Doce Mistério escrita por Kah Nanda


Capítulo 5
Doces Lembranças


Notas iniciais do capítulo

Boa noite meninas. Quem é vivo sempre aparece e como graças a Deus continuo vivíssima da Silva, aqui estou. E o melhor, em uma segunda-feira.
Quero pedir imensas desculpas pelo atraso, obviamente não tive a intenção e apesar dessa postagem, ainda estou lhes devendo capítulos. Pois hoje deveríamos estar curtindo o sétimo e não o quinto, mas prometo fazer o máximo para me reorganizar o mais rápido possível e voltarmos às atualizações semanais como esperado.
Enquanto isso, não deixem de curtir a leitura e efetuar suas reviews como incentivo e apoio. Pois procurei escrever a narrativa de forma clara e dinâmica diante dos fatos de presente e passado. Então espero que gostem do que estão prestes a ler. Até as notas finais.
Apreciem Sem Moderação.

Capítulo Postado Em: 18/03/24



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— Papai, essa é a minha amiga Bella. – Contou, mantendo o tom alegre. – E Bella, esse é o meu pai. Ele se chama Edward.

Como bem previ que aconteceria naquele dia, Nessie não perdeu tempo em efetuar as apresentações.

Só que tanto seu pai, quanto eu, não conseguimos emitir nada além da continuação da troca de olhar firme e bastante efetiva.

Contemplando uma profusão de sentimentos guardados desde a última vez que ficamos frente a frente, ainda que na época, bem mais próximos do que estamos agora e com os corações cheios de sentimentos inebriantes.

Ao menos sei que o meu estava...

Mais uma vez, ele foi o primeiro a quebrar o contato visual, redirecionando o olhar direto a filha.

— Nessie, nós temos que ir.

Gostaria de dizer, afirmar e especialmente, sentir que ouvir sua voz depois de tanto tempo, não me abalou. Mas ao menos comigo mesma, não posso emitir tal negativa.

— Mas papai...

— Quem lhe acompanhou até aqui?

— Eu vim sozinha. – Ela respondeu firme. – Eu vi a Bella e quis falar com ela.

— Você sabe que não deve se afastar da escola sozinha.

— Eu também a vi quando ela deixou o prédio e fiquei de olho durante o tempo em que atravessou.

Consegui pronunciar, de alguma maneira, sem gaguejar e mantendo o tom neutro e seguro.

Talvez, muito mais por saber que precisava tentar defender a menina e tranquilizar o pai de que não correu riscos ao efetuar a escolha de vir falar comigo.

Com isso, seu olhar ergueu novamente, voltando a focar em mim.

— Eu agradeço a atenção.

Apesar do agradecimento, pude perceber a dificuldade em seu semblante por necessitar fazê-lo.

— Não foi nada demais. – Justifiquei.

Ele assentiu rápido, segurando a mão da filha e voltando a falar somente com ela.

— Nós realmente temos que ir.

— Mas eu queria ficar mais tempo com a Bella.

Novamente, agi pensando somente no melhor para a garotinha.

— Vá com o seu pai Nessie. – Indiquei. – Imagino que tenham compromissos a cumprir e eu também já vou embora.

Ela fez menção de contrariar, mas logo completei.

— Mas em breve voltaremos a nos encontrar, tudo bem?

— Você promete?

— Eu prometo.

Parecendo aceitar a resolução, ela se inclinou e logo o fiz também para abraçá-la.

— Tchau Bella.

— Tchau Nessie.

Ela voltou a dar a mão para o pai e o seguiu conforme começaram a caminhar, mas não sem antes acenar uma última vez. Repliquei o gesto e antes de também virar ao rumo oposto, vislumbrei os orbes verdes de relance, então nos afastamos de vez.

Enquanto meus pés agem por si, levando-me de volta ao hotel. Minha mente adquiriu vida própria enredando-me a uma sucessão de lembranças...

A extensão do gramado que preenche a colônia se desenvolve para além dos terrenos privados da propriedade, fazendo com que seja possível desfrutar de um lazer confortável para além dos domínios internos.

E tomei conhecimento disso, por ter começado a encontrar Edward por essa área sempre que possível. Geralmente, ficamos conversando quando ele volta do trabalho.

No fim de semana passado, não foi possível me ausentar da pousada, pois programações de verão foram implementadas e tivemos que participar.

