Feliz Natal entre Inimigos escrita por Jupiter vas Normandy


Capítulo 1
Único - Inimigos com benefícios




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Eurus treinou a vida inteira para ser uma heroína, mas nada poderia preparar alguém para a realidade do combate. E, pior ainda do que o próprio combate, era o dia seguinte. A “pós-luta” era a verdadeira tortura. Quando Eurus abriu os olhos, sua cabeça latejava e o chão estava de lado. Sentia dor e cansaço em músculos que ela nem sabia que tinha, e ouvia um zumbido insistente e suave pelo ouvido esquerdo, mesmo lado da dor de cabeça.

Alguma coisa havia acontecido? Ela não conseguia lembrar dos detalhes, apenas da confusão de luzes e gritos ao redor do Papai Noel da pracinha quando a luta alcançou o lugar. Ela normalmente evitava locais cheios, mas Vega era um vilão bem escorregadio desde que se aposentara da aposentadoria, e sua primeira opção era sempre escapar de Eurus, sua nêmesis. Sua autodeclarada nêmesis, na verdade. Ele se aproveitou da confusão entre os civis e roubou a energia das luzes de Natal, mergulhando a praça na escuridão. Eurus usou uma rajada de vento para se pôr sobre um dos postes, procurando pelo fugitivo. Viu um homem se içar pela escada externa de um dos prédios e o seguiu em uma perseguição sobre os telhados da cidade. E não lembrava mais de nada, apenas acordara ali.

Mas onde era ali?

Eurus olhou ao redor ainda deitada, alguma coisa estranha restringia seus movimentos, mas não conseguiu perceber muito, o lugar estava escuro. Ela estava sobre um chão de madeira, entre uma mesa de centro e um sofá. Seus lábios se torceram em um sorriso escarnecedor ao perceber que havia sido levada ali por Vega. Só ele era descortês o bastante para largá-la no chão em vez do sofá vazio bem ao lado.

Ignorando a tontura e a dor, Eurus se esforçou para se sentar, percebendo que seus movimentos eram limitados por amarras que prendiam os pulsos um ao outro, na frente do corpo, e os braços ao tronco, de modo que ela nem conseguia tocar o próprio rosto.

Que recepção confortável… — murmurou, sem saber se o adversário estava por perto para ouvi-la.

Ah, então você acordou. A voz soou de algum lugar a sua esquerda, e Eurus se colocou de joelhos para ver além do sofá. Então ele acendeu as luzes, e embora muitas coisas estranhas chamassem a atenção da heroína, a primeira coisa que notou foram as amarras. Não eram cordas, mas sim um longo pisca-pisca natalino que prendia seus braços, as luzes apagadas, é claro, mas a confusão de cores ainda era bem visível. O sorriso provocador que Vega odiava retornou ao seu rosto quase instintivamente. Qual é, ele pedia por aquilo! Eurus olhou em sua direção com um olhar divertido.

Estranho. Da última vez que chequei, você não estava na Lista dos Bonzinhos…

Vega revirou os olhos com um suspiro de irritação. Aí está! Eurus sorriu, satisfeita. Ele se irritava tão fácil, era um prazer provocá-lo, como se o espetasse com uma agulha.

Então faz sentido. Estou sendo castigado, isso sim.

Ei! Você que me trouxe aqui! Ou melhor, eu acho que foi você, eu não lembro direito. A gente realmente atravessou o teto de uma sorveteria ou isso foi delírio meu?

Não, isso aconteceu de verdade. Vega se sentou na poltrona de assento único, a sua frente, apoiando os cotovelos nas pernas. Sua confusão pode ter sido culpa minha, eu acertei sua cabeça com muita força… Você ficou inconsciente por vários minutos, eu estava pensando em chamar um médico.

Que fofo, você ficou preocupado!

Você acorda num lugar diferente e amarrada, e a primeira coisa que passa pela sua mente é dizer alguma gracinha?

Não a primeira, na verdade… A primeira coisa que eu pensei foi “sem chance, não é aqui que o Vega vive”. Essa é sua casa mesmo? Uau, ela não parece nada com uma caverna escura e isolada da civilização. Eu gostei daquele abajur, onde você comprou?

Você esperava uma caverna escura e isolada. Bem, deve ter sido decepcionante acordar aqui.

Não, só inesperado. Mas eu devo admitir muitas coisas aqui estão sendo inesperadas.

Como?

Eu sei que disse “se você me quer, venha me pegar”, mas acho que você entendeu errado. Bom, os dois sentidos envolvem cordas, mas tem uma diferença muito importante entre eles que é melhor esclarecer logo… Devo dizer, eu gosto de um desses sentidos bem mais do que do outro. – Eurus piscou, com aquele sorriso torto e o ar despreocupado que sempre deixava Vega sem reação. Ele tocou a ponte do nariz, os olhos fechados, uma ponta de impaciência misturada à habitual seriedade que ele sempre apresentava.

