Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 26
vida 3 capítulo 9




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— Melhor sorte da próxima, Dean.

Dean atravessa o campus da Eastern Oregon University mergulhado em auto-piedade. Gostara de Kyle. Alimentara esperanças. De que, desta vez, poderia ser mais do que uma simples noite de sexo. Mas, nem isso. Estava de volta ao ponto de partida.

Kyle era especial, mas já encontrara seu par.

Enquanto ele, Dean, ainda estava à procura do seu.

Mas, como podia construir laços não tendo um lugar no mundo que identificasse como seu? Tudo que tinha era o Chevy Impala 67 e o que podia transportar no seu porta-malas. Não tinha ninguém, em lugar nenhum. Ninguém que se importasse se estava vivo ou morto. Ou melhor, agora tinha de volta o pai. Mas, ganhara o pai e perdera o irmão.

Estava preso num lugar onde Sam não existia.

No lugar dele, um demônio assassino que se divertia fazendo-o sentir-se péssimo.

As palavras do Trickster voltaram a ressoar na sua mente. O tempo estava correndo. O demônio ia matar seu pai. O próprio Harvelle admitira que faria isso. Dissera com todas as letras. Vira seu ódio. Como duvidar das evidências? O que estava esperando? Ele não era o verdadeiro Sam. Não era o seu irmão. Por que tanta hesitação? Tinha o dever de salvar o pai.

E para isso precisava MATAR o demônio.

Mas muitas coisas ainda o intrigavam.

Quem era esse Dean de quem ele tomara o lugar? Existia um Dean antes dele chegar. Sam falara alguma coisa da vida deste Dean. Mas não o suficiente para que ele montasse o quebra-cabeça.

Esse Dean sabia que Sam era um demônio e que matara sua mãe. Por que não fizera nada? Esse Dean dormia ao lado de um demônio noite após noite.

Sabendo disso tudo.

Aliás, ELE fizera exatamente o mesmo.

SABIA que Sam Harvelle era um demônio e, mesmo sabendo, simplesmente deitara e dormira. E acordara vivo.

O demônio o provocara, o ameaçara, mas também se pusera à sua mercê. Esse Sam também confiara que o filho da mulher que matou não o mataria durante o sono.

Sam também dissera que ele, Dean, matara Jessica, seu grande amor, na sua frente. O que acontecera em seguida? Sam aceitara isso? Perdoara o irmão adotivo? Era mantido à distância pelo amuleto? Planejava vingança?

Droga, precisava saber mais.

O Trickster não era de confiança. Podia acreditar cegamente no que ele dissera? Jogá-lo contra Sam seria outro joguinho diabólico para torturá-lo? Isso era bem a cara do Trickster. Mas, tinha o direito de arriscar a vida do pai? Pelo pai, seria realmente capaz de matar Sam, demônio ou não? 

Talvez não precisasse matar Sam. Apenas neutralizá-lo de alguma maneira.

Mas tinha que agir rápido.

Dean estacionou o Impala no Blue Mountains Motel o mais discretamente possível. Confirmou que não estava sendo observado e retirou algumas armas do porta-malas. Uma pistola automática, que escondeu nas costas, presa à cintura; uma faca de caça, que prendeu na presilha da bota de cano alto; e, na mão, visível, um rifle winchester 1892.

A luz estava acesa no quarto 212, mas o demônio não aparecera na janela.

Precisava surpreendê-lo.

Dean sobe as escadas silenciosamente e testa a maçaneta. A porta não estava trancada. Dean empurra a porta de forma brusca com o pé e entra no quarto com o rifle empunhado.

No centro do quarto, Sam o encara com o rosto sério, sobrancelha levantada, os braços cruzados e os olhos escurecidos.

— Veio me matar, Dean? Atire.

— !!!

— Está esperando o quê? Que eu implore pela minha vida? Está perdendo seu tempo. Vamos, ATIRE.

— Sam, sério. Pode não parecer, mas não quero matá-lo.

— Não? Então, o quê você quer, Dean? Quer a mim? Quer o meu corpo? Quer fazer amor comigo?

— Não me provoque, Sam. Ou ..

— Ou? Ou você faz o quê? Me mata? ATIRA, Dean! Está esperando o quê?

 Sam descruza os braços e dá um passo em direção a Dean. Seu rosto esboça um sorriso. Dean engatilha o rifle e firma o corpo.

— Nem mais um passo, Sam.

Sam dá um segundo passo. Um terceiro passo. Está praticamente a queima-roupa. O sorriso agora é de deboche.

— Não vai atirar? Então é a MINHA vez.

O rifle recua sozinho contra o rosto de Dean e depois voa para longe. Ainda tonto e com o nariz sangrando pelo golpe, Dean vê Sam estender ambos os braços em sua direção, se concentrar e, depois, lentamente, aproximar as mãos uma da outra, como se quisesse espremer o ar.

Os olhos de Dean mostram toda a sua surpresa, quando ele começa a sufocar.

Dean sente como se estivesse sendo erguido pela garganta por uma mão invisível. A pressão em torno de seu pescoço é como de uma grande mão se fechando. Estrangulando-o. Não consegue respirar.

Dean se apavora, ao ver-se indefeso e sem chance de ajuda. Sua visão perde o foco e ele já não tem mais ar nos pulmões. Vê tudo escurecendo e sente que está perdendo a consciência. Vai morrer. O demônio vai matá-lo.

Seu último pensamento antes de ser tragado pela escuridão foi: Não faça isso, Sam.

Minutos depois, com o pescoço ainda terrivelmente dolorido, Dean recobra a consciência. Descobre-se deitado na sua cama. O rifle estava encostado na parede. A pistola e a faca na mesa de cabeceira. A porta está aberta. Ao se levantar, ainda tonto, percebe que tem alguém do lado de fora do quarto.

— Sam?

A figura silenciosa, de braços cruzados apoiados no parapeito que dá para o pátio do motel, olha distraída para o movimento da estrada, além do estacionamento do motel, de costas para a porta do quarto.

— Achei que ia me matar.

— Foi você quem veio armado. Suas armas estão aí. Pode pegá-las. Pode completar o que veio fazer.

— Me desculpe, Sam. O Trickster veio e disse coisas. Mas eu não teria coragem de matá-lo. Apesar de tudo, eu vejo meu irmão Sam em você. Eu ainda me sinto seu irmão.

— Eu não sou esse irmão que você ama. Mate-me - ou então não me mate - por eu ser eu mesmo, não um outro que só existe nas suas lembranças.

— Certo. Eu não sei quanto tempo isso vai durar, mas eu quero você como meu irmão, de olhos escurecidos ou não.

Sam se volta para Dean e seus olhos mudam para o costumeiro tom verde acastanhado. Num gesto inesperado, abraça Dean apertado e se aconchega junto a ele. Dean, passada a surpresa, corresponde ao abraço.

Naquele momento, Dean voltou a se sentir completo.

.

.

Na mesa de cabeceira do quarto, o relógio digital marca 21:03.

.

Mas, desta vez, o cenário NÃO MUDA.


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