Enquanto que nesse, Edward novamente só teve uma folga distinta hoje e somente pelo período da tarde, então para não cansá-lo, sugeri aproveitarmos por aqui mesmo, mantendo a rotina confortável dos outros dias.

O contato que iniciamos ao nos conhecer e começou a ser pontuado pouco a pouco conforme continuamos a nos integrar, atingiu um novo ponto após a primeira vez em que saímos efetivamente e acabei sendo brindada com meu primeiro beijo...

Desde então, estamos avançando continuamente em vários aspectos. Tanto quanto as conversas e a forma como atrelamos conhecimento da vida do outro. Como também, quanto à parte mais física dessa relação, com a evolução e progresso dos nossos beijos.

Que para minha imensa sorte, continuo a usufruir tendo perdido as contas desde o primeiro instante em que atingimos esse passo. E ainda que não tenha muita ideia do que realmente está acontecendo, já que esse não é um assunto que falamos, não consigo me importar com nada além da alegria que sinto quando estou em sua presença...

— No que está pensando?

Sua voz preencheu não só meus sentidos, mas efetivamente meus ouvidos, já que ele apareceu por trás de mim, surpreendendo-me com a chegada.

— Edward...

— Te assustei?

Questionou sorrindo e sentando ao meu lado.

— Um pouco. – Admiti. – Estava distraída e não ouvi seus passos.

— Eu percebi. – Pontuou. – Por isso minha pergunta. No que estava pensando?

Analisei um pouco sobre informar a verdade ou não, mas no fim, acabei cedendo.

— Em você...

— Como?

— Estava pensando em você. – Confirmei.

— Ah, Bella...

— Estava pensando sobre tudo que aconteceu na minha vida desde que te conheci.

— Coisas boas, espero.

— Mais do que maravilhosas...

— Também tenho me sentido assim em relação a você. – Afirmou, aproveitando para tocar meu rosto. – Não esperava encontrar alguém tão especial nesse verão, mas você surgiu como uma linda surpresa.

— Posso dizer o mesmo. – Enunciei, continuando a desfrutar do afago. – Não estava em nenhum dos meus planos conhecer um rapaz. Ainda mais por saber que viria para uma colônia de férias só para garotas.

— Imagino o que seus pais pensarão quando souberem...

Ele se recostou melhor sobre a grama e assim, deixou de tocar meu rosto. Talvez por conta disso, não tenha visto minha expressão mudar.

— Na verdade, essa será uma preocupação somente para o meu pai. – Contei.

— Porque ele é superprotetor com você?

— Também. – Concordei com um aceno. – Só que o motivo principal é porque minha mãe já não está mais conosco...

Os orbes verdes arregalaram enquanto ele paralisou a minha frente.

— Bella, eu não...

— Está tudo bem.

— Não, eu não sabia...

— Justamente. – O cortei. – Não tinha como você saber ou mesmo adivinhar.

— Sim, mas de todo modo, sinto muito.

— Obrigada.

Apesar do meu tom calmo, posso notar que ele ainda não está tranquilo e parece também um pouco curioso.

— Você pode me perguntar qualquer coisa. – Citei.

— Você não se importa em falar sobre ela?

— Não. – Admiti. – Eu tenho saudades constantemente, mas falar ou não, não as diminui ou atenua. Então é bom falar, pois isso traz as boas recordações.

— Eu compreendo. – Ressaltou. – Mas acontece que gostaria de perguntar quando aconteceu.

— Foi há quase cinco anos

— Nossa. Você ainda era uma menina.

— Eu completei 15 anos pouco tempo depois. – Informei.

— E poderia saber o que houve?

— Uma fatalidade. – Pontuei. – Mamãe sempre foi uma mulher bastante saudável, cuidava-se bem e constantemente, como do meu pai e eu. Mas todo seu estilo de vida não a impediu de desenvolver um câncer de mama.

— Nossa...

— E foi bastante agressivo, quando ela descobriu, já não havia muito a ser feito. – Relatei. – E olha que meu pai teria movido céus e terras para salvá-la, como praticamente fez, mas não houve como reverter à situação e há perdemos poucos meses depois.

— Eu realmente sinto muito Bella. – Emitiu novamente. – Não existem palavras melhores e se existissem, saiba que as procuraria. Mas eu realmente lamento muito que tenham passado por isso.

— Eu agradeço e sei que é sincero.

— E você é filha única, não é?