Você é pior pessoalmente disse, se levantando. Ele fechou a mão sobre as amarras natalinas e aproximou o rosto sério do dela. Lamento decepcionar, mas não é o bom sentido.

Dito isso, ele a arrastou até o canto da sala, ignorando seus protestos. Vega não parecia tão forte, mas apenas as pernas de Eurus arranhavam a madeira, o tronco completamente erguido pelas amarras.

Isso é tão desnecessário… Ei, isso aí já parece mais com o que eu imaginava da sua casa falou, observando-o abrir a grade de uma jaula pequena, a altura insuficiente até mesmo para que alguém se sentasse com as costas retas. Nada grita mais “VEGA” do que uma jaula como decoração da sala de estar. Mas acho que ela não combina muito com o abajur…

Vega a interrompeu com um empurrão para dentro da jaula, trancando a grade em seguida. Eurus se sentou, encarando-o com a sobrancelha erguida, fingindo estar ofendida.

Eu ainda não sei bem qual é o sentido do que está acontecendo. Vamos precisar de um safeword? Que tal “natalino”? Vega a ignorou, se afastando em direção ao corredor, o que a fez resmungar: Realmente, essa não é a opção que eu teria escolhido… Parece bem entediante, na verdade. Ô, Vega, o que acha de soltar as amarras? Jaula e amarras não parecem ser um pouco demais?

Para você? Acho até pouco. Vega respondeu, arrependendo-se em seguida ao perceber que Eurus entenderia como um elogio, e ela já tinha uma resposta na língua, mas Vega apontou para ela em alerta. Se disser mais uma palavra, vai ganhar uma mordaça também.

Eurus assentiu, com um dar de ombros condescendente, e respondeu apenas com um de seus sorrisos, o que dizia muito mais. Vega bufou e saiu da sala.

Sentir medo não fazia parte da personalidade de Eurus, mesmo em uma situação como aquela. Que herói ficaria tranquilo ao se ver capturado pelo arqui-inimigo, rendido dessa forma? Com certeza Vega achava que suas brincadeiras eram uma tentativa de disfarçar o nervosismo, mas ele estava errado. Ele era o primeiro supervilão que Eurus precisava combater, mas isso não parecia recíproco. Criminosos comuns raramente hesitavam atirar em sua direção, e ele, um dos maiores supervilões da geração anterior, fazia apenas o suficiente para se defender.

Ele era uns bons anos mais velho, o que significava que Eurus tinha treinado observando as lutas dele. Havia até certo carinho, o que era pouco respeitável para uma futura heroína. Enquanto garotas da sua idade enlouqueciam por artistas pop, Eurus tinha pôsteres de Vega que ela mesma imprimia colados nas paredes de seu quarto. Chegou a sentir o coração partido quando ele se “aposentou” antes deles terem a chance de lutar. Quando ele retornou meses atrás, pouco depois de Eurus ter estreado como heroína, ela pensou em pedir um autógrafo. Mas achou que seria de mal gosto pedir isso no meio de um assalto a banco com uma dezena de reféns.

Então não, ela não estava com medo. Eurus temia mais a sua falha e o que ela significava do que Vega. Heróis não podiam falhar. As lutas terminavam com vitórias ou impasses, mas ela imaginava as últimas manchetes sobre seu desaparecimento após o último confronto. Um herói derrotado fazia com que os inimigos seguintes se sentissem mais ousados, confiantes; e as pessoas comuns, menos protegidas.

Sua cabeça latejava, o zumbido ainda persistia e, estranhamente, ela estava sentindo uma dor pungente, bem mais intensa que a dos músculos exaustos, mas à luz parca não conseguia discernir seus ferimentos. Desejou que Vega voltasse. Provocá-lo dava rumo a seus pensamentos, impedia que ela caísse naquela espiral. Se fosse listar cada consequência que sua captura renderia, só terminaria no ano que vem. Esquecendo por um instante de sua situação, tentou passar a mão na cabeça para conferir se a pele estava tão quente quanto ela sentia, mas a rigidez das amarras não permitiu.

Como está a perna? A voz grave e inconfundível fez Eurus se inclinar para vê-lo através das barras da jaula, na cozinha americana. Ele não se virou ao perguntar, fixo na tarefa que exercia e que Eurus não conseguia ver. Sorriu. Ele tinha voltado. E ela se sentia uma adolescente encontrando um artista famoso.

