Despedida de Casal escrita por Fushigikage


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Hey, olá!~

Tem uns dois anos que eu não pego nada para escrever. Dois anos em que muito mal anoto ideias e deixo no fundo da gaveta e essa aqui é uma delas. Não sei se funciona, mas resolvi escrever de qualquer jeito e postar hoje ?“ que é quando a ideia inicial completa um aninho (!!!).

Não tem beta, não tem nada além da minha pessoa digitando loucamente, então se estiver com erros/ruim/sem sentido, me avisem!!

Ah, e a música que originou essa fanfic mucho loca é Despedida de Casal do Gustavo Mioto!
(Pois é, a ideia é tão boa que até ignorei que não curto esse tipo de música, pois é)


E acho que é isso. Boa leitura!



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Ele definitivamente não queria ter recebido aquela carta. Contudo, quando se convive com alguém por quase vinte anos, certos padrões e atitudes tornam-se claros como a água e tão óbvios que não há surpresa alguma quando finalmente acontece. Ele estava decepcionado, é claro, mas jamais estaria surpreso – afinal de contas, quantas vezes já haviam vivido aquilo?

Missy estava fora há pouco mais de um mês – fora “espairecer, visitar algumas amigas”, palavras dela. O contato que tiveram nesse período foi mínimo, limitado a ligações curtas e cruas demais, quase impessoais. Não que isso fosse estranho para eles; desde que começaram a se relacionar anos antes, quando ainda estavam na faculdade, essa era uma constante na vida deles. De tempos em tempos, Missy precisava de um tempo sozinha e ele pacientemente aguardava pela sua volta. Ele próprio precisava de algum tempo sozinho de vez em quando e ela nunca o recriminou por isso. Era algo deles e, naquele relacionamento, parecia funcionar muito bem.

Enquanto terminava de se arrumar, lançou um olhar rápido para o papel aberto em cima da cama. Aquela carta chegara na semana anterior e nela Missy parecia ansiar por vê-lo – mesmo que sua escrita estivesse mais seca do que o normal. O envelope era de veludo e o papel parecia caro, a caligrafia impecável e o perfume dela estavam presentes. Em poucas palavras, escreveu marcando encontro no primeiro restaurante que ele a levou.

No seu íntimo, sabia o que aconteceria naquela noite. Ainda assim, escolheu sua melhor roupa e, ao olhar o próprio reflexo no espelho, viu-se próximo aos trinta anos novamente – aquele frio na barriga, as mãos suadas e a garganta seca estavam novamente lá, ainda que o motivo fosse diferente. O homem passou a mão nos cabelos grisalhos e, deixando que um suspiro escapasse de seus lábios, ele saiu.

Mesa pra dois num restaurante chique

Vinho chileno, na entrada um ceviche

Toda cheirosa, fez até penteado

Batom vermelho e vestido colado

Ela não o estava aguardando, o que ele já esperava, já que chegar na hora marcada não era algo que ela gostasse de fazer. A mesa reservada por ela era a mesma que ele havia reservado para eles anos antes – ficava na área externa do restaurante, o céu estrelado acima deles, assim como outrora. Seria um belíssimo jantar à luz de velas, porém a lua estava cheia e estupidamente brilhante naquela noite e iluminava tudo ao redor.

Todavia, assim que seus olhos a avistaram, sentiu seu coração acelerar dentro do peito, todo e qualquer pensamento paralisado pela visão estonteante de Missy em um vestido índigo belíssimo. Todo o conjunto era perfeito: o vestido fazia jus às suas belas curvas, a maquiagem realçando sua beleza e de uma forma que não esperava, ela parecia a mesma de quase vinte anos antes. Era como se estivesse recriando aquele primeiro encontro e, fosse algo consciente ou não, ele estava sem palavras tal qual ela o deixara antes.

“Demorei?” — Ela perguntou, sentando-se à frente dele, sem quebrar o contato visual.

