A bela da TARDIS escrita por Gizelle PG


Capítulo 1
Cinco faces de um amor


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!

Primeiramente, Feliz Natal para todo mundo! ;D

Eu estou de volta neste dia tão especial, para publicar a continuação do meu conto "Me procure quando precisar" -desta vez, apresentando uma nova leva de Doutores, com uma novíssima aventura!

Belle e eu esperamos que vocês gostem! :)



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"Ele não estava lá quando eu mais precisei.

Naquele dia fatídico, ele não estava lá."

 

***

Eu estava sentada em minha poltrona preferida. As pernas cruzadas e um livro interessante em mãos.

Ouvi a porta de casa se abrir, mas continuei sentada, lendo.

—Oi, querida -ele disse, e um sorrisinho se abriu em meu rosto. Ergui o olhar e me deparei com o 11º Doutor, de pé, ao meu lado.

—Oi, amor –eu me estiquei e lhe dei um beijo. Ele sorriu, acariciando meu rosto. Depois, se ajoelhou, apoiando o corpo no braço da poltrona e inclinando-se ligeiramente para frente.

—O que está lendo?

—Orgulho e Preconceito -respondi, mostrando a capa à ele.

—Jane Austen de novo? -ele sorriu de um jeito divertido. -Acho que já sei em que época te levar, quando formos comemorar seu aniversário.

—Nossa! -eu fechei o livro, voltando-me para ele, animada. -Eu vou poder usar um vestido de época e tudo?

—Teremos vestimentas legais inclusas no pacote. Não se preocupe -ele piscou para mim. Eu o contemplei, com admiração.

—Você é incrível, sabia disso?

—Bem, tecnicamente, não é nenhum segredo. Você faz o favor de me dizer isso todos o dias. Eu já estou começando a acreditar... -brincou, passando os braços em volta de mim e me puxando para ele. O braço da poltrona sendo o único "obstáculo" entre nós. -Mas... na realidade, você é que é incrível. E adorável. E corajosa. E muito, muito linda.

—Ah, para -eu ri, corando um pouquinho. -Não pode estar mesmo falando sério... Você já teve dezenas de milhares de companheiras... e eu sei que você seria incapaz de escolher uma favorita. E, sinceramente, não estou pedindo isso. -encolhi um pouco os ombros, ao passo que ele me sorriu de um jeito fofo. -Eu sei que não sou incrível. Eu sou só eu. Seu porto seguro de todas as horas.

—Você que pensa -ele disse, me fazendo olhar imediatamente para ele. -Você que pensa que significa apenas isso para mim. -e, em sequência, ele olhou para baixo e começou a revirar os bolsos, de modo insistente. Por um momento, fiquei intrigada; -Onde eu coloquei? Estava aqui agora mesmo... AH! Aqui está—ele me lançou um olhar de expectativa e, devagar, criando um certo suspense, tirou uma pequena caixinha Azul Royal, do bolso interno do casaco roxo. Eu prendi a respiração, no momento em que a vi. Tinha uma pequena intuição sobre o que significava; Olhei para ele. Os olhos já começando a lacrimejar...

Ele sorriu para mim, e segurou minha mão.

—Eu fui com a Clara hoje até os Anéis de Akhaten. O comércio deles é ótimo. Quando eu o vi, lembrei logo em você -os olhos dele brilhavam para mim, contentes. -Espero que você goste.

E ele abriu a caixinha, revelando um anel de prata com dois corações azuis entrelaçados. Meu coração acelerou na mesma hora.

—Isso é... é o que eu estou pensando? -eu já queria chorar, mas estava me segurando.

—Depende. Se você está pensando que é tipo uma aliança de casamento... você está absolutamente certa —ele anunciou e eu imediatamente o abracei com força.

—Eu te amo! Te amo tanto...

—Eu sei -ele sorriu, me abraçando de volta. -Eu também te amo. Por isso comprei o anel. Nós dois já estamos juntos há bastante tempo... somos praticamente casados. Só faltava oficializar, né, ao menos nos padrões humanos. Eu... achei que você iria gostar disso. -ele explicou, tirando o anel da caixinha. -Belle, você aceita...

—SIM! Sim! Eu aceito—eu o atropelei, entusiasmada. Ele deu risada e colocou o anel no meu dedo.

—Bom... então é oficial agora. Somos casados! -ele sorriu, observando a aliança em meu dedo. -Puxa! O anel combinou ainda mais com você do que eu imaginava... Ficou show!

Eu ri. Então observei suas mãos. Não havia sinal nenhum de anel nelas.

—Você não... comprou um igual para você usar? -perguntei, só de curiosidade.

—Não, eu... Não sou muito fã de anéis. Eles me dão coceira—ele disse, me fazendo rir. –Mas -ele aproximou a testa da minha, olhando dentro de meus olhos. -aqui, nos meus dois corações, eu sinto profundamente nossa união. Isso é o que realmente importa para mim, no final. Você entende?

Eu sorri, tocando seu peito, com carinho, sentindo a batida ritmada de seus dois corações.

—Eu entendo. Entendo mesmo, Doutor. Eu também me sinto assim sobre nós -assenti, ao que ele fez o mesmo, depois, inclinou-se para frente e me beijou, de modo apaixonado.

***

Nossa vida vinha sendo boa, juntos. O Doutor não estava sempre comigo, mas ia e vinha sempre que podia. Quando estava longe, deixava um pequeno vazio que, eu sabia, logo seria preenchido... e quando voltada, era sempre uma festa. Um evento. Como se fosse sempre Natal.

As aventuras dele preenchiam com frequência as nossas conversas e nos faziam rir por horas a fio. Eu, é claro, também contava sobre minha vida cotidiana. E ele ouvia. Sempre ouvia, prestando a máxima atenção, por mais que eu estivesse contando sobre algo pequeno ou simples. Isso só reforçava ainda mais o amor que eu vinha nutrindo por ele, desde que o conheci, na época que ele era o 8º rosto.

Se eu tinha ciúmes das outras companheiras atuais, desde que me tornei oficialmente sua esposa (ou uma delas, pelo menos)? Não. A resposta era sempre a mesma: eu o conhecia bem demais para saber que ele não pertencia a ninguém. Seria tolice esperar que fosse ser "apenas meu", mesmo depois de um pedido oficial.

O fato era que eu o amava o suficiente para deixá-lo livre, como uma xará minha, uma vez, disse muito bem.

Certa vez, convidei Clara Oswald para almoçar com a gente, e foi bem divertido. O Doutor ficava apontando para nós e dizendo que parecíamos irmãs gêmeas e nós duas ríamos, pois realmente, além da própria aparência, tínhamos muito em comum em questão de caráter e personalidade.

Já de noite, o Doutor entrou na TARDIS para aquecer os motores, enquanto nos duas nos despedíamos.

—Que bom que você veio, Clara. O Doutor ficou tão animado com esse encontro... e não posso dizer que me senti diferente. Eu estava bastante curiosa sobre você... ele fala tanto de você!

—Ele também fala de você -ela se inclinou um pouco para frente, como se fosse compartilhar um segredo comigo: -Eu admito que no começo não acreditei que ele estivesse mesmo casado... Pensei que fosse uma brincadeira. Mas aí ele me trouxe pra te conhecer, e agora eu sinto como se fossemos amigas há muito tempo! -ela articulou, sorridente.

—Eu me sinto assim também, irmã—brinquei, ao que nos abraçamos forte; Quando nos separamos, eu acrescentei: -Mas não se preocupe. Eu não pretendo me intrometer na amizade linda de vocês. E, bom, em qualquer sentimento a mais que possa existir, se é que me entende—lancei-lhe uma piscadela cúmplice, que a pegou um pouco de surpresa.

—Perdão?

—Bom, nós duas somos companheiras dele. E eu sei que sempre tem muitos sentimentos envolvidos... Mas, para quem aprendeu a conviver em harmonia com River Song, eu garanto: não sou do tipo que sofre em ter que dividir meu marido com os outros -cruzei os braços, apoiando-me no batente da porta. -Afinal, o Doutor pertence ao universo, mas é um pouquinho de todos nós, não é mesmo?

Naquele segundo eu percebi que ela havia entendido a mensagem, pois Clara me sorriu, um pouco mais confiante.

—Claraaa! -o Doutor chamou, aparecendo na porta da TARDIS. -São 11 horas. Hora de te levar pra casa.

Que conveniente—comentei e nós duas rimos uma para a outra. -Não se esqueça de voltar mais vezes no futuro, aí nós poderemos fazer juntas aquela sua famosa receita de souflê, estamos combinadas?

—Combinadíssimo! -ela acenou para mim e correu para dentro da TARDIS. O Doutor me lançou um sorriso e disse que logo estaria de volta. Então fechou as portas, fazendo sua máquina do tempo decolar. 

***

Hoje, está completando três anos que eu e o Doutor estamos juntos.

Ele tinha dito que viria me encontrar, para que nós comemorássemos nosso aniversário, juntos, mas aparentemente, se atrasou por algum motivo maior...

Eu já estava deitada na cama, cochichando, quando uma luz se acendeu em meu quarto. Eu não acordei a princípio. Apenas me mexi na cama, mas então uma voz me chamou e foi impossível não despertar.

—Belle, por favor, acorde. Eu trago notícias do Doutor.

Assim que abri os olhos, me deparei com um holograma com a imagem de River Song, em tamanho grande, parada diante de minha cama. Ela usava uma roupa branca em um estilo diferente do "básico sexy" que eu estava acostumada.

—River? -eu perguntei, me sentando. -É você mesma? Eu não te vejo há um tempão, mulher...! Por onde você andou?

—Estou em uma Biblioteca alienígena, salva no HD de um computador vivo e consciente, chamado Cal. Mas está tudo bem. Eu estou ótima!

Franzi a testa.

Como é que é?

—Isso não importa agora, Bell. -ela intensificou. Parecia séria por algum motivo. -Eu vim te trazer uma notícia. -ela fez uma pequena pausa, causando expectativa. -Você sabe que, durante minha vida toda, eu conheci e encontrei o Doutor de forma não linear. Isso, algumas vezes, pode ser complicado e confuso, mas ao mesmo tempo, às vezes é muito, muito esclarecedor -ela mostrou um livro azul que estava segurando: seu diário. -Eu estive lendo minhas memórias, tentando sincronizá-las novamente com a vida do Doutor... e então, hoje eu me deparei com esta descrição -mostrou uma página do livro para mim. Eu me levantei da cama e andei até ela, para poder ver melhor.

—Trenzalore? -li, sem entender.

—Exatamente -River confirmou, muito séria. -Imagino que você já deva ter ouvido essa palavra antes.

—Sim. O Doutor já me falou alguma coisa a respeito -fitei-a, me recordando de nossa ultima conversa sobre o assunto. -Era um planeta, ele disse. Um planeta que pretendia evitar... -balancei a cabeça. -Mas o que isso significa, afinal? Por que todo esse suspense em cima de um único planeta?

River me encarou. Parecia surpresa.

—Ele não te contou? -perguntou, dando um passo à frente. -Trenzalore é o planeta onde o Doutor deveria morrer. É lá onde ele está enterrado.

Eu senti meu coração parar de bater, por um instante. Aquilo era mesmo verdade? Trenzalore significava a morte para o meu Doutor? Imediatamente, meus olhos começaram a lacrimejar, mas eu me segurei, pois ainda havia uma questão que não estava esclarecida.

—River, por favor, seja sincera comigo: Isso está marcado para acontecer quando? Quando o Doutor terá que ir para Trenzalore? -eu perguntei, me agarrando àquele fio de esperança. No entanto, a expressão dela não parecia otimista...

—Eu sinto muito, Belle. Mas... a data bate com o dia de hoje. -ela disse, afetada. -Hoje, ele foi para Trenzalore, junto com Clara Oswald.

—Ai meu Deus... -eu senti uma vertigem de repente e tive que me sentar com urgência na cama. -Ai...

—Bell! Bell, você está bem? -a voz preocupada de River parecia um eco distante, agora. Eu via o quarto todo girando ao meu redor... Minha cabeça doía e meu coração estava partido.

