O Retorno escrita por Kaisaca1976


Capítulo 2
Capítulo 2: Saudades


Notas iniciais do capítulo

Neste episódio começa desenrolar os meios que possibilitará Rita de retornar a Terra. Ela já não é mais a filha de um cientista famoso, agora é uma heroína e exímia piloto cujo objetivo é ingressar em naves avançadas, os cruzadores espaciais de exploração gailarianos. Enquanto Joe, na Terra, tenta esquecer Rita buscando um novo sentido para viver.



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— UUUUAAAUUU!!!. Lá vamos nós - gritou Cory e seu float partiu em alta velocidade seguido dos outros. Os floats eram um aparelho redondo com uma haste em forma de T e voavam a poucos centímetros do solo. Chegaram a uma colina de frente para o mar límpido de Gailar onde podiam ver a grande Cidade Central.

— Eu tinha esquecido como Gailar era bonito. – comentou Rita.

— Deve ser estranho viver em outro planeta. – comentou Junea. – Como é a Terra?

Rita fechou os olhos e deixou que a brisa suave contra o seu rosto a transportasse para a simples e pacata ilha Akane, antes de começar a falar.

— A Terra é muito parecida com Gailar. O céu é azul, assim como o mar. A floresta tem muita beleza e vida, é um planeta vibrante.

— E como são as pessoas? – perguntou Cory. Rita raramente falava sobre sua estada na Terra. 

— As pessoas... – murmurou Rita e a imagem de seus amigos passou um por um diante de seus olhos, detendo-se na lembrança daquele por quem seu coração se aprisionara.

— É um povo bom, encontrei pessoas maravilhosas que me trataram como igual.  

— Você se apaixonou por um terráqueo? – Os olhos de Junea brilhavam de tanta curiosidade.

Rita ficou sem saber o que responder, mas também não conseguia mentir. 

— Junea. Isso é pergunta que se faça... – censurou Amanda. Ela era a única que sabia que Rita nunca esqueceu um tal de Joe Kaisaca, um rapaz que salvou-lhe a vida e se uniu a ela na batalha contra o Império Gailar. 

— Sinto muito... Eu só estava curiosa. – se desculpou Junea envergonhada de sua indiscrição.

— Está tudo bem... Mesmo porque seria impossível.... – O olhar triste de Rita estava perdido no céu azul.

Dimitri sentiu um aperto no peito e teve certeza que o coração de Rita estava longe de Gailar. Os cincos permaneceram em silêncio enquanto o sol se punha no horizonte. Rita lembrou-se do pôr de sol que vira tantas vezes em companhia de Joe. A Terra tinha um belo pôr do sol, mas Gailar também e os dois anéis de cristais que circulavam o planeta passaram a brilhar como pequenas luzes no céu. 

 *****

 O Senhor me chamou? – perguntou Joe assim que entrou no escritório do professor Tobishima.

A forma abrupta como ele entrou, deixou claro para o professor que não estava de bom humor. O velho professor estava preocupado com Joe, ele o considerava como o filho que nunca teve. 

— Sabu e Ipei me contaram sobre sua última exibição. Eu gostaria de pedir para que não se arriscasse tanto.

— Eu sei perfeitamente o que estou fazendo. – o tom seco de Joe não surpreendeu o professor.

— Mesmo assim. Quero que você me garanta que será mais prudente.

— Mas... – começou ele.

— Eu não quero saber de mas... – cortou energicamente o professor Tobishima. – eu estou te pedindo para você não se arriscar. Caso continue eu o cortarei da equipe de pilotos acrobáticos. Está me entendendo? – agora o Professor usou de sua autoridade. 

Joe não falou nada, apenas fuzilou o velho com os olhos se contendo para não discutir com ele.

— Joe, meu filho – dessa vez com tom mais suave – Estou muito preocupado com seu comportamento ultimamente. Você vive nessa base, não sai, não tem amigos. Eu não quero vê-lo desperdiçando sua vida dessa forma. - Joe olhou espantado para o professor. - Você precisa se interessar por outras coisas. Conhecer outras pessoas e… garotas da sua idade.

— Essa história de novo?

— Joe eu tenho evitado tocar nesse assunto, mas vejo que é inevitável... Desde que Rita partiu, você perdeu o gosto pela vida. Sei que você ainda sofre com isso, mas agir dessa forma só piora as coisas.

Joe abaixou a cabeça. O velho tinha razão, desde que Rita partiu ele não conseguiu esquecê-la e nem ter gosto por mais nada, nem mesmo pela aviação. Jamais pensou que iria sentir tanto sua falta, ele pensava que com o passar do tempo ela seria apenas uma boa lembrança.