Nossa, Eurus sabia como estava sendo patética! Mas não se importava nem um pouco. Arriscava sua vida todos os dias para proteger desconhecidos, ela tinha direito a seus guilty pleasures patéticos. E não era inteiramente culpa sua! Seu treinamento tinha vários efeitos colaterais. Tinha passado a adolescência estudando diariamente o modus operandi de uma dezena de vilões, e, querendo ou não, a sofisticação dos métodos de Vega e as baixas casualidades de transeuntes nos seus crimes tinham sido uma semente de admiração caindo em solo fértil.

Desculpa, o que você falou? É meio difícil ouvir daqui.

Sua perna.

Eurus olhou para baixo, percebendo pela primeira vez um curativo largo na altura da coxa direita, com o centro tingido de um vermelho escuro. Toda a confusão de pensamentos e sensações havia cessado temporariamente, e ela soube. Aquilo era ruim. Muito ruim. Talvez não saber a origem da dor fosse melhor, porque agora que tinha visto, a dor parecia mais real. Queimava. Novamente estendeu a mão para avaliar a situação do ferimento, mas as cordas não cederam. Como isso era irritante.

Como… Ela reprimiu um arquejo, sentindo a dor de um lado a outro da coxa. Eu não lembro de como isso aconteceu…

Vega deixou de lado o que fazia e lavou as mãos rapidamente antes de ir até ela e se ajoelhar na frente da jaula.

Posso? perguntou, hesitando tocar na perna dela para avaliar a situação.

Claro, né? Se você não vai me soltar, isso é o mínimo que pode fazer.

Vega passou as mãos entre as barras e levantou o esparadrapo com delicadeza. O tecido do uniforme de Eurus havia arrebentado na região e ela não conseguia ver direito por causa do sangue, mas não parecia ter sido causado por uma das facas de Vega. Como se visse a dúvida nos olhos dela, ele falou:

Você caiu em cima de um vergalhão quando atravessamos aquele teto. Tinha uns dez centímetros de metal se projetando da sua perna. Poderia ter morrido, perdeu muito sangue.

Ele pegou uma maleta que havia deixado sobre a jaula, o teto liso não permitiu que Eurus visse.

Foi você que fez isso?

Vega assentiu, mas depois percebeu o olhar de descrença dela e deu de ombros.

O quê? Eu sou socorrista.

É nada! Eurus respondeu, o olhar de descrença intensificado. Me mostra aí seu certificação profissional.

Vega cruzou os braços.

Sério? Você não tentou isso.

Não me julgue por jogar verde, eu adoraria ser a primeira a descobrir sua identidade. Infelizmente não sou muito boa com rostos, vai ser difícil fazer um retrato falado. O fato de Vega estar sem a máscara habitual em volta dos olhos azuis não tinha sido um alerta para Eurus, mas ela achou curioso que ainda estava com a sua própria máscara. O ar brincalhão suavizou para a calmaria da brisa que Vega normalmente sentia antes da heroína aparecer em todos os seus confrontos. Mesmo que ela tivesse poder sobre o ar, era um sinal sutil que ninguém mais parecia perceber. Ele precisava admitir para si mesmo, aquela seriedade sem medo o entretinha. O que eu estou fazendo aqui, Vega?

Ele não respondeu de imediato, concentrado em refazer o curativo.

Não está grata? Acho que o socorro não chegaria a tempo. A propósito, provavelmente não vai ser uma cicatriz bonita.

Vega. Vega, Vega, Vega, eu estou tentando te entender, ok? Você não me matou, cuidou da minha perna e não tirou minha máscara. Ela enumerou com o pouco movimento que tinha nas mãos, com um olhar pensativo e, rápido assim, a seriedade tão rara e atrativa se desfez, substituída por aquele sorriso afiado tão irritante. Oh, você curte máscaras, então?

Eurus achava maravilhoso o quão fácil era deixar aquele supervilão experiente sem graça com algumas palavras suas. Quando estavam em público, ele era discreto. Engolia em seco com um olhar severo, como se nada do que ela dissesse fosse mais do que o “blá-blá-blá” de uma heroína estupidamente confiante e imatura. Mas naquele momento ele levantou os olhos quase horrorizado com a insistência dela em transformar tudo em algo sugestivo.

NatalinoEle levantou, irritado, devolvendo a maleta de primeiros socorros para o topo da jaula com um baque metálico. Você está aqui porque é um pé no saco que sempre aparece para me ferrar quando eu tô tentando fazer um pouco de dinheiro nessa merda de cidade, e eu sinceramente não tenho tempo para ficar brincando de gato e rato com você. Então você vai ficar bem quietinha aqui até eu terminar o que tenho de fazer e depois eu garanto que nunca mais vai ouvir falar de mim.

Grosso! A reclamação foi tão genuína que, se Vega não estivesse com raiva, teria achado graça. Acha que eu sou a única heroína na cidade, por acaso? Acha que porque eu estou aqui, não vai aparecer ninguém para te parar na próxima vez?