E então, de repente, tudo escureceu. Eu não via e nem sentia mais nada.

***

Eu acordo me sentindo um pouco estranha. Meio enjoada, com os membros meio dormentes... a cabeça latejando de leve.

Devagar, eu procurei me sentar na cama, segurando-me onde pude. Quando consegui estabilizar minha visão, deparei-me com uma figura masculina de costas para a janela, observando a vista noturna da rua da minha casa.

—Quem... quem é? -gaguejei, ainda me estabilizando. -Quem está aí...? Doutor...? -o homem moveu-se lentamente, virando a cabeça em minha direção. Logo eu pude constatar que aquela silhueta não pertencia ao rosto número 11. -Quem é você? -insisti, um pouco ansiosa.

Ele virou-se e começou a avançar na direção de minha cama. O quarto inteiro em breu ajudava a manter sua identidade oculta... o que não era nem um pouco vantajoso para mim.

—Se... se afaste! Eu estou avisando! -apanhei o controle da TV, empunhando-o ameaçadoramente. -Se você der mais um passo, vai chover controle remoto na sua cabeça, invasor! -brandi, tentando soar intimidadora.

Mas antes mesmo que eu pudesse pensar em continuar o discurso, uma mão surgiu e arrancou o controle remoto da minha, num movimento veloz, como eu nunca vira antes.

Primeiro o controle remoto levantou vôo, e depois, aterrissou na cama, longe do meu alcance.

—Pare de dizer bobagens -a voz disse, e em seguida eu ouvi um zumbido: a chave sônica, e as luzes do quarto se acenderam.

Parado em minha frente estava um homem alto, magro e grisalho, com sobrancelhas grossas mal humoradas e uma chave de fenda sônica em mãos. Suas roupas eram compostas por uma camisa branca, blusa de botão, calças, sapatos e casaco, todos pretos, apenas com a exceção do revestimento interno do casaco, que era vermelho vivo.   

A chave de fenda foi a pista que entregou para mim sua identidade.

Eu olhei para ele e arregalei os olhos, bastante surpresa.

—Dou... tor? -gaguejei. -É mesmo você?

—Não, sou a Mãe Dináh! É CLARO que sou eu! -ele retrucou, irritadiço. Eu imediatamente me empertiguei, na cama. Nunca, desde que o conhecera, eu tinha recebido uma chamada de atenção do Doutor. Isso era definitivamente algo novo e me pegou completamente desprevenida.

—Hã... sei -disse, sem saber o que dizer, enquanto ele andava pelo meu quarto, como se fosse um leão enjaulado, procurando por rotas de fuga. -V-você está bem? Parece meio perdido...

—É. Você também estaria se tivesse acabado de regenerar -ele resmungou, dando um safanão na cortina.

Eu o encarei. De repente tudo fez sentido.

—Ah, é mesmo! Você ia se regenerar hoje... a River me avisou. -eu engatinhei até os pés da cama, me aproximando dele, mas ainda assim, mantendo uma distância segura entre nós. -Bom, como se sente? -tentei ser amigável e puxar assunto.

—Como me sinto? Me sinto uma pilha de nervos!—ele gritou, chutando um abajur. Eu apertei os olhos com o movimento brusco e o baque do vidro colidindo com o chão.

—Dia ruim? -perguntei, mas devia ter ficado quieta quando tive chance, pois ele se voltou para mim como um demônio enraivecido.

—Dia ruim? Você lá sabe o que é isso? Você já regenerou alguma vez, por acaso? Você NÃO FAZ IDEIA de como é! -rugiu na minha cara.

Eu tentei segurar as pontas.

—Eu... não quis ofender. Sinto muito.

—Sente muito? SENTE MUITO? É a única coisa inteligente que consegue pensar em dizer? Que "sente muito"? -ele parecia consternado. -Quer saber, vocês humanos são todos uns idiotas burros. Não sabem nem formular uma frase inteligente em uma ocasião importante. Vocês são todos uns CÉREBROS DE PUDIM! -ele gritou e, não contente com isso, abriu a janela e gritou a mesma coisa para toda a vizinhança ouvir. -SÃO TODOS UNS CÉREBROS DE PUDINS! BURROS, RIDÍCULOS E EGOÍSTAS, SERES HUMANOS! EU TENHO PENA DE VOCÊS! TENHO PENA DE SUA MEDIOCRIDADE... NA VERDADE, EU OS DECLARO "REIS DA BURRICE UNIVERSAL!" VOCÊS SÃO OS PIORES DEPOIS DOS DALEKS!!

—Tudo bem, já chega -eu levantei da cama e corri para alcançá-lo. No momento em que o fiz, estendi os braços em volta dele, tentando imobilizá-lo como se eu fosse uma camisa de força.

—O que está fazendo!? Não ouse me abraçar! Eu desprezo abraços!! Eles são feitos para ocultar sentimentos!

—Pare, Doutor! Vai acordar os vizinhos...

—Eu não estou nem aí para os seus vizinhos idiotas! Eles que queimem com os Daleks nos escombros de Gallifrey!

—Cale a boca! -gritei, desesperada. -Você não tem noção da gravidade das coisas que está dizendo! A regeneração mexeu com sua cabeça, é isso. Se nós nos sentarmos e nos acalmarmos, eu poderei tentar te ajudar a organizar os pensamentos... -sugeri, mas ele estava irredutível.

—MAIS NEM MORTO! NEM POR CIMA DO MEU CADÁVER DE SENHOR DO TEMPO! VOCÊ QUE SONHE EM TENTAR ME CONTROLAR... EU FAÇO VOCÊ EM PEDACINHOS! -ele ralhou, fazendo um movimento brusco inesperado com as costas, que me desequilibrou e me fez cair no chão.

—Ai! -eu gemi, quando meu corpo colidiu com o piso, com força. Naquele mesmo instante, o mal estar de antes voltou e eu comecei a me sentir mal de novo... -Ai... a minha barriga... -apertei os olhos, sentindo dor. -Está doendo muito... -disse, ofegante. -O que está acontecendo?

—Você não deveria estar zanzando por aí, menina tola. Deveria estar repousando! -repreendeu ele, me segurando pela parte de trás do braço e me arrastando de volta para a cama, como se eu fosse uma pessoa rebelde, que sempre desobedecesse suas ordens. -Eu te livrei de uma boa, e é assim que você me agradece? É assim que retribui o favor? Me causando mais problemas? -ele me atirou na cama, de bruços, como se eu fosse uma almofada velha.

Devagar, eu comecei a tentar me levantar novamente. Logo consegui me sentar na cama, mas não conseguia ignorar as centenas de perguntas que pipocavam em minha mente: Por que ele estava sendo tão rude? Por que estava me tratando com casca e tudo? Ele não me amava mais? Recolheria suas coisas da minha casa, até que o dia raiasse, e sumiria da minha vida para sempre? E quanto aquele papo de "me livrar de uma boa" e "retribuir o favor"? De que diabos ele estava falando??

—Doutor -eu chamei, com o resto da dignidade que ainda me restava. -O que você quis dizer com “me livrar de uma boa”? O que isso significa de verdade? -questionei, pronta para ouvir sua explicação.

Ou talvez nem tanto.

Ele olhou para mim de um jeito possesso, então respirou fundo e virou para a janela, olhando para a escuridão da noite.

—Havia um obstáculo no seu caminho e eu cuidei dele pra você. -falou, de um modo bastante arrogante e desagradável. -De nada.

Levei algum tempo tentando ligar os pontos... Do que ele estava falando? Então, minha barriga deu uma nova fisgada e eu finalmente notei o óbvio.

Eu... eu estava grávida. Não sei de quanto tempo... talvez de dias ou semanas...

Mas isso não era mais uma realidade agora.

Eu senti uma dor enorme no peito, conforme a verdade me invadia...

—O que você fez? -questionei, chorando. As mãos abraçando minha barriga, que nem forma sequer havia adquirido ainda. -Não finge que não consegue me ouvir, porque eu sei que você consegue -arfei, desolada. -Que diabos você fez comigo, Doutor?

—Eu fiz a coisa lógica a se fazer -ele se virou para mim, e seu semblante parecia sombrio, agora. -Não me olhe assim, como se me julgasse... Você bem sabe que ter um filho Senhor do Tempo é altamente perigoso. Misturar duas raças então, é uma bomba relógio com data e hora marcada para explodir. -ele enfatizou, colocando as mãos nos bolsos. -Eu fiz o que tinha que ser feito.

Eu balancei a cabeça, arrasada.

—Como você pode? Como teve coragem de tirar a vida do nosso bebezinho? -eu estava tão magoada, tão desoladamente inconsolável... me sentindo tão perdida e invadida, que não segurei a língua. Sem pensar duas vezes, eu cuspi: -O rosto número 11 me amava. Ele jamais permitiria essa barbárie!

Para que eu fui provocar? O 12º Doutor encarou-me com olhos furiosos e brandiu, me fazendo tremer na base:

—O 11 NÃO ESTÁ MAIS AQUI!

Eu estremeci toda e recomecei a chorar.

Levou alguns instantes para eu conseguir reassumir o controle... Mas, quando aconteceu, eu reuni uma força que nem sei de onde veio. Só sei que quando dei por mim, eu estava expulsando-o da minha casa.

—Sai daqui -eu rosnei, fora de mim.  -CAI FORA DA MINHA CASA!

Pela primeira vez naquela noite, ele pareceu surpreso de verdade. Demorou alguns instantes entre me encarar, encarar o aposento e assimilar minha ordem. Então, ele simplesmente virou as costas e saiu pela porta.

***

Já fazia dois anos e cinco meses que eu não o via. Ele estava fazendo o possível para se manter afastado, enquanto eu fazia o possível para tocar minha vida sem ele.

No começo, foi difícil. Eu chorava, sentia saudades... Não do rosto número 12 em si, mas do meu Doutor gentil e amigável. Eu o queria de volta. Queria ouvir sua voz, sua risada, sentir o seu toque... Ver aqueles olhos bondosos mais uma vez. Mas eu não podia. Simplesmente, estava fora do meu alcance.

Depois de um tempo, eu finalmente parei de sonhar com possibilidades e aderi aos fatos: o Doutor que eu conheci um dia, mudara. Estava diferente. E desta vez, não era só o rosto: ele regenerara a essência de sua personalidade também. O antigo padrão: fofo, divertido, sonhador e meio doidinho havia sido quebrado, talvez, para nunca mais voltar. Eu quase não era capaz de reconhecê-lo... Mas o que eu podia fazer? Teria que aceitar e conviver com isso.

Era um sábado à noite e eu estava me arrumando para ir a uma festa noturna com amigos do trabalho. Ia ser divertido! Coloquei aquele meu vestido vermelho com brilho e as sandálias com tiras douradas. O cabelo estava preso em um rabo de cavalo alto e havia alguns fios da minha franja, soltos, na lateral do rosto. A maquiagem era delicada, agradável de se olhar. E as unhas estavam todas pintadas de vermelho cintilante.

 Eu me sentia mais feminina do que nunca naquela noite. Após conferir o gás, ver se a janela do banheiro estava bem fechada –às vezes entrava água por ali, quando chovia muito forte –e me certificado de ter apagado todas as luzes (menos a da sala, é claro), eu apanhei minha bolsa e as chaves, e caminhei até a porta de casa, pronta para sair.

Quando eu a abri, porém, me deparei com um homem sentado no primeiro degrau da escada, que levava à minha porta de entrada.

Ele estava de costas para mim, mas, por algum motivo, no momento em que o vi, eu soube exatamente quem era.

—Você -falei, muito séria, já levantando meus escudos. -O que faz aqui?

—Eu... Eu não sei -ele estava encolhido. Os braços abraçando as próprias pernas. A voz meio murcha. A princípio, estranhei um pouco sua postura. Não era a mesma daquele dia do turbilhão de emoções.

—Você não sabe? -cruzei os braços, franzindo a testa. -Não tem nem um palpitezinho sequer? –“Não veio, talvez, ficar de joelhos, pedir desculpas pelo que fez da última vez, e implorar o meu perdão?”, completei, mentalmente; -Pense melhor... -instiguei.

