Curioso fenômeno escrita por WinnieCooper


Capítulo 2
Aquele do que a Catarina ia dizer ao Petruchio antes do Buscapé interromper


Notas iniciais do capítulo

Título: Aquele do que a Catarina ia dizer ao Petruchio antes do Buscapé interromper



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Catarina estava ainda à flor da pele pelos últimos acontecimentos, tudo era muito confuso, se sentia uma boba, uma tonta por ter confiado meses em Lindinha enquanto ela tramava por suas costas. Logo ela, que tinha a defendido perante Petruchio. Não hesitou em defendê-la e acusar Petruchio, não confiou em seu marido. Acreditou que a sobrinha de Calixto havia sido abusada por seu patrão. E gora ela lhe despejava palavras de desprezo e rancor.  Parecia vomitar toda sua revolta, toda sua inveja pela vida que Catarina tinha com Petruchio.

— …Aí a ocê apareceu e enfeitiçou ele. E cada vez que eu pensava que a senhora ia embora a senhora ficava. Primeiro ficou por conta que não tinha mais dinheiro, agora fica por conta desse fio…

Lindinha confessava seu amor a Petruchio de forma escancarada e Catarina não conseguia lhe retrucar. Mas a partir do momento que começou a falar de si, do seus sentimentos ela não aguentou.

— Fiquei porque eu tenho responsabilidade, viu Lindinha? - afinal ela era só uma menina que estava levando uma apunhalada no peito, as vezes as palavras feriam mais que qualquer vaso lançado. - Eu fiquei porque eu go… - não completou sua fala.

Lindinha se levantou da cama na qual estava sentada, estufou o peito prepotente e soltou o resto de seu rancor em Catarina.

— Vai dizer que é porque gosta do seu Petruchio? Porque se gosta nunca que mostrou de verdade. - Catarina sentiu-se diminuir. - Só sabe brigar, dá o bote que nem onça. - Tentou a contradizer, mas não sabia o que falar, estava muda. - Tem mais, tenho pra eu que seu Petruchio há de sentir a minha farta agora que vou pra longe e há de descobri que havia de feito um melhor negócio casando com eu e não com a senhora capitã Catarina, capitã onça isso sim.

E então ela saiu do quarto, Catarina não conseguiu se sobressair, falar que ela estava errada, que gostava sim de Petruchio, que o amava e por isso não saiu da fazenda, não conseguiu lhe tacar um vaso sequer. Lindinha lhe quebrou com palavras. Precisou sentar numa cadeira, encostou a mão na testa pensando.

Pensando nas últimas palavras dela a si, que ela não amava Petruchio, que nunca havia demonstrado amor a Petruchio.

— Dona Catarina, a senhora tá bem? - Neca chegou perto dela preocupada, percebeu que a patroa estava tremendo nas mãos.

— Neca, você sabia? Sabia de tudo? - Catarina olhou para ela implorando uma resposta verdadeira.

— Que ela era louca pelo seu Petruchio? Sempre sube.

— E porque não me contou?

— Pra que eu ia de contar pra senhora? Era um amor sem pé nem cabeça, seu Petruchio nunca que olhou pra ela como mulher. Pra quê eu ia de perturbar a senhora com esse assunto?

Catarina respirou fundo, sentiu-se uma idiota. Pensou que sempre achou Marcela fosse sua arque rival em querer seu marido e o inimigo estava bem debaixo do seu nariz.

— Ela fingiu ser minha amiga esse tempo todo, fingiu me idolatrar esse tempo todo e eu uma idiota, acreditei… - falou para si mesma negando com a cabeça.

Mas as palavras de Lindinha que lhe doíam tinham outro nome.

— Acha que eu nunca demonstrei que gosto do Petruchio? - perguntou a Neca desesperada.

