Fúria dos Deuses escrita por Neline


Capítulo 22
Minha primeira parada cardíaca precoce


Notas iniciais do capítulo

Um dia atrasado, não é grande coisa. Enfim...

... enjoy ;*



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- Então... fiquei sabendo que meu maninho saiu da linha. - Nico falou e eu tentei, ao máximo, me concentrar nas suas palavras, mas era difícil fazer isso enquanto eu tentava veemente reprimir a náusea. Me sentia galopando uma uma esponja de aço gigante. E a velocidade que as árvores passavam era tão atordoante que eu me perguntava a quanto quilômetros (ou milhas) por hora nós estávamos percorrendo.

- É. - Respondi sem vontade. Além da náusea eu tinha que lidar com a palpitação, a ansiedade e o medo. 

- Vamos lá, eu sei que deve ser um tanto difícil para você a viagem das sombras, mas estaremos lá bem mais rápido. - O homem falou, tentando me animar. Tentei dizer que o cão infernal era o menor dos meus problemas, e que eu estava com dificuldade em lidar com as... borboletas. Mas não falei nada, tentando não correr o risco de acabar largando todo o papo melodramático que insistia em borbulhar na minha mente. - Viu só? Já chegamos. - Reconheci o estúdio de gravações M.A.C. e suas paredes escuras, sua decoração de cactos. Como sempre, alguns fantasmas vagavam com uma cara de tédio que chegava a dar pena. O homem de preto, que geralmente nos barraria, recebeu um olhar estranho do Nico e foi até o elevador.

Nós o seguimos. No rio Estige, encontramos automaticamente um barco, assim que o elevador (que se movia de um jeito estranho, para frente) parou. Estramos na embarcação e eu comecei a olhar para os lados. Uma onda de pânico me dominou novamente. As paredes tinham arranhões, como se tivessem sido esfaqueadas. Alguns espíritos vagavam, de um lado à outro, sem muita preocupação.

- Por que eles parecem mais transparentes do que o normal? - Eu disse, sem pensar muito, olhando para os espíritos. Eles realmente pareciam mais transparente do que os que estavam esperando para entrar no Mundo Inferior, por exemplo.

- Eles devem estar cansados. Bem, digamos que mortos não tem muita energia, e a batalha deve estar acabando com eles. - Uma série de perguntas passaram na minha cabeça. Fantasmas podiam morrer? Eles se cansavam? De um jeito ou de outro, preferi me manter calada ao chegar em uma trifurcação. "A Morte Expressa vai ao Campo de Asfódelos. São pessoas que não querem arriscar o julgamento final. As duas outras, são para as que querem tentar o julgamento do tribunal e ir para os Campos Elísios. Apenas para pessoas extremamente boas. Mas caso você tente o julgamento e tenha feito algo realmente ruim, vai para o Campo de Punição, serem torturados pela eternidade. Garotas más como você", a voz do Chuck apareceu na minha cabeça, me fazendo suspirar. Porém, dessa vez, algo me surpreendeu. Não haviam espíritos nas filas. Na verdade, haviam, mas não eram pessoas comuns. Estavam com um tipo de uniforme negro, em posição de sentido, e tinhas espadas nas mãos.

- Onde estão os mortos? - Serena perguntou, assustada.

- Acho que Hades fechou a fila. Sabe, por precaução. Não queremos mais gente do exército de Cronos aqui dentro. - Nico explicou e eu franzi o cenho.

- Ah, certo. As pessoas não podem mais morrer. - Eu falei, completamente desnorteada. Quer dizer, era a minha única certeza até agora: que um dia eu ia morrer, e nem isso eu tinha assegurado? 

- As pessoas podem morrer. Apenas não podem ficar no Mundo Inferior. - Nico rebateu ao meu lado, se aproximando cada vez mais da barreira nas filas.

- E onde elas ficam? No recepção do M.A.C.? - Serena pediu antes que eu pudesse me manifestar.

- É. - Ele respondeu, dando de ombros. Estavamos na divisão das filas. Os espíritos nos olharam ameaçadoramente, mas Nico apenas chegou mais perto. Eles conversaram, e pór um momento pensei que degolariam o filho de Hades na sua própria casa, mas eu estava engana. Ele fez sinal para que nos aproximássemos. - Podemos passar. Acho que seria melhor nos dividirmos para cobrir um território maior. - Levantei a cabeça, tentando transparecer uma confiança que eu não tinha.

- Eu quero ir pelo Asfodelos. -  Ambos me olharam, como se eu fosse maluca.

- Blair... acho que você deve ir para o Campo de Punições e Elísio com a Serena, enquanto eu cubro o Asfodelos. - Eu sabia o porque daquilo. Algo me dizia que Chuck estava lá. Eles não queria que eu ficasse perto demais dele. 

