Devil Slayer Chronicles escrita por Aquele cara lá


Capítulo 6
O plano entra em ação




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Noelle e Excalibur estão andando no salão da empresa, conversando.

"Daí, ele pegou a minha mão e beijou ela~♥" - Noelle diz.

"Aí sim, hein loirinha ! Parece que, dessa vez, você fisgou um garanhão~" - Excalibur diz.

"Pois é. Nós já estamos juntos há um bom tempo. Ele até se mudou pra mesma classe que eu, pra ficarmos mais juntos." - Noelle diz. "Mas…"

"Não ! Eu não sei, e nem quero saber !" - Excalibur diz.

"V-Você nem sabe o que eu ia dizer !" - Noelle diz, surpresa.

A empregada limpa sua garganta. "'O Kuzuha já desapareceu há duas semanas. Onde será que ele foi ? Será que ele tá bem ?'"

"Mas foram duas semanas e-" - Noelle diz, sendo interrompida pela sua amiga.

"Loira, esquece. Só porque a gente faz parte do mesmo time, não significa que ele vai ficar aqui o tempo todo." - Excalibur diz.

A jovem solta um suspiro. "Tá bem…"

"Ei ! Tô me sentindo confiante hoje. Bora fazer uma missão difícil." - Excalibur diz, tentando animar o local.

"T-Tipo uma missão de nível S !? As Bestas do Caos são muito fortes !" - Noelle diz, surpresa.

"Ah, qual é, loira ! Não esquece que você tem a sua amiga incrível aqui pra te proteger !" - Excalibur diz.

"Tá bom, vai. Só que, se as coisas ficarem feias, a culpa vai ser sua." - Noelle diz.

"Então vamos lá no quadro de avisos." - Excalibur diz.

As duas vêem uma multidão de pessoas reunidas em uma tela.

"Eh O que tá acontecendo aqui ?" - Excalibur pergunta.

"Ontem, quando olhamos no quadro, ele estava cheio, mas agora não tem nenhuma missão que não seja de Nível SSS ou SS !" - Uma mulher diz.

"Eh !? Todas as missões baixas sumiram !? M-Mas quem seria doido de pegar todas elas !?" - Noelle pergunta, surpresa.

"Na verdade, nenhuma das missões foi completada ainda, mas todas foram pegas." - A mulher diz.

"Dizem que foi um agente com o codinome Joker." - Um homem diz. "Nunca ouvi falar. Será que é uma lenda ?"

"Joker… ?" - Noelle diz, pensativa.

A empregada dá um tapa em seu rosto e solta um suspiro, indignada. "O que foi que aquele animal fez dessa vez… ?"

As missões começam a ser completadas.

"M-M-Mas como !?" - A mulher diz, surpresa.

Todas as missões são concluídas.

"Tch. Esse idiota não tem tempo pra ir pra escola ?" - Excalibur pergunta.

A jovem se espanta, se lembrando de algo. "Escola ! É verdade ! A aula vai começar daqui a pouco !"

Algum tempo depois, na sala de aula.

Noelle está encarando uma janela, perdida em seus pensamentos. "Será que… o Kuzuha nunca mais vai falar comigo… ? Nah, quem liga ? Se ele não falar mais comigo, eu só saio no lucro... eu acho…"

Alucard se aproxima, e põe uma flor rosa no cabelo dela. "Alguma coisa está lhe incomodando, minha querida Noelle ?"

"Eh ? Não, não é nada !" - Noelle diz. "Que flor é essa ?"

"Uma flor para a outra." - Alucard diz.

"Aw, Alucard, que fofo~" - Noelle diz.

"Eu fiz questão de colhê-la diretamente do meu jardim especial. Essa flor foi plantada pela minha... mãe, antes dela falecer..." - Alucard diz.

"Me desculpa..." - Noelle diz, triste.

"Não há motivos para se desculpar, ma petite fleur, você não teve culpa de nada." - Alucard diz. "Agora, eu gostaria que me dissesse o que chateia sua bela mente."

A jovem dá um leve sorriso, um pouco triste. "Nada…"

"Por acaso eu lhe fiz algo que não tenha gostado ? Se fiz, pode me punir, eu não me importo ! A dor do seu castigo não deve chegar nem perto da dor em seu coração." - Alucard diz, preocupado.

Todas as meninas da sala olham para ele. "Hah… Alucard~♥"

"N-Não é isso ! Eu só... não sei. Sinto uma tristeza no meu coração." - Noelle diz.

"Aquele troglodita não está envolvido nisso, não é ? Pois, se estiver, eu vou-" - Alucard diz, sendo interrompido por Kuzuha, que abre a porta da sala com uma bicuda.

"Vai o que, Alucard ?" - Kuzuha pergunta.

Noelle abre um sorriso sincero, aliviada. "Kuzuha ! Eu achei que alguma coisa tinha acontecido com você ! Não me deixa preocupada assim de novo, cara !" - Ela levanta vai na direção do delinquente, para o abraçar. Mas quando a jovem chega perto, ele desvia.

O delinquente olha com desgosto para sua amiga. "Humpf. Eu já disse pra não falar mais comigo." - Ele nota a flor na cabeça dela e a pega.

"Devolve isso ! Essa flor é muito especial !" - Noelle diz, tentando pegar sua flor de volta sem êxito.

"Ela é ?" - Kuzuha pergunta. Ele põe a flor na boca, começa a mastigar e engole ela. "Tem gosto de lixo, igual o dono."

"Ora, seu-" - Alucard diz, sendo interrompido por Kuzuha.

"'Seu' o que, hein burguês ?" - Kuzuha pergunta, ameaçando o jovem.

"Acha que me intimida, troglodita ?" - Alucard pergunta, desafiando o delinquente.

"Fala aí, burguês, essa sua cara feia é de nascença ?" - Kuzuha pergunta.

"Desista, troglodita. Não vou me rebaixar ao seu nível." - Alucard diz.