Mas então, uma coisa que eu não estava esperando aconteceu: de repente, ele começou a chorar de modo desenfreado. Sim. Aquele mesmo homem de atitudes hostis e inconseqüentes, agora se desmanchava em lágrimas, bem na minha frente.

Eu admito que, de todas as coisas que imaginava, esta com certeza não fazia parte da lista.

—Dou... -eu me detive. A mão estendida no ar, em sua direção. Não. Eu não podia ser tão ingênua. Nosso último encontro havia sido uma catástrofe completa, e eu não fingiria que aquilo não aconteceu. Rapidamente, recuei a mão, antes que ele visse meu gesto.

—Belle -ele disse, com a voz chorosa. Os olhos azuis claros, afetados, olhando para mim. -Foi a Clara. Eu... Eu perdi a Clara.

Meu coração bateu forte e depois parou, por alguns segundos.

—Clara Oswald? -eu me aproximei um pouco dele, esquecendo-me momentaneamente de nossas diferenças. -O que aconteceu?

Ele encarava a rua, como se estivesse sem rumo, perdido.

Ela morreu.

Mais uma vez, eu me senti sem chão. Tive até que me segurar em uma coluna da casa, para que os joelhos não cedessem na hora do baque.

Clara era minha amiga íntima. Nós conversávamos com freqüência, sobre todo e qualquer assunto... mesmo quando o Doutor regenerou para o rosto número 12, e nós nos distanciamos, ela continuou mantendo contato comigo, sempre amistosa e prestativa.

—Como aconteceu? -eu perguntei, de coração partido. Os olhos começando a lacrimejar.

Ela enfrentou O Corvo. Tentou enganar a morte, para salvar um amigo... Era para ser só mais uma aventura. Não era para ter acabado assim –ele fechou os olhos com força, e ficou claro o quanto estava sofrendo.

Eu estava chorando a essa altura. Naquele momento, nossa briga, nossas diferenças, nada mais importava. Eu me abaixei próximo a ele e esfreguei seus braços, tentando consolá-lo.

—Eu sinto muito -beijei seu ombro, desolada. -Sinto muito...

Ele se voltou para mim, arrasado, e eu o abracei com força.

***

A porta da minha casa se abriu novamente e nós dois entramos. Sem pensar duas vezes, eu levei o Doutor até o sofá. No caminho, atirei minha bolsa na poltrona mais próxima. Não ia mais precisar dela por aquela noite.

—Sente aqui -instrui. Ele cedeu, sem fazer objeções; Em seqüência, eu me sentei ao seu lado e encostei as costas no encosto do sofá, parando para absorver tudo o que havia se passado. Por alguns minutos, nós dois ficamos fora de área, em total silêncio. Eu afundada no sofá e ele com o corpo inclinado para frente. O rosto oculto pelas mãos, como um Anjo Lamentador.

Eu... eu queria dizer algo a ele. Queria mesmo. Mas ao passo que nos mantínhamos calados, íamos nos distanciando também... voltando ao estágio inicial.

Em pouco tempo, eu não tinha mais coragem de iniciar uma conversa. Suspirei, pensando em como nossa relação havia se tornado complicada.

—Você não teve culpa -ele disse, de repente, e eu me assustei.

—O que?

—Eu disse, que você não teve culpa -devagar, ele afastou as mãos dos rostos e olhou para mim. Parecia mais desanimado do que triste, agora. -Eu fui rude e grosseiro com você. Eu nunca devia ter dito aquelas coisas...

Eu fiquei olhando para baixo, sem ousar me mexer.

—Você foi violento e cruel também -disse. Os olhos fixos na superfície do sofá. Eu sabia que o Doutor estava olhando pra mim, então permaneci séria e distante, esperando, com isso, deixar claro o quanto ficara magoada com ele.

Após me observar por um momento, ele se voltou novamente para frente, refletindo.

—Eu fui um péssimo marido -concluiu, deixando a cabeça pender no nível dos ombros. -Eu sinto muito, Belle.

Eu não soube o que dizer. Eu devia perdoá-lo? Devia colocar uma pedra em cima de tudo que aconteceu entre nós? Estaria sendo iludida se escolhesse acreditar que ele poderia ser o meu Doutor de novo?

Entrementes, o Doutor avistou minha bolsa na poltrona, depois se voltou para mim, observou minhas roupas e somou os pontos.

—Você vai a algum lugar?

—Sim. -eu disse, sem pensar. -Eu já estava de saída quando encontrei você sentado na minha escada –se lamentando, eu quis acrescentar, mas fiquei quieta. Minha voz já estava fria e calculista o suficiente.

O Doutor baixou os ombros, como se se entregasse.

—Pode ir. Eu... eu vou ficar bem sozinho -ele prensou a têmpora, parecendo cansado. Eu respirei fundo, tomando coragem. Então me levantei. Peguei minha bolsa e fiquei parada de frente para ele, olhando-o de cima.

—Eu vou -disse, decidida; Ele não ousava olhar para mim. Então, eu fiz algo que ele não esperava: me abaixei diante dele, ficando com o rosto frente a frente com o seu. Ele pareceu ficar surpreso, quando eu completei: -Ficar com você.

—C-como é? -ele ofegou, balançando a cabeça.  -Não estou entendendo...

Eu segurei suas mãos. O semblante amigável, como costumava ser no passado.

—Eu disse que vou ficar aqui com você.

—Eu ouvi -ele pareceu confuso. -Mas por quê? Por que vai fazer isso? Você é jovem... Tem tantas coisas para ver e fazer... A vida está lá fora, te esperando! –indicou a porta da minha casa.

Eu intensifiquei o toque ao redor de suas mãos.

Você é a minha vida—falei, e ele se calou, perplexo, ao que dei de ombros. -Ou vai dizer que não sabia disso, Doutor?

Ele me fitava como se eu não pudesse ser real, e eu apenas sorria, emotiva.

—Senti tanto a sua falta... -disse e o abracei. Por um momento, ele ficou sem reação, mas então aderiu, retribuindo o gesto de carinho.

—Eu também senti, Belle. Eu também senti.

***

Nos meses subseqüentes, o Doutor não desistiu de salvar Clara Oswald. E eu, é claro, não o impedi. Ele estava determinado a reverter às coisas... lutou bravamente e foi mais longe do que jamais havia sonhado... e, no final, Clara tinha ganhado uma TARDIS própria e uma vida "extra", para poder viver mais um punhado de aventuras.

Não era uma solução definitiva, mas era melhor do que nada.

O tempo passou e as coisas, aos poucos, foram se ajeitando de novo entre nós.

Agora ele tinha uma nova amiga: uma garota chamada Bill Potts, que era bem legal, divertida e muito animada. Na verdade, eu acho até que ela faz muito bem para ele...

Em uma noite, após ter levado Bill de volta para casa, depois de muitas conversas e descontração na minha sala de estar (pois é, eu não canso de conhecer os amigos do Doutor...), eu estava no quarto, sentada na cama, assistindo um filme, quando ele subitamente entra pela porta, usando óculos escuros e trazendo uma guitarra pendurada na frente do corpo.

—Está pronta, Bell? -ele perguntou, tocando a guitarra com força. O som era alto e estridente.

—Pronta pra que? -perguntei, tapando os ouvidos. -Ficar surda de vez?

—Não seja estraga prazeres -ele retorquiu, animado. -Pronta para o Show de Rock! -e tocou a guitarra novamente, e o som saiu mais estridente do que antes.

—Você vai acabar me enlouquecendo... -falei, mas tinha um sorriso contente no rosto. O Doutor sorriu pra mim de volta. Tirou os óculos e atirou-os na cama, sentando-se próximo a mim. A guitarra a tiracolo.

—Não. Eu nem sonharia em fazer isso -ele sorriu, simpático. -Se eu te enlouquecesse, quem iria fazer bolos tão deliciosos para mim?

—Ah, então é só por causa dos bolos, não é? -peguei a deixa, emendado, de brincadeira: -Eu sempre soube!

Ele sorriu e segurou minha mão.

—Você é maravilhosa, Belle. Tão maravilhosa, que eu trouxe uma coisa pra você -ele revelou, me pegando de surpresa. -É um presente... -ele remexeu o bolso, fazendo suspense. -Faz alguma idéia do que possa ser?

—Nenhuma -ri, espontânea. -Mas, Doutor, não precisava me comprar nada... Você sabe que o meu maior presente é ter você na minha vida.

—Eu sei. Modéstia à parte; Mas eu faço questão, querida. -ele puxando a chave sônica para fora do bolso e mostrou-a a mim.

—Hã... -mordi o lábio, meio confusa. -Isso é muito legal da sua parte, mas o que eu faria com a sua chave sônica? Bom... talvez possa me divertir roubando o wifi do vizinho... -considerei.

—Errado! -ele bateu de leve com a sônica na minha cabeça, apenas deslocando meu cabelo do lugar e me fazendo rir. -Não estou te dando a minha chave sônica, mocinha. O presente é uma coisa que ela pode fazer por você.

Franzi a testa, refletindo.

—Uma coisa que ela pode fazer por mim...? -balancei a cabeça, sem entender. -Não sei não... montar um armário ao contrário?

O Doutor respirou fundo, impaciente.

—Não seria algo tão óbvio -esclareceu, então tomou minhas mãos nas suas. -Olha só... anos atrás, quando eu me tornei o 12º rosto, eu fiz uma coisa muito, muito idiota. Mas hoje, eu queria que você soubesse que eu me arrependo infinitamente do que fiz naquela noite. De todo o sofrimento que causei a você... Eu... admito que estava errado. -disse, de modo convincente e verdadeiro. -Pois bem... Chegou o dia, de me redimir com você. Hoje eu vou consertar as coisas devidamente entre nós. -anunciou, lançando-me um sorriso um pouco hesitante.

 Olhei para ele, a principio, sem entender o que aquilo significava.

—Eu não sei ao certo... -eu dizia, mas ele me impediu de continuar, colocando seu dedo indicador gentilmente sob meus lábios.

—Deixe eu falar, tudo bem? Eu vou explicar tudo -prometeu. -Naquela época, eu disse que era muito perigoso ter um filho Senhor do Tempo, e então, eu decidi intervim na sua gravidez, sem a sua permissão -ele pareceu pesaroso nesta parte. -Eu realmente sinto muitíssimo por isso... MAS! O que eu não te contei, foi que eu não fiz realmente mal ao nosso bebê, como fiz você pensar -ele revelou, e eu comecei a ficar emotiva. -A verdade, é que eu usei a chave sônica em quanto você dormia, para deixar nosso filho congelado em uma espécie de animação suspensa. Isso não o machucaria, mas o deixaria suspenso no tempo, até segunda ordem -ele disse, nesta parte levantando a chave sônica e ativando-a por um segundo, enquanto olhava para mim. -A verdade é que ele continua vivo e seguro, dentro da sua barriga. Se eu encontrar a freqüência correta... eu posso descongelá-lo e deixar sua gravidez seguir o curso natural, como se nada tivesse acontecido -ele fez uma pequena pausa, olhando pra mim. -Isso, é claro, se você ainda desejar carregar nosso filho -ele sorriu para mim.

 Eu já estava chorando a essa altura.

—Sim. Ah, meu Deus... Sim! Eu quero muito isso, Doutor. -solucei, sem conseguir me conter.  -Seria um sonho virando realidade...

—Muito bem então -ele começou a se preparar para fazer o processo inverso. Segurou a chave sônica com uma mão e estendeu a outra na direção da minha blusa. Então olhou para mim. -Posso? -perguntou, gentilmente.

—Deve -eu sorri, consentindo. Ele sorriu em retorno e ergueu uma parte da minha blusa, apenas para a barriga ficar a mostra. Então, em seguida, ele encaixou a ponta da chave sônica contra o meu umbigo.

—Pode fazer um pouco de cócegas -ele avisou, acionando a chave.

—Ui! Faz mesmo! —ri, me inclinando ligeiramente para frente.