Os outros heróis são… um caso diferente — murmurou em resposta. Eurus quase não o ouviu.

Bom… Eu te acho inteligente, mas dessa vez você cometeu um erro. Eu estava tentando te prender. Os outros vão tentar te matar. E… Nossa, que cheiro é esse, você cozinha também?

Como qualquer adulto funcional.

Eurus não entendeu se ele quis insinuar que ela não era adulta ou que ela não era funcional. Bom, ela não teve tempo de aprender habilidades básicas da vida por causa de pessoas como Vega. Sua vida era treinar sob a vigília da Organização. Todo o resto era secundário.

Eu esqueci o que estava dizendo.

Podia acontecer mais vezes.

Ah, sim! E por quanto tempo planeja me manter aqui? Porque eu vou te dizer, você precisa ser bem rápido. Cê sabe que eu vou sair daqui, não é? — Ela apoiou o rosto na grade com um sorrisinho convencido.

Eu tenho sérias dúvidas sobre isso. — Vega preparou dois pratos, mas deixou um sobre o balcão da cozinha. O outro ele levou até a jaula, onde Eurus revezou o olhar do prato para ele com uma tranquilidade cínica.

É pra eu fazer o que com isso?

Almoçar.

Ela se ajeitou de lado, quase se deitando na extensão da grade da frente, como uma madame de filme dos anos 20 só que sem as roupas elegantes e com amarras de pisca-pisca em vez de joias de pérolas.

Eu não posso, estou amarrada. Você vai ter que me ajudar.

Eu disse natalino, não era para você parar com isso? — Ele suspirou longamente. Como era possível que toda frase dessa garota fizesse inevitavelmente a pálpebra de Vega tremer? Colocou o prato no topo da jaula e se afastou. — Se tá com energia pra fazer piadinha, então aguenta mais algumas horas sem comer.

Vai deixar meu prato esfriar? Meu Deus, você é mesmo um vilão. — Vega pegou o próprio prato e desapareceu pelo corredor sem nem olhar para trás, batendo a porta do quarto com força ao entrar. — Vega? Vega! Tá bom, eu paro, você não gosta de flerte, eu entendi! Ei! Eu sei que você está me ouvindo, viu? Ah, que seja, aposto que você nem cozinha bem!

Eurus apoiou a testa na grade, um biquinho de frustração nos lábios. Que ótimo jeito de passar a véspera de Natal. Por que heróis e vilões não faziam uma convenção coletiva e paravam as atividades nos feriados? Vega certamente podia ter aparecido no dia 26.

 

*

 

Vega cumpriu sua palavra e, quando voltou a passar pela sala, não fez nenhuma menção de reconhecer a presença de Eurus, o que era bem difícil quando ela decidia ser mais esbravejante do que o comum. Ela controlava o vento, será que tinha mais fôlego do que pessoas normais? Será que era por isso que não parava de falar?

Ei, ei, ei, eu já disse que entendi! Não pode me deixar comer? O cheiro está bom.

Vega não respondeu.

Argh, sério que você não tem nada melhor para fazer no Natal do que ficar me vigiando? Isso não está sendo divertido para nenhum de nós. E acho que está sendo menos divertido para você do que para mim.

Vega abriu a geladeira, pegou uma garrafa de água e bebeu um copo.

Você realmente vive aqui? Não comemora o Natal? Olha, nem uma árvore de mesa você tem. Podia ter caprichado mais se planejava receber visitas.

Vega suspirou. Sua carreira de vilão podia ter sido mais fácil se ele tivesse um pouco menos de moral. Mas não, ele tinha que prender a garota em vez de pôr uma bala na cabeça dela. Bem feito, para ele, não?

Mesmo que não tivesse medo, Eurus recuou de leve ao perceber que ele se aproximava em passos firmes e silêncio mortal. Ele se agachou na frente da jaula pôs a mão entre as grades, alcançando a ponta do pisca-pisca que amarrava Eurus. Fechou a mão em volta dela e Eurus se retesou com o som de eletricidade, pensando que sentiria uma onda de choque. Vega nunca tinha usado seus poderes de eletricidade diretamente contra ela em suas lutas. Mas a dor não chegou, então ela abriu um único olho, desconfiada, e viu que o lugar estava inundado por luzes coloridas.

Isso resolve o problema da decoração?

Rá rá — Eurus forçou, sem conseguir pensar em uma resposta melhor. Eletricidade era a única coisa no mundo que conseguia lhe deixar apavorada. Mas ele era a última pessoa que deveria saber disso.

Aqui — disse, estendendo a garrafa de água. — Você não cala a boca, deve estar com sede. Deixe eu te ajudar.