Os dois começam a se encarar.

"Parem, os dois !" - Noelle diz. "Kuzuha, você não é assim ! O que foi ?" - Ela tenta chegar perto de seu amigo novamente, mas ele desvia de novo.

Algumas garotas começam a cochichar.

"Nossa ! O Demônio é muito idiota ! Eu juro que, se ele bater no coitadinho do Alucard, eu vou matar ele !" - Uma garota ruiva diz.

"E, eu te ajudo, amiga ! Eu não tô nem aí pras consequências !" - Uma garota de cabelo castanho diz.

"Nem eu !" - A garota ruiva diz.

Alguns garotos também começam a cochichar.

"Se prepara pra segurar ele. Quando o Demônio tiver distraído, nós chegamos por trás e arregaçamos ele na porrada." - Um garoto loiro diz.

"A gente não vai deixar esse otário tocar no Alucard ! Ele é um dos manos mais legais dessa escola !" - Um garoto de cabelo preto diz.

"Eu não consigo entender... Tudo bem, o Kuzuha é um babaca. Mas isso não é motivo pra odiar tanto assim ele." - Noelle pensa. "Preciso fazer alguma coisa, antes que uma briga aconteça."

"Burguês ! Eu vou arrebentar a sua cara-" - Kuzuha diz, sendo interrompido quando sua amiga dá um tapa em seu rosto.

"M-Minha querida Noelle !? Eu não precisava de ajuda. Me desculpe, ter lhe causado preocupações." - Alucard diz. "Duvido muito que esse mísero troglodita desgraçado teria alguma chance conta mim-"

Noelle dá um soco no nariz dele, que começa a sangrar. Todos ficam surpresos. "…Oh..."

O anel na mão da jovem se quebra. "Cala essa boca, Alucard."

"Minha quuerida Noelle... ? P-Por que fez isso ?! Eu estava prestes a dar uma lição nesse delinquente !" - Alucard diz.

Noelle põe a mão na cabeça de Kuzuha. "Você tá legal ?"

"Meh, já tive dias melhores..." - Kuzuha diz.

"Vamos embora. Claramente tem alguma coisa errada, e a gente precisa conversar sobre isso." - Noelle diz.

Os dois começam a ir embora.

"M-Minha querida Noelle, espere !" - Alucard diz, desesperado.

"Fala." - Noelle diz.

"Ainda virá ao baile, não é ? Eu gostaria mesmo que você fosse, por favor." - Alucard diz.

"Se liga, burguês ! Até parece que ela iria." - Kuzuha diz.

"Hmm... Tudo bem, eu vou." - Noelle diz.

"Eh !?" - Kuzuha diz, surpreso.

"S-Sério !? Que notícia maravilhosa para os meus ouvidos." - Alucard diz.

"Até, Alucard." - Noelle diz.

Agora eles vão embora.

"Tsk Tsk Tsk." - ??? diz.

Uma garota de cabelo curto cinza, com uma mecha tampando seu olho direito, olho esquerdo rosa, orelhas pontudas, usando uma camiseta rosa, uma blusa preta aberta, com detalhes verdes e orelhas de gato, uma saia vermelha, longas meias brancas, botas também pretas de cano longo, luvas de couro também rosas e usando uma gargantilha verde fecha um livro, fazendo um barulho alto. A sala inteira começa a olhar para ela.

A garota limpa sua garganta e solta um suspiro. "Sério, Alucard ?"

"Karma ?! O que você está fazendo aqui ?!" - Alucard pergunta, bravo.

"Te lembrando que você tem até às onze da noite." - Karma diz. "E, venha falar comigo no que você chama de intervalo."

O jovem fecha seus punhos. "Tch. Merda…"

Karma vai embora. Alguns minutos depois, na porta da casa de Noelle.

"Sinceramente, loirinha, você não bate bem da cabeça." - Kuzuha diz.

A jovem inclina sua cabeça, confusa. "Por quê ?"

"Tá querendo ficar como eu ?" - Kuzuha pergunta.

"Eh ?" - Noelle diz, ainda confusa.

"Com o apelido de Demônio, também." - Kuzuha diz.

Noelle dá de ombros. "Eu não ligo. Agora, espera aqui, eu vou pegar alguma coisa pra bebermos." - Ela entra na casa.

"Beleza." - Kuzuha diz. Ele olha para os lados, checando a área. "Ninguém perto ? Ok. Hora de voltar na escola..."

A jovem volta com dois copos em mãos. "Eu voltei !"

O delinquente não está mais no local.

"Uh… Cadê ele ?" - Noelle pergunta, confusa.

Kuzuha chega na escola. Já é o intervalo. O delinquente olha para os alunos, procurando por alguém. "Cadê meu alvo... ?" - Ele solta um suspiro. "Dá muito trabalho pra achar ela. Hmm… Já sei !" - O delinquente começa a correr.

Poucos minutos depois, em uma biblioteca.

O delinquente solta outro suspiro. "Odeio esse lugar. Tem cheiro de coisa velha e mofo. Hmm… Que estranho… Por que não tem ninguém na biblioteca ?"

A voz de uma garota pode ser ouvida. "D-Desulpa, mas estamos fechados para reorganização e limpeza dos livros. Peço que volte d-depois."

Kuzuha nota uma escada se mexendo e caminha até ela. "Nah, odeio ler. Tô é procurando uma garota."

"Q-Quem você está procurando ?" - A garota pergunta.

"Uma… 'bruxa'." - Kuzuha diz.

A escada treme. Uma garota de cabelo curto rosa com algumas mechas verdes, olhos verdes, vestindo o uniforme escolar, usando um óculos e com uma flor branca no lado esquerdo do cabelo cai da escada. Kuzuha a pega em seus braços.

"Eh !?" - A garota diz, assustada e confusa. Ela ajeita seus óculos. "Eeekkk ! V-V-Você é Kuzuha Solace Allwise, o Demônio !

