MONTE IDA, ILHA DE CRETA

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– Outro anjo? Quanto tempo temos?

– Sete minutos.

– Estamos em terreno aberto. Não temos onde nos esconder.

– A que distância estamos da entrada?

– Ele nos alcançaria antes. É um anjo. Não vai desistir. Se nos encontrou aqui, ele sabe para onde estamos indo.

– E não é só isso. Ele está de posse de uma arma que pode matar instantaneamente qualquer criatura viva, não importa o nível de poder. Um tipo de pedra filosofal que transmuta matéria orgânica em sal. Não temos escolha, precisamos tirar essa arma do anjo.

– Vamos ter que enfrentá-lo.

– Nós vamos. Mas temos que ter uma estratégia.

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Eufemo corre em linha reta tentando desesperadamente alcançar a entrada de Idaion Antron quando é interceptado por Balthazar.

– É o fim da linha para você. Para todos vocês, na verdade. Queriam entrar no Inferno, não é mesmo? Pois bem, vou ajudá-los. Vou mandá-los para lá. Mas, a viagem é só de ida.

– Sou Eufemo, filho de Poseidon. Você não me mete medo.

– Permitimos que sua laia caminhasse sobre a Terra por tempo demais. Mas saiba que o tempo dos antigos acabou. O dia do julgamento está próximo. Mesmo que escapasse hoje, você arderia no fogo purificador que em breve banirá para sempre demônios e falsos deuses como você para o nível mais profundo do Inferno.

– Você fala demais. Se considera um guerreiro do seu Deus? Me enfrente. Desafio você a um combate com as mãos nuas. Homem contra homem. Melhor dizendo, semideus contra anjo.

– Não preciso sujar minhas mãos. Você não é um adversário à minha altura. Bastaria me mostrar em minha verdadeira forma e você seria incinerado. Bastaria falar com minha verdadeira voz e seu cérebro se liquefaria. Você é apenas um fanfarrão patético vivendo uma adolescência eterna.

– Posso ter vivido como um fanfarrão patético, mas estou pronto para morrer como um guerreiro. Vamos, mostre o quanto é superior a mim em uma luta justa. Ou só é corajoso com uma arma mística nas mãos?

– Chega de jogos com palavras. Não vai me fazer jogar pelos seus termos. Já perdi muito tempo com você. Fale! Aonde estão seus companheiros? Pelo visto, abandonaram você à própria sorte.

– Eles não me abandonaram. Nós somos uma equipe. Hoje e sempre. Nós somos os Argonautas.

– Reconheço sua coragem, pretenso guerreiro. Mas não tenho mais tempo. Adeus! Lembranças a seu pai.

Balthazar aponta o transmutador para Eufemo, mas não consegue ativá-lo. Aproveitando que o anjo, atônito, está com a atenção voltada para o bastão inútil em suas mãos, Eufemo avança na direção de Balthazar e o derruba com um murro no queixo.

– Quem é o fanfarrão agora?

Balthazar, caído, ainda encarava com ódio o sorriso zombeteiro de Eufemo, quando escuta a voz poderosa de Jasão.

– Olhe para mim, anjo.

Jasão encosta a palma da mão sobre o símbolo místico desenhado com seu próprio sangue. Balthazar desaparece numa explosão de luz.

– Vai levar ainda um tempo até ele conseguir reentrar no plano material. Nosso caminho até Idaion Antron está livre.

– Bom trabalho, Idmon. Seu encantamento nos manteve ocultos dos olhos do anjo e permitiu que Autólico se aproximasse e trocasse o transmutador por uma simples pedra que teve a aparência mudada por magia.

– Essa é a arte do maior ladrão do mundo. Eu troquei o bastão que estava na mão dele e ele não percebeu, mesmo tendo os sentidos muito mais acurados que os de qualquer mortal.

– E ainda assim vocês precisaram de seu velho comandante, um mero mortal. Apenas sangue humano ativa o símbolo místico capaz de expulsar anjos.

– Sim, cada um de nós foi essencial para essa primeira vitória. Vamos esperar que Loki, Zetes e Palemon também tenham sucesso e nos encontrem em Idaion Antron.

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GRAND CANYON, EUA

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– É sua última chance de falar.

– Não subestime nossa inteligência, anjo. Diga o que pretende de nós. É bom que seja convincente.