—Tente ficar parada, sim? -ele pediu com jeitinho e eu assenti, deixando-o se concentrar no trabalho. -Ok. Acho que terminamos por hoje -ele avisou, guardando a chave de fenda sônica de volta no casaco.

—Será que funcionou? -perguntei, tocando minha barriga com curiosidade. -Nosso filho está mesmo de volta?

Ele mordeu o lábio por um instante e arqueou as sobrancelhas em um movimento sincronizado.

—Vamos descobrir! -ele se ajoelhou no leito da cama e colou a orelha na minha barriga, procurando por algum sinal, que eu não era capaz de detectar.

—Encontrou alguma coisa?

—Shhhhhh!

Tá bem!—ergui as mãos em sinal de rendição. -Vou ficar quieta.

—Espera aí... espera aí... -ele sussurrava, atento. -AHÁ! -ele gritou, de repente, me assustando. -Eu ouvi! Escutei a danadinha... Nossa filha está viva e bem!

Parei de chofre, sem acreditar no que ouvia.

—Nossa filha?—arfei, sentindo os olhos começarem a lacrimejar de novo. -É uma menina? Nós vamos ter uma menininha!?

—Sim! Não é incrível!? -ele exclamou, e não parecia caber em si de tanta felicidade... tanto que me abraçou com força. Eu estava tão contente, que quase deixei passar batido... mas, francamente, por quanto tempo eu conseguiria ignorar a ironia daquele gesto?

—Sabe, eu andei reparando que você anda mais suscetível a abraços -comentei, afagando seus braços, ao meu redor. -O que o fez mudar de idéia?

—Eu não mudei de idéia. Ainda acho que devemos sempre desconfiar de abraços. Eles escondem verdadeiras intenções e sentimentos... mas eu abro uma exceção quando o assunto é você. -anunciou, despertando minha curiosidade. -Nós sempre deixamos as coisas esclarecidas entre nós. Eu sempre pude confiar em você... então, não desconfio do seu abraço.

—Ah! Fico muito feliz em ouvir isso -eu sorrio, satisfeita.

—Eu sabia que se sentiria assim -ele beijou minha barriga, depois segurou minhas duas mãos e beijou cada uma delas, com paixão. -Nossa garotinha será tão linda quanto a mãe dela.

Ele me abraçou pela cintura e eu acariciei seus cabelos grisalhos.

—E será tão amorosa quanto o pai. 

***

As coisas só melhoraram daqui por diante. O Doutor vinha com muito mais freqüência me visitar, e sempre que voltava de uma viagem, lembrava de trazer algum presente para nossa filhinha.

—Você vai acabar mimando ela, desse jeito -observei, segurando-me para não rir. No chão, aos meus pés, havia uma pilha de pacotes dentro de um saco gigante de presentes. -O que é isso? Você assaltou o Papai Noel? Que feio, Doutor... Você vai parar na lista dos meninos levados -provoquei e ele deu risada.

—Rá! Com muito prazer, querida -piscou pra mim, de um jeito atentado; Uma tiara com galhadas de rena na cabeça. -Mas não pretendo mimar somente nossa filha. Aqueles dez presentes ali são para você –apontou, espirituoso. Eu ri. -Mas, só para ficar claro, eu não assaltei o Papai Noel. Embora ele merecesse—retrucou e eu o encarei, com ar de riso.

—Está mesmo criando treta com o bom velhinho?

—Bom velhinho? Bom velhinho era EU, nos tempos de glória do meu 1º rosto!

Olhei para o outro lado, disfarçando.

—Ouvi dizer que você era rabugento...

—Isso também. Mas não muda os fatos.

—Rabugento e ranzinza -reforcei e ele fez um bico para mim. -MAS muito gente boa...

Ele cruzou os braços.

—"Muito gente boa?"

—É. -concordei. -Gente boa.

—Tá me fazendo sentir um surfista aposentado. Daqueles tipos que vendem a própria arte na praia. -fez uma careta que me fez ter uma explosão de risos. -Você tá rindo disso? Espera até chegar na minha idade...

—Isso será impossível. Humanos não vivem tanto -argumentei, dando de ombros.

—Eu sei -ele se aproximou de mim e beijou minha mão. -Mas, às vezes, eu gosto de fingir que você é uma Senhora do Tempo... e que nosso tempo juntos será eterno. -Ele encostou a cabeça entre meu peito e minha barriga, que já estava bem grandinha a essa altura, e me abraçou.

—E será, meu amor. Será eterno. Nossa pequena eternidade -eu sorri para ele e nós nos beijamos.

***

Quatro dias depois disso, eu estava entrando em trabalho de parto. Sozinha, em casa, sem ninguém por perto para ajudar. Ou quase...

—Respira. Respira fundo. Vamos! Você pode fazer melhor do que isso...!

—River, você NÃO está ajudando!! -rosnei, entre dentes. Eu estava deitada na cama, usando uma camisola e suando pra caramba, porque as contrações estavam acabando comigo. -Aaaaaaaaah! -projetei meu corpo para frente, quase perdendo o fôlego. -Deus... essa foi pior do que as últimas!

—O intervalo das contrações está ficando menor... Logo sua filha estará pronta para vir ao mundo.

—Eu não sei se fico contente, ou não, com essa notícia -gemi de dor, sentindo as lágrimas escorrerem por meu rosto. –River, eu não sei se vou conseguir chegar ao fim disso... Ainda mais sabendo que eu podia estar em um hospital, há uma hora dessas, fazendo uma cesárea... Aaai! -apertei os olhos com forca, segurando as laterais da minha barriga.

—Nós já falamos sobre isso. Seu bebê não é humano. Pode ser perigoso expor a criança aos hospitais da Terra... Imagine esta situação hipotética: Você acabou de dar a luz. Então, algum enfermeiro que ninguém da a mínima, percebe algo diferente no DNA da sua filha, e fica intrigado. Esta mesma pessoa terá a "brilhante" idéia de mentir para você, dizendo que a criança não resistiu. Então, enquanto você estiver aos prantos, sendo consolada pelo Doutor, ele estará levando a sua filhinha para longe de vocês, para estudá-la melhor em um laboratório frio e escuro, do outro lado da galáxia!—River narrou, furiosa, e soou como uma experiência pessoal.

—Aarrrrrrr! -gemi, morrendo de dor. –River, eu juro, o dia que for você aqui, no meu lugar, eu vou lembrar de dizer a mesmíssima coisa!—ameacei, batendo com o punho fechado no colchão, sentindo-me irritada e hostil.

—Querida, isso vai levar cinqüenta vidas. Eu nunca deixo deslizes ocorrerem -ela basicamente esnobou, percebendo tarde demais o que havia feito. -Não que esse milagre lindo no seu ventre seja um deslize... Não foi o que eu quis dizer.

 -Ai meu Deus... isso é uma prova insana de resistência! -gritei de novo, desesperada. –Chega. Eu não agüento fazer isso sozinha... Onde ele está? Eu preciso dele...

—Eu já mandei uma mensagem para a TARDIS. Caiu na secretaria, mas eu deixei um recado. Logo o Doutor deve chegar... assim espero.

—Não me parece muito certa disso –falei, entre dentes. -Ai meu Deus, aqui vem outra... -eu me arqueei com a dor da contração.

Ele não estava lá quando eu mais precisei.

Naquele dia fatídico, ele não estava lá...

Alguém pediu um Doutor?—perguntou uma voz feminina, pertencente a uma mulher loira, usando sobretudo cinza com capuz, calça azul, botas marrons, blusa de arco íris e suspensórios, que invadiu meu quarto como um furacão colorido e animado. -Serve uma Doutora!?

O holograma de River e eu nos entreolhamos, confusas.

Por um segundo, ninguém disse nada, até que a mulher recém chegada fez uma careta, e comentou:

—Puxa vida, essa recepção foi meio fraca...  Mas eu vou dar um desconto, levando em conta o que estamos enfrentando aqui –e disparou de encontro a mim, na cama, sacando um estetoscópio e começando a examinar minha barriga. -Oi, tudo bem, pode falar!

—Falar? –perguntei, mas a mulher abanou o ar com a mão.

—Sim. Estou falando com a neném –ela esclareceu, e eu franzi a testa, enquanto ela posicionava o estetoscópio contra minha barriga e esperava por alguma coisa.Aham. Aham. Sei... Mas já? Não quer mesmo ficar nem mais um diazinho aí dentro? Foram só dois meses e... quantos dias? Cinco?

Encarei-a, chocada.

—Como é que você sabe que a minha gravidez durou exatamente esse tempo!?

—Por que ela... -River começou e nós duas olhamos para ela, nos deparando com seu semblante surpreso. De repente, River olhou para a mulher desconhecida de um jeito diferente e abriu um sorriso. -É você mesmo?

—Eu mesma! Agora mais feminina do que nunca! Ou quase -ela piscou, e River riu. Aparentemente, só eu não estava entendendo nada ali.

—Do que é que vocês duas estão falando?

A loira de cabelo chanel olhou para mim, de modo tranqüilizador.

—É completamente compreensível que você não me reconheça. Eu mudei bastante desta vez... Na verdade, um pouco mais do que o esperado –ela afastou as lapelas do sobretudo, lançando um olhar espirituoso aos próprios seios. -Mas ainda sou eu mesma, meu amor. Eu vim de longe pra te ajudar a ter a nossa filha! -ela sorriu e parecia radiante.

Meu coração disparou. Conforme a ficha caia, eu ia abrindo um largo sorriso deslumbrado...

—Doutor!! -eu a puxei para um abraço, que ela fez questão de retribuir, com cuidado para não prensar minha barriga.

—Agora sou a Doutora. Mas enfim, é tudo a mesma coisa! -ela disse, espirituosa. -Ah, meu amor... eu disse que vinha, não disse? -ela se afastou, apenas para olhar em meus olhos e acariciar meus cabelos. -Você parece exausta, coitadinha... Não se preocupe, eu irei te ajudar! -e sacou seu modelo exclusivo de chave sônica, apontando para minha barriga por um instante e ativando-a. -Ah, agora sim... Prontinho! -anunciou, tornando a guardar a chave no bolso do sobretudo. -Ok. Vamos lá -ela se posicionou diante de minhas pernas, esfregando as mãos. -Hora de trazer nossa princesinha ao mundo!

—Ai, eu não sei se eu tô pronta para mais doses de dor e sangue -cometei, receosa. A Doutora me deu um tapinha no braço.

—Esquece isso, boba. Eu usei uma função da chave sônica pra te ajudar. Confie em mim. Você já fez a parte mais difícil -ela disse, segurando minha mão. -É, desculpe por isso. Se eu tivesse chegado mais cedo você provavelmente não teria sentido nenhuma dor de contração. Falha minha. -ela assumiu, erguendo a mão. -Mas enfim, eu cheguei na melhor parte. Agora, você vai fazer exatamente o que eu disser, e não vai ficar com medo, certo Belle?

Eu assenti, um pouco preocupada.

Tudo bem... precisamos de um pouco mais de confiança do que isso -insistiu a Doutora.

—Tá bem. Eu... eu vou tentar -arrisquei.

—É assim que se fala! -comemorou a Doutora, segurando a barra da minha camisola. -Bom, você não vai se importar se eu der uma espiada na situação, não é mesmo? É claro que não... Somos casadas! -ela riu da própria piada. -Ok, platéia difícil... Vamos para os comerciais -brincou de novo, mas desta vez, estava analisando se eu tinha ou não dilatação. -Falando sério... eu não sou realmente formada em medicina, mas fico contente de ter tido umas aulas práticas com alguns figurões da história, neste ramo... o que me leva a dizer: Tenho ótimas notícias! Você tem dilatação pra dar e vender, Belle! -anunciou, orgulhosa. -Essa é a minha garota! 

—Obrigada, mas... e agora? O que faremos a seguir? -perguntei, já sabendo o que provavelmente ela iria dizer, mas ainda assim, com um pingo de esperança em ouvir que íamos fazer uma pausa para o café.

—Bom, já chequei os sinais vitais de nossa filha e todas as coisas importantes -deu de ombros. -Acho que só nos resta empurrar.