"E você é Mitsuro Sunon, a Bruxa." - Kuzuha diz, revirando seus olhos. "Ótimo, estamos apresentados. Agora, me faz um favor e-"

"M-M-Me põe no chão !" - Mitsuro diz.

O delinquente solta Mitsuro, a deixando cair.

"Ugh ! D-Doeu…" - Mitsuro diz, se levantando.

"Você é gaga ?" - Kuzuha pergunta.

"P-Perto de gente que n-não conheço, sim." - Mitsuro diz.

"Tanto faz. Preciso de um favor seu." - Kuzuha diz.

A bruxa começa a se desesperar. "E-E agora, o que eu faço ? E-Ele me segurou no colo e agora q-quer me pedir um favor ! Será que é namoro ? O-O-O-O que eu faço em uma situação dessas !? N-Não tem saída... V-Vou ter que aceitar as c-coisas do jeito que são…"

O delinquente está balançando sua mão na frente do rosto dela. "Yo ! Mitsuro ? Tudo inteiro aí dentro ?"

De repente, Mitsuro se curva.

"E-Eh !?" - Kuzuha diz, surpreso.

"P-P-P-Por favor, s-s-seja g-gentil !" - Mitsuro diz, envergonhada.

Kuzuha concorda, confuso. "Uh… Ok…" - Ele muda de assunto. "Não foi pra isso que eu vim aqui !"

A bruxa inclina sua cabeça, confusa. "Então o que você quer ?"

"Eu preciso de uma das suas poções. Urgente !" - Kuzuha diz.

"E-Eu não sou uma bruxa !" - Mitsuro diz.

"Mas eu sei que é boa em jardinagem, botânica, essas coisas." - Kuzuha diz.

"Bom, eu não diria boa… Eu só li bastante livros." - Mitsuro diz.

"Ótimo. Sabe fazer antídoto para Laplum ?" - Kuzuha pergunta.

"S-Sei. Não é tão complicado assim, eu tenho os ingredientes em casa." - Mitsuro diz.

"Ótimo. Faz pra mim. Fico te devendo essa !" - Kuzuha diz, apressado. Ele vai embora correndo.

"Perai ! M-Mas como é que você sabe de uma flor que só desabrocha em… Azeroth… ?" - Mitsuro pergunta. "Ele já se foi. Isso foi muito estranho…"

Alguns minutos depois.

O delinquente está sentado em um banco. "Cara, não acredito que eu ainda não encontrei ele... Bom, eu vou lá na minha árvore." - Ele se levanta com um pulo e caminha até uma porta. "Tô quase desistindo. Achar burguês é um trampo que eu não queria ter." - O delinquente põe a mão na maçaneta e abre um pouco a porta. Mas para, quando ouve um garoto conversando com uma garota.

"Você TEM de pôr o plano em ordem hoje à noite." - A garota diz.

"Eu já entendi, Karma !" - O garoto diz, bravo.

Kuzuha imediatamente reconhece a voz de Alucard. Ele abre um pouco mais a porta e, pela fresta, vê os dois conversando debaixo de uma cerejeira. "Então ele tem uma namorada, huh ? E ela é cosplayer. A loira vai ficar arrasada, quando eu contar isso~"

"Não consegui usar aquela maldita flor nela ! O troglodita desgraçado a pegou antes !" - Alucard diz.

"É, eu vi. E as minhas queridas Laplum não são 'malditas' !" - Karma diz.

"Só mais um dia, e eu consigo o coração daquela idiota." - Alucard diz.

A jovem misteriosa dá de ombros. "Não vai rolar. A Lua Carmesim é um evento extremamente raro. Admita, Alucard, você não consegue arrancar o coração daquela garota. Conseguiu falhar até com as minhas queridas Laplum. Quer revisar o plano novamente ?"

"Que se dane esse plano de merda." - Alucard diz, furioso.

Karma solta um suspiro e revira seus olhos. "Esquentadinho." - Ela limpa sua garganta. "Durante o baile, você convence Noelle a te seguir até o sótão, amarra ela no ritual que eu fiz, usa outra Laplum e arranca a Singularidade no coração dela."

"Tch. O único problema é que aquele troglodita desgraçado vai estar lá." - Alucard diz. "Com ele do lado dela o tempo inteiro, vai ser um saco separar o dois."

A jovem misteriosa põe a mão delicadamente na frente da boca e solta uma leve risada. "Pfftt ! Ohohoho ! Não vai me dizer que Alucard Von Vladi está com medo de um garotinho fraco."

"Garotinho fraco ?! Eu vou mostrar pra essa idiota metida a elfa quem é fraco aqui !" - Kuzuha pensa.

Alucard começa a olhar sinistramente para a cerejeira. "Não, não... Não vamos confundir medo com ódio."

Karma solta um suspiro. "Onde eu estava com a cabeça quando decidi ser parte do seu time ?"

"Não somos um time, sua Zenith desgraçada. Eu só te mantenho por perto porque é uma ferramenta útil." - Alucard diz. "Assim que eu decidir que não tem mais validade…" - Ele põe a mão na cerejeira. Quando faz isso, ela se congela em questão de segundos com um gelo roxo. "Espero que tenha entendido seu lugar, lixo."

A Zenith se encolhe, assustada. "…C-Certo... Desculpe…"

"Nem fudendo... Qual é, cara ! Até esse mané tem um Requiem ?! Como é que ele conseguiu ?! Vem de brinde em caixa de cereal ?!" - Kuzuha pensa, bravo.

"Admito, seu Requiem Hazark de classe D.E.V.I.L é assustador e bonito." - Karma diz.

"Hah... Hazark... Um dos Requiem de gelo mais poderosos existente. Diamantes ou qualquer coisa daqui não conseguem quebrá-lo." - Alucard diz.

"Só pode tá de brincadeira ! Qual é o problema do balanceamento de poderes dessa história ?!" - Kuzuha pensa.

