Não estávamos mais no sofá da sala, Joe me fudia no chão, na parede e quando menos notei caí na sua cama. As estocadas eram fortes e eu achava que mesmo se estivesse bêbada, eu lembraria da sua força no dia seguinte. Mas, infelizmente, eu não estava bêbada, eu estava bem sóbria. Eu sabia o que estava fazendo, eu sabia que Joe era o meu melhor amigo.

Nós dois trocávamos salivas e gemidos, mas não falávamos um com o outro. Meu corpo e o dele estavam possuídos pela luxuria, e eu não sei quanto ao Joe, mas minha consciência estava mais limpa do que nunca. Eu o sentia ao mesmo tempo que pensava que aquilo não era certo, que poderia fazer todo o progresso de Joe regredir, que eu havia um namorado, que era uma puta insatisfeita por haver um homem que não a desejava. Sobretudo, uma fútil.

Quando, enfim, terminamos, eu saí do quarto assim que ele tencionou dizer algo. Eu estava em choque e não queria ouvir nada antes de entender o que se passava na minha cabeça. Me tranquei no banheiro e depois fui pro quarto, Joe em nenhum momento me parou para que conversássemos.

No outro dia, a mesa do café estava posta e o bilhete grudado na garrafa de suco. Nele estava escrito "Bom dia! Precisamos conversar (não fuja)". Provavelmente ele pensou que eu pudesse voltar para o Jonas e era exatamente isso que pensava. Mas eu não queria deixar de ver Joe, uma hora, cedo ou tarde, eu teria que encarar os seus olhos.

Todos os dias desejava para que o turno do trabalho passasse rápido, mas aquele dia era uma exceção. Pensar que depois do trampo eu veria Joe me dava um mal estar.

Midori me chamou para comermos juntas no intervalo e fomos para aquela cafeteria.

— Você não está bem. — Ela disse cruamente, como se fosse uma adivinha.

— Como você sabe?

— Você está distraída, deixando de atender alguns clientes e nem sabendo o que dizer a eles. E, claro, você está usando meias vermelhas que não combinam em nada no nosso uniforme.

Eu não havia notado e olhei para meus pés e não eram só as meias, mas o sapato sequer tinha salto, era daqueles práticos para vestir e direcionados a terceira idade. Credo!

— Midori... eu preciso dizer algo...

— Tá, me diga. Vou fingir que você não foi super grossa comigo ontem.

— Ah, é verdade. — Eu havia me esquecido completamente de que ainda não havia pedido desculpas a Midori. — Me desculpa, eu realmente fui grossa. Mas sabe o Joe... É justamente sobre ele que quero falar contigo.

— É? O que rolou? Finalmente transaram?

Eu pisquei os olhos. — C-como assim "finalmente"?

— É que vocês dois são um homem e uma mulher que se conhecem há bastante tempo.

Engoli em seco. — Não! O que temos é uma amizade muito linda! Joe é o único homem que não me vê como objeto!

Midori revirou os olhos fazendo-me grunhir. — O que é então?

— Bem... eu preciso te dizer que sempre me arrumei antes de ver o Joe.

— Hmmn...

— Ficava bem bonita, sabe?

— Ficar mais bonita do que já é, nossa deve ser irresistível...

— Isso. Mas Joe só pensava na universidade de medicina e eu trocava de namorado o tempo todo. Todos da escola me achavam linda e eles sabiam que eu topava transar.

— Puta.

— Olha, vou parar se você me julgar!

— Tô brincando, eu sou uma também, continua...

— Eu pensei então que Joe fosse algo puro, algo que eu não era e que eu desejava muito ser. Por isso nunca dei em cima dele, porque não queria tirar isso dele. Mas minha história com Jonas só me faz sentir nojo dos homens... e talvez por isso que pensei em Joe quando saí de casa. 

— E talvez por isso que transou com ele?

Midori foi tão direta e certeira com essa pergunta que me fez chorar. — Eu acho que arranquei dele algo muito valioso.

— Não chore, você está num lugar público e seu sapato já chama muita atenção. — Eu ri, Midori sabia me fazer rir. — E como foi o sexo?

Nesse momento minhas lágrimas secaram e eu enxuguei meu rosto. — Surpreendentemente... parecíamos dois animais no cio.

Midori riu. — Você brigou ontem porque disse algo que não lhe agradou sobre Joe. Mas fique sabendo que só o acho destrambelhado e que isso não desvalida que ele é um homem. — Pontuou, Midori. — Você não tirou nada dele, só está romantizando por ele nunca ter sido babaca com você. Foi você que o seduziu, certo?

— Sim.

— Eu acho que ele te ama e o que você sente por ele é o mesmo.