Crispei os lábios, aflita.

—Eu temia que você dissesse isso...

—Mas não precisa temer nada... Lembra do que eu te disse antes sobre a chave sônica ajudar? Você precisa confiar em mim... Tudo vai ficar bem, eu te garanto.

Eu estava, sim, com um pouco de receio... mas a Doutora tinha uma expressão tão amistosa no rosto, que eu resolvi dar a ela o meu voto de confiança.

Afinal, em quem eu confiaria, senão no meu marido? Hã... esposa.

—Tudo bem -eu fechei meus olhos e respirei fundo, reunindo força e coragem. Segurei a mão da Doutora, e então, fiz minha primeira tentativa de empurrar.

E naquele momento a coisa mais doida de todas aconteceu: ao invés de eu sentir uma dor lacerante... eu senti apenas alívio. Um sentimento completo de bem estar. Foi tão relaxante que quase me esqueci do que estava fazendo...

Quando abri os olhos, a Doutora me contemplava com um sorrisinho divertido no rosto.

—E aí? Como se sente? -ela perguntou.

—Eu... não senti dor nenhuma. -falei, totalmente surpresa. -Como você fez isso?

—Tecnologia dos Senhores do Tempo. Quanto mais você empurra, menos dor você sente. Não é brilhante?

—É sim. Brilhante! -concordei, me sentindo mais confiante agora. -Ops! Ai, ai, ai...—fiz uma careta de dor, de repente.

—Opa! -A Doutora disse, me acudindo. -A tecnologia é de ponta, mas você não pode parar de empurrar. Lembra? Empurrar é relaxante. Não empurrar é que dói –ressaltou. 

—Certo. -mais uma vez, eu me concentrei e empurrei de novo e de novo... Quando repeti o ato pela terceira vez seguida, uma coisa inesperada aconteceu. Eu senti uma onda muito forte de prazer, que me deixou constrangida e me fez parar o serviço pela metade.

—Vamos lá, meu amor, não pare agora... a bebê está quase saindo por inteiro! -a Doutora olhou para mim e percebeu minhas bochechas ruborizadas. -O que foi...? -mas logo a ficha caiu e ela assentiu para mim, compreensiva. -Ok, River, querida, pode nos dar um pouquinho de privacidade aqui, hum? A neném está quase chegando.

—Ah, claro! Gente o tempo voa quando a gente se diverte com os amigos, não é mesmo?—ela tagarelou, ajeitando as roupas e o cabelo. Antes disso, ela estivera com o olhar vidrado em mim e na Doutora, como se acompanhasse um reality show; -Não se esqueçam de me chamar depois que a garotinha nascer! Eu quero dar um presente holográfico para ela! -River levantou da cadeira de holograma, acenou para nós, lançando um beijo e uma piscadela sexy, e depois sumiu, finalmente nos deixando a sós.

Assim que ficamos sozinhas a Doutora se voltou para mim, sem perder mais tempo:

—Você sentiu uma onda forte de prazer, não foi?

—Sim! Eu... Eu não sei como explicar. Foi a mesma sensação de quando você e eu... de quando nós dois fizemos... anos atrás.

—Eu sei. Isso é um eco do passado, de quando nossa filha foi concebida. Na época, eu era o 11º Doutor, e isso significava bastante fôlego e... –a Doutora divagou por um instante, então voltou a se concentrar em mim. -Ok, esqueça isso. Vamos em frente –ela se posicionou de novo, de frente para mim. -Tá legal. Meu conselho é: empurre. Empurrar é sempre a resposta nessa hora. E, sobre a sensação... Só tenho uma coisa a lhe dizer -ela deu de ombros. -Aproveite. Será um presente tardio do 11 para você.

Eu assenti, um pouquinho emotiva. De repente, bateu uma saudade do rosto número 11...

—Eu... acho que vou tentar empurrar de novo -falei, um pouco tímida.

—Certo, vamos em frente! -a Doutora voltou a atenção para minhas pernas de novo. -Um, dois, três: Empurre!

—AAAH! -eu gemi, arqueando o corpo para cima e segurando os lençóis com força, sentindo uma explosão de prazer dentro de mim. Por um segundo, eu podia jurar que senti o 11º Doutor de verdade ali comigo... mas então a sensação evoluiu para um estado onde eu me sentia leve e aérea. E, alguns segundos mais tarde, eu ouvi um chorinho de criança...

Como eu já disse antes: o Doutor não estava lá quando eu mais precisei...

Mas a Doutora estava.

Isso fez toda a diferença.

Abri meus olhos devagar e me deparei com a Doutora embalando nossa bebê nos braços. Ela parecia radiante e cantarolava, para nossa filha, uma canção popular Gallifreyana.

A cena era a mais fofa que eu já vira... Por mais que eu não quisesse interromper, eu também queria muito conhecer nossa filha... então resolvi me manifestar.

—Oi -acenei, falando baixinho e me sentando melhor na cama.

—Ah, a mamãe despertou! -a Doutora disse, sorridente, se aproximando com nossa filha nos braços. -Vamos dizer “oi” pra mamãe? Claro que vamos! -ela se sentou ao meu lado e mostrou a bebê para mim.

—Ah, meu Deus... ela é tão linda..! -falei, já apaixonada.

—Puxou a mãe -a Doutora disse, e eu lancei um olhar divertido para ela.

—Qual das duas? -provoquei e ela riu.

—Tá legal. Você me pegou direitinho nessa. -apontou um dedo na minha direção. - Foi muito boa mesmo.

—Ela tem o seu sorriso.

—E os seus olhos.

—Ah, o cabelo espetado é seu! -provoquei de novo. A Doutora me lançou um olhar indignado.

—Como assim? Já deu uma olhada no meu penteado chanel? Esse liso é natural... não tem chapinha aqui!! -protestou, me fazendo rir.

—Em minha defesa, eu não estou falando da sua versão atual -intervim, erguendo as mãos em sinal de rendição.

—Ah, você joga sujo, né, espertinha...! -ela achou graça. -Vai jogar na cara o 10º rosto agora, é?

—Eu não citei nomes... -me defendi. -Mas se a carapuça serviu... -provoquei.

—Você despertou abusada depois do parto, né?

—E você parece a maior mãe/pai coruja do mundo todo. -observei, com ar de riso. -Estou tão feliz que tenha dado tudo certo...

—Eu também, Belle. Eu também... -nós nos olhamos por um instante, e um clima pareceu pintar entre nós. Então... -Minha nossa! -a Doutora despertou de repente. -Como sou distraída... -mudou de assunto. -Você... gostaria de segurar a nossa filha?

—Eu adoraria poder segurá-la -afirmei, e em seguida a Doutora colocou a bebê delicadamente em meus braços. O movimento foi tão suave que ela nem sequer notou. Continuou dormindo comportada, como um anjinho. -Hum... deve haver um engano aqui, Doutora. Ela é quietinha demais para ser sua filha -cutuquei.

—Você acha? Espere só até ela fazer um mês de vida... -piscou para mim, como se tivesse uma carta na manga. -E então... vamos escolher um nome para o nosso anjinho futuramente tagarela?

Eu ri, concordando.

—Só se for agora -e parei para pensar. -Acho que seria legal se nós duas decidíssemos juntas, não concorda? Afinal, somos os pais... as mães... Ok, você entendeu.

A Doutora riu, deitando na cama ao meu lado.

—Está certo. Eu gosto dessa idéia de decidir o nome juntas. Daí todo mundo fica feliz. Bem, espero que nossa filha também fique feliz com o resultado... Imagine o tamanho da "torta de climão", no futuro... -a Doutora fez uma careta. -Temos que evitar nomes como "Fez", "All Stars" e "Doutor Mistério"...

—Eu vou me esforçar para não pensar em nenhum desses -garanti, em tom descontraído. -Certo, agora vamos pensar... qual nome podíamos escolher?

—Um nome com a letra B, talvez. Que tal? -sugeriu a Doutora. -Seria um pensamento adorável lembrar das minhas duas garotas especiais, me esperando na Terra... "a dupla do B": Belle e B... -instigou, fazendo um gesto com a mão.

—Hum... -refleti. -B... B... Um nome com... Ah! Já sei! Que tal "Brenda"?

—Brenda? -a Doutora analisou, fazendo uma careta. -Eu acho que eu... ADOREI! É! Brenda é perfeito! -ela acariciou sua bochechinha rosada. –Você também gosta de “Brenda”, meu amor? –perguntou à nossa filha, que sorriu para nós. –Ah! Viu só? Ela amou o nome! –comemorou a Doutora, feliz. –Sendo assim: Bem vinda ao mundo, Bren!—e inclinou-se para dar um beijinho delicado em sua testa. Depois, inclinou-se para mim e me beijou também.

Nosso beijo foi mais romântico e apaixonado; Quando nos separamos, por falta de ar, ela disse:

—Me esclarece uma coisa: Seu nome é por causa da música do Alceu Valença, "La Belle de Jour", ou pelo filme francês de mesmo nome?

—Acho que por uma mistura dos dois. Minha mãe adorava a França, e também, amava ouvir Alceu Valença...

—Entendi –a Doutora disse, sorrindo. –Olha só, acabei de pensar em um trocadilho: “A bela da tarde” é quase “A bela de TARDIS” –recitou, animada. –Quer saber? Esse vai virar seu “título” oficial de companheira: A bela da TARDIS!

—É, eu gostei disso –concordei, contente. –“A bela da TARDIS”. Soa bem.

—Soa mesmo. Combinou direitinho –a Doutora mordeu o lábio inferior para mim e segurou meu rosto, com carinho. –Mas um motivo agora para eu pensar em você, meu amor.

—Ah, é mesmo? –sorri, deliciada. -É bom saber que a gente é lembrado...

—Hum-hum -a Doutora sorriu para mim, com desejo. Nós duas aproximamos nossos rostos, novamente, e nos beijamos com paixão.

***

Os próximos anos foram repletos de muito amor, risadas e companheirismo. A Doutora era uma mãe/pai incrível... Mesmo com as constantes viagens com seus novos companheiros, Graham, Ryan e Yaz, ela fazia questão de estar sempre presente na criação de Brenda. E, mesmo quando não podia estar conosco, dava um jeitinho de aparecer –uma das muitas vantagens de se ter uma Máquina do Tempo...

Em uma noite quente de setembro, eu estava de frente para o espelho do mini banheiro, que ficava em meu quarto. Estava distraída, penteando meu cabelo, enquanto ouvia o CD do Alceu Valença. Sim, o CD da minha mãe. Era o favorito dela, mas ela fez questão de me dar de presente de aniversário, no último ano. Disse que me traria sorte, como trouxe a ela... e, bom, com sorte ou sem, eu fiquei muito contente com o presente. Eu realmente adorava aquelas músicas... Elas me transportavam para outra dimensão, me deixando em um estado de espírito pleno e relaxado. Também eram muito gostosas de ouvir.

—... Que tu virias numa manhã de domingo / Eu te anuncio nos sinos das catedrais –cantei, em um dueto com Alceu. –Tu vens, tu vens / Eu já escuto os teus sinaaais! Tu vens, Tu ve... –parei, achando que tinha ouvido um barulho na casa. Esperei alguns instantes, então concluí que devia ser só coisa da minha imaginação.

—Tu vens, Tu vens / Eu já escuto os teus... –parei de novo, franzindo a testa; Tá legal... Dessa vez eu ouvira mesmo alguma coisa! Não era só paranóia da minha cabeça...

Desconfiada, coloquei o pente sob a pia e me afastei do espelho, dirigindo-me para a porta do banheiro. A essa altura, a música Anunciação já havia acabado.

—Ooi? –falei, passando para o quarto. De repente, rolou uma sincronia estranha de Wibbly-Wobbly, Timey-Wimey: no exato instante que eu entrei no ambiente, eu o vi, e no mesmo segundo que o identifiquei, a música Tomara, do Alceu Valença, começou a tocar. Justamente aquela música, que me fazia lembrar dele...

