Reflexo escrita por Madoro to Amesu


Capítulo 1
Fraco...


Notas iniciais do capítulo

Essa foi uma ideia que surgiu depois de eu ter lido umas comics e começado a acompanhar a segunda temporada de Mashle recentemente. No mais, foi bem divertido de escrever sobre os irmãos Mádl, que são 2 personagens que eu gosto muito na história original :)

Espero que gostem! Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/811875/chapter/1

 

“Fraco, inútil, iludido...” – esses dentre tantos outros adjetivos degradantes não cessavam de perturbar a mente de Wirth, que se debatia incansavelmente sobre sua cama no dormitório da casa Lang à noite. Parece que a derrota para Lance Crown abalou toda a sua confiança, destruindo qualquer resquício de sonho que ainda existisse abafado no mais profundo âmago de sua alma.

Ao se revirar, o terceiro canino notou seus óculos escuros repousando sobre a mesinha de cabeceira ao lado de sua cama e de súbito as memórias com seu irmão mais velho, sua maior inspiração, invadiram sua mente.

~*~

Era final de tarde na casa Mádl, onde do quintal puderam ser ouvidos vários estouros de feitiços, acompanhados de broncas enfurecidas de um pai para o filho mais novo.

— Francamente, como você é fraco! Custo a acreditar que seja meu filho mesmo! – Bufava o pai.

— E-estou tentando o meu melhor... – Choramingou o menino, que aparentava ter seus 13 anos de idade.

— Tsk, essas palavras me enojam, não me admira que não possua talento algum. Como se não bastasse aquele imbecil do seu irmão estar me dando tanta dor de cabeça...

— Meu irmão é um grande homem! Coisa que o senhor nunca foi e nem vai ser para mim! – Gritou o garoto enfurecido. Não aceitaria que ninguém, nem mesmo seu pai abusivo proferisse tais ofensas sobre seu irmão, aquele que mais amava e admirava. Se no futuro pudesse se tornar metade do homem que ele era, dar-se-ia por mais do que satisfeito.

Não tardou muito até que a mão de seu pai viesse de encontro ao seu rosto lhe acertando um tapa na maçã esquerda do rosto, fazendo com que o menino cambaleasse e caísse sentado no chão pela força que seu pai impôs sobre si.

— Saia da minha vista, agora!

Lágrimas ameaçavam cair dos olhos do pequeno garoto, que não pensou duas vezes antes de se levantar e correr direto ao seu quarto, trancando-se lá pelo resto da noite.

As horas se passaram e Wirth ainda se encontrava deitado sobre sua cama com seu rosto afundado no travesseiro desabando em um choro incessante. A quem ele queria enganar? A verdade é que tinha com medo do que estava por vir. Desde que o departamento de polícia foi integrado ao gabinete da magia, seu irmão vinha tendo menos contato consigo em casa, o que o levava a ter de enfrentar a ira irracional de seu pai sozinho em casa.

Orter sempre esteve lá por ele, sempre o protegendo e motivando a se tornar ainda mais forte, mas agora que pouco a pouco sua presença em sua vida estava se esvaindo, Wirth daria cabo de tudo sozinho? Ele já sabia a resposta para esse questionamento. Ainda estava muito longe de conseguir ser capaz de desbravar as desavenças mundo à fora. Se nem sequer era capaz de confrontar seu pai, quem dirá sobreviver? Sentia como se o mundo inteiro estivesse prestes a engoli-lo.

“Sou patético mesmo!” – era o que pensava enquanto desejava profundamente um caloroso e acolhedor abraço de seu irmão naquele momento.

Quase como se tivesse previsto o futuro, 3 batidas leves na porta de seu quarto foram ouvidas.

— Wirth? Posso entrar? – A voz de seu irmão ecoava do outro lado da porta.

Após ter escutado um murmúrio desconexo do mais novo, o mais velho adentra o quarto, indo em direção à cama, sentando-se sobre ela. Uma de suas mãos repousa sobre os cabelos do menor fazendo um leve cafuné, o que pareceu acalmar o mais novo depois de alguns minutos.

— Deixe-me ver o seu rosto.

O menor, um tanto relutante de início, gradativamente foi levantando seu rosto do travesseiro e virando-se para encarar seu irmão mais velho. Este tocou gentilmente sua face depositando um carinho reconfortante com seus dedos. Quando viu a marca vermelha ainda estampada na face esquerda do menor, o maior franziu as sobrancelhas e rangeu os dentes em ódio.

— Maldito... – Proferiu o maior com uma pontada de desprezo por si mesmo.

Orter se culpava por não poder tê-lo defendido novamente. Essa nova rotina estava abrindo brechas para que seu pai ferisse seu irmão física e emocionalmente. Jamais se perdoaria caso o perdesse para sempre. Ele precisava ser forte por Wirth se realmente quisesse viver em paz com ele. Suas memórias mais felizes sempre foram todos os momentos que passaram juntos e por isso mesmo estava determinado a impedir quem quer que arquitetasse a destruição da sua razão de viver. Se nesse mundo, as regras que o regiam o privassem do clamor mais profundo do seu coração, então ele queimaria todas elas.

