Eu passei pelas barreiras mágicas do acampamento, correndo. Queria que July entrasse, e como ela era humana, ela teria que voar sobre as barreiras. Corri sem prestar atenção nos campistas que me olhavam com aquelas caras de idiotas - parece que minha pele ainda está brilhando e etc. Os estábulos estavam por perto, então agradeci mentalmente por não ter que passar por atração principal do circo de horrores por mais muito tempo. Cheguei perto dos pegásos, que se agitaram ao me ver.

"Hey Chefa, é o Blackjack. Wow, você está brilhando, legal."

 Tá, tinha um cavalo na minha cabeça. Olhei para o grande pégaso negro que relinchava. Parecia feliz por estar no meu cérebro. Lembrei rapidamente que cavalos eram criação do meu avô. 

- Ãn, é, eu estou brilhando. Mas...

"Tem torrões de açúcar? Percy costumava trazer torrões de açúcar. "

- Não, não tenho açúcar, mas posso conseguir se você buscar minha amiga e a trazer sobre as barreiras mágicas. 

"Amiga, que amiga? " Acho que pégasos tem problemas.

- Conhece Nate? - Ele balançou a cabeça, o que eu interpretei como um sim e continuei. - Ele está com ela, para baixo do pinheiro. Ela é humana, mas preciso que ela fale com Quíron. Visões e essas coisas bízarras.

"Ah cara, as Garotas das Profecias geralmente são malucas. É bom conseguir feno extra para mim."

- Vou conseguir. - Então, ele relinchou mais uma vez e saiu dali, voando magestosamente. Suspirei, então, voltei a andar até a casa grande.

Já era crepúsculo, novamente. Olhei para o campo de morangos, que ficava lindo sob a luz fraca do Sol e os primeiros raios prateados da lua. Quíron estava na varanda, em sua forma de centauro, e trotou até mim, sorrindo.

- Olá, Blair. Fiquei sabendo das suas peripécias no Mundo Inferior. Muito bom. - Sorri, enquanto o abraçava. Eu sentia falta do meu pai, dos seus abraços quentes, e da minha mãe com suas palavras sempre sábias e reconfortantes. Mas Quíron conseguia suprir muito dos dois.

- Você é a primeira pessoa... - Pensei se o termo pessoa fosse adequado para ele, por um momento, mas decidi que o que menos importava agora era a gramática. - ... que não faz comentários nenhum sobre minha pele azul e essa porcaria de coruja na minha cabeça.

- Entre, já vamos conversar sobre isso. - A casa grande era como uma casa de fazenda, mesmo. Simples. Mas era aconchegante. Sentei-me no sofá, enquanto Quíron parava na minha frente.

- Ah, esqueci de mencionar: Blackjack está trazendo uma amiga minha por cima das fronteiras. Ela me ajudou, porque teve uma visão. Acho que ela precisa de ajuda. 

- Santo Apolo! - Ele exclamou. -  Certo, certo. Acho que Nate pode leva-la para dar uma volta. Depois que conversarmos, eu cuido do caso dela. - Assenti, enquanto ele se aproximava. Ele tocou a minha pele, e sorriu, enquanto olhava para a coruja. - Isso é, definitivamente, a benção de Poseidon e Atena.

- É, eu sei.

- Sabe? - Quíron perguntou, visivelmente surpreso. Suspirei.

- Eu escutei Atena e Poseidon discutindo na minha mente. - Dei de ombros. 

- Eles estavam juntos? Interessante... mas eles se odeiam. Talvez Atena tenha reconhecido que Cronos é um problema maior do que rixas pequenas. - Ele não parecia estar falando comigo, mesmo assim, dei de ombros e respondi.

- Eles pareciam não estar aproveitando a companhia um do outro. - Como eu e Chuck. Ah, droga, por que esse garoto tem que surgir do nada na minha cabeça?

- Bem, sua benção foi incomum. Elas geralmente não se manifestam com tanta força, e devem ser concedidas pelo progenitor. 

- Achei que já tinha percebido que eu não sou comum. Ah, lembrei de uma coisa! - Exclamei dando um tapa de leve na minha testa. - Hades pediu que eu fosse até Diké. Sabe onde ela está ou vou ter que falar com o insuportável do sr. D.? - Ele riu baixinho e foi até a lareira. Pegou um pequeno pedaço de papel dobrado ao meio e estendeu para mim.

- O Senhor D. foi para o Olimpo hoje pela manhã, mas já sabia que você ia precisar do endereço de Diké, e fez esse favor a Hades. Aí estão todas as informações da deusa que temos. - Abri o papel, me certificando que havia um endereço ali e suspirei.

- Tudo bem. Posso dar uma volta pelo campo de morangos? São minha fruta favorita e eu realmente preciso pensar. - Ele colocou o braço no meu ombro e sorriu.

- É claro. Vou cuidar da sua amiga agora, tudo bem. - Assenti silenciosamente, saindo da casa grande em direção aos campos.

Aquela plantação de morangos era simplesmente linda. Escolhi um pequeno espaço de terra e me sentei, de pernas cruzadas. Olhei para o céu, enquanto colocava um morango na boca.

- Sabe Zeus, agora eu entendi porque vocês tinham feito aquele tratado de "nada de filhos". Ser um meio-sangue ou... seja lá o que eu sou é complicado demais. - Mordisquei outra fruta, e deixei um suspiro longo e pesado escapar dos meus lábios - O senhor viu, não é? O senhor viu aquele olhar psicótico no rosto do seu filho. Não está certo! O que aconteceu com o Chuck? Eu só queria saber se é minha culpa. Ninguém diz isso, mas eu percebo os olhares pesados dos campistas sobre mim. Não é minha culpa. Não pode ser. Eu nunca fui fácil de conviver, e eu tenho conhecimento sobre isso. Mas eu lembro dos nossos bons momentos. Das implicâncias, dos poucos beijos e da nossa unica noite. São simplesmente flashbacks que insistem em me assombrar! Nada parece certo. Estava tudo bem e então do nada ele me deu as costas. Duas vezes. Eu fiz algo errado? Fui dura o suficiente para fazer com que ele fugisse como um garotinho assustado? A verdade é que todos aqui pensam isso. Mas eu não quero acreditar que seja verdade. Eu conhecia ele tão bem e agora não sei mais se isso é verdade. Ele realmente esqueceu tudo? Porque ele ia me matar. Ele me deixou para morrer. E eu não sei porque, mas a unica coisa que passa pela minha cabeça agora é como me livrar da culpa, como trazer o meu Chuck para o meu lado novamente. Como fazer ele me perdoar por tê-lo deixado partir, quando tudo que eu deveria fazer era pensar em vingança. Essa é a porra do amor? Então mande um beijo para Afrodite, porque ela conseguiu ferrar com a minha vida. - Maneei a cabeça negativamente, e me levantei, pronta para sair com alguns morangos na mão. Mas quando eu me virei, senti a vertigem, subindo daquelas-coisas-que-estavam-agitando no meu estômago até a minha cabeça.

Chuck estava parado, com um expressão séria e uma roupa informal, enquanto me encarava. Ele não sorriu, e seus olhos continuavam com aquele brilho frio.

- Precisamos conversar. - Ele falou, e minhas pernas finalmente cederam ao peso do meu tronco. Então, tudo ficou escuro.