- Preciso falar com Hades. Algo que Cronos me disse acabou me deixando confusa, preciso tirar a limpo. - Serena estufou o peito ao meu lado.

- Eu vou com você. - Ela disse. - Sou sua protetora, é minha obrigação. - Completou, com as pernas trêmulas.

- Não precisa fazer isso. Eu sou capaz de ir sozinha. Ando treinando, não preciso de uma babá. - Nico olhou para o chão. Ele parecia pensar se aquilo era realmente viável. - Por favor. - Eu falei em tom baixo e suplicante.

- Não é uma missão fácil. - Ele me disse, com um tom sombrio.

- Um homem me falou uma vez que ser filho de um dos três grandes não é fácil. Você tem muito desse homem. - Ele ficou me encarando, por um minutos, como se lembrasse de vários momentos na sua vida de semideus. 

- Está certo. eu e Serena cobrimos o resto e você vai até Hades. - O olhei, e sorri, em um gesto desajeitado e falho de tentar agradecer.

Por um momentos, fechei os olhos, tentando lembrar do caminho que eu e Chuck fizemos da ultima vez que vi o Deus dos Mortos. Para minha surpresa, Cérbero, o cão infernal de três cabeças que ficava nas filas, não estava ali. Devia estar patrulhando, ou algo do tipo. Passei pela fila po meio, não demorando muito para chegar ao Campo de Asfódelos - um grande espaço escuro e silencioso, onde várias almas estavam. O que me surpreendeu foi que, o lugar que geralmente era calmo, estava tomado por guerreiros mortos com espadas, lutando animadamente. Alguns olharam para mim quando eu passei, tentando permanecer despercebida, mas voltaram a suas ocupações normais antes de seres cortados ao meio. Depois de atravessar o grande campo de batalhas, avistei duas pequenas estradas, e segui até elas. A primeira era assustadora. O lugar mais horrível que eu já vi. Em dois segundos que eu olhei pela pequena fenda, vi torturas tão horríveis que me ordenei a virar o rosto. Aquele era, sem dúvidas, o Campo de Punição. A estrada ao lado era tão melhor que me fez esquecer os gemidos de dor e gritos de agonia. Um lindo campo - como os de desenhos animados, com arvores tão verdes quanto um lápis de cor e animais que pareciam sorrir. O Elísio. Um lugar agradável para passar a eternidade. Continuei seguindo pela a estrada, negra com detalhes em dourado, que aos poucos virou um corredor estreito.

Já estava caminhando há cerca de 20 minutos. Minhas pernas doíam e meu cérebro não raciocinava direito. Mas, de repente, eu comecei a ter problemas no meu coração, que simplesmente subiu até a boca e parou de bater. Chuck estava escorado na parede, há 35 metros de mim, apoiado na sua espada, que estava diferente da última vez que a vi: toda sua lâmina era negra. Percebi que havia congelado. Ele se afastoui da parede e colocou a espada sobre o ombro, começando a andar. Certo, Blair Cornélia Waldorf Jackson, tire Anaklumos do bolso. Boa garota! Destampei a caneta. Em menos de 30 segundos, ele estava na minha frente, com um sorriso torto. Parecia mais cansado, talvez um pouco mais alto. Sua barba estava mal feita e seu cabelo um pouco bagunçado. Seus braços estavam mais muscúlosos. Parecia em uma forma melhor, porém exausto.

- Blair. - Ele falou, colocando a ponta da espada no chão.

- Chuck. - Eu respondi, totalmente fria. Meu coração ainda estava parado.

- Creio que não devo deixar você passar. Dê meia volta e vá embora. - Ele falou, com tranquilidade, como se eu fosse uma ameaça menor do que uma mosca. Sim, aquilo fez meu coração voltar a bater, com mais força, bombeando o sangue com uma pressão tão forte que provavelmente explodiria uma das minhas veias a qualquer momento. Levantei Contracorrente e ele pareceu espantado com meu gesto.

- Creio que não pedi sua permissão. - Falei, enquanto ele gargalhava.

- Você não pretende esgrimar comigo, não é? A coisinha desastrada e sem reflexos. - Suspirei pesadamente, tentando me controlar.

- Escute Bass, você perdeu qualquer direito que você podia adquirir de fazer piadas com a minha coordenação quando me deu as costas há mais de um mês atrás. Você não sabe como tem sido para mim, então eu exijo que você pense duas vezes antes de falar qualquer coisa de mim, pois nada que saia dessa boca maldita me interessa. - Ele deixou os olhos semi abertos.

- Se você prefere assim... - Ele falou, deferindo um primeiro golpe com sua espada negra. 


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Notas finais do capítulo

Então, gostaram? O que acham que vai acontecer? Se decepcionaram com o reencontro? Espero que não...

Deixem reviews.

XOXO. Neli ;*