Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 109
vida 5 epílogo capítulo 1




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– Soube que vou ter alta e veio pessoalmente me escoltar para fora da cidade, Comissário Hayden?

– Esqueça esta história. Você e seu irmão vão ser sempre bem vindos nesta cidade. Ao contrário da maioria da gente daqui, eu e a minha família lembramos nitidamente de tudo o que aconteceu. Mas, não foi só por isso que eu vim. Você teve alta, mas isso não significa que esteja em condições de pegar a estrada. Aqui está.

– Uma chave?

– É do apartamento do inspetor Robinson. O irmão dele insistiu que você ficasse lá até estar totalmente recuperado. Ele soube que vocês lutaram lado a lado contra os terroristas que atacaram o hospital e que você estava com ele quando morreu. É a forma que ele encontrou de agradecer em nome do irmão. Mas, se não fosse isso, vocês ficavam na minha casa. Afinal, o tiro que seu irmão levou foi dado pela minha esposa, e ela quer compensar de alguma maneira.

– Ela não deve se sentir culpada ou em dívida. Quando viemos para cá, não tínhamos idéia do tamanho do problema. Sem seus homens ao nosso lado, não teríamos sobrevivido. Soube das mortes. Gostaria de ter feito mais por eles.

– Fez muito por todos nós.

– Seu filho?

– Quase totalmente recuperado. Ganhou peso e até voltou a treinar.

– A bruxa?

– Nenhuma pista. Mas resta o consolo que a cidade está livre dela. Para sempre.

.

– Kyle? Por favor, me escute.

– Esqueceu que eu sei quem – ou o quê – você realmente é? Não tente se passar pelo Mark quando eu estiver por perto. Você é o monstro que tirou ele de mim. Sua raça quase acabou com a minha vida. Não tente me convencer que é meu amigo. Você não é.

– Eu agora sou humano. Você viu os exames.

– Humano ou não, eu só não mato você porque você salvou a vida da minha mãe e porque trouxe de volta e está cuidando do Hal. Mas, quando o Hal estiver bem, você vai inventar uma desculpa e sumir das nossas vidas para sempre.

– Eu amo você, Kyle. De verdade.

– Pois eu odeio você, monstro. Fique longe mim, ou eu não respondo pelos meus atos.

Mark observa Kyle se afastar com o coração magoado. Uma mágoa que sabia não ter razão de ser. Não podia reivindicar nada. Estava vivendo uma vida roubada. Mal acreditava que tinha sido aceito por Hal, por Catherine e, pouco a pouco, até mesmo pelo Comissário Hayden. Era esperar demais que Kyle aceitasse uma cópia de origem duvidosa depois de ter amado o original.

As suas verdadeiras memórias, dos dias indistintos que viveu como ghoul, estavam cada vez mais borradas, mais desbotadas. Como um sonho do qual não lembramos mais os detalhes. Ao mesmo tempo, memórias que ele nunca viveu eram despertadas quando menos esperava. Os gritos da torcida incentivando-o ao entrar num estádio em que nunca pisou. Hal chegando em casa e lançando, sorrindo, o quepe em sua direção. O coração acelerado ao olhar disfarçadamente Kyle tomando banho no vestiário. O cheiro da torta de maçã que a mãe do homem que matou fazia quando este era criança. Memórias felizes de uma vida que usurpara.

‘- Talvez eu não tenha direito a nada, mas não vou desistir de você, Kyle. Eu só preciso que me dê uma chance. Sei que posso fazer você feliz.’

Kyle apressa o passo lutando contra a vontade de olhar para trás. Não era justo ser obrigado a passar por aquela tortura. Perder alguém que amara tanto e ver seu assassino voltar com sua exata aparência. Sentia-se traindo o verdadeiro Mark toda vez que o olhava. Pois sabia que havia desejo neste olhar. Não podia deixar que o desejo abrisse as portas para o amor.

‘- Não posso fraquejar, não posso e não vou. Não é o Mark. Não é e nunca vai ser.

– Agente ... Desculpe, se esqueci seu nome. Constrangedor. Principalmente sabendo que meu parceiro deve a vida a você. Doou uma quantidade espantosa de sangue. Mais do que normalmente é permitido. Não fosse isso, o agente Bonham teria que aguardar mais tempo pela cirurgia e poderia não ter sobrevivido.

– Não foi difícil convencer o enfermeiro a quebrar as regras e tirar um pouco mais. Afinal, sou saudável e havia uma vida em jogo. Faria isso e muito mais pelo Sam.