Você!?—exclamei, muito, muito surpresa. Um sorriso se abrindo em meus lábios, ao passo que meus olhos brilhavam. –Isso é um sonho?

—Não, BeBell –ele se aproximou de mim, sorrindo. Usava um sobretudo azul escuro, camisa branca, gravata cinza, terno marrom com listras azuis (a parte superior estava presa apenas por um único botão) e tênis cinzas; As mãos estavam dentro dos bolsos, como nos velhos tempos. -É bem real

Por alguns segundos, eu não consegui raciocinar... Não conseguia desvendá-lo! Sua existência ali, no meu quarto, me soava um quebra cabeça difícil demais para resolver...

Naquele instante, quando tudo pareceu confuso e maravilhoso demais para assimilar, eu só pude tomar uma atitude. A mais intuitiva de todas... 

Eu corri até ele e me joguei em seus braços, beijando-o com um misto de saudades, paixão e urgência.

Ele imediatamente me segurou, me abraçou e me prendeu junto a ele, me beijando como se não houvesse amanhã.

Quando nos separamos, nós dois estávamos sem fôlego.

—Eu devia ter feito isso há muito tempo... –disse, acariciando seu rosto. –Eu pensei que nunca mais te veria de novo, 10...

—Bom, tecnicamente eu sou o rosto número 14 –o Doutor respondeu. –É uma coisa... meio confusa. Eu sou o 10, mas também o 14. O rosto pode ser o mesmo, mas eu certamente estou mais velho.

—Está perfeito para mim –sorri para ele, e nos abraçamos forte. –Então, você escolheu esse rosto para impressionar alguma outra garota? –perguntei, brincando.

—Ah, bom... sim. Não vou mentir. Tem uma garota envolvida na equação –sorriu, beijando minha testa. –Mas, na boa, eu não sei se ela sabe que eu gosto dela...

Olhei para ele, com ar de riso.

—Se for quem eu estou pensando... Acho que ela não somente sabe, mas também é louca por você –provoquei, fazendo ele rir.

—Ah, Belle –ele suspirou, próximo ao meu ouvido. –Não se entregue tão rápido... Assim perde a graça.

—Doutor! –dei um tapinha em seu braço, enquanto ele ria da minha cara.

Entããão! Onde está a minha princesinha? –ele virou para a direção da porta de nosso quarto; o braço ainda em volta de meu pescoço. –Breen? Breen? Mamãe... quer dizer, papai. Papai chegooou!

Não ouve resposta.

Ele se voltou para mim, intrigado.

—Amor, por onde anda nossa filhinha?

—Está dormindo na casa de uma amiga.

Ele olhou para mim, espantado.

—Mas... ela não é muito jovem pra dormir fora de casa? –ele pareceu preocupado.

Calma, papai. –dei batidinhas superficiais em seu peito. -A amiguinha dela é nossa vizinha encostada. Ela mora bem aqui ao lado... –ri, da expressão desesperada dele. –Não precisa se preocupar. Ela vai estar de volta logo pela manhã.

—Ah... –ele pareceu ficar mais tranqüilo. Então, seqüencialmente, começou a me olhar de um jeito divertido, passando os braços em volta de minha cintura. –Então quer dizer que teremos a casa só para nós esta noite?—perguntou, sem desviar os olhos dos meus.

—Sim. É exatamente isso –assenti, brincando com sua gravata cinza, tentando disfarçar o entusiasmo (mas falhando miseravelmente). Ele, é claro, percebeu tudo, e abriu um sorriso atentado para mim.

—Interessante –disse, para depois se atirar por cima de mim. Nós dois perdemos o equilíbrio e caímos na cama, rindo e nos beijando.

***

Meia hora mais tarde, estávamos os dois em baixo dos lençóis, abraçados. As roupas dele e o meu pijama curto estavam espalhados pelo chão, completamente esquecidos. O Doutor acomodou melhor a cabeça no travesseiro e beijou minha testa.

—Isso foi tão bom... –ele sussurrou, fazendo carinho nos meus cabelos. –Deveríamos fazer isso mais vezes... Não concorda?

—Eu adoraria –sorri, entrelaçando sua mão na minha. Ele beijou as costas da minha mão e ficou me contemplando com o olhar apaixonado.

—Você é feliz comigo, Belle?

Eu franzi a testa de leve, achando graça.

—Não está claro o suficiente? –perguntei, passando os braços ao redor de seu pescoço e puxando-o para perto. –Precisa de mais provas? Aposto que consigo te convencer rapidinho... –provoquei, tocando a pontinha de seu nariz, ao que ele balançou a cabeça, sorrindo com os olhos.

—Você não tem jeito...

—Nem você –emendei, esperta.

—Somos feitos um para o outro, então. –ele concluiu, sorrindo. –Isso é muito da hora!

—Pode apostar que é sim –eu lancei uma piscadela e nós nos beijamos de novo; Quando nossos lábios se afastaram, ele encostou a cabeça na minha, aspirando devagar, de olhos fechados.

—Você tem um cheiro tão bom...

—É o meu xampu. –expliquei. –Eu tomei banho um pouco antes de você chegar.

—Ah. Isso explica a casa inteira estar com cheiro adocicado...

—É. É o meu xampu de frutas vermelhas.

O Doutor franziu a testa de repente, olhando para mim.

Na boa, por que eles fazem xampu com aroma de frutas, se ninguém vai poder comer? Eu juro que nunca entendi isso...!

—“Na boa” –o imitei. -Eu não faço a menor idéia, “cara”.

Ele ergueu uma sobrancelha para mim.

Que isso!? Está debochando do meu jeito de falar agora?

Não—neguei, rindo. –É que você anda falando muitas gírias... –dei de ombros. –E eu acho engraçado.

—Ah, você acha, né não?—ele semicerrou os olhos para mim, fazendo uma careta cômica. –Sempre a mesma garota abusada...

Sempre o mesmo convencido—retruquei, cruzando os braços. Ficamos sérios, nos encarando por alguns segundos, então cedemos e começamos a rir.

—Eu te amo –ele disse, espontaneamente, passando o braço em volta da minha cintura, por cima do lençol; Eu fiquei o observando por alguns segundos, imaginando que ele ficaria sem jeito por ter admitido aquilo em voz alta (pelo menos, era o que o 10º rosto faria, em seu lugar), mas os segundos foram avançando e ele não recuou. Nem por um instante sequer pareceu arrependido de ter exposto seus sentimentos.

—Você... você disse o que sente em voz alta, sem se constranger –observei, curiosa. –Então, quer dizer que esse é você agora: o homem que fala gírias adoidado e não tem medo de dizer o que sente. —constatei, sentindo-me orgulhosa.

Ele parou para refletir por um momento.

—Pois é –concordou, contente com a descoberta. –Eu sou mesmo assim agora, não sou? Mais aberto, espontâneo... –sua mão deslizou por meu pescoço, me fazendo sentir cócegas. –Você parece gostar do meu “novo eu”...

—Eu gostei de ver a sua evolução, com o passar dos anos –argumentei, pensativa. -É como ter meu próprio Pokemón.

Ele fez uma careta para mim, fingindo estar ofendido.

—Diga isso de novo –mandou. Um brilho malicioso em seu olhar; Eu me encolhi um pouco.

—Eu não sei se eu quero...

—Que foi? –ele encostou o rosto no meu. -Está com medo?—me provocou. Ah, ele não devia ter feito isso...

—Se tem alguém que vai ficar com muito medo de alguém aqui, esse alguém é você!—prometi, e, para sustentar minha tese, eu dei uma palmada estratégica em sua coxa; O Doutor imediatamente me encarou, perplexo.

—Ai! –gemeu, indignado. –Você me bateu! Por que me bateu??

—Porque eu sou superior a você –roubei um beijo dele, deixando-o louco.

Ah, isso não vai ficar assim... Não vai mesmo! –ele cresceu sob mim, ameaçadoramente, porém, tudo que eu conseguia era dar risada da cara dele. –Aaah, qual é, Belle? Para de rir! Eu estou tentando ser malvado aqui...

—Não tente, por favor –eu acariciei seu rosto, com carinho. –Isso não combina com você...

Ele baixou os ombros, cedendo e dando risada comigo.

—É. Acho que não combina mesmo –ele se deitou de novo, acomodando a cabeça perto da minha, no travesseiro; Porém, não passou nem meio segundo quieto, e já perguntou: -Nem se eu estiver só fingindo? Eu não seria “malvado” de verdade...

Ri, afundando a cabeça em seu ombro desnudo. Depois, ergui o rosto e olhei bem para ele, com ar de riso.

—Você não vai sossegar, não é mesmo? Você realmente quer “brincar” comigo, não quer?

—Talvez eu queira –ele disse, fingindo desinteresse. –Você estaria interessada, BeBell?

Eu mordi o lábio para ele, me inclinando em sua direção.

—O que você acha, Doutor? –perguntei, mas a resposta foi automaticamente respondida pelo beijo quente que nós dois trocamos.

***

No dia seguinte, eu consegui uma proeza gigantesca, fazendo-o sossegar e tomar café da manhã comigo na mesa, sem acabar inventando alguma moda amalucada –que acabasse nos levando até o quintal, e conseqüentemente até a TARDIS, antes mesmo do meio dia.

—Seu suco de laranja, querido –entreguei-lhe um copo, lançando uma piscadela.

—Obrigado, querida –ele respondeu, animado. –Nossa, isso está divino! Sabe... Eu poderia me acostumar com isso...

—Com suco de laranja? –perguntei, me sentando de frente para ele.

—Também. Mas eu estava me referindo a tomar café com você todas as manhãs –ele falou e eu quase engasguei. –Puxa vida, amor, você está bem!? Caramba... Quer que eu bata nas suas costas?

—Não, não. Eu... estou bem. –suspirei, levando a mão ao peito. -Eu quase morri, mas passo bem.—brinquei, para descontrair. Então, quando já estava me sentindo um pouquinho melhor, segurei sua mão, fitando-o significativamente. –Mas... Aquilo que você disse antes... Você falou sério mesmo em ficar?

Ele olhou para mim e abriu um sorriso nostálgico.

—Se você desejar mesmo isso... Eu, não sei... Talvez possa passar um mês direto aqui, com você e a Bren –ele mexeu no cabelo, enquanto refletia. –Em todos esses anos, eu nunca cogitei fazer isso com você... Talvez, seja legal parar de correr um pouco, para variar. –ele me sorriu e eu sorri de volta, radiante.

—Ah, Doutor –eu me levantei e o abracei com força. –Eu te amo.

—Também te amo, meu anjo. –ele disse, acariciando meus cabelos. Então, simultaneamente, a campainha tocou e nós nos afastamos. Eu ajeitei minhas roupas, enquanto o Doutor me olhava, intrigado. –Que negócio foi esse? Esse... som melodioso?  

—Foi a nossa campainha. –eu esclareci, arrumando a direção de alguns fios do cabelo espetado dele.

—Nós temos uma campainha?

—Temos. –eu ri, tirando o avental e colocando sobre a cadeira. –Eu vou atender e já volto. Tente não quebrar nada enquanto isso, tudo bem? –provoquei, acenando para ele e saindo de cena.

—Quebrar? Não sei do que você está falando... –ele foi apoiar o cotovelo na mesa, mas quase deixou a jarra de suco cair. –OPA! Meu Deus...! Ufa. Essa foi por pouco –ele soltou o ar que estivera preso nos pulmões.

—Doutoor –eu chamei, e ele se virou na direção de minha voz. Quando nossos olhares se encontraram, eu pude acompanhar a mudança gradativa de suas feições: conforme ele foi olhando para baixo e seu rosto, de expressão neutra, assumiu uma super contente, em questão de segundos.

Ele se levantou da cadeira, deu alguns passos e se ajoelhou, ficando frente a frente com nossa filhinha, Brenda, de quatro anos, que olhava para ele fixamente.

