Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 157
sete vidas epílogo vida 5 capítulo 26




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ATLÂNTICO NORTE

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– Não acredito que terei que enfrentar 16 horas na classe econômica. Já viu meu tamanho? Já viu o tamanho da poltrona? Já viu a distância para a poltrona da frente?

– Nós compramos 3 assentos para você na fileira da saída de emergência, onde a distância entre poltronas é maior. Portanto, não tem do que reclamar.

– Ninguém merece classe econômica!

– Concordo com você em gênero, número e grau, mas esse era o único vôo direto. Qualquer outra opção e seriam mais de 30 horas. Podia ser tarde demais.

– Viu a cara do tal Samuel?

– Acho que ele imaginava que estalaríamos os dedos e apareceríamos em frente à entrada de Idaion Antron.

– Se pudéssemos fazer algo do tipo não seríamos argonautas. Lembra que a Argo era ainda mais desconfortável que esse avião?

– Nem me fale. Viva o mundo moderno!

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INFERNO

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O espaço interno da cela de Gabriel diminuía à medida que pontas emergiam das paredes. Ele ainda estava ileso, salvo arranhões, mas não tinha mais liberdade de movimento.

Gabriel estava inquieto, mas não devido à perspectiva de dor. Ele sempre estivera disposto a pagar o preço que fosse necessário. O que o apavorava era a possibilidade de fracasso. Deixara-se iludir pelos êxitos anteriores e passara a acreditar que a mão do Pai o favorecia. Que com Ele a seu lado, tudo se acertaria.

Depois de vitórias que pareciam impossíveis, como não acreditar que a vitória final era não apenas possível, mas inevitável. Que era apenas questão de tempo. Redobraria seus esforços. Insistiria tantas vezes quantas fosse necessário. O Apocalipse seria revertido. A vida seria restabelecida em toda a Criação.

E, agora, a vitória na realidade 5 fugia de suas mãos. A intervenção da bruxa Nathalie Helms ameaçava o destino de tudo que existia. Gabriel via todos os seus esforços ameaçados. E isso ele não ia aceitar.

Na realidade 1, tivera sucesso em manipular Baldur e Hodur para que removessem a compulsão de Dean por roupas femininas. O que, à primeira vista, parecia um elemento insignificante da vida pessoal de um único homem, revelara-se a causa oculta da destruição da vida no planeta. A prova definitiva da teoria do caos, que preconiza que “o bater de asas de uma borboleta no Brasil pode desencadear um tornado no Texas”.

A vitória definitiva somente fora possível porque Dean Winchester tivera sucesso em atrair a atenção de Baldur para seu drama. O deus se identificara com ele e, ao compartilhar de suas memórias, ficara motivado a combater os Cavaleiros do Apocalipse.

Na realidade 2, tudo fora muito mais difícil devido à total imersão que acontecia sempre que entrava naquela realidade. Suas memórias submergiam e suas motivações eram subvertidas pela personalidade de sua terrível versão daquela realidade. Aquele Gabriel não se fazia passar por um trickster como o da maioria das realidades, tornara-se um. Um cruel e perigoso trickster.

A influência que podia exercer sobre sua contraparte daquela realidade era mínima. Não conseguia desviá-lo do mal, apenas podia influenciá-lo quanto ao alvo de suas maldades. Ao fazê-lo ameaçar a vida de Jimmy Novack, conseguira atrair a atenção de Castiel, que estava prestes a torná-lo seu receptáculo.

Castiel, com toda razão, antagonizava freqüentemente aquele detestável Gabriel e o vigiava à distância, buscando remediar as conseqüências de seus atos. Fora Castiel quem protegera Luke Braeden quando Gabriel o abandonara na pequena aeronave para morrer. Mas, Castiel não suspeitava, naquele momento, que se tratava de algo mais que uma brincadeira maldosa. Somente a partir do ataque a Jimmy Novack, é que Castiel passara a prestar atenção nos Winchester e em sua missão.