— Sim. Então restamos somente papai e eu. Quer dizer, agora também temos a tia Carmen.

— Quem é essa?

— A irmã mais nova do meu pai. – Contei. – Que passou a morar conosco para ajudá-lo na minha criação.

— Que bom que contam com esse apoio.

— Sim, ela tem nos ajudado bastante...

Observei o céu, sentindo uma brisa nos rodear. E apesar do que disse ser verdade, sobre não ver problema em falar da minha mãe, também quero saber mais sobre ele.

— Mas e quanto a você? – Perguntei. – Como é a sua família?

— Somos bem comuns. – Disse como se fosse suficiente, mas continuei olhando-o a espera de mais. – Meus pais são pessoas simples, como minha irmã e eu.

— Quem é o mais velho?

— Ela. – Contou. – Rose é três anos mais velha do que eu.

— E foi legal crescer com uma irmã? – Emiti a curiosidade. – Eu sempre quis saber como seria a experiência de ter tido um irmão.

— Acho que esse é um daqueles pontos que somente podemos saber ao certo, tendo passado pela experiência. – Ponderou. – Eu nunca saberei realmente se gostaria de ter sido filho único, como você também não pode afirmar que teria sido bom ter irmãos.

— Isso é verdade. – Concordei. – Mas quanto a vocês dois? São bons irmãos?

— Sim. – Sorriu. – Ainda mais hoje em dia que estamos crescidos e já nem moramos juntos.

— E por que não?

— Porque Rose agora mora com o marido.

— Ela já é casada?

— Tem pouco mais de um ano.

— E você gosta do marido dela? Vocês também se dão bem?

— Sim, o Emmett, seu marido. É uma ótima pessoa. – Contou. – Eles se conheceram quando ela passou a trabalhar na loja dos pais dele e desde então, não se separaram mais.

— Que legal. – Citei. – Então agora, além da sua família de sangue, você tem até mesmo um cunhado.

— Pois é.

— Esse foi um dos motivos que mais me fez ficar contente pela chegada da tia Carmen, pois apesar de não termos convivido muito durante minha infância, agora ela complementa nossa família. Do contrário, seríamos somente o papai e eu.

— Mas você ainda pode ganhar mais familiares ao longo do tempo. – Comentou. – Basta se relacionar com alguém que tenha irmãos, então também terá cunhados, talvez sobrinhos...

— E filhos...

As palavras simplesmente saíram e agora não há como recuperá-las, mas acho que não o assustei, pois ele não desviou do assunto.

— Você sonha em ter filhos?

— Muito. – Respondi convicta. — É realmente um sonho...

Foquei em seu rosto, observando o brilho dos olhos e questionei.

— E você?

— Sinto exatamente o mesmo. – Confessou. — Penso e sonho muito sobre ser pai.

— De verdade?

— Com certeza. – Afirmou. – Eu tive bons modelos de criação e não me vejo seguindo um caminho diferente.

— Eu também não. – Deixei claro. – Não somente pelo exemplo que acompanhei com meus pais, mas especialmente por mim. Pelo que realmente desejo.

— E o que você deseja?

— Viver um grande amor. – Admiti. – E a partir dele, construir minha nova família.

— É um lindo desejo. – Anunciou. — Espero muito que se realize...

Até hoje, não tinha parado para pensar efetivamente sobre como poderia estar sua vida.

Acredito que muito se deva pelo fato de tentar ao máximo não pensar nele. Seja quanto ao que vivemos no passado ou o que pudesse estar vivendo no presente.

Mas agora que as informações estão outra vez diante de mim, é impossível não relembrar tudo que compartilhamos um dia e até mesmo, o que aspiramos viver juntos...

Contudo, tendo conhecido a Nessie e me encantado completamente, não consigo não ficar feliz por saber que ao menos ele realizou o sonho...

Continuamos a conversar sobre diversos assuntos. Com ele falando um pouco mais sobre a vida aqui no Nebraska, enquanto o atualizei sobre meu próprio lar e as outras cidades que já visitei.

Porém, como tudo que é bom dura pouco, infelizmente chegou o momento de nos despedirmos...

— Quer que te acompanhe até o portão da colônia? – Ele ofereceu.

— Não precisa.

— Não quer ser vista com o rapaz simples do interior?

Apesar da frase, o tom e o sorriso mostram que está somente brincando.

