Segundo ciclo.

   Descemos do avião, cansados da viagem. Acho que foi mais por termos ficado sentados demais.

            Luan faltava morrer de sono, preguiçoso; Lippe estava elétrico, ele tirava fotos de tudo que via como... Bem, ele não parava de tirar fotos; Claire estava esgotada sendo meio que carregada por tio Daniel.

            E eu?

            Eu estava triste por ter vindo pra cá. Mas era a realidade... Tinha que aceitar que agora era minha nova vida começando, mesmo com mais obstáculos que já tive até agora – apesar de achar isso simplesmente impossível -, eu vou continuar seguindo sempre.

            − Tio Dan, quando seu amigo vai chegar para nos buscar? − perguntei fracamente.

            Estava cansada e queria ir logo para o apartamento. Sim, moraríamos em um apartamento.

            O problema é que aqui nesse lixão chamado Brasília um apartamento custa mais do que trezentos mil reais! Não tínhamos dinheiro o suficiente então, vamos morar na casa de um amigo do tio Dan da faculdade. O nome era Thomas Carvalho, meu tio falava bem dele.

            − Ele está chegando... − ele disse pegando o telefone.

            Olhei para todos, estavam totalmente acabados. Menos o Lippe que não parava quieto, onde está o botão de desliga desse garoto quando chega a um lugar novo?

            Nós paramos na praça de alimentação e ficamos olhando ao redor em extremo silêncio, mas logo o tio Dan se levantou indo cumprimentar um cara um tanto estranho. Ele tinha o cabelo batendo acima dos ombros e não era magro, mas também não gordo, tinha uma barba e um bigode bem estranhos, como se ele estivesse com preguiça de fazer a barba; era um cara estranho, porém era... Charmoso?!

            Ele vinha acompanhado de um menino com cara pestinha, o tampinha tinha cabelo preto, olhos azuis e pele branquinha. Versão masculina baixinha da Branca de Neve?

            − Dan... Quanto tempo! − disse o amigo do tio Dan dando um abraço apertado nele.

            − Desde a faculdade! E aí cara, como vai à vida? − perguntou tio Dan um tanto entusiasmado.

            − Bem, muito bem. Dan esse é meu sobrinho Gabriel. − disse ele apontando pro garoto com cara de pestinha.

            − Oi Gabriel. – encarei a cena com total tédio.

            − Oiiiii... − disse o tampinha feliz.

            Fiquei olhando com cara de “Que porra é essa?” e esperei ele parar de nos deixar no vácuo. Lippe parou durante uns instantes para tentar entender alguma coisa. Luan dormia encostado na mesa qual estava sentado, preguiçoso - diria que ele estava igual a aquela preguiça do filme “A Era do Gelo”. Claire estava cansada e quase tentando pular no tio Dani para que fossemos logo para o bendito apartamento. E Noah estava entediado.

            − Bem, esta é a família. − tio Dan disse trazendo o amigo para nos apresentar. − Galerinha este é o Thomas. Thommy esta é Mellody minha sobrinha. − disse ele apontando para mim. − Noah meu outro sobrinho. Luan namorado da Mel, Claire namorada do Noah, Lippe amigo da Mel. Bom, espero que possamos ficar no teu apartamento.

            − Ué! Claro que podem. Alguns vão ter que dormir no mesmo quarto, mas claro que sim. Então... Parece que eles estão pedindo loucamente para dormir. Então acho melhor irmos. Bem, antes de tudo este tampinha aqui é o Gabriel, meu sobrinho. Diz oi Gabe.

            − Oi. − disse ele parecendo estar cansado também. Parece que até o garoto estava com tédio por aqui, afinal só

            − Oi Gabe! − disse tentando ser simpática, mas todos aqui sabiam bem que eu era a que menos queria estar aqui, mas como a vida nos manda para vários lugares... E como já percebi que a minha está traçada para ter várias mudanças.

            Ele sorriu em resposta.

            Pegamos um taxi – que a propósito a taxa era bem cara -, fomos para o apartamento. Ninguém falava nada, era tédio demais. Fiquei um tanto pasma ao ver quantas árvores tinham em Brasília. A cidade era toda verde, eu tinha ido a poucos lugares com tantas árvores.

            Ao chegar ao apartamento vi que nem era tão grande assim. Era um apartamento com três quartos, tinham vários colchões na sala. Fiquei quietinha no meu canto enquanto Thommy e tio Dan arrumavam as camas. Luan despencou no sofá e o resto de nós foi se encostando às paredes. Logo a mãe de Gabriel chegou e o levou pra casa. E nosso voto de silêncio não acabava. Chegávamos a escutar as respirações uns dos outros e o vento batendo nas janelas.

            No fim das arrumações dos quartos ficaram assim: O primeiro quarto era o de Thommy; no segundo ficaram Luan, Lippe e eu e no terceiro Noah, Claire e tio Dan. Ficou tudo apertado, mas ficou bem legal.

            Na manhã seguinte todos ficaram andando por Brasília para reconhecer o terreno. Finalmente Luan conseguiu ficar acordado. Quando percebemos já era noite. Estava totalmente exausta, me pergunto como Lippe consegue ficar tão relaxado e alerta.

            − Vamos para um restaurante? − perguntou tio Dan.

            − Ah... Acho que é uma ótima idéia! − disse mais animada.

            − Sim! − Todos nós respondemos em uníssono.

            Nesta noite Thommy não estava conosco. Fomos para um belo restaurante, um tanto caro para meu gosto, mas vale à pena a comida era ótima e nos divertimos com as brincadeiras do Lippe com a comida e o Luan zoando com ele. Tio Dan apenas ria. E Noah quando passava da linha tinha “a orelha puxada” pela Claire. E óbvio que eu e Luan fugimos um momento para nos divertirmos a sós, mas só beijo dessa vez e algumas carícias mais ousadas. E por algum motivo depois disso as brincadeiras foram cessadas e fomos embora.