Luke Braeden tivera sorte de escapar com vida depois de derrubar o Trickster com um murro. Gabriel compartilhava dos pensamentos de seu outro eu e sabia que ele cogitara incinerar Luke ali mesmo. Sua única dúvida era se deixaria alguém sair vivo ou faria o fogo envolver todo o Hot Machine Bar.

Foi hilário quando o Trickster se deu conta que fora transportado contra sua vontade para a cratera do Monte Hood. Nunca ficou sabendo que foi Mark Levine quem o levou para lá na velocidade da luz. Nem o porquê de seus poderes aparentemente falharem um pouco antes. Não falharam. Ele chegou a teleportar Luke para a frente de um trem em movimento, mas Mark o trouxe de volta tão rápido que pareceu que ele nunca saiu de lá. O Trickster ainda acredita que foi Castiel o responsável por tudo.

Castiel acabou descobrindo por seus próprios meios que seu mundo corria perigo e buscou seu próprio campeão. Depois, aproximou Jensen Ross de Samuel Winchester criando a parceria que se mostraria vitoriosa.

Para que a parceria com Jensen Ross se consolidasse, era preciso afastar Diana de Samuel. Uma gravidez era a maneira mais conveniente. Um segundo filho de Diana e Luke era essencial para perpetuar o sangue dos Winchester, já que Benjamim não podia ser salvo.

Luke Braedan era um bom homem, mas deixara de acreditar que ele e Diana voltariam a se acertar um dia. Deixara-se abater e desistira de lutar. Seu amor precisava renascer ainda mais forte que antes. Precisava ser forte como o amor de Lisa Braedan por Dean Winchester. E quem melhor que Lisa para ensinar a Luke como deve ser o amor. Mas esse não foi o único motivo para que trouxesse a Lisa Braedan da realidade zero. Sabia que a alma do Dean que habitava o corpo de Diana a reconheceria e a aceitaria quando fossem para a cama. Eles ensinariam a Luke e Diana o que eles precisavam saber sobre amor e dever.

Na realidade 4, uma realidade em que Gabriel não podia existir sem estar ligado a um receptáculo, um desafio que parecia impossível de vencer. Um asteróide em rota direta de colisão com a Terra, uma catástrofe acima da capacidade de homens e de anjos. Pior ainda: aquela Terra não contava com a proteção de anjos nem de deuses. Uma realidade diferente, em que o Pai não se manifestava em uma forma humana e cujas motivações eram insondáveis, porque desvinculadas das necessidades daqueles que criara. Naquela realidade, Deus não criara uma guarda de honra pessoal. Não criara os anjos.

Gabriel não podia criar anjos, mas talvez pudesse criar deuses. Ou, pelo menos, trazê-los de uma realidade em que existissem e torcer para que agissem para salvar o mundo. Mas, tudo dera errado. Trouxera os nórdicos Baldr e Hod da realidade 3 e, por muito pouco, não destruíra o planeta. Em menos de vinte e quatro horas, perdera os dois únicos humanos daquela realidade que poderia usar como receptáculos: Matthew Logan e Dean Winchester.

Escutara a proposta que Baldr fizera a Dean Winchester, de resgatar Samuel Winchester no passado, e a pusera em prática com o recurso que tinha em mãos: Benjamin Winchester. Mas tudo o que acontecera depois fora mérito de Benjamin. Benjamin corrigira seu erro e ele, Gabriel, seria eternamente grato a Benjamin por isso.

Mas, intimamente, Gabriel acreditava que o Deus impessoal daquela realidade tinha dado uma mãozinha, já que ele próprio estava de mãos atadas. Transportar Benjamin para o passado, acompanhá-lo a esse passado e criar um novo corpo material para sua alma, esgotara suas energias. Passara os vinte anos seguintes como um simples expectador dos acontecimentos, preso no espaço metafísico que corresponderia ao Paraíso, se o Paraíso existisse naquela realidade. Somente quando aconteceu sua segunda chegada, pode reintegrar sua essência e voltar ao plano material como Matthew Logan para retirar Dean Winchester daquela realidade. O serviço já estava feito. Benjamin tivera sucesso.