— Na verdade, não quero me despedir em frente à colônia, porque gostaria de fazê-lo com um beijo e não acho que seria muito prudente...

Não conclui, pois logo minha boca foi ocupada com uma função muito melhor...

Pois beijá-lo é simplesmente surreal.

Provavelmente não há definição melhor ou talvez haja, não sei, mas o fato é que sempre fico completamente inebriada quando nos beijamos...

— Se eu pudesse, passaria todos os momentos possíveis te beijando.

Proclamou, ainda diante dos meus lábios.

— Você não receberia protestos meus.

Deixei claro, antes de mais uma vez ser envolvida por essa aura deliciosa que só ele é capaz de despertar em mim...

— Poderemos nos ver amanhã? – Questionou.

— Você terá tempo de ficar um pouco? Para mais do que uma passada?

— Darei um jeito. – Afirmou. – Pois com certeza preciso ganhar outros beijos como esses.

— E por quê? – Alisei sua nuca. – Para ajudá-lo a superar a segunda-feira?

— Seria um bom motivo, mas na verdade, gostaria de ser brindado com o sabor dos seus lábios, porque amanhã é o meu aniversário.

Sem perceber, acabei nos afastando, em choque por conta da revelação.

— O que?

— O que foi Bella?

— Amanhã é o seu aniversário? — Enfatizei extasiada.

— Sim, mas qual o problema?

— Como você me diz isso assim? E agora?

— O que tem demais? Não estou entendendo.

— O que tem demais? — Reforcei. – Como poderei presenteá-lo? Se você só me avisou agora?

Continuei a emitir os pensamentos que começaram a me rondar.

— Nem os comércios locais estão mais abertos e não poderei ir ao centro amanhã, mas também, não sei o que poderia lhe dar...

— Hey. Bella. Hey. – Ele tocou meus ombros, me contendo. – Você não precisa me dar nada.

— Mas...

— Se bem que falei sobre os beijos. Se puder ganhá-los, já serão um grande presente...

— Edward...

E tomando mais uma vez meus lábios entre os seus, acabei entregando-me e por hora, não contestando mais o assunto...

 

Ele conseguiu me ludibriar ontem à noite antes de nos despedimos, mas desde o instante em que o deixei, não parei de pensar em todas as possibilidades e o que poderia fazer em forma de comemorar seu aniversário...

Comprar um presente estava fora de cogitação, pelos motivos que lhe disse ontem e por alguns outros. Então quando chegou o horário da minha aula de culinária do dia, a resolução caiu sobre o meu colo...

Tratei de tudo de maneira comedida para não levantar suspeitas, nem mesmo de Alice, pois apesar de estarmos cada dia mais próximas e confiar plenamente nela quanto a minha relação com Edward. Fiquei com receio que ela não conseguisse se conter e acabasse chamando atenção para o meu propósito.

Depois de tudo pronto, somente retornei ao quarto para tomar banho e me arrumar. Passando a aguardar pacientemente pelo momento de encontrá-lo...

Quando o horário costumeiro foi chegando perto, deixei meu dormitório levando o pequeno embrulho em mãos. Passei pelos campos da colônia em direção a saída tranquilamente e não precisei esperar mais do que alguns minutos para avistá-lo.

Ele se despediu prontamente dos colegas e passou a caminhar em minha direção, enchendo meus olhos com sua beleza singular.

Mesmo hoje estando vestido com o uniforme do trabalho e não com suas próprias roupas. Que apesar de simples, combinam extremamente com ele.

— Olá.

Saudou ao parar a minha frente.

— Oi aniversariante.

— Então você não esqueceu?

— Pode ter certeza que a partir de agora, nem que se passem cem anos, jamais poderei esquecer.

— É uma promessa bastante séria.

— Que pretendo cumprir.

— Quer ir para o nosso lugar?

— Nós já temos um lugar?

— Gosto de pensar que sim.

Ele estendeu a mão e a peguei sem hesitar, caminhando consigo e ouvindo os relatos do seu dia, inclusive, que falou com a mãe e a irmã por telefone.

Infelizmente não pôde falar com o pai, pois a chamada foi feita no trabalho da irmã, onde possui telefone, já que seus pais não têm linha ou aparelho próprio em casa.

Passei alguns segundos refletindo sobre essa discrepância. Em quantos privilégios usufrui a vida inteira, enquanto Edward foi criado em um universo bastante diferente...

