Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 64
vida 5 capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

OS CAPÍTULOS V5C11 E V5C12 ORIGINAIS FORAM REUNIDOS NUM ÚNICO CAPÍTULO E O CAPÍTULO V5C13 ORIGINAL PASSOU A SER O NOVO V5C12.
POR FAVOR, CONFIRMEM SE REALMENTE LERAM OS CAPÍTULOS ANTERIORES.



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AGORA

O Impala preto parou na entrada do Hospital Distrital e o garoto louro de olhar decidido deixou o banco do motorista e abriu a porta traseira direita do veículo. Diversas pessoas o reconheceram. Muitos paravam e apontavam de longe. Mesmo quem passava sem parar, olhava espantado e demonstrava indignação. Sabiam que o garoto acabara de passar por um trauma, mas isso não mudava o fato que ele era um garoto e não tinha idade legal para dirigir.

Um segurança do hospital se aproximou e o interpelou em tom exaltado, mas o garoto não se deixou intimidar. Só então o segurança viu que havia alguém no banco traseiro do carro. Um rapaz louro embrulhado num cobertor. Sua aparência era péssima. O segurança voltou correndo para o hospital para trazer ajuda para transportar o rapaz até o setor de emergências. Qualquer um que visse o rosto do rapaz desacordado diagnosticaria que o estado dele era crítico.

O que surpreendeu a todos que acompanhavam a cena foi a facilidade com que o garoto carregava o rapaz desacordado no colo, em direção da porta principal do hospital. Mesmo abatido, o rapaz era muito maior e, presumivelmente, muito pesado para ele. Mas o garoto o carregava como se não pesasse nada.

Diante da recusa do garoto de entregar o rapaz ferido aos cuidados dos enfermeiros na entrada do hospital, estes abriram caminho para que o garoto seguisse com ele para o setor de emergência. O normal era dar entrada e preencher a papelada com o número do seguro social, mas não havia tempo a perder com burocracia. O estado do rapaz era crítico. Além disso, todos sabiam de quem se tratava. O filho do delegado de polícia já era uma celebridade local muito antes de estampar as manchetes dos jornais como desaparecido.

Kyle Hayden tinha perdido muito peso e estava subnutrido e desidratado. Tinha dois horríveis ferimentos recentes feitos com objeto cortante, no braço esquerdo e na coxa direita. Torniquetes tinham sido improvisados com pedaços rasgados de roupa. Apesar de improvisados, foram feito com técnica e evitaram que a perda de sangue fosse fatal. O corpo todo do rapaz estava sujo de sangue e, grudado no sangue que cobria seu corpo, havia todo tipo de sujeira, principalmente terra e pedaços de folhas mortas. O risco de infecção era enorme.

O garoto colocou o rapaz num dos leitos do setor de emergência e, com a atenção de todos na enfermaria voltada para o atendimento do rapaz, se afastou discretamente e desapareceu. Sabia que teria mais dificuldade para sair do que tivera para entrar e ele não podia ficar para dar explicações. O prédio tinha apenas três andares. Subiu ao telhado, saltou para laje da marquise sobre o recuo para carros da entrada principal do hospital e apareceu ao lado do Impala. Entrou no carro e saiu do estacionamento do hospital rumo à interestadual cantando pneus, antes que os seguranças pudessem fazer qualquer coisa.

O delegado Hayden foi avisado que o filho estava vivo e que fora deixado no Hospital Distrital logo depois de voltar do almoço. Resolveu não tumultuar o treinamento que os irmãos Winchester tinham começado a ministrar com a notícia do reaparecimento do filho. Era SEU filho. Iria ao hospital de qualquer maneira. Ele mesmo cuidaria disso. O treinamento era importante para a operação e a operação era importante para afastar de vez os monstros que ameaçavam a cidade.

Sua chegada ao hospital coincidiu com a chegada da esposa e ambos foram conduzidos direto para a UTI. Kyle já tinha sido lavado. Estava sedado e recebendo soro com antibióticos na veia. Se ele conseguisse vencer a desidratação aguda e a infecção, tinha grandes chances de se recuperar totalmente. As horas seguintes seriam decisivas.

As primeiras horas foram terrivelmente difíceis. Mesmo sedado, Kyle se debatia o tempo todo. A febre subira muito. Fora necessário imergir o rapaz em água gelada para impedir que sua temperatura corporal ultrapassasse 43 C. Os exames mostravam que a infecção continuava progredindo. Ele delirava e repetia sem parar o nome que costumava chamar a bruxa na intimidade: Nath.

As primeiras boas notícias demoraram a surgir. Já eram quase 17:00 quando o delegado conseguiu se concentrar em qualquer outra coisa que não fosse o destino imediato do filho. Só então soube que o filho fora trazido ao hospital pelo filho dos Milligan. Não havia mais como tratar o caso como um problema pessoal. Meia hora depois, a polícia e os Winchester estavam no hospital em busca de pistas.

