Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 66
vida 5 capítulo 15




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O milagre vem na forma de uma garota loura armada de spray de pimenta. Ashley se coloca na frente de Sam, enquanto Owen o arrasta para dentro junto com o rifle.

Ashley parecia não se dar conta do quanto o que fazia era temerário. Ela estava sozinha, encarando cinco ghouls. Eles se aproximavam cautelosos, passo a passo, mas rosnavam e arreganhavam os dentes ameaçadoramente e se preparavam para a investida. Ela descarrega o spray num semicírculo e recua, também passo a passo, sem demonstrar medo. Owen a puxa para dentro e trava a porta, pondo-a momentaneamente a salvo.

Mas ninguém ali estava realmente a salvo. Janelas começam a ser quebradas de todos os lados. O investigador Robinson já instruíra os seguranças a retirar todos do primeiro andar. A defesa ali era impossível. Era questão de minutos para os ghouls invadirem o hospital. O investigador e um segurança conduziram quem não tinha condições de subir as escadas para os elevadores e cortaram a força. Presos nos elevadores, estariam em segurança. Sem os elevadores, seria também mais fácil defender o segundo andar da invasão. A escada passava a ser a linha de defesa. Eram na verdade duas escadas em lados opostos do prédio. Os outros três seguranças protegeriam a segunda escada.

Ao entrarem pelas janelas do ambulatório vazio e invadirem o corredor, os ghouls cortaram o acesso de Ashley, Owen e Sam ao segundo andar. Um estrondo e a parede de vidro reforçado onde estava instalado o portão giratório da entrada principal vem abaixo. Não havia como recuar. Eles não tinham escolha, precisavam alcançar a escada a qualquer custo. Sam recarrega o rifle e abate cada ghoul que tenta deixar o ambulatório. Mais alguns e os corpos obstruiriam a passagem. Ao chegarem na entrada do ambulatório, Sam toma posição, e passa a alvejar também os ghouls que entraram pela entrada principal destruída. Sam dá cobertura para que Ashley e Owen finalmente consigam alcançar a escada, protegida pelo investigador Robinson.

A batalha prossegue em outras frentes. Muitos ghouls entraram pelos fundos do hospital. E lá, a linha de defesa era consideravelmente mais fraca. Os seguranças estavam armados somente com revólveres e dispunham de um número pequeno de balas para recarregar. Foram contratados para manter a ordem com a força do uniforme e, no máximo, controlar arruaceiros, bêbados e um ou outro paciente mais exaltado. Não eram heróis. Não sabiam o que fazer contra uma dezena de monstros.

Um dos seguranças, em pânico, descarregou toda a arma e conseguiu matar dois ghouls com tiros a queima-roupa, antes de ser destroçado pelos demais. O segundo, alguns degraus acima, até tentou manter a posição e impedir que os ghouls alcançassem o segundo andar, mas tremia tanto que não acertou nenhum tiro. Eles o acuaram, fazendo-o cair de costas na escada. Em segundos, dentes afiados foram cravados em todas as partes do seu corpo, até que uma mordida na garganta o calou para sempre. O grito apavorante ficou ainda mais apavorante ao ser subitamente calado.

Ashley e Owen ao passarem pelo investigador Robinson foram avisados que as coisas pareciam estar saindo do controle do outro lado do hospital. Neste momento, o grito pavoroso do segurança se fez ouvir, para ser, em seguida, silenciado. Eles correm para lá, a tempo de ver o terceiro segurança ser puxado escada abaixo pelo que parecia ser dezenas de mãos. Se armam de novos tubos de spray de pimenta e correm na direção da escada, mas não há mais nada que possam fazer pelo segurança.

No alto da escada, é a vez de Ashley e Owen tentarem impedir o avanço dos ghouls, mas eles sabem que é uma questão de tempo. Um a um, os tubos de spray de pimenta têm a sua carga esgotada. Owen tem nas mãos o único tubo ainda cheio e sabe que logo estarão indefesos. Mesmo assim, Owen precisa gritar para que Ashley se afaste e faça o que for possível para salvar ela própria e os pacientes. De onde está pode ver os ghouls em frenesi devorando os seguranças mortos e sabe que em poucos minutos pode ser a sua vez. Olha em torno, desesperado. Os extintores de incêndio. Precisava ganhar mais alguns minutos para dar a Ashley a chance de sobreviver. Ele próprio já não alimentava esperanças de sair vivo dali.