"Bom, já que o plano está revisado, nós só precisamos arranjar um jeito de nos livrarmos daquele garoto." - Karma diz.

"Essa será a parte fácil." - Alucard diz.

"A loirinha vai ficar sabendo disso." - Kuzuha pensa. Ele se levanta. Quando se vira, vê Mitsuro atrás de si, se assusta e acaba se desequilibrando, caindo para trás. "Ugh !"

A bruxa se agacha e o ajuda a se levantar. "A-Ai meu Deus ! V-Você tá bem !?"

"Que susto, assombração ! Quer me matar do coração ?!" - Kuzuha diz, bravo.

"D-Desculpa..." - Mitsuro diz, triste.

"Tá, tá. Meu negócio tá pronto ?" - Kuzuha pergunta.

"Eu te procurei pela escola inteira." - Mitsuro diz. "Eu… E-Eu…"

"…Você... ?" - Kuzuha diz, confuso.

A jovem respira fundo. "E-Eu queria pedir desculpas por ter sido tão arrogante com você ! E quero saber se você quer ser meu amigo !"

O delinquente dá de ombros. "Meh. Você é insuportável, mas da pra acostumar."

Mitsuro se anima. "Sério- P-Perai, insuportável !?"

A Zenith limpa sua garganta. Ela dá um olhar sinistro para Mitsuro. "Estou interrompendo algo, hein garota que eu definitivamente não conheço, mas sei que deveria estar estudando quieta em seu canto ?"

"Não é a primeira vez que me espiona, troglodita. Estou começando a desconfiar que é um hobby." - Alucard diz.

"Até parece que eu vou deixar vocês machucarem a loirinha !" - Kuzuha diz. Ele se vira para Mitsuro. "Eu sei que você acabou de chegar, mas preciso que você vaze daqui."

"M-Mas-" - Mitsuro diz, se interrompendo quando vê que o delinquente está falando sério. "Certo." - Ela vai embora correndo.

"Vou ser direta aqui. Eu sei que você estava escutando a conversa." - Karma diz.

"Pô, qual é, gente ! Eu sei que a loirinha tem um 'coração de ouro', mas não é pra tanto, né." - Kuzuha diz.

"Já que você não vai chegar a tempo, eu posso te contar. Estamos atrás da Singularidade dela." - Karma diz.

"Uh…" - Kuzuha diz, confuso.

A Zenith solta um suspiro e revira seus olhos. "Singularidade é uma coisinha que tem no coração da sua amiga. Um cristal que contém MUITO poder."

"Deixa eu adivinhar, você quer esse negócio pra ficar mais forte e dominar o mundo." - Kuzuha diz.

"Pfftt ! Humano típico." - Karma diz. "Eu não tenho interesse nesse mundo patético de vocês. Quem quer a Singularidade é Alucard. Com isso, ele vai se tornar ainda mais forte."

"Plano legal. Só tem um probleminha: eu." - Kuzuha diz. Ele cobre seus punhos com chamas.

"Homens. Tão brutos e irracionais." - Karma diz. "Podemos conversar, sabia ? Palavras foram feitas para serem usadas."

"Até parece que você quer bater um papo." - Kuzuha diz.

"Quero. Ainda mais com um gatinho, que nem você~♥" - Karma diz, piscando para o delinquente.

"Não sei… Você não me parece muito confiável..." - Kuzuha diz, um pouco envergonhado.

"Bom, não tem como você saber disso se nós nos conhecemos agora." - Karma diz.

"Justo. É um argumento válido." - Kuzuha diz. Ele apaga as chamas em suas mãos e se senta. "Cara, minha cabeça tá muito confusa. Ainda não deu pra processar tudo isso. Já não sei mais o que é certo ou errado."

"Eu sei como isso deve ser difícil para você. Também não foi fácil para mim vir pra cá." - Karma diz. Ela lentamente se aproxima de Kuzuha e se senta ao lado dele. "Sabe, você não deve nem saber disso, mas eu não sou humana, sou uma Zenith. Os Zenith são o povo de Azeroth."

"Whoa ! Então essas orelhas e olhos são de verdade ?" - Kuzuha pergunta, curioso.

"Pode tocar, se quiser. Pode tocar em qualquer lugar do meu corpo~♥" - Karma diz.

O delinquente toca nas orelhas dela. "Yo ! É de verdade mesmo !"

"Duh ! Mas é claro que são." - Karma diz. "Não foi fácil pra eu me adaptar à sua cultura e costumes, mas não são tão ruins. Claro, os costumes e culturas dos Zenith não são TÃO diferentes assim, mas ainda é meio… esquisito." - Ela se perde um pouco nos pensamentos. "Todos os dias, várias pessoas me olham pelo canto dos olhos, como se eu fosse uma criatura exótica, um animal em exibição. Claro, elas devem pensar que estou usando uma fantasia. Mas, mesmo assim, ainda é... desconfortável. Faz eu me sentir não bem-vinda. Como se eu não pertencesse aqui…"

Kuzuha põe a mão em seu tapa olho. "Sei bem como você se sente… Como se ninguém te quisesse por perto... Como se fosse melhor você não existir..."

"Jura ?" - Karma pergunta, com um olhar um pouco esperançoso. Ela balança sua cabeça, voltando a realidade. "Não que eu não adore ter todos os olhares voltados para mim."

"Huh, você não é tão ruim assim." - Kuzuha diz.

"E quem te disse que eu sou ruim ?" - Karma pergunta.

"Bom, tirando o fato de que você quer arrancar o coração da minha amiga fora..." - Kuzuha diz.

"Detalhes~" - Karma diz.

Uma cobra branca sai da saia dela e rasteja para trás de Kuzuha.

"Humpf. Troglodita incompetente. Seu cérebro é tão pequeno que mal sabe que está sendo manipulado." - Alucard pensa. "Assim que essa cobra mordê-lo, irá injetar hormônios que farão essa Zenith ser irresistível. Assim, será completamente dominado por ela."