Com uma das mãos, ele apoiou a cabeça de Eurus e com a outra, levantou a garrafa. Ela aceitou sem maiores problemas e afastou o rosto quando já estava satisfeita. Então olhou para ele com um sorrisinho e um ar pensativo.

É realmente um desperdício você estar do lado errado.

Vega pegou o prato dela sobre a jaula e se sentou. Abriu a porta, mas ele realmente não queria correr o risco de desamarrá-la. Ela era boa demais para arriscar. Revirou a comida com uma colher.

Se você disser alguma gracinha, eu juro que você só come amanhã — alertou, antes de estender a colher para a boca dela. Ela visivelmente queria dizer alguma gracinha, mas aceitou sem dizer nada. — Eu não estou do lado errado dessa vez. Mas o seu lado não entenderia.

Qual é o seu lado dessa vez? — perguntou. Mais séria, não como quem pergunta por mera curiosidade, mas por um interesse genuíno que surpreendeu Vega. — Você não está falando com o meu lado, está falando comigo.

— E que diferença faria você conhecer meus motivos?

Muita diferença. Por que acha que eu ainda estou aqui? Você é bonito, mas isso não é incentivo o bastante para eu passar meu dia aqui. Eu te disse, posso sair quando quiser.

E eu te disse que duvido seriamente disso respondeu.

Olha… Eu não acho que sair batendo em cada vilão que aparece realmente resolve alguma coisa. É claro, eu ainda faço isso para impedir um risco imediato. Se tem alguém armado com uma dezena de reféns, eu obviamente vou derrubar o cara. Ela se interrompeu para outra colherada. Mas depois, outro vai aparecer e fazer a mesma coisa. Eu só posso ajudar de verdade, ser útil de verdade, se eu puder impedir que situações assim aconteçam, não apenas intervir quando já estão acontecendo. Você não é violento como a maioria, mas ainda causa muito mal às pessoas e cria situações arriscadas sempre que aparece. Então me diga, Vega, o que fez você voltar às ruas e o que fará com que você desapareça novamente.

Vega afastou as mãos e abaixou o olhar, pensativo. Ele não acreditava que uma heroína realmente estaria disposta a ouvi-lo, muito menos a fazer algo. Mas o que tinha a perder? Apenas orgulho, e o que estava em jogo era importante demais para que o orgulho fosse um obstáculo.

Eu tenho um filho. Ele vive com a mãe. Ela nunca deixou eu me aproximar, por motivos óbvios, mesmo depois de eu ter parado. Dois meses atrás ela me ligou, dizendo que ele tinha sido levado. Vega encarou Eurus, as luzes do pisca-pisca evidenciaram os olhos úmidos. Mesmo mantendo o ar calmo, a voz tranquila, uma mágoa profunda transparecia. Eurus só podia imaginar. Nunca poder se aproximar de alguém para poder protegê-lo, e, ainda assim, ver esse sacrifício ser jogado no lixo. — Ele foi levado por vocês. Da primeira vez que nos vimos, na sede da Agência, eu estava querendo descobrir para onde o levaram. Das vezes seguintes, estava levantando grana para contratar alguma ajuda, porque não consigo fazer isso sozinho. Então eu pergunto de novo: você saber disso faz alguma diferença? Por acaso você já não sabia que a sua Organização faz esse tipo de coisa?

Eurus encolheu os ombros, encarando o chão.

Eu sabia que eles fizeram isso no passado, mas… Achei que tinham parado comigo. Quando pessoas com poderes começaram a surgir, o governo criou um setor especializado para estudar essas pessoas, até entender o que causava esses poderes. Eles já sabiam, já tinham criado pessoas assim em laboratório. Eurus e seus irmãos. E sim, Vega. Faz muita diferença. Se seu filho não tivesse sido levado, você nunca teria voltado, não é? Teria seguido em frente sendo um socorrista. Se recuperar ele, o “Vega” vai desaparecer?

Ele nunca quis voltar.

Então eu ajudo você.

Vega não se permitiu acreditar de imediato. Esperança era uma coisa dolorosa, e jurava por Deus que se isso fosse uma armadilha, ele mataria Eurus e qualquer outro no caminho. Heróis e vilões viviam em um jogo de gato e rato, mas haviam coisas com as quais não se podia jogar.

Mas eu preciso que você entenda que eu não estou absolvendo você. Vou lhe ajudar a recuperar seu filho, levar ele e a mãe para um local seguro, e depois vou lhe prender.

Se você estiver falando sério… Eu aceitaria um milhão de vezes.

Estou falando sério. Por isso, eu preciso de uma prova de que isso é verdade. Uma prova de que você tem um filho e que ele desapareceu.

Ela falou lentamente, dando tempo a Vega para entender o que ela pedia. Uma prova de identidade. Ela saberia quem ele era. E nunca mais fugir seria tão fácil. Mas era um preço pequeno. Quando Vega voltou do quarto, com alguns documentos em mãos, parou na entrada da sala ao ver Eurus de pé, sem as amarras.

