Ikuto. Mesmo que eles sejam apenas irmãos, não posso deixar se sentir um pouco de ciúmes. É inevitável!

Utau…

Parei a bola ao ouvir o meu telemóvel a tocar. Tirei-o do bolso e vi que se tratava de Amu.

- Sim?

- Ei, Kukai. Que tal irmos todos ver o concerto da Utau?

- C-Concerto?

Senti a minha voz a tremer um pouco. Não era a melhor altura para ver a Utau. Vá, Kukai. Diz que não.

- Está bem...

...boa. Acabaste de piorar a situação. Vais-te meter exactamente no último sítio onde deverias estar.

- Óptimo! Vem ter connosco ao portão da escola!

- Uhum.

Desliguei o telefone e olhei para a bola à minha frente.

- Que idiota que sou...

Daichi olhou com pena para mim e não disse nada. Nem mesmo quando chutei a bola com toda a força que tinha e ela aterrou nas redes da baliza.

Utau...

~x~

Hoje tinha um concerto num local muito conhecido onde actuei antes enquanto trabalhava para a Easter. Quando vi o palco, enquanto os equipamentos eram montados, senti a nostalgia de eu a cantar e Ikuto a tocar.

Black Diamond. Um CD inútil criado pela Easter. E no entanto, a única coisa que eu tive que me ligasse a Ikuto, além dos nossos laços familiares.

Ikuto.

Pergunto-me se ele virá ao concerto hoje. Ultimamente não tenho andado muito animada e então a Sanjou-san disse que ia convidar o Ikuto a vir a este concerto para ver se eu me alegrava.

Mas duvido que isso aconteça, porque é provável que ele traga a Amu.

Não quero imaginar ver os dois juntos. Por isso disse à Sanjou-san para não o fazer.

Mas ela começou a rir-se, a dizer para eu deixar tudo com ela.

Não consigo não ficar preocupada.

O que é que é suposto eu fazer caso eles os dois venham juntos?

Devo ficar sossegada e continuar a cantar normalmente?

Devo ir cumprimentá-los no final?

Não sei o que lhes dizer. Mas também não posso simplesmente ignorá-los.

Ikuto...

~x~

Estávamos todos juntos à espera que o concerto tivesse inicio. Eu estava uma pilha de nervos, tremia da cabeça aos pés e o facto de nos encontrarmos na primeira fila não me ajudava a conseguir manter o controlo.

Tentei respirar fundo na esperança que ajuda-se a acalmar-me, na realidade, não ajudou grande coisa. Assim que as luzes da plateia apagaram-se, senti o meu coração prestes a saltar-me do peito. O concerto ia começar…

Uma forte luz incidiu sobre o palco e nela apareceu aquela por qual o meu coração batia tão fora de ritmo.

Utau…

 A sua doce voz ecoou por todo o recinto do espectáculo e eu arrepiei-me todo. Era sempre assim quando a ouvia cantar.

Grandes aplausos e gritos de todos aqueles fãs ali presentes foram ouvidos… Eu continuei enfeitiçado por aquela voz que, de certa forma, conseguia acalmar-me.

Não tirei os olhos dela nem por um minuto, por isso consegui perceber os olhos dela vagueando pela multidão, à procura dele…

À procura de Ikuto…

Assim que os olhos dela caíram sobre o nosso grupo, sobre Ikuto, vi o seu sorriso aumentar, uma manifestação dos lábios quando os olhos encontraram aquilo que o coração mais procurava. Vi um brilho nela! Ikuto, de todas as formas, fazia-a brilhar.

Ou pelo menos era o que eu achava…

Num instante o seu sorriso desapareceu. Utau já não brilhava.

Ao meu lado ouvia alguém dizer o quanto ela estava linda, o quanto ela cantava bem, mas será que só eu é que percebia que ela tinha perdido todo o brilho que a acompanhava sempre que cantava?

Olhei para o meu lado e percebi a razão do desaparecimento daquele sorriso que me fazia feliz.

Ikuto e Amu abraçados!

~x~

O meu concerto estava prestes a ter inicio. Eu já estava pronta e sobretudo imensamente ansiosa.

Será que o Ikuto vai estar no meio da multidão?

E foi com este pensamento que entrei em palco. As luzes apagaram-se e só eu brilhava, era a minha vez agora.

Ao cantar, tentava encontrá-lo no meio da multidão. Não foi difícil, conseguia-o distinguir em qualquer lado. Afinal, Ikuto será sempre o Ikuto.

Não consegui disfarçar o sorriso ao vê-lo. Estava Feliz! Ikuto estava aqui para me ver…

O meu momento de alegria durou pouco. Vi o que mais temia, Ikuto deu a mão à Amu e de seguida abraçou-a, como dois completos apaixonados.

O meu sorriso desapareceu!

Tentei ao máximo controlar-me, não deixar que a minha voz falha-se e sobretudo, não deixar as lágrimas tomarem conta do meu rosto.

Eu tinha a plena consciência que mais tarde ou mais cedo acabaria por ver uma cena destas, era inevitável… Afinal de contas, eles eram namorados!

Só pensei, por um momento, que eles evitassem fazer alguma coisa na minha frente, no meu concerto.

Parece que me enganei…

Senti raiva, ciúmes talvez… Mas isso era só o meu egoísmo.

Esses sentimentos desapareceram a partir do momento em que encontrei o olhar do Kukai. Aquele olhar transmitia-me segurança e principalmente força. Ele sabia, ele sabia que eu não estava a brilhar com toda a minha força e mesmo assim transmitiu a força que mais ninguém conseguiu dar.

Obrigado.

Kukai…

Continua...