O professor levantou-se de sua cadeira e foi fitar o céu que começava a escurecer e as primeiras estrelas a brilhar no veludo azul escuro do céu. – Eu também sinto saudades... mas… Ela nunca voltará... – disse o professor com tristeza na voz. 

Joe permaneceu em silêncio, sabia que o professor estava certo, mas ele tinha esperança que um dia a encontraria de novo e se arrependeu de nunca ter lhe aberto o coração e dizer o que sentia.

— Mês que vem haverá uma recepção no Comitê de Defesa Internacional em comemoração ao término da guerra com os gailarianos. Com certeza Rita será lembrada e o Pirata do Espaço ficará exposto para visitação pública... Não deixe que esse dia seja triste.

— Eu vou tentar... 

*****

Em Gailar, Rita e seus amigos estavam no laboratório do professor Yan, pai de Rita, para conhecer as novas naves desenvolvidas por ele e sua equipe. De um observatório podiam ver três naves menores que lembravam os doubles e uma nave no centro bem maior fazia as outras três parecerem seus filhotes. Na parte frontal da nave maior, ficava a cabine de navegação protegida por enormes janelas de vidro, abaixo o corpo se alongava até terminar em uma abertura, o canhão principal, suas amplas asas iniciavam pouco depois da cabine e terminava na cauda, onde se via a saída dos propulsores.

— Essas naves são todas feitas de Meganium. – estava dizendo o professor Yan - Um material bem mais resistente capaz de suportar um tiro do canhão de shock. Por isso demos o nome de Megan. Apesar do tamanho, ela é bem menor que os cruzadores espaciais e tem a vantagem de não precisar de uma tripulação numerosa. Seu sistema de velocidade permite uma hipervelocidade superior às naves atuais. Atualmente estamos desenvolvendo um novo motor de On, capaz de “saltar” no espaço reduzindo nosso tempo de viagem. 

— Isso é incrível! - Exclamou Dimitri admirado. 

— A Megan tem compartimentos que possibilita que as três menores sejam acopladas a ela. E um detalhe: todas as armas são embutidas possibilitando assim serem acionadas somente em caso de necessidade.

— Os doubles serão substituídos por esses modelos? – perguntou Amanda

— Infelizmente esse material só foi encontrado em Albaran e é muito raro, essas naves são as únicas que conseguimos desenvolver. Estamos tentando descobrir outros planetas com as mesmas condições de Albaran. Vejam. – o professor acionou uma enorme tela que os rodeou com a galáxia. - Nós estamos aqui. – disse mostrando com um sinal luminoso o planeta Gailar. - E toda essa área – continuou aumentando o círculo em volta de Gailar. – Já foram pesquisados. Nenhum como Albaran. Agora nossas pesquisas estão avançando para esta área. – o professor traçou uma reta distanciava de Gailar. Rita soltou uma exclamação de surpresa.

— Mas aí é próximo do sistema solar da Terra. – disse ela.

— Isso mesmo. Sabemos que os terráqueos não têm conhecimento fora do sistema solar deles. Por isso temos autorização para estudarmos essa área. 

— Será que vão mandar uma nave avançada? – perguntou Rita visivelmente curiosa.

— É bem provável. – respondeu o professor. Já imaginando o que sua filha estava pensando. 

— Professor Yan...  Rita, que bom vê-la!– saudou um senhor que tinha acabado de chegar, era o professor Rozenvel, um homem magro, alto, com uma tonalidade de pele cinza e uma cabeça um pouco grande demais em relação ao corpo. Ele foi apresentado aos amigos de Rita.

— E pelo que vejo são da escola espacial – disse se referindo ao uniforme azul que todos usavam. Sim senhor e em breve receberemos nossas designações. – comentou Cory

— Meus parabéns, meus jovens, que os verdadeiros sentimentos de Gailar estejam sempre em vocês. – disse Rozenvel.  E voltando-se para o professor Yan acrescentou – Yan, estamos terminando os últimos ensaios do motor de On,  gostaria que o senhor pudesse nos acompanhar.

— Claro... Claro, tenho esperado por esse momento... Se me dão licença, preciso ir...Rita, querida, te vejo em casa.

 *****

A sede da base aérea estava lotada. Havia filas quilométricas de pessoas ansiosas para ver de perto a mais famosa de todas as naves existentes na Terra. Pela primeira vez todos podiam ver e admirar o presente do povo de Gailar após o término de uma guerra que custou muitas vidas. 

Joe observava da torre de controle o movimento da pista. Olhar para o Pirata do Espaço trazia-lhe lembranças amargas e ao mesmo tempo boas de uma moça que mudou sua vida.