Sam? Não, o nome dele é Jared. Jared Bonham.

– Sei o que estou falando, Adam. Aqui está a minha credencial de agente federal. Quando a vir, vai entender.

– Derek .. Knight? Mas essa é ..

– Sim. É a credencial falsa que encontrei no Impala e, sim, foto nela é sua. Parou para pensar no porquê de sermos tão parecidos?

– Quem é você realmente?

– Eu sou Iάσων, filho de Αἴσων, príncipe da Θεσσαλία. Na sua língua, Tessália. Num passado longínquo, fui príncipe da Tessália e fui casado com Μηδεια, que você conheceu como Nathalie Helms. Sei agora que esse passado longínquo é algo em torno de 3.300 anos atrás. Fico orgulhoso de saber que meu nome sobreviveu ao tempo. Que todos conhecem os feitos do comandante da nau Argo. Eu sou Jason, que viajou até os limites no mundo conhecido em busca do Velocino de Ouro. Mas também o nome infame de minha ex-esposa sobreviveu. Escreveram uma peça de teatro sobre os crimes de Μηδεια. Uma peça que não envelheceu, apesar de ter sido escrita há quase 2.500 anos. Medéia. Acredite, ela fez bem mais do que é narrado na peça.

– E como foi que .. reviveu, .. Jason?

– Dean Milligan devorou meu coração, mantido vivo e pulsante durante todos esses milênios por um encantamento.

– Então você é um ghoul? O ghoul que matou Dean Milligan em uma nova forma.

– Sim e não. Havia um Livro e nele um encanto capaz transformar animais – e outros seres – em homens. Eu recitei o feitiço e fui transformado. E assim pude doar o sangue que Sam precisava.

– É estranho ver como se adaptou rápido ao mundo moderno. Rápido até demais.

– O ghoul estava possuído pela alma de um homem vindo de um mundo parecido com este que existe em algum outro lugar. Eu tenho as memórias deste homem ao lado das minhas próprias memórias. Estas memórias permitem que eu aja com desembaraço nesta época tão distante da minha.

– O ghoul falou alguma coisa a este respeito. Ou, ao menos, tentou contar.

– Esse homem se chama Dean Winchester e, em seu mundo, ele tinha a sua idade e era o irmão mais velho de um Sam Winchester, muito parecido com o que é seu irmão. Neste mundo, havia um Adam Milligan, meio-irmão destes Dean e Sam, mas que foi morto por um ghoul antes que eles o conhecessem.

– Uau! Eu estou habituado com histórias fantásticas, mas essa bateu o recorde.

– E tem mais. Sei que dizendo isso arrisco a que você não acredite em absolutamente nada do que estou dizendo, mas vou ter que arriscar. É importante que você saiba de tudo e que não haja segredos entre nós. Quero que confie em mim. O que vou revelar me foi contado foi seu velho conhecido, o Trickster. Nossa semelhança física vem do fato que você e Sam são meus descendentes em linha direta. Meus únicos descendentes vivos.

– Descendentes?

– Μηδεια matou os filhos que tivemos e filhos que tive com outras mulheres. E o que é um homem sem uma descendência? O primeiro dever de um homem é perpetuar sua estirpe. E ela tentou me tirar isso. Eu morri pensando que ela obtivera sucesso. Saber que continuo existindo em vocês dois é muito importante para mim.

– Quer que confie em você sabendo de suas ligações com o Trickster?

– Eu salvei a vida de Sam. Ou esqueceu disso. Isso não é prova suficiente que ele – e também você – são importantes para mim? E não só para mim. Eu cheguei depois. Vocês eram importantes também para Dean Winchester, o homem no comando do corpo do ghoul. Sabe que foi ele quem salvou sua vida, trazendo-o para esse hospital com um tiro no abdômen, não sabe? Acha que ele arriscou tanto porque tinha segundas intenções? Esse homem que veio de outro mundo fez isso porque se considerava seu irmão, mas partilho de suas memórias e sei que ele faria o mesmo se você fosse um completo desconhecido. Conheci grandes homens e grandes heróis, mas nenhum tão grande e tão generoso quanto Dean Winchester.

– E, agora que está aqui, quais são seus planos.

– Ter filhos. Muitos. Tantos quanto eu puder. E proteger vocês. Querendo ou não, vão me ter sempre por perto.


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Notas finais do capítulo

27.07.2011