Meio que uma biografia, mas não é escrita por Segre


Capítulo 2
Misery Business




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Quero começar esse texto com uma verdade não tão surpreendente. Que eu gosto de Paramore acho que já ficou bem claro, mas, assim como a maioria das garotas, eu tenho uma queda inestimável pelas músicas da Taylor Swift.  Apesar de não me considerar uma swiftie, eu sou uma simpatizante, conheço algumas músicas e histórias que deixariam qualquer um de cabelo em pé, hahaha.

E foi em uma das minhas constantes tentativas de expandir minhas fronteiras musicais que eu descobri a já bastante conhecida Better Than Revenge. A primeira coisa que eu pensei depois de ouvir a música foi em Misery Business. Foi muito fácil fazer a ponte entre essas duas músicas, e depois de pesquisar um pouco logo pude perceber que não fui a única a fazer essa relação, já que existem muitos vídeos no Youtube de tentativas de mashup com essas duas músicas (Sim, eu digo tentativas, por que em todos a voz da Hayley está alterada, o que estraga a experiência) logo eu iria descobrir que na verdade a relação de similaridade entre essas duas músicas iria se extender para níveis um pouco mais complexos, mas pelo menos naquele momento em específico, tudo o que eu pensei foi: Preciso chamar a Laurinha para fazer uma colab. A Laurinha, pra quem não sabe, é a mente brilhante por trás do perfil @ancientsoulwritter, uma amiga de longa data que eu tenho aqui no site mas que, pasmem, nunca trabalhou comigo em nenhuma história. Nenhumazinha sequer.

Mas isso estava prestes a mudar.

Quando chamei Laurinha para participar de uma história comigo, fiquei extremamente animada, e pra mim foi uma felicidade muito grande quando ela topou o desafio. Pessoalmente eu sempre tive muita vontade de trabalhar com ela, mas até o momento essa oportunidade não havia surgido. Eu não vou mentir pra vocês, não sou uma pessoa que gosta de trabalhar em equipe, especialmente quando o assunto é a escrita, onde muitas vezes eu sinto que aquilo que eu escrevo é só meu e de mais ninguém, mas para toda regra existe a sua exceção, não é mesmo?

E foi no meio de muitos áudios que a maioria das pessoas iria considerar insuportável ou inviável de ouvir que nós decidimos que nossa história ia ser sobre ICarly. Chegamos a usar um tempo da nossa usual chamada de vídeo para discutir algumas possíveis ideias que iriamos usar ou não e foi algo extremamente proveitoso; eu já tinha algumas ideias comigo e ela já tinha algumas também, mas foi simplesmente mágico quando a gente percebeu que mais ideias foram surgindo. Fiz uma lista de todas as ideias no total e fiquei muito surpresa quando percebi que os itens já estavam na casa dos vinte e poucos. Admito que minha única preocupação foi o jeito que combinamos de entregar nossas histórias, com uma mandando para a outra uma palhinha com uma certa regularidade. Eu estava com medo de que isso pudesse dar errado e as histórias não viessem com aquele elo que as conectasse, sabe? Mas isso acabou se mostrando como uma preocupação totalmente banal; eu me senti tão confortável trabalhando com ela que muitas vezes senti que estávamos compartilhando do mesmo cérebro.

E eu sei muito bem o que vocês estão pensando. Que sou uma hipócrita. Que falo sobre mulheres apoiarem outras mulheres enquanto escrevo narrativas misóginas. Pois bem. É bem nesse ponto que eu queria ressaltar as semelhanças entre as duas músicas; 1) Ambas foram escritas na mesma época, por volta de 2007/2008.

2) Tanto a Taylor quando a Hayley eram bem jovens quando as músicas foram lançadas.

3) Ambas foram alvo de crítica por conta da composição, o que gerou atitudes diferentes por parte das duas cantoras quanto a forma que elas resolveram reagir a isso; Taylor mudou a letra da música, enquanto Hayley ficou muitos anos sem cantar Misery Business ao vivo (Mesmo sendo uma das músicas mais populares da banda). No entanto, as duas dizem ter se arrependido de terem composto tais músicas, que supostamente teriam envelhecido muito mal.