— No que está pensando?

A pergunta veio tão logo sentamos e como um déjà-vu, foquei o olhar em si, ao ouvir o questionamento semelhante ao de ontem.

— Em como gostaria que pudesse passar seu aniversário com a sua família. – Declarei. – Não é justo que esteja sozinho.

— Mas eu não estou sozinho. – Contrapôs. — Eu estou com você. E nesse momento, não poderia querer companhia melhor...

— Você não está falando sério. – Pontuei.

— Eu estou falando muito sério. – Rebateu. – E você não tem o direito de me contradizer, pois é o meu aniversário.

— Está bem. – Consenti. – Porém como infelizmente não tenho como magicamente fazê-lo encontrar seus pais. Fiz uma coisa para não deixar seu aniversário passar totalmente em branco.

— Bella... – O tom de alerta veio claro em sua voz. – O que você fez? Eu disse que não queria presentes, muito menos que gastasse dinheiro comigo...

— Primeiro me ouça, por favor. – Diante do pedido, ele ficou em silêncio. – Se eu pudesse, teria mesmo comprado alguma coisa, mas ao constatar efetivamente que isso não seria possível, acabei tendo outra ideia.

Estendi-lhe o embrulho e mesmo um pouco reticente, o aceitou.

— O que é isso?

— Abra e descubra.

Com cuidado, ele desfez o arranjo que arrumei e imediatamente sua expressão mudou.

— Bella, isso é...?

— Um bolo. – Citei. – Quer dizer, um pedaço de bolo.

— Um belo pedaço de bolo. – Destacou.

— Se pudesse, teria trago o bolo inteiro, mas como o fiz na aula de culinária, não teria como simplesmente sair sem maiores explicações.

— O gesto é o que mais vale. – Afirmou. – Além do mais, esse ainda é um pedaço muito generoso. Você o dividirá comigo, não é?

— Sim, mas primeiro você precisa passar pelo ritual completo.

Antes que ele pudesse levantar a dúvida, retirei pequenos objetos do bolso.

— Onde você conseguiu uma vela de aniversário?

Foi sua primeira pergunta, ao notar o adorno junto a um isqueiro.

— Na colônia. – Informei. – Uma menina fez aniversário na semana em que chegamos e eu sabia onde foi guardado os enfeites que sobraram.

— Você é realmente muito esperta.

— O bolo é importante, mas sem uma vela de aniversário, não haveria comemoração e pedido.

— Pois então, vamos lá.

Com cuidado, posicionei a vela sobre o pedaço de bolo e a acendi, começando a cantar as felicitações e ao término da canção, Edward fechou os olhos e depois a assoprou, enquanto bati palmas animada.

— Feliz aniversário, Edward.

— Muito obrigado Bella. De verdade.

— Agora pode provar seu bolo.

— É a parte que mais estava esperando.

Ele retirou um dos garfos que estavam junto ao prato e pegou um pedaço.

— Mas lembre-se. Eu ainda estou aprendendo a cozinhar e pode não ter ficado tão bom ou do seu agrado...

— Shhh.

A contenção veio atrelada ao toque dos seus dedos nos meus lábios.

— Deixe-me saborear mais um pouco, porém já tenho muito a dizer.

Acatei o pedido passando a somente observá-lo enquanto come mais um pedaço do bolo e quando se deu por satisfeito, ao menos momentaneamente, voltou a falar.

— Bella, esse é simplesmente o bolo mais gostoso que já comi na vida.

— Para Edward.

— Eu estou falando sério.

— Você não precisa me adular ou mentir para mim.

— Eu não estou fazendo nenhuma das duas coisas, apenas falando a verdade. – Tentei refutar novamente, mas ele impediu. – Bella, se não estivesse bom ou mesmo aprazível. Eu simplesmente agradeceria pelo gesto simpático. Mas estou elogiando, porque realmente gostei. Está muito bom, tanto que se não se manifestar para dividi-lo comigo, é possível que acabe comendo tudo.

— Você pode comer, afinal de contas, fiz para você.

— E eu agradeço muito. – Sorriu. – Não só pela dedicação e o gesto, mas por ter feito algo tão bom.

— Você jura?

— O que mais posso dizer? – Ponderou. – Não sei bem como isso funciona, mas você deve ter mão para cozinhar, ainda que esteja aprendendo.

— Obrigada Edward.

— Agora aceita dividir um pouco comigo?