Na realidade 6, tivera que criar seus agentes do zero. Precisara de agentes porque tivera que esperar que toda a operação demoníaca para difundir o vírus Z estivesse pronta, para só então agir. Não podia arriscar. Tinha que destruí-la por inteiro, de uma só vez e definitivamente. Sabia que para isso teria que lutar em muitas frentes em um tempo muito curto e, mesmo um arcanjo, não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo.

Felizmente, podia fazer uso pleno de seus poderes de arcanjo e mantinha sua memória intacta na realidade 6. Era uma tremenda vantagem, mas enfrentar Asmodeu nunca seria uma tarefa fácil. Asmodeu fora o demônio que orquestrara a destruição de sua realidade e sua versão desta realidade também era um adversário formidável.

Mesmo que esse Asmodeu não soubesse dele, sabia que enfrentaria anjos e estava preparado para neutralizá-los, protegendo suas instalações com armadilhas para anjos. Precisava de aliados humanos e, como não havia caçadores de demônios treinados naquela realidade, precisou criá-los.

Transformar um ator mimado em um caçador casca-grossa fora uma tarefa de anos. Ressuscitar Jared Padalecki quase o esgotara, o impedindo de se manifestar fisicamente por quase seis meses. Muita coisa podia ter dado errado neste tempo e só por milagre não dera.

Trazer o Benjamin da realidade 4 fora uma aposta arriscada. Tudo relacionado a Benjamin era surpreendente. Ao apagar a linha temporal de onde viera, Benjamin devia ter deixado de existir. É verdade que Gabriel criara um novo corpo para ele, mas apenas depois que percebera que sua alma continuara existindo. O porquê da alma continuar existindo permaneceria um mistério.

E isso se repetiria vinte anos depois. Quando Gabriel deixou a realidade 4 e o corpo que criara para Benjamin desvaneceu, o homem que ele se tornara deveria ter deixado de existir. Mas somente o corpo se foi, não a alma, nem a lembrança que existiu. Sua alma ocuparia o corpo do recém-falecido Mark Lawson daquela realidade e isso se mostrou um bônus totalmente inesperado.

Inspirara Mark Lawson a criar uma empresa de distribuição de derivados de sangue e ele se apresentara como doador voluntário. Isso imunizaria um número crescente de pessoas da realidade 4 e daria uma chance de sobrevivência à humanidade se a praga zumbi ou o vírus Croatoan irrompessem naquela realidade, no futuro. Ele, Gabriel, fizera sua parte. Fizera que o antígeno anti-Z se incorporasse à matriz genética de todos os que receberam a transfusão, difundindo a mutação na população.

Fizera o mesmo na realidade 5. Passando-se por enfermeiro, coletara sangue e a medula do corpo morto do Dr. Mark Lawson, durante os procedimentos de remoção e preparação dos órgãos que seriam transplantados em Sam.

O sangue humano morre pouco depois da morte do corpo, mas, para quem tem o poder de ressuscitar todo o corpo, manter vivas algumas células sanguíneas é brincadeira de criança. Vinte bolsas de sangue do Hospital Municipal de La Grande receberam o antígeno anti-Z.

A medula foi injetada numa menina de origem mexicana na Nova Iorque da realidade 7. Ela estava destinada a se tornar mãe de cinco rapazes, belos e irresponsáveis, que se encarregariam de espalhar o antígeno naquela realidade.

Embora estivesse acostumado a manipular a todos visando o bem maior e acreditasse que a presença de Benjamin era essencial para a vitória na realidade 6, Gabriel preferiu ser honesto com ele e pedir sua ajuda. Confiava no altruísmo do seu protegido.