"Sabe, Kuzu- Eu posso te chamar só de Kuzu, né ?" - Karma pergunta.

O delinquente dá de ombros. "Essa é nova pra mim, mas beleza."

A cobra começa a se enrolar no braço dele.

"Você já ganhou uma peça na sua organização ?" - Karma pergunta.

"Ganhei, mas nem funciona. Não mostra meu nível de poder." - Kuzuha diz.

"Devem ter quebrado de propósito. Vai ver aquela organização fez isso porque quer que você tenha esperanças no campo de batalha e morra lutando por eles." - Karma diz.

"Huh, eu nunca parei pra olhar por esse lado…" - Kuzuha diz, pensativo.

A Zenith chega mais perto dele. A cobra também se aproxima mais. "Não precisa ficar com vergonha. Afinal, eu sou sua amiga confiável."

"É, isso é verdade." - Kuzuha diz.

"Sabe, você não é só forte e confiante, também é bem inteligente." - Karma diz. "E, cá entre nós..." - Ela se aproxima ainda mais, encostando o ombro dela ao de Kuzuha. "…você até que é gatinho~♥"

O delinquente fica envergonhado. Ele limpa sua garganta. "E-Então..."

Karma começa a encará-lo.

"Sim...~♥" - Karma diz. Ela aproxima seu rosto ao de Kuzuha.

"V-Você não acha que tá muito perto ?" - Kuzuha pergunta.

A Zenith se deita no chão e começa a balançar suas pernas inocentemente. A cobra chega mais perto ainda do pescoço de Kuzuha.

"Sabe, Kuzu, você fica bonito a cada ângulo que eu te vejo~♥" - Karma diz, piscando para o delinquente.

"V-Você acha ?" - Kuzuha pergunta.

Karma se levanta, se senta no colo de Kuzuha e começa a fazer carinho no rosto dele. "Me diz uma coisa, mas seja sincero, tá ?~ Você me acha bonita ?~♥

"B-Bom, eu não diria BONITA. Mas também não te acho feia." - Kuzuha diz.

"Jura ? Será que um beijo muda sua opinião ?~♥" - Karma diz. Ela começa a aproximar sua boca à de Kuzuha.

O delinquente engole seco. Ele beija Karma.

"Heh, acabou, pivete." - Karma pensa.

"Ugh !" - Kuzuha diz, sentindo dor.

O caule de uma flor branca acerta o olho da cobra, que cai no chão, agonizando, e morre.

Karma empurra o delinquente. "O quê !?"

"D-De onde veio esse troço !?" - Kuzuha pergunta, surpreso com a cobra. Ele se levanta. "Que merda ! Eu queria saber mais sobre essa droga de Singularidade !"

"V-Você não tá apaixonado por mim !? Como isso é possível ?! Não existe um homem que não cai nos meus encantos !" - Karma diz, surpresa, brava e até um pouco desapontada.

O delinquente olha para ela e levanta uma sobrancelha. "Iludida."

"Eu não sei se fico triste ou feliz." - Karma diz. "Triste por não ter funcionado, mas…" - Ela dá um olhar perturbador para Kuzuha. "…feliz por descobrir uma presa que dure tanto tempo. Agora, me conta, garoto, como foi que você escapou dos efeitos da minha Laplum que engoliu mais cedo ?"

"Simples, nenhum veneno funciona em mim." - Kuzuha diz, orgulhoso de si. "…Por algum motivo estranho…"

"Hmm… Curioso..." - Karma diz, pensativa.

Alucard solta um suspiro, impaciente. "Essa brincadeira termina aqui. Claramente, você não consegue se livrar dele, Zenith inútil." - Fumaça começa a sair do punho dele. "Minha paciência já se esgotou com você, troglodita. Você é só mais uma mísera pedra no meu caminho. Uma pedra que farei questão de remover."

"Finalmente eu vou poder quebrar tua cara, cubo de gelo desgraçado !" - Kuzuha diz, cobrindo um punho com chamas.

Os dois se encaram seriamente. De repente, uma pessoa completamente coberta por um manto preto velho aparece e segura o braço de Kuzuha.

"Aí ! Não foi você que estragou o meu plano não, né ?!" - Kuzuha pergunta, bravo. "E que mão macia, hein cara."

O desconhecido começa a apontar para a porta.

"Se acha que eu vou sair daqui sem arregaçar a cara desse cubo de gelo, pode ir tirando o cavalinho da chuva !" - Kuzuha diz.

"Digo o mesmo." - Alucard diz. Ele põe as mãos no chão e começa a congelá-lo.

A pessoa misteriosa também põe suas mãos no chão. O gelo de Alucard derrete e começa a fazer fumaça. Essa fumaça toma conta do local.

O delinquente tosse. "Que droga é essa-"

Algum tempo depois.

Kuzuha acorda em um quarto bem rosa com uma estante cheia de livros e uma janela. "Ugh… Minha cabeça…" - Ele se levanta e olha em volta, percebendo onde está. O delinquente vai até a estante e começa a revirar os livros. "É tudo sobre botânica. Quem mora aqui, uma planta monstro ?" - Ele vai para a janela.

Está de noite. Fora da casa, há um jardim com flores amarelas formando o desenho de um sol, flores brancas formando o desenho de uma lua e diversas outras flores coloridas.

"Beleza… Eu fui sequestrado por A, um botânico. B, uma planta carnívora monstruosa. C, uma stalker. Ou D, um sociopata." - Kuzuha diz. "Botânicos não sequestram pessoas. Plantas carnívoras não andam. É um milagre eu ter duas amigas, imagina uma stalker. É, opção D tá bem plausível."

O barulho de algo caindo na distância pode ser ouvido.