— Eu falei sério, pode comer tudo.

— Quer saber? Tenho uma ideia melhor sobre como dividir o bolo.

— De que maneira?

— Assim.

Então me beijou e recebi o doce do bolo atrelado aos seus lábios, deixando a sensação ainda mais gostosa.

— Obrigado.

— Por que está me agradecendo?

— Por ter marcado esse aniversário de um jeito especial...

Não foi preciso dizer mais nada, pois demos um uso muito melhor as nossas bocas.

Rendendo-as pelo tempo que foi possível em meio a uma sucessão de beijos doces...

Tendo agido no automático desde o momento em que nos despedimos entre as ruas da sua cidade natal.

Segui de volta ao hotel, ao passar pelo saguão, recusei a sugestão de jantar e após entrar no meu quarto, somente caminhei até o banheiro. Não apenas para efetuar minha higiene, mas especialmente, para deixar que minhas lágrimas pudessem escorrer livres enquanto as lembranças continuaram a me rodear.

E isso continuou até a hora em que fui dormir, com as memórias se intercalando com o mundo dos sonhos...

Em meio as nossas conversas, no lugar já considerado nosso, estamos recostados a uma árvore. Na verdade, Edward está, pois ele mantém minha cabeça acomodada em seu peito e não poderia pedir por mais.

E diante de comentários aleatórios, enquanto observamos o céu ainda claro, ele comentou sutilmente.

— Como será a sensação de andar de avião?

— Você nunca andou?

— Não. – Respondeu. – Nunca houve a oportunidade ou necessidade, já que jamais deixei o estado. E para os percursos mais longos que fiz, fui de ônibus.

— Nossa, pois acho que a primeira vez que andei de avião, ainda era bebê de colo. – Contei. – Em alguma viagem com meus pais. E depois disso, voei tantas outras vezes, seja em viagens de família ou somente com a minha mãe em meio aos períodos que modelava.

— Até mesmo para vir para cá, você veio de avião, não foi?

— Sim.

Ele balançou a cabeça, mas algo em sua expressão me fez questionar.

— O que foi?

— Nada. Só estou pensando em uma coisa.

— No que? – Insisti. – Me conta, por favor.

Ele se movimentou um pouco e com isso, acabei sentando para poder olhá-lo melhor.

— No quanto somos diferentes. – Informou. – E temos vidas completamente distintas.

— Sim. Isso até pode ser verdade. Mas o que tem demais?

— Você não vê Bella? – Ressaltou. – Existem tantos motivos e razões para qualquer coisa entre nós não dar certo.

Agora foi a minha vez de emitir um olhar contrariado.

— Sem contar, o maior de todos. – Prosseguiu. – O fato de não ser merecedor de você.

— O que? Não. — Pontuei firme. – Como pode pensar algo assim?

— Porque é a verdade. – Disse parecendo convicto, apesar de estar errado. – Você vem de uma família abastada e já viveu inúmeras experiências que sequer posso imaginar. Enquanto eu sou de uma família humilde, com uma vida simples.

— E o que isso tem a ver?

— Tantas coisas...

Gostaria de poder admirar o toque que executou ao mexer no cabelo, mas não pude tamanha minha indignação.

— Eu tenho muito orgulho da minha origem e de tudo que meus pais são e ensinaram a minha irmã e eu. – Continuou a relatar seus pensamentos. – Porém a nossa realidade é totalmente outra. Meus pais proveram nossa família com seus empregos de zelador e merendeira do colégio de Valentine. Enquanto minha irmã começou a trabalhar cedo também e por conta disso, acabou conhecendo o marido e começou a mudar um pouco de vida. Então sou o primeiro a estar tendo a oportunidade de frequentar uma faculdade, mas somente porque é uma instituição comunitária.

Ele tomou uma respiração, mas não ousei interrompê-lo.

— E eu prezo muito isso, porque sei que não será um mérito ou conquista só minha, mas de toda a minha família. – Declarou. – Já que nem mesmo Rose pôde escolher por esse caminho.

— Sim, você contou.

— E é por essa razão que venho para cá no verão. Porque apesar de ter um emprego fixo na cidade, trabalhar aqui me rende um bom dinheiro extra. Que uso totalmente para auxiliar minha família.

— Eu compreendo e acho sua atitude mais do que louvável. – Deixei claro. – O ponto que não entendo, é porque resolveu falar sobre tudo isso. Ainda mais, querendo ressaltar as diferenças entre nossas famílias ou vidas.