— A senhora demonstra sim, não como as outras mulher com carinho e afago, mas a senhora demonstra…

As palavras de Neca não a consolavam, nada do que pensava lhe consolava. Tentou lembrar quando foi a última vez que demostrou amor pelo marido, quando foi a última vez que disse que o amava. Não se lembrava…

— Eu nunca disse que amo ele… - concluiu transtornada pensando alto.

Neca resolveu ir pra fora do quarto e deixar ela sozinha, olhou na janela e viu Calixto sozinho chateado na varanda. Foi conversar com o velho amigo, lhe consolar talvez. Ficou bastante tempo dizendo palavras de conforto o que impediu de Calixto ir para a cozinha conversar com Mimosa.

Catarina ficou mais um pouco sozinha com seus pensamentos, ouviu Petruchio entrar na sala depois de alguns minutos e foi atrás dele.

Petruchio se encaminhou para o quarto, parecia que um peso havia saído de suas costas, falava sobre o quanto estava aliviado pela verdade vir à tona, mas Catarina estava aérea, pensando em outras coisas.

— …que que foi? Que que é que Ocê tá com essa cara? Ocê sabe que eu num fiz nada. - perguntou preocupado.

— Petruchio eu estava pensando. - Catarina falou calma, ele até estranhou. Chegou mais perto dele e perguntou o que lhe aflingia. - Você acha que nunca demonstrei nada a você?

Ele estreitou as sobrancelhas estranhando a pergunta dela, esperava tudo, acusações, vasos jogados, mas não isso.

— Catarina ocê é memo igual que nem o vento. - ele respondeu calmo, como ela.

— O vento? - perguntou a ele pedindo para prosseguir para enfim entender.

— O vento, o vento sim, que começa igual uma brisa suave que vai afagando o rosto da gente e o cabelo num dia muito quente… - explicava fazendo gestos em seu rosto. Catarina entortou o pescoço tentando interpretar ele da maneira certa. - Só que essa brisa vai ficano cada veiz mais forte cada veiz mais forte e vai derrubano tudo o que tem pela frente batendo as portas toda.

Ele ficou mais intenso em seus movimentos tentando fazer o vento forte e Catarina compreendeu. Entendeu tudo o que ele queria dizer com aquela metáfora.

— Petruchio eu tenho meus motivos, você sempre aprontou das suas. - chegou perto dele ainda calma.

— Catarina ocê pediu pra eu dizer se ocê demonstra ou não demonstra e eu tô dizendo que ocê demostra é em tudo. Em tudo Catarina.

— Em tudo o que? - perguntou implorando uma resposta sem enigmas.

— Em tudo, em tudo. O casal memo quando vai ter um filho é motivo pro casal ficar mais unido, só que não. Pr’ocê até o filho é motivo de briga!

Ela negou com a cabeça, não era essa a resposta que esperava dele. Queria que ele disse que ela demonstra sim que o ama, mesmo que a sua maneira.

— Por que diz isso? Eu só quero o melhor pro meu filho.

— Acontece que o filho é meu! - falou alto. - E o que é o meu melhor não é melhor pr’ocê. Tá querendo criar memo o filho como se fosse gente da cidade, cheio dos luxo, das riquezas, como se fosse memo um almofadinha! - estava nervoso com o assunto. O futuro do filho lhe afligia, ainda mais diante da situação que viviam na fazenda, sem dinheiro nem para a comida do dia.

— Eu só quero que meu filho tenha um futuro Petruchio. - explicou o óbvio, será que Petruchio não compreendia?

— Acontece que eu quero que ele seje igual eu! Que tenha aqui o pé firme e forte, no chão e que sabe memo faze uns queijo tão bom quanto eu! - terminou a frase nervoso.

Catarina negou com a cabeça pensando alto:

— Imagina que vou querer que ele seja queijeiro…

— Ocê tá vendo? Tá vendo Catarina que tudo pr’ocê é motivo de briga? - ele chegou perto dela nervoso. - Catarina… Catarina, num dá memo pra tentar conversa com ocê. Num dá!