Como?

Sou mais experiente com cordas do que você ela piscou. Brincadeira, é a minha habilidade especial, tem a ver com meu poder.

Ela deu um passo, e de repente uma forte ventania nublou a sua visão. Vega ergueu o braço para proteger os olhos, mas o vento logo parou e ele sentiu um cutucão no ombro. Eurus estava atrás dele, segurando as mãos atrás do corpo, com um sorriso tímido. Exatamente como na primeira vez que se encontraram, ele nunca entendeu como ela tinha se aproximado sem ele ver. Na jaula, o pisca-pisca ainda tinha um nó firme, mostrando que ela não tinha desfeito as amarras, apenas saído delas.

Tá de brincadeira. Você vira vento?

Apenas por um breve momento, é difícil fazer durar. Pode me emprestar algumas roupas? perguntou, já invadindo o quarto dele.

Para quê?

Eurus não pode invadir um prédio do governo ao lado de Vega. Ela se trocou rápido, o rosto sem a máscara apareceu brevemente na lateral da porta. — É por isso que você vai destruir todas as câmeras. Consegue fazer isso à distância? Consegue, você já fez isso antes.

Ela voltou vestindo uma calça cargo verde e uma camisa xadrez de botões. Ela tinha um rosto no formato de coração, com algumas sardas cor de caramelo sobre o nariz e as maçãs do rosto, e quando sorriu, uma covinha surgiu em um dos cantos da boca. Vega entregou os documentos, mas a visão inesperada o distraiu por um momento, enquanto ela conferia os nomes, as fotos do filho e os registros confidenciais do governo.

É um prazer conhecê-lo, Mattia. — Ela pronunciou o nome com a experiência cultural unilateral de qualquer americano, um fisicamente doloroso “mattaia”. — Você é italiano?

Minha mãe era. E não se lê assim.

Ah, Mattia então. Desculpe. Então… Você dirige?

 

*

 

Vega apertou os dedos em volta do volante com mais força, até os nós ficarem brancos. As luzes de Natal passavam como borrões pelas janelas na velocidade em que estavam. Ao seu lado, Eurus estava com a cabeça apoiada contra a janela. Ambos estavam pensando a mesma coisa: “O que eu estou fazendo?”

Eurus — chamou, mas nenhum dos dois virou o rosto. Seu tom tinha a mesma solidez, a mesma seriedade que quando Eurus perguntou o motivo de ter sido levada ao apartamento dele. Uma mão estendida para a confiança, uma ânsia por significado. — Você está mesmo me ajudando?

Ela não respondeu de imediato, mordendo a ponta do lábio. O silêncio assustou Vega e fez com que virasse o rosto para ela, brevemente, pois estava indo rápido demais para dividir a atenção.

Eu não sei o porquê deles terem levado seu filho. Na minha época, a ideia de super-heróis lutando contra o crime e, ocasionalmente, à serviço do governo era só o que eles tinham em mente. Eu amo ser uma heroína, Mattia, mas nunca me foi dada a opção de ser alguma outra coisa.

A forma como ela respondeu sem olhar em sua direção, vindo de alguém como Eurus, que não tinha muitas restrições, indicava o quanto aquilo deveria ser pessoal. Ideias que nunca deveriam ser compartilhadas eram mais fáceis de falar quando não estavam cara a cara.

Às vezes eu penso… Será que eu gosto dessa vida ou apenas não conheço nenhuma outra? O programa não funcionou com todas as crianças. Conheço quem tenha saído dele tão revoltado que jurou nunca caminhar do mesmo lado que os heróis novamente. Já ouviu falar em Hades?

Vega deu de ombros.

É um nome comum. Personagem de mitologia, videogames, filmes etc.

É meu irmão mais velho. Ele fugiu quando tinha 13 anos. Se você já tocou em uma arma de fogo, provavelmente comprou do pessoal dele.

É, eu conheço o cara…

Agora que ela tinha mencionado isso, Vega lembrou que, dois anos antes, os jornais tinham inundado a atenção dos espectadores com boatos de que Eurus teria morrido em decorrência de um tiro. Muitos grupos criminosos assumiram a autoria, mas uma máfia das armas havia dito diretamente a um jornalista que mataria o responsável. Pouco tempo depois, com a recuperação acelerada dos heróis de laboratório, a Eurus voltou às ruas. No mesmo dia, o atirador entrou em uma delegacia de polícia, ensanguentado dos pés à cabeça, pedindo de joelhos para que o prendessem. Por sua própria segurança. Dessa vez, as notícias do desaparecimento de Eurus começaram apenas no jornal da manhã. Vega se perguntou já haviam pessoas atrás dele por isso. Ele nunca se viu perseguido ao mesmo tempo pelo lado da lei e o do crime.