"Eu, uh… Eu acho melhor ir ver isso… ?" - Kuzuha diz, confuso. Ele põe a mão na maçaneta e vira. A porta se abre. "Destrancada, huh." - O delinquente sente o cheiro de algo. "Hmm… Gostoso... Isso é cheiro de… lasanha !? Yo ! Eu adoro lasanha !" - Ele começa a seguir o cheiro e descer algumas escadas. Quando chega na cozinha, uma faca quase acerta sua cabeça, mas Kuzuha desvia. A faca acaba fincando na parede. "Tá querendo me matar, desgraçado ?!"

A pessoa misteriosa com o manto de antes está na frente de um fogão, cozinhando. Ela tira o manto. É Mitsuro. A jovem está vestindo uma camiseta regata rosa florida, shorts jeans, e chinelos.

O delinquente não fica nem um pouco surpreso com a relação. "…Jura… ?"

"Eu me considero uma Vigilante dos Sete Amanheceres. Uma protetora dos inocentes. Alguém que luta para garantir que as pessoas vão ter um amanhecer." - Mitsuro diz. "Mesmo eu odiando brigas…"

"Huh, tô surpreso." - Kuzuha diz.

"Eu sei que pode parecer maluquice, mas a Terra é invadida toda hora por criaturas chamadas Bestas do Caos que são invisíveis para humanos normais." - Mitsuro diz. "Eu luto contra elas."

"Nah, não é disso que eu tô falando." - Kuzuha diz. "Tô surpreso que você também lê Millennium Odyssey."

"Você também lê !?" - Mitsuro pergunta, surpresa. Ela abre um enorme sorriso sincero. "Eu amo esse universo ! Adoro todos os Vigilantes dos Sete Amanheceres, principalmente a Luna ! Tentar desvendar os segredos de Bastion Spei e entender todas as referencias é muito divertido e interessante ! A segunda temporada tá sendo incrível, até agora !"

"Pois é. Uma pena que o escritor é preguiçoso, e sai um capítulo só no dia de São Nunca. Falando nisso, ouvi dizer que a segunda temporada vai ser bem menor. Bom, a gente já sabe como termina mesmo." - Kuzuha diz. "Também ouvi que o criador tá pensando em fazer uma terceira temporada."

"Jura ?" - Mitsuro pergunta, animada.

"Pô, cai na real, Mitsu ! O cara nem começou a fazer a segunda, imagina uma terceira." - Kuzuha diz.

O entusiasmo da bruxa lentamente diminui. "Bom, isso é verdade…"

"Mudando de assunto. E essa lasanha aí, hein ?" - Kuzuha pergunta.

"A lasanha ?" - Mitsuro pergunta. Ela se lembra da lasanha e começa a se desesperar. "A LASANHA !" - A bruxa abre o forno, põe luvas desajeitadamente, pega a lasanha e põe em uma mesa. O alimento está intacto, e parece delicioso. Mitsuro solta um suspiro, extremamente aliviada. "Graças ao deuses…"

"A lasanha tá bem, né !? E fala que ela tá !" - Kuzuha diz, extremamente preocupado.

A bruxa concorda, aliviando o tensão do delinquente. "Graças aos deuses, nada aconteceu."

"Então... Mora aqui há quanto tempo ?" - Kuzuha pergunta, mudando de assunto.

Mitsuro começa a cortar a lasanha. "Minha vida inteira." - Ela pega dois pratos de porcelana e talheres, põe um pedaço em cada prato, e distribui entre os dois.

"Valeu." - Kuzuha diz. Ele come um pedaço. "Yo ! Isso aqui é gostoso pra cacete !"

"Obrigada~ Eu comprei os ingredientes à tarde, então eles estão fresquinhos." - Mitsuro diz.

"Sem brincadeira, essa carne é de boa qualidade. Eu nunca comi nada parecido com isso na minha vida." - Kuzuha diz, impressionado com o alimento. "Eu sei que a cara não entrega, mas curto cozinhar, no tempo livre. Bem que você podia me falar onde arranjou~"

"Foi lá em Rudra. Normalmente, não têm tantas opções de carne, onde eu compro. Mas, vez ou outra, um mercador viajante passa e traz alguma coisa boa e barata." - Mitsuro diz.

"Rudra ? Nunca ouvi falar. É uma loja ?" - Kuzuha pergunta.

A bruxa se lembra de algo e entra em choque.

"Uh… Tudo legal ?" - Kuzuha pergunta, confuso.

"T-T-Tudo maravilhosamente bem !" - Mitsuro diz, nervosa.

"Eu, hein. Esquisita." - Kuzuha diz. Ele volta a comer. "Tá gaguejando por quê ? Achei que já tinha acabado com isso."

"E-Eu já disse q-que começo a g-gaguejar quando tô conversando um d-desconhecido." - Mitsuro diz.

"Pô, a gente já se conhece faz o que, umas…" - Kuzuha diz, parando para pensar. Ele percebe uma coisa. "Só um segundinho aí..."

Mitsuro engole seco. Ela começa a se desesperar ainda mais, mas tenta disfarçar. "Q-Q-Que tal uma s-sobremesa ?"

"Ingredientes de tarde… Já é noite... Lasanha deliciosa prontinha coincidentemente na mesma hora que eu acordo…" - Kuzuha murmura para si mesmo. Ele dá um pulo para trás e cobre seus punhos com chamas. "Você não tava tentando me salvar, isso é um sequestro !"

"C-Calma ! E-E-Eu posso explicar !" - Mitsuro diz, desesperada.

"Boa sorte tentando !" - Kuzuha diz. Ele começa a correr, procurando uma saída. Como a casa não é grande, o delinquente acha a porta de entrada com facilidade. Ele abre a porta e sai em um vasto e calmo campo, sem absolutamente nada no horizonte. A lua está brilhando vermelho carmesim. "Uh… Hein ?"

"E-Espera !" - Mitsuro diz, desesperada.

"Me arrastou pra que canto, sua esquisita ?!" - Kuzuha pergunta, bravo.

"N-Não é o que p-parece, ok ? P-Por favor, s-só me escuta !" - Mitsuro diz.