Ela passou a noite sorrindo

Falou que eu ‘tava lindo

Queria que a noite fosse inesquecível e foi

Eles conversaram como há muito não faziam. Ela lhe contou de sua última viagem a Paris; ele lhe contou de um congresso que havia ido duas semanas antes. Relembraram de como se conheceram, de como se aproximaram, de seu primeiro beijo – algo que ambos classificaram como “inusitadamente sexy”, antes de cair no riso. Tudo estava indo bem naquela noite – bem até demais, o Doutor observou mentalmente. Seus olhos buscaram os dela e ela não desviou dele.

— Você quer dizer alguma coisa? — Ela ofereceu e ele podia jurar que havia uma pontada de tristeza ali.

Eles já estiveram ali antes. Estiveram muitas vezes, mas dessa vez era diferente e, em seu íntimo, ele nunca duvidou disso.

— O que você quer que eu diga? — Ele deu de ombros parecendo indiferente, mas sua voz saiu aguda demais, traindo-o. — Tudo o que eu vou dizer, você já sabe. Então, qual o sentido disso tudo?

As palavras pareceram atingi-la, pois ela desviou o rosto e seus olhos pareciam não olhar para nenhum lugar em especial.

— Mas eu quero ouvir — ela disse, simplesmente. — Todas as vezes, sou eu quem fala. Quero que você fale. Quero saber como você se sente.

— Oh, — aquilo o atingiu de uma forma que ela não esperava, pois o rosto dele ficou vermelho. Aquela não era a primeira vez que tinham essa conversa, mas era a primeira vez que a tinham dessa forma. — Você quer saber como eu me sinto? Sério?

— Você acha que eu usei você? — Ele não responde, mas ela já sabe a resposta. Os olhos dela brilham com as lágrimas que ela teima em não derramar, enquanto os dele deixam que elas rolem livremente pelo rosto.

Nada do que ela dissesse faria a dor dele diminuir – ela própria estava sofrendo. Mas essa era uma decisão que precisava ser tomada e, por mais que doesse agora, seria bom para ambos – ou, pelo menos, era nisso que ela acreditava. O que eles tinham era maravilhoso, mas era destrutivo e nenhum dos dois merecia esse sofrimento. Sua última viagem a fez pensar a respeito e ela chegou a conclusão de que não havia um futuro para os dois. O que tiveram foi maravilhoso, mas era chegada a hora de separar os seus caminhos.

Ele não se moveu, sequer abriu a boca. Seu olhar era resignado e havia tanta dor ali que Missy fez um enorme esforço para não mandar tudo para o inferno e beijá-lo ali mesmo, assim como fizeram outras vezes. Mas agora era diferente e ela precisava ser forte – ambos precisavam.

— Adeus, Doutor. — Ela se levanta e se afasta, sem esperar que ele lhe responda.

Foi nosso jantar à luz de adeus

Nossa despedida de casal

Ela terminou sem derramar nenhuma lágrima

E eu ainda não digeri esse final

‘Tá engasgado aqui aquele tchau

Levou alguns longos minutos até que ele conseguisse se recompor. As palavras dela ressoavam em sua cabeça, aquele misto de sentimentos deixando um gosto agridoce na boca. No fundo, ele sabia que isso aconteceria. E, bem, já havia acontecido outras vezes – mas dessa vez era diferente, ele sabia disso e saber não tornava as coisas mais fáceis. Ele não estava surpreso, mas estava terrivelmente decepcionado. Decepcionado com ela, com ele, com a vida. Era confuso e desesperador e ele não podia fazer nada além de chorar e desejar que tudo não tivesse passado de um engano.

Entretanto, ele sabia que era real. Missy havia escolhido o local perfeito para terminar o seu arranjo – aquele era justamente o lugar onde tudo havia começado. A noite maravilhosa foi enterrada pela anfitriã quando ela decidiu que era hora de partir.

Ele não sabe como chegou em casa naquela noite. Mas de uma coisa ele sabia: aquela seria uma noite inesquecível para ele.


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