– Precisei usar desse subterfúgio. Kälï não seria tão receptiva se soubesse qual a minha verdadeira natureza. Sou Gabriel, um arcanjo do Senhor. Mas não sou seu inimigo. Estamos do mesmo lado. A visão de Idmon é verdadeira. Eu estive no futuro desta e de outras realidades e só vi morte e destruição. Meus irmãos estão iludidos. Eles pensam estar fazendo a vontade de nosso Pai, mas o Grande Plano não é a extinção da vida. É preciso parar o Apocalipse. Ninguém sairá vencedor.

– O Livro do Destino não pode ser mudado.

– Na verdade, o Livro do Destino muda a cada decisão tomada por cada ser vivo. A ação mais insignificante muda o Livro do Destino, mas ao fazê-lo toda a linha do tempo muda junto e, portanto, tudo aquilo que seria e não mais será é apagado da existência. Perde até mesmo seu registro no Livro do Destino. É por isso que o Livro parece ser imutável. As ações de todos se juntam para moldar o futuro, mas, ao mesmo tempo, todos estão presos a esse futuro que moldaram. As ações que tomam, sejam quais forem, somente reforçam o que está escrito. Somente alguém de fora pode intervir com esperança de redirecionar esse futuro em outra direção.

– Alguém de fora como?

– Alguém como Dean Winchester que agora habita o subconsciente de Jasão. Suas ações decidiram o destino da realidade dele, a única realidade em que o Apocalipse foi abortado. Sua integridade e força de vontade únicas já mudaram essa realidade quando trouxeram Jasão de volta à vida. Jasão já alterou o futuro quando trouxe vocês, os argonautas, para o campo de batalha. O futuro já mudou, embora não a ponto de podermos comemorar vitória.

– Como sabe de tudo isso?

– Eu próprio não sou daqui. Sou o Gabriel de uma outra realidade e estou ocupando o corpo espiritual daquele que existe aqui. Vim de uma realidade em que a raça humana foi completamente extinta. Mas não posso salvar meu mundo diretamente, já que sou parte do que o conduziu àquele destino. Minha única esperança de salvá-lo é mudando o destino de sete outras realidades, todas muito diferentes entre si. Cinco já foram salvas. Faltam duas. Essa é uma dessas duas. Mas somente vai funcionar se todas as sete forem salvas. O futuro é uma construção frágil e o destino de todas as realidades está interligado. Se falharmos aqui, existe o risco de tudo o que foi duramente conquistado ser novamente perdido.

– Porque Jasão? Porque nós?

– A forma como aconteceu o Apocalipse foi diferente em cada realidade. Não sei ao certo o que precisa ser feito para que a mudança desejada aconteça. Apostei em Dean Winchester e essa aposta vem dando resultado até onde ele não existe, como aqui. Mas você também é parte disso, Zetes. Conheço você de uma realidade em que Chad Murray é um mortal nascido nos dias de hoje.

– Eu, um simples mortal. Difícil de acreditar.

– Chad Murray cumpriu um papel importante na salvação daquela realidade. Nela, seu destino também se cruzou com o do nyx Necker, mas lá eles não correram paralelos como aqui. Lá, eles tiveram uma interseção brusca. A sua presença neste grupo parece indicar que estamos no caminho certo.

– Bem, mas, se tudo isso é verdade, porque estamos perdendo tempo aqui? Para que perder tempo nesta incursão ao Inferno para salvar um único homem se o destino de todos no planeta está em jogo.

– Porque esse homem é parte essencial do que virá. A salvação desta realidade passa por ele. É preciso mudar o destino que foi destinado a Adam Winchester neste drama e, para isso, é necessário que sejam vocês, e não Balthazar, quem vai tirá-lo do Inferno.

– Balthazar?

– Um anjo. Agradecido e influenciado por Balthazar, Adam Winchester aceitará a proposta dos anjos e Miguel poderá caminhar sobre a Terra.

– Vamos seguir em frente. Mas saiba que ficarei de olho em você. Seja você um arcanjo ou o aesir, não é alguém confiável. Saiba que programei o projetor para ser acionado automaticamente caso eu morra ou fique desacordado.

– E eu fico com esta espada por segurança. De acordo? Então vamos. O Inferno nos espera.