— A exibição está sendo um sucesso. – comentou um dos operadores da torre. – Deve ter sido uma experiência e tanto pilotar uma nave como essa.

— Realmente é uma experiência extraordinária. Pena que foi em circunstâncias tão terríveis como uma guerra. – respondeu Joe sem tirar os olhos da nave.

— É verdade. – Concordou o rapaz com o olhar triste, ele havia perdido pessoas queridas em um dos ataques gailarianos.

*****

Rita, Amanda, Dimitri e Cory deixaram um dos vagões do transporte que os levaram até as geladas montanhas de Gailar, onde ficava a base de lançamento. De um lado, três complexos com edifícios em forma cilíndrica e cúpulas eram ligados a um principal. Do outro lado ficavam as plataformas com as naves. Entre todas se destacava uma. A nave prateada “Mirana”. 

Tomaram outro transporte que levantou um voo suave levando um punhado de jovens apreensivos. Ao se aproximar da Mirana, se acoplou em uma das entradas. Amanda e Cory seguiram outro grupo, enquanto ela e Dimitri seguiram um só de pilotos. Chegaram ao hangar dos astros combates, o hangar era comprido com tubos de lançamento de ambos os lados que davam direto para o exterior. Cada duto comportava cinco doubles, Rita não teve tempo de contar quantos dutos havia, conseguiu apenas ver que tinha cinco níveis de lançamento. O comandante dos pilotos apareceu para recepcioná-los, era um homem de aparência séria, mas jovial seus cabelos castanho escuro e pele alva e olhos quase translúcidos. 

Sejam bem vindos. - começou ele e o grupo de moças e rapazes, o olharam atentamente -  vocês terão a honra de servir em uma das melhores naves avançadas, o cruzador espacial Mirana. Meu nome é Dankan e sou o seu comandante e estes são meus auxiliares Micha e Odilon.

Os dois deram um passo à frente. Micha era uma jovem mulher de cabelos azuis e olhos vermelhos, o outro piloto de nome Odilon, tinha cabelos alaranjados e descuidados que caiam sobre um dos olhos verdes. 

O comandante Dankan chamou cada piloto pelo nome para se dirigir a seu grupo. Deixando Rita e Dimitri por último.

— Rita e Dimitri. Vocês ficaram sob meu comando.

— Sim senhor – responderam unisons.

Micha o olhou surpresa, ela contava que aquele belo rapaz ficaria em seu grupo. Geralmente o comandante não admitia nenhum novato.

— Agora liguem seus braceletes de identificação. Vocês devem usá-los o tempo todo. – disse Dankan pela primeira vez mostrando um sorriso simpático. - Eles te guiarão por toda a nave. Dispensados.

Assim que os pilotos se dispersaram, Micha não resistiu e perguntou ao comandante porque ficou com os dois novatos.

— Eu quero acompanhar esses dois de perto. – disse apenas e se afastou sem dar maiores explicações.

*****

 O centro de convenções do Ministério de Defesa Internacional estava lotado e o foco das atenções era Joe Kaisaca que desfilou por todo o salão cumprimentando a todos, após mais de uma hora de cumprimentos e apresentações ele não lembrava de mais ninguém e gostaria muitíssimo que todos o deixassem em paz. Mas a pedido do Professor ele se manteve cordial e educado com todos demonstrando uma paciência quase desconhecida para quem o conhecia melhor. Quando finalmente acabou os comprimentos, foi com alegria que pegou uma taça de champanhe gelada que estava sendo distribuída fartamente pelos garçons. Joe fechou os olhos e sorveu o líquido que desceu refrescando sua garganta.

— Olá...

A saudação feminina o fez sobressaltar. Olhou em volta e deparou com uma jovem que o olhava sorridente e um lampejo de reconhecimento passou nos seus olhos.

— Lembra de mim?... – perguntou a ele. 

— Mariko Yoshida.. – disse ele, o que fez a jovem sorrir de contentamento.– Como vai?

— Muito bem obrigada... e você? – retribui.

— Bem. Sinceramente é uma boa surpresa encontrá-la aqui. – Joe estava sorrindo e não pôde deixar de admirar a bela jovem que conheceu ainda durante a guerra contra o império Gailar numa recepção na base Akane. Ela parecia mais alta e seus trejeitos mais provocantes e sedutores, quase não lembrava aquela garota tímida de antes.

— Não perderia essa festa por nada. - Sorriu-lhe de modo provocador. - O que você tem feito?

— Voltei a ser piloto de acrobacias... Como nos velhos tempos... e você?

— Estou trabalhando com Relações Exteriores... Lembra-se quando lhe disse que queria ser piloto?

— Claro. - respondeu ele, lembrando-se do assunto que acabou provocando desentendimentos entre Rita e ele por ter se oferecido para ensinar Mariko a pilotar.