Então, sabe que esse tipo de imposição pode facilmente sair pela culatra — Eurus continuou. — O mundo não precisa de mais heróis, precisa de menos vilões. Então sim, Mattia. Eu estou lhe ajudando.

Alguns quilômetros afora da cidade eles avistaram a área militar. Mattia parou o carro muito antes, assim que viram o topo do prédio à distância. Se aproximaram à pé, avaliando as pessoas fazendo rondas no lado interno da cerca.

Faz o seu lance — Eurus disse, apontando para as câmeras.

Vega não só criava eletricidade, ele podia senti-la precorrer os equipamentos e isso lhe dava uma noção da estrutura do lugar. As câmeras externas e internas, os computadores potentes, uma seção subterrânea com um padrão de consumo bastante doméstico, nada demais. Mas três níveis abaixo do solo, havia algo que consumia muita energia. Vega deu um riso curto. Aquilo facilitava o trabalho. Ele girou uma das mãos como se movesse um esquema invisível do prédio. Sentiu um ponto fraco, e, em um gesto rápido, forçou a falha. O vazamento de corrente pareceria natural. A falha generalizada das câmeras, nem tanto. Mas alguém precisaria olhar diretamente para o problema para perceber, e, no momento, com certeza estariam mais preocupados com o equipamento delicado e caro no andar mais baixo.

Eurus tinha um cachecol levantado sobre a boca e o nariz. A confusão dos vigias com o estalo dos equipamentos foi a deixa para que se aproximassem. Sua habilidade especial a colocou do outro lado da cerca em um piscar de olhos, logo atrás do vigia mais próximo, e ela já retornou com um braço em seu pescoço, roubando-lhe o ar em poucos segundos. Mal havia desfalecido, ela o arrastou para trás de uma guarita e o deitou no chão. Tateou os bolsos até encontrar a ID magnética que liberaria o portão sem suspeitas imediatas, e Vega entrou com ela.

Uma grande parte do pessoal deve estar no terceiro subsolo por causa da falha que eu causei.

É uma boa notícia, mas os que sobraram provavelmente são todos soldados.

Não é como se fossem grande coisa para nós.

Eu não vou matá-los, Vega, e agradeceria muito se você não me tornasse cúmplice de homicídio essa noite.

Seu trabalho deve ser difícil — resmungou.

Ele percebeu que, além da troca de roupa, Eurus tinha mudado o modus operandi. Ela normalmente gostava de criar um palco e chamar atenção, atrair os olhares para si com grandes rajadas de vento que derrubavam os inimigos. Agora, ela tinha usado diversas vezes a habilidade especial que Vega nunca havia percebido que ela tinha, desaparecendo do lado dele e reaparecendo dois metros a frente até estar atrás da vítima da vez sem fazer barulho algum além da brisa. Um por um, os desavisados eram neutralizados sem nem terem-na visto.

Eu podia ter morrido”, pensou, lembrando de todas as vezes em que Eurus anunciou sua presença com uma piadinha, para atraí-lo para longe dos transeuntes, evitando catástrofes colaterais.

Entraram no prédio, com Eurus em seu quase teleporte verificando cada porta do corredor. Ela parou ao lado de uma escada de metal, aguardando. Vozes pareciam estar subindo os degraus. Vega se aproximou lentamente, sem o mesmo cuidado com discrição, e segurou o corrimão da escada, liberando uma descarga elétrica forte o suficiente para derrubar, mas não matar. Eurus não estava em contato com o metal, mas recuou rápido, se apoiando com uma das mãos no chão. Lançou um olhar acusatório quando percebeu que as vozes cessaram, e o cabelo amarrado agitou rapidamente antes dela desaparecer em um sopro furioso. Vega a escutou no lance inferior da escada, conferindo se estavam vivos.

Foram direto ao primeiro subsolo, onde Vega sentira um sistema elétrico mais simples, doméstico. Eurus vigiou a entrada do corredor, onde uma série de portas se abriam para quartos pequenos, como de hospitais. A maioria desocupados, mas a decoração infantil fazia o sangue de Vega ferver a cada passo em direção ao fim do corredor.

Ei, quem é… — Um soldado questionou, mas um gesto rápido de Vega o jogou contra a parede, e ele caiu no chão convulsionando.

Ele abriu a penúltima porta. A luz estava acesa. Um garoto estava sentado no canto do quarto, mesmo com a cama livre e um sofá na lateral. Sobre uma mesa, haviam muitas páginas em branco e uma caixa de lápis de cor vazia, todos eles partidos ao meio e jogados sobre a mesa. O menino levantou o rosto com desconfiança, mas o reconhecimento logo o iluminou.