"Valeu, mas eu não caio nas suas mentiras de novo !" - Kuzuha diz.

"EU TE DEI LASANHA ! ACHA MEMO QUE SOU RUIM ?" - Mitsuro grita. Ela percebe o que acabou de fazer e começa entrar em desespero e hiperventilar. "E-E-Essa não ! E-Eu l-levantei a m-minha voz !" - A bruxa começa a ter um ataque de pânico.

"Cacete ! Desse jeito, a menina vai ter um enfarto !" - Kuzuha pensa, preocupado. Ele se aproxima de Mitsuro e tenta acalmá-la. "Ei ! Ei ! Olha pra mim !" - O delinquente pega a bruxa pelos braços e força contato visual. "Eu preciso que você preste atenção, ok ?"

Ainda em desespero, Mitsuro concorda.

"Fecha os olhos e imagina uma fogueira com uma brasa pequenininha." - Kuzuha diz. "Agora, respira fundo e assopra com cuidado. Faz isso várias vezes, até a chama ficar maior e controlada."

A bruxa o faz. Ela começa a se acalmar.

O delinquente solta um suspiro, aliviado. "Que susto, hein. Melhor ?"

Mitsuro concorda. "O… Obrigada."

"Surtou por quê ?" - Kuzuha pergunta.

"V-Você não q-queria me ouvir e isso m-me deixou m-muito nervosa ! N-Não queria ter g-gritado ! P-Perdão !" - Mitsuro diz.

"Calma. Eu NÃO tô bravo, ok ? Só se acalma, e você me conta quando se sentir melhor." - Kuzuha diz.

"C-Certo." - Mitsuro diz. Ela respira fundo novamente. "E-Eu tô melhor… O-Obrigada mesmo… Ajudou b-bastante."

"Quando eu era criança, tinha uma amiga que costumava pensar demais sobre as coisas e tinha uns ataques de pânico, de vez em quando." - Kuzuha diz. "Ela nunca queria me ouvir, então eu inventei isso pra fazer ela respirar direito."

"E-Ela é sortuda d-de ter um amigo a-apreensivo feito você." - Mitsuro diz. Ela se encolhe um pouco mais. "E-Eu queria poder t-ter um amigo feito v-você."

"Seguinte, se vai me contar toda sua história de vida, pelo menos me descola um pedaço de lasanha." - Kuzuha diz. Ele entra na casa.

"Uh…" - Mitsuro diz, confusa. Ela acompanha o delinquente até a cozinha e se senta perto dele.

O delinquente come outro pedaço da lasanha. "Manda aí."

"B-Bom, eu-" - Mitsuro diz, sendo interrompida por Kuzuha.

"Escuta, sou todo ouvidos pra ouvir sua 'fábula mágica de tristeza', mas dá pra falar feito um ser humano normal ? Ajuda bastante." - Kuzuha diz.

"V-Você é sensível." - Mitsuro diz, ironicamente. Ela respira fundo. "Eu sou a filha de um dos deuses."

Kuzuha continua comendo, nem um pouco surpreso.

"P-Pensei que ia ficar mais surpreso..." - Mitsuro diz.

"Ateu." - Kuzuha diz.

"M-Mas os deuses existem mesmo ! E-Eu sou filha de um !" - Mitsuro diz, surpresa. "M-Meu pai é Apollo, um dos d-deuses de Azeroth ! Eles f-ficam lá em Elisyum !"

"Eu acredito em você." - Kuzuha diz, não acreditando na bruxa.

"Minha mãe amava flores, então meu pai fez esse jardim pra ela. Uma pena que não deu tempo dela ver…" - Mitsuro diz, cabisbaixa.

"O que rolou ?" - Kuzuha pergunta.

"Quando eu era uma criancinha, minha mãe acabou ficando doente e cega. Papai plantou as sementes e mudas das flores, mas… a doença piorou, e mamãe não conseguiu viver até nenhuma das flores desabrochar…" - Mitsuro diz.

"Foi mal aí..." - Kuzuha diz.

"Depois que a mamãe se foi, papai colocou uma barreira aqui em volta e saiu para procurar uma cura pra doença desconhecida dela pra não deixar ninguém, nunca mais, passar pelo que ele passou..." - Mitsuro diz.

"E você cresceu sozinha aqui ?" - Kuzuha pergunta.

A bruxa concorda. "Desde os meus seis anos."

"Complicado." - Kuzuha diz.

"O-Obrigada por acreditar em mim." - Mitsuro diz.

"Uma criança de sete anos consegue se cuidar de boa-- Eu fiz. --então você consegue também." - Kuzuha diz. "Agora, por que você me sequestrou ?"

"B-Bom…" - Mitsuro diz, hesitando.

"Deixa eu adivinhar. Eles mandaram você me sequestrar, e você fez porque é facilmente coagida e assustada." - Kuzuha diz.

"Eu… Uh… F-Foi exatamente isso…" - Mitsuro diz, desapontada consigo mesma. "U-Uma vez, me viram a-ajudando alguém s-secretamente e me a-ameaçaram. E-Então isso é-é um favor…"

"Favor é quando você faz uma coisa pra alguém essa pessoa faz uma coisa pra você, em troca." - Kuzuha diz. "O seu caso é extorsão mesmo."

"N-Não é extorsão…" - Mitsuro diz.

O delinquente levanta uma sobrancelha. "Jura, Mitsuro ?" - Ele muda de assunto. "Cê viu aquela lua esquisitona lá ?"

"E-Ela sempre foi assim." - Mitsuro diz. "N-Normalmente, a lua da Terra q-que é toda cinza."

"Saquei." - Kuzuha diz. Ele continua comendo, até que percebe algo e quase engasga. "LUA DA TERRA !? MITSURO ! ONDE CARALHOS EU TÔ !?"

"C-C-Calma ! N-Não precisa se desesperar ! V-Você tá em A-Azeroth !" - Mitsuro diz, assustada.