— Bem que eu tentei... Mas desisti, eu não nasci para o ar como você e Rita... – A voz da jovem foi bem sugestiva ao pronunciar o nome de Rita e pelo o olhar de Joe e constatou que ele não a esqueceu.

— Sinto muito... Espero que tenha superado isso, nem sempre nos saímos bem em tudo que queremos.

— É verdade...

O conjunto de músicos parou sua apresentação e o chefe Yoshida, chefe do Conselho de Segurança Internacional, tomou o microfone.

— Uma boa noite a todos. – começou ele. – É com grande alegria que recebemos todos. Hoje nos reunimos para homenagear as pessoas que foram fundamentais para que a paz voltasse ao nosso país. E nós temos a honra de ter entre nós uma dessas pessoas que com sua coragem e determinação tornaram possível essa data... Joe Kaisaca... – disse apontando para Joe que foi saudado com uma calorosa salva de palmas, ele sabia que era sua deixa para ir até o palco e se colocar ao lado do chefe Yoshida. Seu ego e vaidade afloram.

Pediu licença a Mariko e se encaminhou para o palco sob aplausos. Enquanto caminhava, as mulheres o admiravam e vez por outra via as jovens cochichando ao passar por elas.  Ao subir no palco foi cumprimentado pelo chefe Yoshida e outras autoridades ali presentes.

Como também não podemos deixar de nos lembrar da pessoa que com sua bondade e generosidade unido a um forte sentimento de paz e valores, foi capaz de renunciar seu próprio povo e defender um povo que não pertencia. Por isso, devemos na noite de hoje prestar nossos mais sinceros agradecimentos e tenho certeza que onde quer que ela esteja chegarão até ela... – enquanto o chefe Yoshida falava as luzes se apagaram e os enormes telões mostraram fotos de Rita.

Joe surpreso olhava para as fotos: Umas com roupa de piloto, na cabine do Pirata do Espaço e também em momentos de descontração.  Daí para frente Joe quase não conseguiu prestar atenção ao que era dito pelo Chefe Yoshida e em seguida pelo professor Tobishima. Sua fala foi breve e automática. Mariko Yoshida não desviava os olhos dele e com um suspiro percebeu que seria difícil conquistá-lo, mas Rita estava a anos luz da Terra e ela estava ali para consolá-lo.

 

Após as homenagens, Joe procurou um refúgio e foi para uma varanda onde se debruçou sobre o balcão, o céu estrelado o deixou melancólico com o olhar perdido entre as estrelas.

— AH! Você está aqui. – disse o professor com uma voz alegre. 

— Eu precisava de um pouco de ar puro. – disse Joe sorvendo um gole de sua bebida.

— Eu também estava querendo escapar um pouco. - Disse o professor também se debruçando no balcão. 

— Mariko Yoshida esta uma jovem encantadora, você não acha? – Perguntou o professor de forma sugestiva. 

— Sim, ela está muito bonita.

— Talvez você devesse tentar conhecê-la melhor. – o professor notou o modo como a jovem olhava para Joe e resolveu dar um empurrãozinho.

— O que o senhor está sugerindo? – Joe olhou surpreso para o professor.

— Que uma jovem bonita como ela não deve ser ignorada. 

— Eu não a ignorei.

— Não!?... Talvez não da forma que você pensa. Estou me referindo a vê-la com outros olhos.

— O senhor está querendo me arrumar uma namorada? – perguntou divertido.

— Se o cargo de cupido me servir, estou sim.

— Eu não preciso de nenhum cupido para me arrumar uma namorada.

— É mesmo? Deixe-me ver desde quando não o vejo com uma garota. – o professor fez uma cara de quem tentasse lembrar algo. -... deixe-me ver.... eu não consigo me lembrar. Acho que está na hora de mudarmos isso.

— Não é tão simples assim.

— Mas também não é tão complicado. Tenho certeza que se você der uma chance para Mariko logo, logo você descobrirá uma jovem encantadora.

— Por que o senhor diz isso? – perguntou Joe.

— Não me diga que não percebeu o modo como ela te olha? - indagou o professor.

Joe já havia percebido sim. Mas não pensou em dar abertura a um envolvimento com a jovem. 

— E então? – indagou novamente o professor diante do silêncio de Joe e seu olhar pensativo.

— É, talvez o senhor tenha razão. – pela primeira vez Joe esboçou um sorriso, mas era um sorriso triste, tomou mais um gole de sua bebida antes de acrescentar. – Talvez esteja na hora de começar a viver novamente...


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Notas finais do capítulo

Continua no capítulo 3 com o título provisório de "Observados"



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