Começou a andar para sair do quarto. Catarina correu atrás dele.

— Petruchio o que está acontecendo com você? - implorou se colocando em sua frente e fechando a porta do quarto. A trancou, ainda não havia terminado o assunto com ele. - Esta diferente. Está planejando alguma coisa?

Ele riu sarcástico, ainda nervoso respondeu:

— Mas se é ocê que sempre tá com a cabeça cheia de plano Catarina, mas eu posso é apostar que se ocê acha esse dinheiro que foi roubado ocê vai pra cidade procura uma casa pra cria esse filho bem longe.

Catarina fugir da fazenda sempre foi seu pior pesadelo, imaginar ela não dormindo mais ao seu lado lhe deixava nervoso só de divagar.

— Pois era mesmo! - ela confirmou falando mais alto. - Pois muito bem, eu era capaz. Pois fique sabendo que vou achar o meu dinheiro, vou descobrir quem roubou a minha herança e vou pegá-la de volta. - terminou nervosa, saindo de perto da porta e indo para o canto perto do baú. Queria uma trégua com o marido, queria que a conversa se encaminhasse para outro rumo, não aquele. Petruchio sabia lhe deixar nervosa.

— Pois se ocê é memo muito esperta, muito cheia das novidade, é bem capaz d’ocê acha memo. Quero vê ocê acha!

Ela concordou com a cabeça nervosa. Parecia que estava zombando dela. Odiava que zombassem dela, como se não fosse capaz de fazer qualquer coisa que quisesse sem apoio de um homem.

— Está zombando de mim?

— Não, não favo de mel. - negou se encaminhando para a cadeira de balanço em que Catarina estava em pé ao lado. - Mas eu quero vê. Eu quero vê.

— Por que está falando dessa maneira? Petruchio por acaso sabe quem roubou minha herança? Se sabe então me diga! - não suportava ele mentir a si, parecia que ele sabia de algo. Estava impaciente. Não queria brigar com ele mas era impossível.

Ele riu  com sua risada debochada irritando-a mais.

— Mas eu? Se é ocê que sempre sabe de tudo. Magina, quem sou eu?

Abanou a cabeça nervosa com o último diálogo. Olhou para ele sentado, parecia ainda nervoso, mas não queria mais sair do quarto. O motivo que a fez lhe chamar para conversar não era aquele, não era sobre a herança roubada nem o futuro do filho de ambos que ainda estava em sua barriga. O motivo que a levou para aquela conversa particular no quarto era outro.

— Petruchio… - sua voz era calma e convidativa.

— Diga Catarina, diga Catarina, se ocê tem uma coisa muito do esperta muito do inteligente pra me dizer então diga. Diga. - ele estava exausto de brigar, não lutaria mais contra ela. Mostrou sua orelha a esposa. - Diga que eu sou todo ouvido.

Catarina respirou fundo, encheu seu coração de coragem, sentiu seus olhos marejar e se aproximou dele, agachou ao seu lado na cadeira de balanço.

— Petruchio eu… - passou sua mão por seus cabelos. - Eu… eu amo você.

Ele virou o rosto para ela. Não acreditou no que tinha ouvido.

— Eu… nunca te disse isso e queria dizer porque a história toda da Lindinha me fez pensar que nunca demonstrei o porquê eu fiquei na fazenda… e eu fiquei porque… não foi pelo motivo de ter acabado meu dinheiro e de que fui roubada e de não ter mais nada a não ser esse casamento que foi um acordo no começo. Não foi por isso que eu fiquei. Eu fiquei porque eu realmente me apaixonei por você…

— Ocê… se apaixonou por mim? - ele perguntou ainda sem acreditar, querendo ouvir mais. Urgentemente esperando por mais.