Breeen!—ele pegou as mãozinhas dela, animado. -Minha princesinha linda! Awwwwwn! Olha só pra você! Olha quanto você cresceeeu...! –o Doutor parecia um serzinho meloso, que começaria a lamber sua cria a qualquer instante; Enquanto isso, eu estava no cantinho, segurando o riso para não estragar o momento deles. –Meu amor, você cresceu taaanto! Nhóo! Vem cá dar um abraço bem gostoso no papai...! –ele a puxou para seu colo e a abraçou. Por um momento, eu achei que ela não fosse retribuir, pois da última vez que o vira, ele era uma mulher loira, muito simpática. Talvez Bren o estranhasse a princípio, eu pensei... Mas então, a coisa mais incrível aconteceu: Ao ficar em contato com ele, ela começou a se animar. Abriu um sorriso gigantesco, estendeu os bracinhos e gritou:

—PAPAI!! –e o abraçou com toda a força que uma criança de quatro anos poderia ter.

Admito que aquilo me deixou impressionada.

—Uau! Caramba, ela... Ela não estranhou você. Você viu? –eu disse, ainda chocada.

—É. Incrível, não é? –ele sorriu, contente. –É um truque de Senhor do Tempo. Ela me reconheceu pelo meu cheiro característico.

Não importa o que aquilo deveria significar... aos meus ouvidos, soou esquisito.

Seu cheiro característico?—eu franzi o nariz; me aproximei dele, me inclinando e fungando, tentando perceber algum odor diferente em seu perfume natural. Não havia nada que meu nariz conseguisse detectar. –Eu não sinto nada...

—É imperceptível para o olfato humano. A nossa filhinha percebe porque ela é um híbrido. A metade Senhor do Tempo dela reconhece o meu cheiro padrão.

Puxa, que legal. Que coisa simpática de se dizer em uma cozinha –fiz uma careta de nojo, mas era só brincadeira. Entrementes, o Doutor voltou-se para mim, de repente, dizendo:

—Ah, isso me lembra que eu tinha uma novidade para te contar: Você lembra daquela minha amiga, a Donna Noble? Aquela que não podia lembrar de mim, senão a mente dela queimaria?

—Lembro. –confirmei, sem conseguir fazer conexão entre quaisquer informações. –O que tem ela?

—Ela pode se lembrar de mim agora, sem que nada de ruim lhe aconteça. Não é demais!?—ele exclamou. –Eu ia te contar isso ontem... mas nós ficamos tão ocupados que eu até esqueci de mencionar –ele olhou para Bren. –Só lembrei agora porque vi o cabelo ruivo da nossa filha e essa franjinha linda... –ele deu um beijinho em sua testa. –Ela parece uma mini Donna Noble.

—Bom, fico contente em saber que a Donna está bem. –falei, com sinceridade. –Vê se convida ela qualquer dia para vir aqui em casa tomar um café da tarde. Se ela e a Bren são mesmo tão parecidas, elas provavelmente vão gostar uma da outra –inventei.

—É, elas vão sim. Não vão, meu amor? Não vão?—ele disse, com uma vozinha infantil que me deu vontade de dar risada. 

—Dá ela aqui um pouquinho –eu pedi, estendendo os braços para pegar um pouco nossa filha no colo. –Upa, neném! –disse, e ela sorriu para mim. –Olha só, Bren, o papai e eu temos uma novidade muito legal pra te contar: Hoje cedo, o papai disse que vai passar o próximo mês inteirinho com a gente! Não é demais?

—Papai vai ficar!? –ela abriu um sorriso radiante que nos encheu de calor. Além de tudo, ainda bateu palminhas, só para deixar o Doutor mais derretido. –Viva!!

Awwwn! —nós dois fizemos, apaixonados por ela.

—Bom, essa é uma parte da notícia. –falei, retomando a conversa. –A outra parte, é que nós vamos ter que ensinar as regras da casa para o papai.

—Regras da casa? –o Doutor coçou a cabeça, franzindo a testa. –Eu nem sabia que vocês tinham isso aqui.

—Isso é porque você nunca passa conosco tempo suficiente, mas ficando aqui um mês, você terá tempo de sobra para se habituar a nossa rotina, não é, Bren? –a menininha assentiu, em meu colo.

O Doutor pareceu murchar um pouquinho.

—Nossa... E eu que pensei que ia ser moleza –ele sentou-se de novo à mesa e apoiou a cabeça no punho fechado. –Propaganda enganosa.

—Olha a língua, mocinho! –bronqueei, de brincadeira. –Se continuar se comportando mal, sua filha e eu vamos ter que te colocar de castigo –eu disse, na espontaneidade, mas acabou que pareceu uma excelente idéia. –Quer saber? Eu gostei do som disso –comentei, para Brenda. –Filha, que castigo você acha que a gente deve escolher para o papai? –perguntei, ao que minha filha chacoalhou o dedinho na direção do Doutor, dizendo:

Sem televisão!

—Ah, isso mesmo! Perfeito, Bren. Você ouviu a nossa filha: O papai vai ficar sem televisão...

—Aaaaah! Meu eu adoro televisããão! –ele choramingou, de brincadeira, batendo o pé no chão. –Poxa vida, gente! Não tem jeito de aliviar a minha barra só dessa vez, hein? Hum? –ele ficou de pé, novamente, diante de nós. -Por favorzinhooo!—pediu, inclinando-se para frente, fazendo uma carinha meiga e encostando o nariz no narizinho de nossa filha. A ação fez com que ela risse, e, conseqüentemente, a mim também.

—O que você acha, Bren? Tiramos o castigo do papai, só desta vez?

—Só desta vez –ela falou e nós dois rimos.

—Ah, obrigado, viu? Muito obrigado, anjinho –ele beijou a testa dela, depois sorriu para mim, contente. –Eu amo as minhas duas princesas...

—E nós te amamos muito também, papai –eu disse, em nome de nós duas, ao que ele se inclinou sob nossa filha e me beijou com intensidade.

***

Sim, se você está se perguntando: o Doutor realmente passou um mês inteiro com a gente, na Terra, e depois ainda trouxe Donna Noble para nos conhecer –e caramba! Ela e a Bren são mesmo muito parecidas!! A semelhança chega a ser surpreendente, e nos rendeu muitas teorias malucas e comentários espirituosos, que deixaram o Doutor ficar até corado...

Sinceramente, eu esperava muitas coisas desse encontrão com a lendária Donna Noble... mas teve um detalhe que me deixou realmente tocada: durante nossa conversa descontraída, ela sorriu, segurando minha mão, como se fossemos velhas amigas, e convidou o Doutor, Brenda e a mim para almoçar em sua casa e passar uma tarde inteira com sua família.

Nós aceitamos, é óbvio, e devo dizer que foi uma experiência maravilhosa! Os Noble são muito divertidos... Eu passei horas conversando com cada um deles, sobretudo com Wilfred, o avô da Donna, que particularmente me lembrava muito meu próprio avozinho querido, que infelizmente já não se encontrava mais nesta dimensão.

Paralelamente, o Doutor contou várias de suas histórias hilárias e mirabolantes, para divertir a todos, e devo dizer que a abordagem foi muito bem sucedida. Não houve um de nós que não estivesse rindo até não poder mais e fazendo perguntas ao Doutor, sobre as coisas fantásticas e absurdas que ele dizia.

Mas não eram apenas os adultos que estavam se divertindo: Bren gostou muito de Rose, a filha adolescente da Donna. Enquanto ouviam as histórias do Doutor, as duas ficaram sentadas no gramado: Rose costurando aliens de pelúcia, enquanto Bren desenhava no papel suas próprias versões dos extraterrestres (no momento, ela estava empenhada fazendo um Ood com roupa de balé—o que não estava assim tão fora de contexto, levando em consideração o histórico do alienígena em ser “estranho”).

Em um dado momento, o Doutor contou uma piada e nós todos rimos. Então, ele passou um braço em volta de mim, espontaneamente, e me abraçou junto a ele, sorrindo. Sem demoram, eu segurei sua mão que me abraçava e sorri largo, em retorno.

Eu estava feliz. Estava realmente feliz com ele –e o fato de ter me afeiçoado tanto aos Noble, a ponto de considerá-los minha segunda família, tornava tudo ainda mais incrível.

O tempo passou... nós continuamos marcando encontros e nos vendo com freqüência. Houve uma fase em que nossos encontros se tornaram semanais, a ponto de nós três acordarmos cedo no domingo, tomarmos banho e nos trocarmos para encontrar os Noble –isso quando eles não apareciam na nossa casa, para fazer uma surpresa.

Era engraçado parar para pensar nisso, mas já faziam quatro meses que o Doutor estava morando na minha casa, direto –sim, com algumas eventuais viagens aqui e ali, mas nada que o impedisse de voltar a tempo do lanche da tarde, ou do jantar. O fato era que ele estava, pouco a pouco, se acostumando à rotina, sem nem ao menos perceber. Brenda, contudo, havia notado claramente a diferença de ter um pai presente, todos os dias ao seu lado, e um pai que se esforçava para ser o mais presente possível, mas que não podia estar ali todo o tempo.

Quanto mais os dias avançavam, ás vezes, eu me pegava refletindo como seria ter que me despedir do Doutor, se ele de repente acordasse no dia seguinte e decidisse que “suas férias” longe do vórtice temporal e das aventuras já haviam durado tempo suficiente, e que deveria voltar ao velho costume de viagens desenfreadas, perigos constantes e correria sem fim.

Eu estava atravessando o corredor, carregando uma pilha de roupas limpas, dobradas e prontinhas para serem guardadas, quando ouvi um som alto de risadas. Me aproximei da porta mais próxima, entreaberta, e espiei pela fresta. Dentro do cômodo, o Doutor estava sentado no chão, em cima de um tapete de crochê, mostrando para Bren um livro de astronomia, com ilustrações de planetas, galáxias, sóis e constelações. Brenda parecia fascinada por todas elas, e apontava para as figuras, empolgada.

—Excelente escolha, Bren! –ele aprovou, quando ela apontou para uma figura determinada no livro. -Essa é a constelação de Sagitário, que, a propósito, eu já visitei uma dúzia e meia de vezes... –ele comentou, apontando com a chave sônica para a figura do livro e, seqüencialmente, a imagem saltou para fora, ficando em 3D. -Eles fazem um sorvete maravilhoso lá, na Península de Saro, e eu nunca resisto em voltar para pegar mais uma caixa –ele confidenciou, fazendo uma cara cômica.   

Bren riu, achando o pai engraçado.

—Papai, você pode me levar lá um dia? –ela pergunto; os olhinhos sonhadores, brilhantes, repletos de expectativa. 

O Doutor sorriu, se derretendo todo.

—É claro que eu vou levar a minha filhota lá, algum dia! Vai ser muito da hora!—ele puxou-a para seus braços, lhe distribuiu um punhado de beijos, e depois, terminou fazendo-lhe cócegas. Bren ria e tentava se proteger das mãos ágeis do pai, mas o Doutor era perito em cócegas, e conseguia vencê-la sem dificuldade.

Por trás da porta eu sorri, diante da cena, mas ao mesmo tempo suspirei, pensativa...

Quanto mais ele se tornava uma figura indispensável em nossas vidas, mas eu temia pelo momento de nossa inevitável separação.

Houve um dia, enfim, que eu recebi uma ligação de Donna –o Doutor havia se regenerado, mas uma coisa incomum havia acontecido. Quando perguntei a ela sobre isso, ela disse para eu esperar a campainha tocar. Eu franzi a testa, meio confusa... mas então, dois segundos mais tarde, havia mesmo alguém na porta, tocando a campainha.

Eu rumei até lá e a abri. No momento que eu o fiz, eu senti meu coração disparar e as lágrimas escorrerem por meu rosto...

—Doutor! –eu o puxei para um abraço forte e emocionado. Ele ainda tinha o mesmo rosto do número 14, e parecia contente, me falando sobre uma tal de bi-regeneração...

—Então... quer dizer que você não vai mais mudar de rosto? –perguntei, esperançosa.