— Irmão...- O chamado quase inaudível do mais novo o fez retornar à realidade, afastando tais pensamentos intrusivos.

De repente, Wirth sentiu um par de braços o puxar para o abraço caloroso pelo qual tanto estava ansiando e em meio ao carinho fraterno, o mais novo finalmente se deu conta de que o momento de alçar voo se aproximava cada dia mais um pouco. Era o ciclo natural da vida. Não poderia esperar Orter resgatá-lo e defendê-lo para sempre, era apenas inevitável que em algum momento desse o pontapé inicial para ficar mais forte.

— Irmão, eu vou te superar, custe o que custar! – exclamou o menor.

O mais velho se surpreendeu a priori, mas ao mesmo tempo se alegrava de saber que o mais novo se espelhava em si, tomando-o como um exemplo a ser seguido. Wirth estava crescendo e não tinha dúvidas do potencial monstruoso que o menor possuía, mas até que o pequeno diamante bruto atingisse seu brilho completo, ele jurou para si estar ali o lapidando e aperfeiçoando.

— Ora, é mesmo? Pois então eu fico no aguardo do grande dia. – Disse o mais velho em um tom descontraído. – Aliás, Wirth, quero te dar uma coisa antes. Espere só um momento.

O menor encarava o mais velho com curiosidade enquanto este se afastava e saía do seu quarto. Alguns minutos depois, Orter retorna com um par de óculos escuros em suas mãos.

— Este é meu tesouro de infância e agora estou confiando-o a você. Gostaria que os usasse como um amuleto. Sempre que se sentir perdido ou desamparado, veja-se no espelho e lembre-se de que estou aqui com você. Podemos selar nossa promessa assim? – Questionou o mais velho estendendo seu dedo mindinho em direção ao mais novo.

— É uma promessa! – Exclamou o mais novo também estendendo o seu mindinho o unindo com o de seu irmão.

~*~

— Perdoe-me, irmão, parece que eu não consegui cumprir nossa promessa... – Disse em tom de desolação.

Havia percebido da maneira mais amarga e detestável possível que era inútil tentar, afinal uma poça suja e grossa de lama jamais poderia se transformar no mais fino e puro grão de areia, não é?

No fim, seu pai estava certo. Ele era um completo inútil, sem valor algum. Onde estava com a cabeça? Sentia-se um tolo por haver chegado a acreditar que um dia poderia ser capaz de superar aquele a quem mais admira. Contudo, o que mais o corroía era a certeza de que seu irmão o desprezaria. Seu mundo havia ruído e a única felicidade que nele restava havia sido cruelmente levada de si.

— X —

Na manhã seguinte, Wirth levantou-se sem um pingo de ânimo, questionando-se se valeria à pena sair do seu quarto para tomar café da manhã. De repente, ouviu algumas batidas à sua porta. No entanto, quem quer que estivesse do outro lado não proferiu nenhuma palavra, tornando-se impossível de reconhecer.

Contudo, os únicos que sabiam da localização de seu quarto eram Abel e seus outros companheiros da Magia Lupus. Cogitando ser algum deles abriu a porta sem pestanejar apenas para entrar em completo estado de choque ao ter em sua frente ninguém menos que Orter.

— I-irmão?! – Exclamou incrédulo. Tudo o que ele não queria agora era ter de ouvir a confirmação de tudo o que estava pensando vindo de seu próprio irmão.

Em um ato de desespero, tentou buscar uma brecha entre seu irmão e a porta para fugir dali. Porém, teve seu pulso segurado pelo mais velho. Não tinha mais para onde fugir. Agora iria pagar pelo seu descumprimento da promessa. Contudo, ao sentir um abraço caloroso do seu irmão pelas suas costas o tempo pareceu parar, mas era uma pausa gentil que Wirth desejava que durasse para sempre.

— Eu estou aqui. – Disse calmamente o maior.

Essas 3 palavrinhas, aparentemente simples foram mais do que suficientes para fazer o menor derramar lágrimas. Não havia necessidade de dizerem mais nada. Apenas o aqui e agora que importava.

Afinal de contas, eles eram os reflexos um do outro, na força e na fraqueza, mas o laço era indestrutível. Não importa o quão caótico o mundo o fosse, eles reagiriam 10 vezes mais intensamente. Nada nem ninguém tinha o direito de roubar a felicidade deles, pois o que mais importava sempre esteve ali e sempre estaria.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu havia lido em algum lugar também que os óculos do Wirth seriam a forma dele se espelhar no Orter. Então, peguei essa ideia como base pra escrever o passado deles aqui.

À propósito, o "Madoro" do meu nick de usuário foi inspirado neles, hahaha



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Reflexo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.