— Porque é algo que temos que ter muito claro, sempre.

— Sabe o que eu sei Edward? — Finalmente rebati. — Que não ligo para nada disso.

Ele ficou quieto e prossegui.

— Estando aqui com você, nada disso importa. – Enfatizei. – Na verdade, não sou capaz de ver diferença alguma entre nós.

— Mas elas existem...

— Mas sabe o que realmente importa? – Contrapus rápido. – Como nos sentimos. E quando estou contigo, eu me sinto como uma princesa.

Toquei seu resto e foquei nossos olhares.

— Uma princesa vivendo seu conto de fadas. – Anunciei. — Ainda que seja somente pelo verão...

Há pouco estávamos em meio a uma firme troca de olhares, mas em um piscar de olhos, passamos ao toque fervoroso.

Não só entre as bocas, já que Edward me puxou tão intensamente para si, que acabei parando em seu colo, mas é claro que não me importei nenhum pouco.

Já que a sensação das suas mãos fortes nas minhas costas, atrelado ao contato mais direto e tudo acontecendo enquanto continuamos a nos beijar, somente foi me jogando em um ponto quase sem volta.

— O que eu vou fazer com você?

Recitou a frase que disse no dia em que nos beijamos pela primeira vez.

E apesar de ter inúmeras respostas para essa pergunta, optei pela mais simples e direta.

— Continue comigo. – Pedi. – Não pense demais. Nos mundos aos quais pertencemos. Em quem somos fora daqui. Ou no que acontecerá quando o verão acabar.

Encostei a testa na sua e prossegui.

— Somente continue comigo. Proporcionando-me os melhores momentos da minha vida.

— Que também estão sendo os meus. Tenha certeza disso.

— Então vamos aproveitar...

Ele tocou meu rosto e me rendi à carícia, inclinando para voltarmos a nos beijar.

E algo deve ter se rompido ou apenas encontrado um novo ponto, pois Edward deixou de demonstrar o jeito contido com que tem me tratado desde que nos conhecemos, passando a transparecer um novo lado ainda mais intenso...

— Edward...

Murmurei inebriada ao sentir sua boca seguindo caminho pelo meu pescoço.

E apesar de não ter experiência alguma com o seguir além, deixei simplesmente meus instintos me guiarem.

Devolvendo as carícias e toques aos poucos e muito mais, sendo receptiva a sua entrega.

— Ah, Bella.

Sorri abalada ao ouvi-lo, pois tal sussurro veio após me movimentar um pouco mais sobre o seu colo.

— Você disse que estava se sentindo como uma princesa, mas acho que está mais para fada. – O olhei de lado. – Pois sinto que só pode ter colocado um feitiço em mim, mas um que estou muito feliz por desfrutar...

Tocando em sua nuca, voltei a conduzir nossas bocas à maravilhosa dança que descobri com ele.

Continuando a desejar que esse conto de fadas tenha o melhor dos desfechos...

CONTINUA.


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Notas finais do capítulo

N/A: Até o momento presente, esse desfecho não parece estar acontecendo como a Bella esperava, mas o futuro a Deus pertence, não é mesmo?
Sei que no tempo atual as coisas estão indo devagar, pois apesar de Beward terem efetivamente se reencontrado, somente trocaram poucas palavras. Isso porque esse capítulo era mais sobre o passado mesmo e ainda há muito a acontecer. Porém prometo que o desenvolver efetivo está por vir e não demorará muito.
Agora quanto às lembranças, o que acharam? Eles conversando sobre a vida, revelando e descobrindo mais do outro, inclusive sobre o aniversário do Edward. E a atitude da Bella? Terá sido o prenúncio do seu sonho atrelado à culinária? Contudo, também vimos um pouco dos receios que ele possuía. E apesar de nessa ocasião, aparentemente ela ter lidado com tudo muito bem. Será que foi o bastante para não voltar a interferir na relação deles?
Isso e mais vocês acompanharão nos próximos capítulos, que com fé em Deus, não demorarão tanto para sair. Mas enquanto isso quero muito ler suas reviews. Por favor, agora mais do que nunca o feedback será um grande combustível. Enviem as boas energias nos comentários. Sigam-me no twitter: @KNRobsten. E até a próxima.
~Kiss K Nanda.



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