A relação entre Kyle Hayden e Ashley Madison ficava mais séria a cada dia. Viviam grudados. Se as respectivas famílias não fossem da cidade e marcassem em cima, os dois já estariam vivendo juntos há tempos. Oficialmente, estavam noivos. Os amigos já pensavam neles como uma só entidade. A entidade Kash. Apenas Owen Foley resistia à idéia de que o casamento dos dois era um fato irreversível. Mas ele já desistira de hostilizar Ashley. Mudara de tática. Tinha começado a namorar a melhor amiga dela, e, agora, era comum os dois casais saírem juntos.  

Os amigos há muito não estranhavam a presença de Ash nas reuniões tipicamente masculinas de depois dos treinos das terças e quintas. E ela estava lá, com Kyle, Owen e Mark, quando aconteceu. O primeiro tremor foi inesperado. O mais forte que qualquer um deles já tinha vivenciado. Terremotos de até 4,5 graus na escala Richter eram comuns no Oregon, embora mais na região de montanha. Os sobreviventes saberiam que aquele primeiro tremor atingira 7,1 graus Richter e durara exatos 13,3 segundos.

Quando o tremor começou, não sobrou uma garrafa ou copo de pé no salão. Muitas pessoas, ao perderem o equilíbrio e caírem, sofreram cortes feios nos cacos de vidro que se multiplicavam no chão. Dois dos grandes lustres em forma de roda de carruagem se soltaram do teto e caíram, aumentando o pânico e ferindo gravemente três homens e uma garota.

Os quartos do segundo andar, construídos num mezanino improvisado que aproveitava o elevado pé-direito da construção, foram a primeira mostra do que viria a seguir. A viga de sustentação do mezanino racha e uma das colunas se parte. Em seguida, outra. Sem sustentação, grande parte do piso dos quartos desaba. Ninguém que estava nos quartos escaparia com vida.

Faith foi apanhada pelo terremoto quando subia a escada que levava ao segundo piso. A parte central da escada desaba, arrastando Faith, mas a parte da escada que ficou de pé a protegeu do desabamento do teto, que aconteceria minutos depois. Ela escaparia com apenas pequenas escoriações.

A queda dos lustres já prejudicara a intencionalmente precária iluminação do lugar. Mas tudo piora, em seguida, com o apagão que atingiu toda a região, como resultado da queda de diversas torres de energia.

Quando o primeiro tremor cessou, as pessoas tentaram sair do galpão, mas uma rachadura no asfalto levantou o piso prendendo a porta. O pânico que já era grande, se generalizou. Como é comum em lugares frios, as janelas estavam fechadas e lacradas. O lugar inteiro virou uma grande armadilha.

E, então, o segundo terremoto. De 7,9 graus Richter e duração de 34,7 segundos. O teto veio abaixo. O número de vítimas só não foi maior porque o centro do salão havia se esvaziado, com as pessoas tentando forçar portas e janelas na busca de uma saída. Mas o número de vítimas não foi pequeno.

Kyle puxa Ashley para si, envolvendo-a com o próprio corpo, para protegê-la dos destroços que caíam. Uma peça de madeira da estrutura do telhado atinge violentamente Kyle na nuca. O impacto, que o deixou desacordado, com traumatismo craniano, também lesionou seriamente sua medula. Qualquer médico que o examinasse naquele momento diria que, mesmo que por milagre o traumatismo não deixasse seqüelas, ele já estava irremediavelmente tetraplégico. Mas, graças a ele, Ashley se salvara, com apenas um corte no antebraço. 

Nesta realidade, onde os Levine não existiam, um outro Mark compunha com Kyle Hayden e Owen Foley, o trio de amigos inseparáveis do time principal da Eastern Oregon University. Mark Lawson, um bolsista do Alabama.

Mas o trio estava destinado a se desfazer. Mark Lawson, atingido em cheio pelo desabamento da estrutura do teto, tem grande parte do corpo esmagado. Ele já estava morto antes mesmo do tremor cessar.

Tateando no escuro, milagrosamente ileso, Owen se desespera ao constatar que os cabelos de Kyle estão empapados de sangue e que Mark está, sem sombra de dúvida, morto. 

Em meio aos gritos de medo e de dor, sem saber se haveria um futuro e sem se preocupar com as conseqüências, Owen abraça Ashley e a beija com paixão.