Pai?

John — Vega deu um passo em sua direção e foi interrompido por um abraço forte, o garoto com o rosto enterrado em suas roupas, as mãos pequenas agarrando-o com força.

O coração de Vega falhou uma batida. Fazia tanto tempo que não o via, e mais tempo ainda que não o abraçava, mas John nunca tinha lhe abraçado com desespero. Vega retribuiu, garantindo-lhe que estava ali agora, ia ficar tudo bem. Pegou-o no colo e voltou correndo para Eurus. Não precisava mais de discrição, precisava sair dali.

Vamos — falou para Eurus. — Antes que percebam e mandem mais gente.

Por cima do ombro de Vega, John olhou para Eurus, que abriu um sorriso gentil para o menino.

Você é amiga do meu pai?

Eurus sorriu e balançou a cabeça.

Uma inimiga, na verdade.

Ei! — Ele reclamou.

Mamãe diz que ele não tem amigos.

Ei pra você também.

Eles já estavam de saída quando ouviram um vozerio. Com os alarmes desativados, a comunicação da invasão ocorreu no boca a boca, o que atrasou consideravelmente a resposta da segurança. Não deviam confiar tanto assim em sistemas eletrônicos e depois sequestrar o filho de um vilão com esse poder. Mas essa era a primeira de uma série de lições que Vega os ensinaria depois.

Partiram.

Para onde você vai levar ele? — Eurus perguntou.

Eu não sei. Acho que isso vai sobrar para a Hannah. De novo… — Vega pegou o celular que deixara dentro do veículo durante a invasão. — Procure o contato dela e mande uma mensagem, por favor. “Consegui.” Ela sabe o endereço.

Voltaram imediatamente para o apartamento de Vega. Eurus notou que era um prédio abandonado e entendeu a razão das janelas pintadas de preto. De fora, era impossível notar alguma luz ou movimento do lado de dentro. Eurus saiu primeiro, deixando Vega falar com o filho no banco de trás. Ela pôde ver apenas os movimentos por trás do vidro escurecido do carro, Vega estava olhando para trás. O garoto ouvia cabisbaixo e falava pouco. Vega estendeu o punho para que John lhe desse um “soquinho” meio desanimado. Depois disse algo para ele, e o menino deixou o carro rapidamente e correu pelo estacionamento vazio, parando com os punhos fechados e uma empolgação infantil na frente de Eurus.

Meu pai disse que você é uma super-heroína!

Disse, foi? — Ela riu, passando a mão no cabelo dele. O garoto estava com olheiras que ele não tinha nas fotos que Vega lhe mostrara, e sob a manga do roupão de hospital, Eurus viu marcas familiares de agulhas. — E ele disse que isso é segredo?

Ele baixou o olhar, pensativo, como se percebendo que já tinha sido descuidado com o que dizia.

Eu não vou contar pra ninguém! — falou, e subiu correndo as escadas.

Vega caminhou lentamente em sua direção com um olhar de gratidão e incredulidade. Sem dizer nada, apenas com um sorriso calmo, ele estendeu os pulsos para Eurus.

O que foi?

Não era esse o acordo? Me ajudar e depois me prender? John está aqui, a Hannah já está vindo buscá-lo, então agora só falta o meu lado do acordo.

Eurus riu.

Eu não sou uma vilã, Mattia. Não vou estragar o Natal dos meus amigos na agência levando mais trabalho e papelada para eles. Eu volto para te prender dia 26.

Pela primeira vez, Vega estava de bom humor, porque abriu um sorriso largo e respondeu:

Então é um encontro? Espera, quantos anos você têm?

Argh, eu tenho 23, tá bom?! Você não é tão mais velho assim! E sim, é um encontro. Não me ferra, Vega. Esteja aqui.

Estarei — ele se virou para seguir John, mas hesitou. — Você sabe o que eles fazem. Me ajudou com o John. Vai continuar do lado deles?

Eu já te falei. Eu só conheço essa vida. Se eu perder eles, o que é que eu vou ter?

Vega inclinou a cabeça.

Sinceramente, você parece o tipo de pessoa que pode ter o que quiser. Não precisa deles para ser uma heroína. Você é muito boa em ajudar as pessoas por conta própria. — Ela não respondeu. Vega pensou que talvez tivesse se excedido. Querendo ou não, ela mesma tinha dito. Eram inimigos. — Bom, é o que eu acho… Feliz Natal, Eurus.

Feliz Natal, Vega.


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Notas finais do capítulo

Eu planejava uma história maior para esses dois, mas eu não sou muito boa com histórias maiores. Gostei do resultado como drabble.
Curiosamente, foi a ideia dessa one que criou a Eurus, não a ideia da drabble de 2020.
Espero que tenham gostado ♥



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