—Não. Na verdade, eu ainda posso mudar, sobretudo se eu precisar no futuro... Mas, ficou bastante evidente que o 15º Doutor vai assumir meu posto, de agora em diante, salvando o universo –ele disse, esfregando a nuca. –Acho que isso faz de mim um “viajante aposentado”. Ou quase isso. Eu ainda tenho a TARDIS... Posso viajar quando bem quiser e me der na telha, mas, é claro, a minha missão é diferente agora... –ele disse, criando expectativa. -Agora que o outro eu está cuidando do universo, nós combinamos que seria legal eu permanecer aqui com as pessoas que eu amo, e deixar o tempo fazer a sua mágica de cicatrizar velhas feridas. –neste momento ele segurou minhas mãos e me olhou nos olhos, cheio de significado. –E é exatamente isso que eu pretendo fazer, meu amor –ele disse, sorrindo e me puxando para um abraço.

—Meu anjo –eu o abracei de novo, com força, depois me afastei apenas o suficiente para contemplá-lo, apaixonadamente. –Eu e a Bren vamos te ajudar a passar por isso... A Donna também vai, eu tenho certeza disso. E a Melanie... –eu me recordei. –Eu sei que ela também é sua companheira, e que está de volta, assim como Ace, Tegan, Jô Grant, e tantas outras... –toquei seu braço, com carinho. -Todas nós estaremos aqui por você, para o que der e vier. –eu disse, com lágrimas nos olhos. –Assim como na música de abertura do seriado F.r.i.e.n.d.s—citei, para descontrair um pouco.

O Doutor riu da minha referência inesperada, então, segurou meu queixo com delicadeza.

—Obrigado, meu amor. Obrigado por tudo. –ele sorriu, emocionado, e me beijou.

***

No fim das contas, acabou que eu nunca mais tive que dizer adeus ao Doutor. Bom, ele ainda ia e vinha, em algumas viagens eventuais, mas em geral, passava quase todo o tempo comigo, com Bren, e suas outras amigas, de várias épocas e lugares diferentes, que freqüentemente apareciam para fazer uma visita e animá-lo com boas histórias e companhia.

Aquela altura, eu já havia tido a honra de conhecer o 15º Doutor. Uma noite em que o 14º estava fora, em um passeio planejado com os Noble, ele veio me visitar.

A princípio, eu fiquei totalmente extasiada, pois não estava esperando sua visita... então, senti-me imensamente feliz em finalmente poder conhecê-lo –isto é, sua 15ª versão, da qual até o presente momento, eu só ouvira falar. Em geral, ele continuava tão adorável, charmoso e divertido como sempre, e isso me deixou muitíssimo contente. 

Para ser sincera, não havia um Doutor de quem eu não tivesse gostado. Seja por um período em que passamos juntos, ou uma conversa muito boa que tivemos... Com todos eles, eu aprendi diferentes lições valiosas, e sei que sempre estarei “em casa”, em sua companhia, não importa quando, nem onde, ou com qual rosto ele esteja.

No final, sempre há uma verdade absoluta sobre nós:

1- O Doutor sempre vem me visitar, cedo ou tarde.

2- Eu sempre estarei esperando por ele.

Agora, estamos chegando de novo naquela época festiva de fim de ano... Há decorações de Natal espalhadas por todos os lados da cidade, e o espírito natalino já contagia tudo e todos ao redor. Eu mesma tirei o dia para montar, junto com Brenda e o Doutor, a nossa árvore de Natal. Como sempre, ela ficou fascinada pelos enfeites, e o pai dela apenas tornou tudo ainda mais mágico e especial, configurando mini pontos de luz –que ele dizia serem estrelas de verdade, em miniatura –para brilharem na árvore, como “luzes de Natal naturais”. A idéia fora realmente criativa, e mereceu um abraço e um beijo nosso, em agradecimento a todas as coisas maravilhosas que ele sempre fazia por nós.

Finalmente, essa é aquela época mágica, dos milagres... Onde dizem que todo desejo é capaz de se realizar –basta apenas você pedir com muita força e vontade.

Pois bem. Na noite de véspera de Natal, eu já tinha colocado Brenda para dormir, e estava caminhando até a sala de estar, trazendo um bom livro comigo, quando de repente, escutei um gemido rouco, muitíssimo familiar...

Instantaneamente, eu abri um sorriso largo, deixei o livro da Jane Austen no sofá e saí correndo em disparada para a porta da frente.

Assim que a abri, deparei-me com a TARDIS, estacionada bem diante da minha escada. Em suas maçanetas, estava pendurada uma bela guirlanda natalina, e, subseqüentemente, uma das postas se abriu, sem derrubá-la.

Uma luz branca se projetou para fora da nave e o 15º Doutor apareceu contra ela: um rapaz negro muito bonito, com cabelo e bigode curto, camisa laranja e terno marrom. Ele sorriu largo para mim, quando me viu. Fechou a porta da TARDIS e caminhou em minha direção, com as mãos nos bolsos.

É. Alguns hábitos nunca mudam...

Eu sorri, quando ele parou a poucos passos de mim.

—Você veio –comentei, visivelmente contente.

—É claro que eu vim. Eu não perderia isso por nada no mundo –ele sorriu e me abraçou, ao que eu retribui, cheia de saudades. –Sabe, acho que eu devo deixar os seus vizinhos meio confusos... –ele comentou, de repente, quando nos afastamos um pouco. –Toda hora eles vêm você com um cara diferente... Uma vez até viram com uma moça—ele enfatizou, me fazendo rir.

—Se eu me importasse mesmo com isso, não teria casado com o homem das mil faces –pisquei para ele, segurando em seu braço, com carinho. –Enfim, vamos entrar?

—Claro. Mas antes, vamos esperar só mais um pouquinho... –ele sugeriu, apontando para o céu. –Pelos meus cálculos, deve nevar a qualquer momento...

Olhei para ele com ar de riso.

—Doutor... Aqui onde eu moro não neva. Nunca nevou, e nem vai nevar.

Ele ergueu uma sobrancelha para mim.

—Quer apostar? –ele sorriu de um jeito danado, mostrando a chave de fenda sônica. Eu ergui as mãos, me rendendo.

—Tudo bem. Tudo bem. Eu sei quando eu perco uma aposta, e eu definitivamente não posso com a chave sônica. –admiti. Ele baixou a ferramenta, satisfeito. Virou-se e passou o braço ao redor do meu pescoço, enquanto caminhávamos.

—Guarde minhas palavras, Belle, nós vamos ter um Natal incrível juntos, esse ano...! –ele comentava, então parou, olhando para nossa casa por um momento. –A Brenda já foi dormir?

—Sim. Já faz meia hora. –digo, recordando. –Por quê? Não vai dizer que trouxe uma roupa para se vestir de Papai Noel?

—Eu sou tão previsível assim? –ele perguntou, indignado. –Enfim, esqueça: amanhã eu farei uma boa surpresa para ela, estilo espaço-temporal!

—Eu não faço a menor idéia do que isso significa...

—Nem eu, meu amor, mas acho que vamos descobrir amanhã de manhã, não é? –ele ergueu as sobrancelhas em um movimento sincronizado, me fazendo rir. –Mas, enquanto o dia não chega... –ele passou as duas mãos em volta de minha cintura, me puxando para perto. –Que tal se nós fossemos comemorando o Natal a nossa maneira, hum? –ele mordeu o lábio para mim.

—Eu acho perfeito –assenti; Então, ele se inclinou lentamente para mim e me beijou de modo apaixonado.

Quando nos separamos, ele sorriu e eu fiz o mesmo, contente. Então a porta da minha casa se abriu e o 14º Doutor surgiu, olhando ao redor.

—Ah, você está aí. Eu estava te procurando –ele olhou para mim, depois para sua 15ª encarnação, depois para as mãos dele em volta da minha cintura, então suspirou. –Ah, é verdade... Nós dois somos casados com você. Cara, tenho que me acostumar com isso –ele soltou o ar preso nos pulmões, colocando as mãos nos bolsos.

—Sossegue, antigo eu—cutucou o 15º Doutor, de modo descontraído. -Belle passou quase um ano inteiro com você... não pode deixar ela comigo apenas por uma noite?

—Eu posso. Mas não sei se quero—ele disse, dando de ombros. O 15º ergueu uma sobrancelha.

—Isso aí é ciúmes da nossa esposa? Sério isso?

—Que é que eu posso fazer? Você mandou eu ficar aqui! –ele apontou para o outro, acusatoriamente. –Eu fui te dar ouvidos e olha só no que deu: Eu acabei me apegando.—admitiu, brincalhão; Nós dois rimos.

—Vocês dois não tomam jeito mesmo –eu disse, sorridente. –Estou tão feliz de estarmos os três juntos para o Natal –olhei para o meu 15º Doutor, abraçado a mim. –Ceia com a gente, amanhã?

—Claro que sim! –então lançou um olhar para o 14º. –Hum. Isso é... se estiver tudo bem pra ele também.

O 14º Doutor nos fitou de volta, respirando fundo. Os braços cruzados, enquanto ele refletia.

—Ai, ai, tá bom –ele revirou os olhos, nos fazendo rir. –Você venceu, Doutor. –ele disse, mas ao contrário do que parecia, nós todos sabíamos que ele estava bastante contente em rever sua versão futura. –Queira entrar em nossa casa, por favor, sim? Está ficando meloso demais aqui fora...

—Olha só quem fala! –brincou o 15º, conforme nós subíamos as escadas e nos juntávamos a ele, próximo à porta, que estava aberta. Quando nós nos reunimos, o 14º Doutor apontou para o meu rosto, curioso.

—Você está com um sorriso gigante no rosto –ele observou. –Isso normalmente significa que você está planejando alguma coisa...

—Ah, sim, a Belle e o sorriso gigante dela, tão característico! Sempre uma nova surpresa a cada dia que passa—o 15º Doutor recitou, como se traços de minha personalidade fossem estrofes de um poema. –E então, querida, o que está maquinando nesta sua mente criativa?

Eu dei de ombros, fitando a ambos com meu olhar mais inocente.

—Nada demais. Apenas um pensamento: Que esta, talvez, seja uma noite de Natal muito, muito quente—comentei, como quem não queria nada, ao que o 14º balançou a cabeça, com ar de riso, e o 15º sorriu largo, encostando a testa na minha.

Repleta de aventuras —emendou o 15º Doutor, deixando o 14º sem jeito.

—É sério? Você vai dar mesmo corda pra ela?

O 15º deu de ombros.

—E não é isso que nós sempre fizemos?

O 14º parou, refletindo, então assentiu, vencido.

É verdade.    

—Então –o 15º, que me abraçava com uma mão, estendeu a outra e abraçou o 14º, antes de entrarmos em casa. –Acho que podemos por de lado nossas diferenças e tentar aproveitar nossa noite juntos... Afinal, a Bren não vai dormir para sempre—ele comentou, sorrindo torto, enquanto nós cruzávamos a passagem e entravamos na sala de estar.  

—Concordo com você –disse o 14º Doutor, mais tranqüilo agora. –Vamos fazer desta noite a mais divertida e memorável de todas! –propôs, nos deixando empolgados.

—É assim que se fala, cara!—o 15º confirma, com um entusiasmo que me faz rir.

Agora eu gostei de ver. Isso sim é um avanço! –eu digo, contente, abraçando ambos junto a mim e dando um beijo na bochecha de cada um. -Feliz Natal, Doutores!

—Feliz Natal, Belle –eles disseram, retribuindo o beijo logo em seguida, e fechando a porta de nossa casa.

 

 


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Notas finais do capítulo

E é isso, pessoal!

A Belle passou por muuuuita coisa ao lado do Doutor. Algumas coisas bastante difíceis de processar... Mas acabou valendo muito a pena insistir neste relacionamento! :)

Como hoje é dia 25/12, o 15º Doutor já deve estar entrando em cena com seu episódio de estreia, que também é um ep de Natal, e eu só queria dizer que estou muito contente e empolgada com o Ncuti Gatwa no papel do nosso querido Senhor do Tempo! Desejo muitas temporadas incríveis para ele, e que a gente continue se divertindo e aprendendo muito com a série.

Mais uma vez: Merry Christmas everyone!

Não se esqueçam de deixar comentários! ;)

Bjs e até a próxima!



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