Christina

‘O que foi aquilo?‘ Pergunto-me desde que entrei na sala. Era aula de física, odiava. Só tirava notas razoáveis por causa de Sam, que me ajudava. Não me importei muito com a aula, os olhos de Sam que não saiam de meus pensamentos. Aqueles azuis bem vivos, brilhantes. Ela parecia tão frágil em meus braços, que se eu a soltasse se quebraria. Por mais que fosse meio estranho, não queria me esquecer de seus olhos.

    Passei a aula inteira viajando nos meus pensamentos, às vezes direcionava meu olhar pra ela, toda concentrada, escrevendo. Enquanto eu não tinha copiado praticamente nada, muito menos prestado atenção na aula. Provavelmente iria pegar o caderno com ela, depois.

   Trocamos de sala, e então eu tentei ao menos, prestar atenção nas aulas, até a hora do intervalo. Descemos juntas, como sempre. Passamos o intervalo juntas, como sempre, e marcamos de eu ir a casa dela, às 14h. O tempo passou rápido, logo deu a hora de irmos embora. Despedi-me dela e fui pra casa.

    Entrei em casa e não tinha ninguém, provavelmente minha mãe foi trabalhar. Ela era bióloga marinha, e isso tomava todo o seu tempo, isso acabava fazendo a gente se distanciar, um pouco. Subi para o meu quarto e só troquei de camiseta, pois a tarde já não estava fria, coloquei uma camiseta branca, com alguns desenhos na estampa. Coloquei minha bolsa numa cadeira, e desci pra sala. Fiquei jogando vídeo-game até dar a hora de ir pra casa da Sam. Apenas escrevi um recado para minha mãe numa folha, avisando, e deixando em cima da mesa. Coloquei o fone de ouvido e fui escutando música até a casa dela. Chegando lá lhe gritei, ela me recebeu e fomos direto pro seu quarto, parando apenas para pegar dois copos de refrigerante.

    No seu quarto, ela se sentou numa cadeira a frente do computador, e eu me deitei em sua cama. Ela começou a me falar sobre algumas bandas novas e tal, e eu acabei dormindo. Deixei-a falando sozinha, coitada. Deve estar morrendo de raiva e prestes a me empurrar da sua cama.

    Tive um sonho estranho, estava sentada de frente ao mar, já era noite, quando sinto alguém tampar meus olhos com as mãos. Não sabia quem era, nem imaginava, apenas senti seus lábios tocarem aos meus. Seus lábios eram doces e macios. Mesmo com os meus olhos tampados, decidi fechá-los, fazendo com que a pessoa depositasse suas mãos em minha nuca, e as minhas em seu rosto. Ela entreabria seus lábios, pedindo permissão para vasculhar cada milímetro da minha boca, e lhe permiti. A cada segundo o beijo se aprofundava, até o momento em que o ar já nos faltava, nos fazendo separar.  Ia abrir meus olhos para ver seu rosto quando, acordei.  Dei praticamente um pulo da cama, não acreditando no que tinha acabado de fazer, no sonho. Havia beijado uma garota, pelo menos era o que parecia. Garotos não têm mãos delicadas e lábios doces, como a morena lembrava. Decidi esquecer isso e procurar Sam, que já não estava no quarto. Desci as escadas e a achei deitada no sofá, vendo TV. Cheguei devagarzinho, sem a fazer notar minha presença e sussurrei em seu ouvido.  – Oi. – Vi seus pelos do corpo se arrepiar, num único instante, fazendo com que ela me olhasse e desse um leve tapa em meu braço, dizendo:

 - Você me assustou sua besta.

 - Se eu tivesse te assustado você teria dado um pulinho, coisa que não fez. – Eu disse a ela.

- De qualquer modo senta ai logo. – Ela me disse, levantando e me dando um espaço no sofá onde ela estava logo encostando sua cabeça em minhas pernas quando deitou novamente.

- Mas você é folgada, Samantha.

- Folgada nada, você que quis sentar aqui.

- Que cúmulo, você que me chamou...

- Mudando de assunto, vamos assistir a um filme?

- Você sempre muda de assunto quando lhe diz respeito, né. – Provoquei. – Vamos sim, mas só se você fizer pipocas com chocolate.

- Ah, faz lá! To na maior preguiça de ir até a cozinha.

- Você é que sabe fazer. Em cozinha a única coisa que faço é bagunça.

- Só faço se me ajudar. – Chantagem! Mas eu fui...

     Fizemos uma pequena bagunça na cozinha. Era uma panela aqui, uma travessa ali. Tinha acabado de derreter o chocolate, mas não achava a travessa. Sam estava de costas pra mim, e de frente ao balcão preparando as pipocas, fui pergunta - lá aonde que se encontrava a maldita travessa – Sam? – E então a encontrei, só que já havia a chamado Sam. Ela virou todo o seu corpo de uma vez, ao mesmo tempo em que peguei um mero impulso ingênuo para pegar a travessa, acabei colando nossos corpos, deixando-a contra o balcão.

    Estávamos bem próximas, e por isso não pude evitar olha lá nos olhos, naqueles profundos azuis, quase me incentivando a fazer uma besteira. Coloquei minha cabeça em ordem, e falei algo para acabar com aquele silencio constrangedor. – E-Eu achei a tra-travessa!  - Eu lhe disse pegando a travessa e me distanciando com passos largos. Nem olhei nos olhos dela naquele momento, derramei o chocolate na travessa e coloquei a panela na pia. Ela colocou as pipocas dentro dessa mesma travessa  e misturou. Fui colocar o filme enquanto ela terminava alguns últimos detalhes.

   Nem lembro o nome do filme, só sei que era uma comédia romântica, ela adorava esse tipo de filme.

    Fingimos que nada tinha acontecido naquela cozinha, ou que foi natural, sem querer. Ela deitou no meu colo para ver o filme, e ficamos assim até o filme acabar.

- Hey Chris... Dorme aqui?

- Não posso, nem avisei a minha mãe.

- A gente liga pra ela.

- E eu nem sei se sua tia irá deixar.

 - Você sabe que a minha tia deixa, você que não quer dormir aqui.

- Não é isso.

- Então vamos ligar pra sua mãe, pronto.

E acabamos ligando, e minha mãe deixando. Ficamos vendo filmes até tarde, quando bateu o sono. Ela me deu uma camiseta sua, e um short. Fui ao banheiro e me vesti, quando voltei ela já havia deitado, falei com ela sobre a escola, e ela me lembrara que no dia seguinte não haveria aula.

        Separei minhas roupas em um canto, apaguei a luz e deitei.