– O que acha disso tudo, Sam?

– Não sei, Adam. Não sei mesmo. Está dando um nó na minha cabeça.

– Ele teve a oportunidade de matar você e não o fez. Agora resgata o filho do delegado e o deixa num hospital. Pelo que sabemos, o rapaz estava coberto de sangue. Mesmo assim, ele conseguiu se controlar. Pelo menos por enquanto está vencendo os instintos do ghoul.

– Sabemos que absorveu as memórias do garoto Milligan. Aparentemente o garoto tinha fortes convicções éticas. O Dean Milligan que sobrevive dentro dele está lutando contra os instintos assassinos do ghoul.

– Mas continua sendo um ghoul. Um monstro assassino. Nada que faça mudará isso.

– Dean Milligan era muito especial. Eu faria o impossível para salvá-lo. Mas como salvar alguém que já morreu?

.

ANTES

Desde que fora trancado na cela com Kyle Hayden, Dean travava uma batalha desigual contra seus sentidos e instintos. O cheiro do sangue era inebriante. Se não tivesse feito um banquete com ratos poucas horas antes, seria impossível resistir. O rapaz era um estranho, não tinha nenhum vínculo com ele e cheirava como uma iguaria fina. À medida que as horas passassem e a fome apertasse, não conseguiria resistir.

A quem queria enganar? O rapaz NÃO ERA um estranho. O vínculo existia. Dean sabia que só conseguiria se ver como humano enquanto não sucumbisse à fera interior. Para permanecer humano tinha que superar seus preconceitos e reconhecer aquele vínculo.

Houve um momento, numa realidade muito diferente, que Kyle Hayden fora importante, fora especial, despertara sentimentos nele. Precisava aceitar e usar isso para ter forças para superar a tentação que o cheiro de sangue representava.

Tinha que esquecer o constrangimento que rever aquele rapaz semidespido lhe causava, as lembranças que reavivava e a vontade infantil de fazer desaparecer de uma vez por todas com tudo que fosse relacionado com aquela lembrança inconveniente. Ou perderia a batalha e talvez a guerra.

A primeira providência era retirar o rapaz do campo de visão de quem quer que olhasse pela abertura da porta da cela. O que estava planejando dependia que o rapaz não fosse visto em nenhuma circunstância.

Retirou o pesado casaco e a camisa. Encontrou um lenço limpo no bolso da calça e o apertou contra o ferimento da coxa do rapaz. Rasgou a própria camisa em tiras e com ela improvisou torniquetes para parar a hemorragia. Acomodou Kyle num canto da cela o mais confortavelmente que pode. Permitiu-se olhar para ele com carinho. Estava inacreditavelmente abatido. A bruxa maldita tinha literalmente sugado a vida dele.

Para o que pretendia precisava das roupas que Kyle estava usando. Estava frio, ele estava muito fraco, mas não tinha jeito. Despe Kyle com cuidado, rasga as roupas do rapaz e as esfrega no sangue empoçado no chão. Havia fragmentos de ossos espalhados na cela. Trouxe-os para o campo visual da abertura da porta. Recolocou o casaco. O mais difícil foi se sujar com o sangue de Kyle e resistir à tentação de prová-lo.

O resto era fazer um teatrinho. Estava acostumado a representar e a improvisar. Não era afinal o que fazia ao se passar por agente do FBI, agente sanitário e até padre. Escutou as ordens de Nathalie Helms. Quando o segurança entrou na cela, arrancou a arma e deu dois tiros para o teto. O grito pavoroso que deu escondeu o ataque ao segurança. Amarrou seus pés e braços com tiras de sua camisa. Já tinha havido mortes demais.

Retornou com Kyle ao anexo e o banhou com o sangue dos ghouls que decapitara. Ajudaria a esconder o cheiro de sangue humano. O rapaz estava nu. Cobriu-o com um cobertor que encontrara e voltou para onde escondera o carro. O mais importante naquele momento era chegar a um hospital.

.

DEPOIS

Nathalie Helms fora avisada por um de seus informantes que Kyle Hayden dera entrada no Hospital Distrital. Ela espumava de ódio. Reuniu seu exército de ghouls.

– Hoje à noite, vocês serão levados ao Hospital Distrital. Vão matar Kyle Hayden e quem quer que se ponha no caminho. Melhor ainda. MATEM TODOS que lá estiverem.


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Notas finais do capítulo

ESCLARECIMENTO:
O diálogo do Trickster/Loki com Kalï do final do capítulo anterior (v5c12) refere-se às ações descritas neste capítulo em ANTES e não ao que Nathalie Helms pensou ter acontecido no capítulo anterior.
FELIZ NATAL, PESSOAL.ESTE CAPÍTULO É MEU PRESENTE, JÁ QUE FOI ESCRITO PENSANDO EM VOCÊS.