— Nunca te disse isso, nunca disse isso a mim mesma, mas foi de repente. De repente estava esperando você chegar do trabalho, com a comida feita, com sua sobremesa preferida e querendo que você pegasse minha mão pra dormir e me chamasse de favo de mel. Foi assim… de repente. Foi de repente que me peguei sonhando com seus beijos e desejando todos os dias dormir ao seu lado sentindo o calor do seu corpo. Foi assim… de repente. Foi de repente que me apaixonei por você. Que me apaixonei por esse casca grossa que me tira do sério, foi assim. De repente.

Ele se ajeitou na cadeira, se aproximou dela, começou a acariciar seu rosto. Catarina fechou os olhos, esperando…

— Ocê tá vendo? Ocê é como o vento.

— Petruchio… - ela negou com a cabeça preocupada. Ele não ia lhe dar uma chance depois de se declarar?

— Agora tá brisa. Me afagando no rosto. Dizendo as palavras mais lindas do mundo todo. - ele sentiu ela lhe acariciar sua barba, toda branda, leve e fácil. Tão fácil que ele não desperdiçaria o momento. A beijou. Levemente nos lábios. Devagar. E também devagar se afastou.

— Petruchio… - ela voltou a lhe chamar negando com a cabeça. Queria o beijar, profundamente.

— Não quero briga, não quero que ocê se torne a ventania até virar o furacão.

— Eu não irei, eu não irei. - disse negando com a cabeça aproximando seu rosto do dele, iniciando o beijo dessa vez.

Era brisa, calmo, sem pressa, tinha afago, tinha carinho. E então ela não quis ser mais branda, o beijou mais forte, com mais pressa, mas ainda tinha carinho, um carinho urgente em se fazer provar a ele que podia sim conseguir o que queria.

— Agora é vento. - Petruchio disse quando sentiu ela virar o rosto lhe beijando no pescoço.

— Vento? - perguntou sem fôlego, sua boca completamente vermelha, ainda ansiava por mais. Por isso não esperou sua resposta, se levantou e sentou em seu colo e voltou a beijá-lo com a urgência do vento e não mais da brisa.

Petruchio nem tentou resistir, retribuía as carícias, as urgências, as respostas de que sim, ela o amava e estava ali demonstrando tudo, como sempre fez.

Transformou-se no fim em furacão, lhe arrancando a camisa, lhe ajudando a arrancar sua própria roupa, pedindo mais, lhe beijando cada vez mais forte, cada vez mais rápido, cada vez mais voraz. E Petruchio seguia seu ritmo, acariciava o corpo que conhecia tão bem, beijava sua pele que se arrepiava com cada roçar de barba.

— Agora é furacão… - estava sem fôlego, assistia ela se completar em si, corpos grudados, numa dança ora urgente ora paciente

Afinal eles eram assim mesmo, uma combinação de calmaria e tempestade, de brigas e tréguas, de brisa e furacão.

Sentiu ela lhe enfincar a unha quando tudo acalmou. O êxtase havia passado, a calmaria retornou. O vento agora era suave, sem fôlego, com a boca vermelha que insistia em esboçar um sorriso fácil, lhe acariciava a barba, beijava seu pescoço, o vento estava cada vez mais brando. O furacão virando novamente brisa.

Mais do que nunca Petruchio pensou que não queria a perder, não podia perder sua brisa que se transformava em furacão, precisava dar um futuro decente a seu filho, precisava realizar o sonho dela de dar uma educação de qualidade a ele, para que tivesse um futuro, para que pudesse ser mais que um queijeiro. E ele faria de tudo para conseguir o dinheiro dela de volta, nem que para isso tivesse que afastar sua brisa, que agora quase dormia em seus braços.

— Eu também amo ocê, meu favo de mel.

Ela sorriu para suas palavras, não abriu seus olhos, se aconchegou mais em si e desejou que a sensação de plenitude não fosse embora.

Tudo estava bem, tudo ficaria bem. Petruchio amava sua brisa, que era também vento e furacão e por hora, isso bastava.


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