"C-Como é que eu vim parar em 'A-Azeroth' !?" - Kuzuha pergunta.

"É-É só Azeroth." - Mitsuro diz.

"Você teletransporta entre dimensões !?" - Kuzuha pergunta.

"B-Bom, eu sou filha d-de um deus…" - Mitsuro diz.

O delinquente pega Mitsuro pelos braços, maravilhado com a bruxa. "Você é incrível !"

A bruxa se envergonha. "M-M-Muito perto !"

"Yo ! Eu tenho uma amiga alienígena !" - Kuzuha diz, não conseguindo conter sua felicidade.

Mitsuro sorri. "Somos amigos ?"

"Óbvio !" - Kuzuha diz. "Cara, a loirinha e a empregada vão pirar, quando ouvirem isso !" - Ele percebe algo novamente e entra em desespero. "Cacete ! Eu esqueci da loirinha ! A gente precisa salvar ela !"

A bruxa permanece em silêncio.

O delinquente nota o silêncio desconfortável de sua nova amiga. Ele solta um suspiro. "Escuta, Mitsuro, eu vou ser direto com você: sua vida não é mais sua, e isso é ridículo."

"I-Isso não é-" - Mitsuro diz, sendo interrompida por Kuzuha.

"Nem tenta mentir, você sabe que é verdade." - Kuzuha diz. "Olha pra isso. Pra tudo isso. Você mora no MEIO DO NADA, em um lugar onde NADA consegue chegar."

"N-Não é tão ruim assim…" - Mitsuro diz, cabisbaixa.

"Quando foi a última vez que você recebeu um abraço ? Quando foi a última vez que alguém te visitou ? Quando foi a última vez que saiu com os amigos pra, sei lá, ir no shopping ?" - Kuzuha pergunta.

"…Dez anos..." - Mitsuro murmura.

"Sua vida não tá nessa casa. Ela tá em VOCÊ. Aqui, só sobraram as memórias." - Kuzuha diz. "Acha mesmo que seus pais iam querer ver você jogando anos da sua vida fora olhando pro nada, esperando alguma coisa acontecer ?"

"M-Mas… Mas pra onde eu vou ? Isso é tudo que eu tenho. Não existe outro lugar pra mim." - Mitsuro diz.

"Bom, você pode vir morar comigo. Não é uma luxúria, mas tem quatro paredes e um teto." - Kuzuha diz.

"…V-Você faria isso por mim ?" - Mitsuro pergunta.

"Claro. É sempre bom ter uma companhia. Além disso, vai ser mais fácil pra você arranjar um trampo e comprar sua própria casa." - Kuzuha diz.

A bruxa está claramente indecisa.

"Se tiver indecisa, tá beleza. Não tô te forçando a nada." - Kuzuha diz. Ele se senta em sua cadeira e debruça na mesa. "Huh, engraçado…"

"O-O que foi ?" - Mitsuro pergunta, confusa.

"Esse mundo é super gigante, e, mesmo assim, pessoas como nós, conseguem se encontrar como se fosse a coisa mais normal que existe." - Kuzuha diz. "Alguns anos atrás, eu tava no mesmo lugar que você. Quando meus pais morreram, eu simplesmente não sabia mais o que fazer. Todo lugar que eu olhava, não via as pessoas que sempre estiveram comigo. Todo lugar que eu olhava, não via caminho nenhum."

"C-Como você fez pra s-sair dessa situação ?" - Mitsuro pergunta.

"Com a ajuda de uma… amiga que eu fiz. Aquela que eu falei." - Kuzuha diz. "Eu entendia ela, ela me entendia. Foi uma questão de tempo, até eu ver que aquela situação toda era tipo uma ferida aberta. Se eu ficar cutucando toda hora, não vai fechar nunca. Além disso, sofrimento não é uma parada que só acontece com você. Um monte de gente tá sofrendo, nesse exato momento. Uns mais do que os outros. Você não tá sozinho nessa, só é mais um. E, mesmo assim, a vida não para. Se ela não para, por que você vai ?"

A bruxa começa a ponderar.

"Bom, enchi sua cabeça demais, já. Preciso vazar e ajudar a loira. É só me deixar em, uh… algum lugar perto." - Kuzuha diz.

"E-Eu…" - Mitsuro diz, com dificuldade.

"Você… ?" - Kuzuha pergunta.

"E-Eu… Eu…" - Mitsuro diz. Ela respira fundo. "Eu quero ir com você !"

"Certeza ? Certeza de que quer deixar TUDO isso pra trás ?" - Kuzuha pergunta. "Não tô te forçando a nada. Isso é uma decisão que só você pode tomar."

A bruxa concorda, determinada. "Eu vou viver a minha vida, fazer as minhas coisas, ter minhas experiências. A verdade é que eu sabia que papai e mamãe iam querer isso, também, só não quis admitir pra mim mesma. Agora, não vou mais me isolar. Vou fazer o que eu sempre quis."

"E o que é ?" - Kuzuha pergunta.

"…Não faço ideia." - Mitsuro diz. "Acho que meu sonho era só poder ter meus pais de volta, mas sei que é impossível. Então, vou precisar achar algum propósito novo."

"Já é um começo." - Kuzuha diz. "Preparada ? Porque eu tô meio que numa urgência aqui."

"Sim. Vamos." - Mitsuro diz.

Os dois saem da casa. Mitsuro para.

"Um último adeus ?" - Kuzuha pergunta.

A bruxa silenciosamente concorda. A confusão em sua mente é visível, mas sua determinação é ainda maior. Ela dá seu último adeus melancólico a casa em que sempre viveu, às memórias que fez, ao seu velho estilo de vida, e se aproxima de Kuzuha.

O delinquente dá um sorriso confortante. "Tô orgulhoso de você."

"Obrigada." - Mitsuro diz, retribuindo também com um sorriso. "Vamos. Não devemos ter muito tempo sobrando."


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