Falling For You - CIP escrita por Casais ImPossíveis


Capítulo 4
Capítulo 4 - Alguma Coisa Além de Salgadinhos




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 Sábado, 03 de Fevereiro de 1979

Bruce sabia porque estava se olhando tanto no espelho antes de sair de casa, sabia por que não estava gostando de precisar devolver o disco de vinil que já havia separado em um saco de mercado, sabia porque a boca rosada e bíceps definidos de um certo loiro não saíam de sua mente havia semanas, ele sabia...

A questão real era descobrir como falar sobre aquilo e se suas suspeitas estavam certas e seus sentimentos eram recíprocos.

Mas deixaria para pensar nisso depois, já estava satisfeito com sua escolha de roupa e o quão bem penteado estava seu cabelo, então pegou a sacola plástica em cima da cama e partiu para a loja de conveniência como fazia a maioria dos sábados, sentindo o estômago encher de borboletas pela expectativa de encontrar seu marrentinho favorito.

Assim que entrou na loja teve o vislumbre daqueles cabelos loiros e rebeldes caindo por cima do tecido jeans da jaqueta sem mangas. Até de costas Vance Hopper era uma ótima visão para se ter. Bruce o observou de canto de olho enquanto andava pelos corredores de prateleiras baixas e comprava um refrigerante, então se aproximou e ficou vendo-o jogar até que a bolinha cor prata inevitavelmente caísse no vão e ele perdesse a partida, com uma excelente pontuação.

— Muito bom, Hopper. — murmurou com um sorriso de canto, finalmente fazendo sua presença ser notada pelo bad-boy.

— Valeu, Yamada. — Vance respondeu com um sorriso de canto bem contido, embora suas íris azuis tenham adquirido um brilho ao encontrar o asiático parado ao seu lado. — Agora vem cá, vamos ver se você faz melhor.

— Faço. Até porque quem te ensinou a técnica fui eu. — Bruce sorriu convencido e pôs a latinha pela metade em uma prateleira próxima, assumindo o lugar do loiro frente à máquina.

— Não seja tão metido, eu já era muito bom antes disso. — o loiro fechou a cara e dava para sentir isso em seu tom mesmo que Bruce não estivesse olhando.

— Não seja tão marrento, eu só estou implicando com você. — o asiática replicou com um sorriso mais suave, ignorando seu próprio macete e se virando um instante para olhar para o amigo e maior adversário de pinball, mas não foi tempo o bastante para perder.

— O foda é que você é bom nisso. — Vance respondeu revirando os olhos e sorrindo de canto um tanto a contragosto.

Depois disso os dois ficaram calados até que Bruce ouviu, mesmo com o som da máquina de pinball e as conversas abafadas do lado de fora da loja, o barulho de goles.

— Você tá bebendo o meu refri? — perguntou sem desviar os olhos do jogo.

— É, to sim. — Vance respondeu com a voz bem despreocupada.

— Sabe que a minha saliva tá aí, né? A lata já tá na metade. — Bruce enfatizou, erguendo uma sobrancelha sem olhar para Vance, mas imaginando que ele estava lhe encarando.

— Eu não me importo nem um pouco. — o loiro disse, surpreendendo-o.

Isso distraiu Bruce por dois segundos, o que no pinball é tempo demais e sua bolinha cor de prata acabou caindo no vácuo. Ele não disse nada, apenas sorriu sentindo-se corar um pouco e pegou a lata da mão de Vance antes de deixá-lo tomar seu lugar.

Vance ficou de frente para a máquina, mas apenas olhou para ela por uns bons segundos sem colocar uma moeda, então se virou para o amigo e rival.

— Você tá com fome? Tipo, de alguma coisa além de salgadinhos? — perguntou com as bochechas ficando levemente róseas, o que não lhe agradava nem um pouquinho, mas não tinha como evitar.

— Ah... Eu poderia comer um hambúrguer. — Bruce respondeu sorrindo e tentando não demonstrar que seu coração havia errado uma ou duas batidas.

— Eu também. Eu conheço um lugar bacana se tiver a fim... De ir... Comigo. — conforme as palavras iam deixando sua boca o rosa em suas bochechas ia ficando mais escuro até se tingir de vermelho.

O olhar de Bruce se iluminou de tal forma que seria impossível disfarçar sua felicidade, então ele nem tentou, apenas deixou o sorriso crescer em seu rosto e disse. — Claro, vamos.

Os dois saíram da loja lado a lado, ainda recebendo alguns olhares de estranheza, afinal pouco mais de um mês atrás Vance olhava para Bruce como se tentasse imaginar a maneira mais dolorosa possível de mata-lo e agora simplesmente estavam cada vez mais próximos. Era mesmo estranho, mas ninguém teria coragem de questionar Vance Hopper e nem um garoto que sorria na cara do perigo como Bruce Yamada.

Como Vance estava a pé, Bruce seguiu ao seu lado empurrando a bicicleta com a sacola de mercado pendurado no guidom. Talvez fosse bom que houvesse algo entre eles ou seria difícil segurar a vontade de tocar um ao outro de alguma forma. Ainda assim era possível sentir certa tensão entre eles que deixava todo o ar ao redor eletrificado e fazia as borboletas se revirarem em ambos os estômagos.