No saguão, Sam recarregara o rifle pela terceira vez e se juntara ao investigador Robinson na base da escada. A munição de ambos estava acabando. Ao escutarem o grito de Owen para que Ashley buscasse se salvar, os dois abandonam a posição e correm escada acima. O pior que podia acontecer era se virem cercados por ghouls na base da escada.

Havia uma nuvem de spray de pimenta pairando no ar sobre toda a escada dos fundos e era só isso que estava contendo os ghouls no andar de baixo. Owen já se armara com um extintor a base de CO2 e voltava a se posicionar na saída da escada quando é alcançado por Sam e pelo investigador Robinson, que o puxam para seguir com eles para o terceiro piso. O segundo andar também estava perdido.

O terceiro andar estava lotado. Médicos, funcionários e pacientes estavam em pânico. Todos escutaram o barulho de vidros sendo quebrados, tiros, o grito do segurança e rosnados animalescos vindos de todos os lados. Muitos se encolhiam, paralisados pelo medo. Uma enfermeira estava histérica e teve que ser contida com uma injeção de tranqüilizante. Pacientes idosos e aqueles que sofriam do coração ou de pressão alta estavam passando mal. Os médicos não davam conta ou precisavam de atenção médica eles próprios.

O único segurança ainda vivo havia sugerido que evacuassem também o terceiro piso e seguissem para o terraço do prédio. Uma escada estreita conduzia ao terraço e seria mais fácil defendê-la e proteger a única porta de acesso da invasão das criaturas. Mas os problemas eram muitos. A escada era estreita demais e em curva, com degraus também estreitos. Seria difícil transportar quem tivesse problemas de locomoção. A noite estava muito fria e, naquele andar, não havia cobertores para todos. O principal problema, no entanto, é que seria demorado. E eles não tinham esse tempo. Mais um motivo para começarem imediatamente.

Ashley buscava meios de retardar os monstros. Se os ghouls alcançassem o terceiro andar seria uma carnificina. Precisava pensar em algo. O spray de pimenta fora eficaz porque os ghouls tinham o olfato desenvolvido. Num hospital, havia muitos produtos de cheiro irritante que poderiam usar como armas. Amônia e clorofórmio, por exemplo. A vida de todos ali estava em jogo. Ashley cogitou até em preparar coquetéis molotov com álcool.

Agora era conseguir os produtos. Ashley teve que sacudir um jovem médico para ter sua atenção. Precisava convencê-lo a ajudá-la. E ela sabia ser persuasiva. A idosa, que chorava histericamente, podia esperar. O problema, segundo o médico, é que aqueles produtos eram usados em pequenas quantidades e os estoques eram muito pequenos. Um ou dois vidros, no máximo. Um faxineiro que escutou a conversa com o médico lembrou do cheiro forte de desinfetantes e de alguns produtos de limpeza a base de cloro. E com a vantagem que os produtos de limpeza estavam disponíveis em grandes quantidades. Não era muito, mas era uma esperança.

Os tiros estavam mais espaçados, mas cada vez mais próximos. A batalha estava acontecendo nas escadas que davam para o terceiro andar. O investigador Robinson já estava sem munição e, como Owen, tinha se armado com um extintor de incêndio. Sam só tinha as três balas com que acabara de recarregar a arma. Sozinho tinha matado pelo menos 20 ghouls. Tinha conseguido parar o ataque vindo da frente do hospital. Mas ainda tinha os pelo menos 10 que entraram pelos fundos e que tinham sido momentaneamente barrados pela nuvem de gás de pimenta na escada do primeiro para o segundo andar. Mas o gás começava a dispersar. E os primeiros ghouls começavam a atravessar a barreira química.

Dos quarenta ghouls trazidos para a cidade, restavam onze. O primeiro segurança a morrer matara dois, o investigador Robinson matara seis e Sam matara 21, dos quais cinco antes de entrar no hospital. O ataque cego dos primeiros devia-se em parte à fome, que roubava a racionalidade dos ghouls. Os que restaram já estavam com a fome momentaneamente saciada após se banquetearem com os três seguranças. Já eram capazes de pensar e agir usando estratégia. Um deles já assumira inclusive a aparência do primeiro segurança morto. E com as memórias do segurança, podia planejar o ataque final.


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Notas finais do capítulo

[POSTADO EM 31.12.10]
FELIZ 2011