Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 73
vida 5 capítulo 22




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/81878/chapter/73

Adam estava completamente envolvido pela atmosfera sensual que dominava a alcova da feiticeira. A alcova reunia alta tecnologia no controle integrado da iluminação, temperatura, umidade e som ambiente de fundo por comando de voz. Um eficiente sistema de renovação de ar eliminava a fumaça produzida por centenas de velas e introduzia, no ambiente, perfumados óleos essenciais de propriedades afrodisíacas.

A tecnologia estava, no entanto, a serviço de um conhecimento antigo de refinada magia sexual. Cores quentes, ritmos que reproduziam o batimento acelerado do coração humano, a doce sensação de ter a pele massageada por um óleo perfumado que parecia anestesiar dores, cicatrizar ferimentos e resfriar deliciosamente ao toque. Nathalie Helms, caso já não fosse, ficaria imensamente rica se vendesse um único de seus muitos segredos para a indústria do sexo.   

Adam reagiria ao ambiente de luxúria e à beleza exótica da feiticeira mesmo que não estivesse sob o efeito da poção de amor, mas esta potencializava as sensações, levava ao êxtase. Era, ao mesmo tempo, a mais terrível das torturas e o mais celestial dos prazeres. Gritos que reuniam prazer e dor, gemidos de fazer corar prostitutas e frases desconexas e obscenas ora sussurradas ora berradas escapavam das bocas de ambos os amantes. As pronunciadas pela feiticeira misturavam palavras de dezenas de línguas, mas principalmente palavras de sua extinta língua natal.

Adam era um amante experiente, entusiasmado e preocupado em dar prazer à parceira, mas estava descobrindo que tinha muito a aprender e que às vezes é muito melhor se deixar dominar. Estava sendo tocado de formas que nunca permitiria em seu estado normal. E, pelo menos naquele momento, estava adorando. Se morresse naquele instante, morreria feliz.

Catherine aproveitara um momento em que os gritos estavam particularmente intensos e prolongados, para testar a maçaneta. Como esperava, não estava trancada. A bruxa não tinha porque ser cuidadosa. Estava na própria casa. No próprio quarto. Onde reinava absoluta. A cama, imensa, tinha um dorsel, com véus que nublavam parcialmente a visão da porta.

Os gritos de dor de Adam feriam profundamente o coração de Catherine. Os de gozo mais ainda. Então fora assim com seu filho? Seu garotinho? Torturado com sexo, noite após noite, por seis semanas. Ia matar a desgraçada.

Catherine pede com gestos que o ghoul se mantenha no corredor, retira os sapatos e entra, o mais silenciosamente possível, com as duas mãos estendidas empunhando a arma, como aprendera de tanto ver o treinamento dos recrutas da polícia. Quando estava suficientemente perto, afasta bruscamente o véu com uma mão e rapidamente volta a empunhar a arma engatilhada, apontando para a bruxa, parcialmente oculta sob o corpo de Adam.

O filtro do amor distorcia a percepção da realidade de suas vítimas. Elas se sentiam não só perdidamente apaixonadas, mas totalmente correspondidas. Nada do que fizessem ou sofressem seria o suficiente para retribuir a imensidão do amor que fantasiavam estar recebendo. A beberagem de extrato de temperos acabaria por neutralizar o efeito da poção, mas, naquele momento, Adam ainda não estava suficientemente no controle dos próprios atos.

Adam era um homem de ação, acostumado a reagir instintivamente em caso de perigo. Ao ver uma arma ser apontada para sua doce Nathalie, sua única razão de viver, Adam avança para desarmar a atacante. Catherine, assustada, ao ver o homem nu saltar em sua direção, fecha os olhos e dispara. O tiro acerta Adam no abdômen. O impulso dado o faz cair sobre Catherine, derrubando-a no chão.

Catherine reage de forma surpreendentemente rápida. Empurra Adam para o lado e volta a empunhar a arma. Mas Nathalie não era mulher de se deixar intimidar. Já enfrentara inimigos poderosos em sua longa existência. Todo tipo de ameaça. Guerreiros. Assassinos. Salteadores. Magos. Feras. Demônios. A fúria do mar. Uma dona de casa de meia idade? Aquilo não era uma ameaça, era uma piada.    

Nathalie gesticula atraindo a atenção da adversária para seus olhos. O contato visual é feito. Catherine se vê transportada. Estava numa espécie de poço. Circular. Profundo. Paredes de pedra. Escuro. E saindo de todos os cantos, de todos os lados, cobras. Dezenas. Centenas. De todos os tamanhos. Choviam cobras sobre ela. Há uma serpente a encarando, preparada para dar o bote. Recua num salto e a serpente morde o ar a centímetros do seu rosto. Mas há outras. Estava cercada. Dezenas de bocas abertas, as presas à vista. Gotejando veneno. Estavam subindo por suas pernas. Se enroscando nela. Catherine grita e, em pânico, dispara mais três vezes a esmo.

E, então, subitamente, se vê de novo no quarto. A cerca distância, ajoelhada nua na cama, a feiticeira aperta com força o braço, tentando estancar o sangramento. Seus olhos emanam ódio. Catherine ainda abalada pela terrível experiência, tem dificuldade para erguer a arma. Suas mãos tremem. Sua determinação é abalada.

A feiticeira grita um xingamento. Com o susto, Catherine ergue os olhos e, novamente, seus olhos e os da bruxa se encontram. E, pela segunda vez, Catherine fica presa na teia hipnótica da bruxa. FOGO. Catherine se vê cercada pelo fogo. O calor é insuportável. Suas roupas começam a se incendiar. O fogo atinge seus cabelos. Sua pele arde, bolhas se formam, sua pele começa a queimar. Ela sente o horrível cheiro de carne queimada. E grita. Um grito longo e horrível. De dor e desespero.

Nathalie se abaixa e pega o punhal que 3300 anos de experiência lhe ensinaram a manter sempre a mão. A dor que estava sentindo ia devolver multiplicada por 1000. Aquela maldita mulherzinha ia se arrepender amargamente pelo atrevimento.  

Adam permanecia imóvel, sem gritar, mas com uma expressão de dor intensa no rosto. Estava deitado de costas, com a mão pressionando o ferimento de bala. Sua mente começava a clarear. O suficiente para perceber que morreria se não recebesse cuidados médicos imediatos. Uma imagem ainda borrada começou a se formar em sua mente. Uma imagem aos poucos vai ganhando contorno. Sam. Não podia morrer. Não podia deixar Sam sozinho no mundo. Não podia.

O sangue que escorria do ferimento começava a formar uma grande poça. Como não podia deixar de acontecer, o cheiro de sangue atraiu a atenção do ghoul.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

01.02.2011