Bruce não pode conter um sorriso ao perceber que entre tantas mesas vazias a que seu marrentinho favorito escolheu foi a mais afastada e discreta, onde os dois poderiam ficar mais à vontade, e ao invés de ficar de frente escolheu sentar ao seu lado no banco com estofado cor de vinho cumprido o bastante para que ficassem um pouco afastados, mas os dois queriam ficar perto um do outro.

A garçonete que os atendeu, uma loirinha de 17 anos com um rabo de cavalo mal feito e o uniforme azul já gasto e desbotado, os olhou com as sobrancelhas franzidas por toda aquela proximidade, porém teve o bom senso de não dizer nada e apenas anotar os pedidos.

— Que disco é esse que você tá carregando o dia inteiro? — Vance perguntou enquanto mergulhava uma batata frita em seu milk-shake depois que seus pedidos chegaram.

—Eu não queria tocar nesse assunto tão cedo. — Bruce respondeu com um biquinho de desanimo exagerado, rasgando a embalagem de um canudo para pôr em seu refrigerante. — É o disco do Deep Purple que você me emprestou. Trouxe pra devolver.

— Se ainda quiser ficar com ele por um tempo, tudo bem. Eu tenho outros da banda. — Vance disse com um raro sorriso doce, fazendo o coração do asiático errar as batidas de novo.

— Querer quero, mas foram meus pais que me mandaram devolver. Eles não aguentam mais ouvir o mesmo disco o dia todo. Ou pelo menos quando estou em casa. — Bruce explicou, resmungando mentalmente que nem ficava tanto em casa assim, e mordendo seu hambúrguer.

— Entendi. Que pena. — o loiro respondeu, dando de ombros. — Mas que bom que gostou do disco, é um dos meus favoritos da vida.

— Eu sei. É por isso que eu mais gostei, quanto mais ouvia mais lembrava de você. — o asiático confessou, desviando o olhar, mas sorrindo de canto.

— Então vou te trazer outro disco. Não quero incomodar seus pais, mas quero que você continue pensando em mim. — Vance murmurou retribuindo o sorriso e esperando até que os olhos de Bruce estivessem sobre si para completar. — É o justo.

— Justo? Por quê? — Bruce perguntou, sentindo o coração acelerando quase como um carro de corrida.

Vance olhou para sua boca e sorriu, dizendo. — Você quer mesmo saber?

Bruce sabia que Vance iria beijá-lo. Sabia que queria isso também. Mas antes precisava ter certeza de uma coisa.

— Vance... — murmurou pouco mais alto que um sussurro, parecendo tenso.

— O que? — ele perguntou confuso.

— Quando foi que você descobriu que era gay? — Bruce foi direto ao ponto e dessa vez quando seu estômago revirou não foi com uma sensação tão gostosa como vinha sendo durante todo daquele dia.

Vance franziu as sobrancelhas e fez uma expressão confusa. — Eu não sou.

Bruce deu um suspiro triste e tirou alguns dólares amassados do bolso, jogando-os sobre a mesa. — Então desculpa. Eu interpretei errado o que estava acontecendo entre nós.

Sem esperar uma resposta, ele saiu da lanchonete em passos calmos para não parecer fraco, mesmo que estivesse sendo difícil não chorar.

Vance surgiu atrás dele alguns segundos depois. — Espera. Você não tava errado.

— Eu ouvi o que você disse lá dentro e vou respeitar isso. Eu posso continuar sendo seu amigo, mas preciso de tempo pra superar o que sinto por você. — Bruce se virou sorrindo para ele, porém era claramente um sorriso forçado.

— Você não tem que superar nada, eu gosto de você também. — Vance admitiu em voz alta, nem sequer olhando em volta, só encarando intensamente o asiático.

Bruce fechou os olhos e suspirou para segurar as lágrimas que ameaçavam se libertar a qualquer momento, então disse. — Você pode gostar de mim em uma rua vazia ou no canto de uma lanchonete, mas se não tem coragem pra dizer o que é, eu não posso esperar que vá segurar minha mão e escolher ficar comigo contra o mundo, Vance.

— Bruce... — ele tentou falar, mas foi interrompido.

— Não. Desculpa, mas não. — o asiático disse com uma expressão severa. — Eu passei a vida sofrendo preconceito por ser asiático e tive que aprender a brigar desde muito cedo pra me defender de todo tipo de valentão que queria me punir só por ser quem sou. Eu aprendi a ter orgulho da cultura japonesa e quando me descobri eu decidi ter orgulho de ser gay também. Eu não quero ser o segredo de alguém, Vance. Por mais que eu goste de você, eu não posso ficar com alguém que não está pronto pra lutar por si mesmo.

Antes que Vance tivesse tempo de dizer qualquer coisa, Bruce subiu em sua bicicleta e pedalou para casa o mais rápido que suas pernas aguentavam.


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