Ok, ok. Agora vamos trabalhar com fatos. Todo mundo sabe que nos anos 2010 a coisa mais comum do mundo era a tal rivalidade feminina, que muita vezes era causada por um cara. Taylor e Hayley não foram nem as primeiras e nem as últimas a fazer composições como essa, embora tenham sido os únicos alvos de crítica dos juízes de plantão. Uma coisa que, no entanto, eu acho no mínimo estranha e desleal, é o fato de que, como eu disse, muitas músicas nessa época abordavam o mesmo tema, e eram cantadas inclusive por homens e nunca foram criticadas por ninguém.

Quer dizer, uma mulher não pode falar mal de outra mulher por que ela, teoricamente, “roubou o seu homem”, mas um homem pode cantar a vontade que uma mulher é uma vadia, uma puta, que é mestre do sexo e tá tudo bem?

Tem algo no mínimo estranho e errado ai, não é mesmo? Nós que vivemos no Brasil sabemos muito bem o que isso representa.

Além disso,  é muito hipócrita esse negócio de sororidade. É óbvio que as mulheres devem se apoiar, todo esse papo de juntas somos mais fortes e tudo mais… Eu acredito nisso. Mas ao mesmo tempo, ninguém é obrigado a gostar de ninguém! E ninguém tem que ficar batendo palma pra uma pessoa que está tendo uma atitude errada só por que a pessoa é mulher, entende? Falta de caráter é falta de caráter, independente de gênero, cor e nacionalidade! 

Já perceberam que eles querem controlar até de quem sentimos raiva?

Agora voltando a falar um pouco da história em si, vou dizer que ela teve uma inspiração muito forte na minha história de estréia aqui no site, a Insignificante. Eu queria pegar essa premissa de que a Sam supostamente estaria roubando tudo que pertence a Carly e retratar isso de forma mais forte e convincente. 

Não vou mentir, gostei muito de escrever a história sob o ponto de vista da antagonista (Antagonistas são ótimos, até por que sem eles não haveriam nem protagonistas pra começo de conversa), o pensamento dela estava tão tóxico e distorcido que eu me lembro de não saber exatamente o que fazer quando chegou a parte da Wendy enganar ela; a cobra estava tão venenosa que eu realmente achei que ela não ia cair naquele papinho de jeito nenhum; tive que mandar mensagem para Laurinha pedindo socorro.

Esse é um ponto muito interessante da história, ela simplesmente se escreveu sozinha, e particularmente, eu sempre achei essa a característica mais mágica e marcante de se escrever; você pode até planejar um roteiro, mas a narrativa é tão viva que vai para onde ela bem entende. Nós planejamos algumas coisas que no fim foram descartadas, como o fato da Carly ter uma assistente em seu plano maligno (A Missy, no caso) e a importância do Brad na história. Quando Laura e eu planejamos o roteiro, imaginávamos que o Brad ia desempenhar um papel importantíssimo na história, mas na prática quem executou essa função foi a própria Wendy, o que foi muito bom, como observou de forma correta a @ancientsoulwritter, por que ter um menino como elemento principal em uma história de rivalidade de meninas ia ser no mínimo constrangedor da nossa parte.

O que é colocado em questão na nossa narrativa não é um triângulo amoroso em potencial, e sim o rompimento de uma amizade de anos e anos que era tóxica e ninguém nunca percebeu ou fez algo em relação a isso. Tudo era tido como normal até a vida de uma começar a melhorar e a outra começar a se sentir incomodada por isso; um retrato claríssimo da falsa sororidade das mulheres presente na nossa sociedade: Todas as mulheres se gostam e se apoiam até a primeira começar a conquistar as coisas.

Pra fechar, gostaria de dizer que minha parte favorita em tudo isso é que não se pode dizer que apenas Carly é a vilã. Ela estava errada. Com certeza. Mas Sam e Freddie também estavam. Todos erraram, cada um a seu modo. Ao mesmo tempo não podemos julgar, qual seria a sua atitude se estivesse diante de algo assim?


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