Não se arrependeu por agir assim. Só não esperava que também o corpo físico de Benjamin fosse transportado. Isso acabou sendo essencial para a vitória. Como não atribuir ao Pai o milagre da existência de Benjamin Winchester, um homem que não devia existir e, que mesmo assim, salvara duas realidades.

Na realidade 7, Gabriel nunca se tornaria o Trickster. Como era reconfortante poder agir apenas como Gabriel. Um único acontecimento evitado fora suficiente para mudar o destino daquela realidade. Se fosse sempre fácil assim.

A realidade 3 já tivera seu destino alterado. Sem sua intervenção, Samuel Harvelle seria vencido por seu lado escuro e acabaria por abrir o portal do Inferno. Com Samuel morto, o pior cenário fora afastado. Mas, a realidade 3 ainda não estava a salvo.

Robert Singer em breve se aliaria a Nicholas Morningstar e, juntos, criariam um novo e mais perigoso agente de destruição, Luke Braeden. Era a forma que Robert Singer encontrara para vingar-se de Dean Winchester. Baldr e Hod foram transportados para realidade 4 e não poderiam mais ajudá-lo. Ele entraria em batalha sozinho e com os sentimentos divididos. Se fracassasse, tudo estaria perdido. Todas as realidades cairiam. Ele precisava de Gabriel ao seu lado. E agora, isso podia não acontecer.

Maldita bruxa.

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Dean Winchester nunca seria um homem comum, destes que encontramos em qualquer esquina. Ele representa o ápice de um programa celestial de evolução dirigida, iniciado 15.000 anos antes, para permitir que anjos caminhassem no plano material livres de qualquer restrição.

O programa, que se iniciara com a criação dos homo sapiens, tivera seu primeiro sucesso há 3.500 anos. Nessa época, surgiram os primeiros humanos capazes de servir de receptáculos para seres espirituais de grande poder.

Essa habilidade foi primeiramente explorada pelas entidades que se auto-intitulavam deuses. Essas entidades possuíram os corpos destes mortais e geraram proles de híbridos, alguns com aparência humana, outros não. Os argonautas sobreviventes são alguns destes seres.

Há 3.300 anos, surgira o primeiro receptáculo para anjos: o príncipe tessálio Iάσων. Para anjos, não para arcanjos ou serafins. O primeiro receptáculo para arcanjos surgiu apenas no século XVIII, Bartholomew Logan, bisavô do atual receptáculo de Gabriel.

O Iάσων original não serviria para receptáculo de arcanjos, mas o novo Jasão sim. O novo Jasão não é geneticamente idêntico ao original. As heranças genéticas de Iάσων e de Adam Winchester foram mescladas no corpo do ghoul. Gabriel sabia que o surgimento de Jasão criara uma alternativa para Lúcifer. Mesmo assim, não planejava matá-lo. Isso seria trair seu aliado, algo desonroso. Mas, agora as circunstâncias eram outras.

Os argonautas estavam mortos. Jasão traíra a si mesmo e a seus companheiros. Ele, Gabriel, estava preso e talvez ficasse ali por toda a eternidade. Não podia permitir que Jasão escapasse ileso para servir de receptáculo a Lúcifer ou a Miguel. Nem deixaria Medéia, depois de tanto mal, sair vitoriosa no final.

Podia não salvar o mundo, mas ainda podia fazer justiça.

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Gabriel lança sua espada flamejante e ela transpassa os corpos unidos de Jasão e Medéia, enquanto os dois selavam sua união com o que parecia um apaixonado beijo.


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Notas finais do capítulo

09.07.2012
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1. Contente por superar a marca de 700 reviews. O número redondo foi alcançado num review de Waldorf SaN, mas Drita, Boozinha Luthor e Alice Harvey participaram ativamente para essa marcar ser alcançada e superada. Espero que me ajudem a chegar nos 1.000.
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2. A quinta recomendação veio de Yasmiim Mikaelson Stark e me pegou de surpresa, porque não foi anunciada por nenhum review. O importante é que esteja gostando.