Entre desafios e conquistas escrita por Pinkie Bye


Capítulo 5
Descobertas


Notas iniciais do capítulo

Olá, amores!
Assisti hoje o filme 2 de "A fuga das galinhas", é muito bom! E já fanfiquei/shippei a Molly com a Frizzle, mesmo elas sendo duas galinhas, enfim kkkkkk Foco no capítulo.
Boa leitura! ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/811016/chapter/5

 

DARREN SEMPRE SE SENTIU DESLOCADO. Quando criança, nunca se sentiu confortável com vestidos, saias ou com o famoso “comporte-se que nem mocinha” que recebia da mãe toda vez que voltava da escola descabelado ou quando se sentava com as pernas abertas.

Apesar disso, interpretavam o seu desconforto como uma rebeldia infantil as regras do que era socialmente aceito para cada gênero. Afinal, desde pequenos somos ensinados de que meninos tem pênis e meninas tem vagina, e era assim que definiam seus papéis na sociedade, mas isso era um ideal tão ultrapassado. Se é assim, como a biologia explicaria pessoas intersexo?

Quando entrou na puberdade, o desconforto se intensificou radicalmente quando notou o surgimento de suas mamas. Toda vez que se olhava no espelho, sentia que algo estava errado, se sentia dolorido e sensível, não apenas no literal. Tentava disfarça aquele incomodo, sempre apertando o sutiã e usando roupas largas na intenção de disfarçar.

E tudo pareceu ficar ainda pior quando um dia acordou pela manhã e se deparou com sangue na cama. Desesperado, correu para o banheiro e viu que havia sangue na roupa, vindo da região pélvica.

Menstruação.

Não se lembrava o que causou mais dor de cabeça, as cólicas ou a pressão de todos o parabenizarem — sim, sua mãe fez questão de contar para a madrinha, que espalhou para a vizinhança — por ter se tornado “mocinha” e novamente a pressão de ser uma mulher batendo na porta.

Sentia como se fosse enlouquecer. Chorava sempre que se olhava no espelho e sentia como se perfurassem sua pele quando o chamavam por seu nome morto.

Seu pai sempre foi uma figura distante, um fantasma que residia aquela casa, que raramente se materializava. Quando o fazia, era como uma tempestade, trazendo consigo uma enxurrada de críticas e exigências. Ele insistia em forçar Darren a se conformar com as normas de gênero tradicionais, empurrando-o para vestidos e maquiagens, apesar dos protestos.

Para Darren, essas imposições pareciam absurdamente antiquadas. Desde quando um pedaço de tecido ou um corte de cabelo poderia definir quem você realmente é? E por que as lojas ainda insistiam em categorizar tudo de maneira tão binária?

As coisas se complicaram ainda mais quando Darren decidiu se assumir como transgênero. Sua irmã, Rachel, foi um porto seguro, tratando-o com o respeito e a dignidade que ele merecia. Sua mãe, embora distante e desinteressada, aceitou sua decisão, desde que isso não perturbasse sua rotina.

Trigger, no entanto, era um homem de valores conservadores, um bastião dos chamados ‘bons costumes’. Ele se recusou a aceitar a identidade de Darren, insistindo em chamá-lo pelo nome de nascimento. A ironia de tudo isso era que esse mesmo homem, que se considerava um exemplo de moralidade, acabou traindo e trocando sua esposa por uma estagiária que mal havia saído da adolescência.

— Isso é um absurdo. Seu nome é *******, você é uma garota e vou continuar te tratando como tal — Ele declarou um dia, durante um jantar tenso.

— Mas eu não gosto que me trate assim! — Darren retrucou, a frustração evidente em sua voz.

— Deixe o garoto ser feliz — interveio Angela.

— Até você? O que aconteceu com seus ideais de mãe? — o pai de Darren perguntou, a incredulidade estampada em seu rosto.

— Falou o homem que dorme com uma adolescente — Angela respondeu, revirando os olhos.

— Não ouse falar assim comigo! — Trigger rosnou, batendo com o punho na mesa.

— E por que não? É a verdade, não é? — Angela retrucou, cruzando os braços.

Enfurecido, bateu de novo com o punho na mesa, fazendo os pratos e copos tremerem. Ele atirou a taça de vinho de Angela contra a parede, o líquido vermelho escorrendo pela pintura branca como sangue.

— Tudo isso é influência das redes sociais! Na minha época, homem era homem e mulher era mulher. Deus nos criou perfeitos, isso tudo é invenção, não se iluda com essas mentiras. Não importa o que você fizer, *******, você nunca será um verdadeiro homem.

— E você nunca será um verdadeiro pai — Darren respondeu, levantando-se da mesa e indo para o seu quarto.

— Volte aqui, mocinha! — gritou atrás dele. — Tudo isso é culpa sua, sua bêbada inútil!

— Não grite com ela! — Rachel interveio, defendendo a mãe. — Angela pode ter seus defeitos, mesmo assim ela consegue ser melhor do que você.

— Em que perspectiva? Por que ela apoia suas loucuras?

— Porque ela não é cruel! Porque ela não desfere ataques de ódio em forma de opinião.

— Ah, é claro, você também apoia essa palhaçada. Sou o único são nessa casa? O único que segue a palavra de Deus com veemência. — Ao proferir essas palavras, a marca de batom vermelho em sua gola da camisa era evidente.

— Se for para você vir em casa apenas para fazer isso, seria melhor que continuasse no seu escritório — Rachel disse, seguindo Darren.

A sala de jantar continuou sendo um cenário de discórdia, com Angela e Trigger brigando. O que não era nada de novo.

Darren se encontrava sozinho em seu quarto, as palavras do pai ainda ecoando em sua mente. Ele olhou pela janela e viu uma estrela cadente cruzando o céu.

— Eu queria ser um menino — Ele sussurrou para a estrela, fechando os olhos e fazendo um desejo.

Pouco depois, Rachel entrou no quarto.

— Tá tudo bem?

— O que você acha? — perguntou encolhido, abraçado ao travesseiro.

— Eu tô aqui, a opinião daquele homem não importa. — Sentou-se do seu lado e tocou seu ombro.

Darren se sentou e a abraçou. Chorando baixinho em seu ombro.

Ela sempre o respeitou, sempre o apoiou. E naquele momento, Darren soube que, não importava o que acontecesse, ele nunca estaria sozinho. Da mesma forma que sempre a protegeria com unhas e dentes, e nunca mais deixaria babacas, como Malchior, a machucarem de novo.

Com isso, era nítido que ser trans — algo que soube desde a infância — não tinha nada a ver com ter crescido em um lar perturbado ou por sua obsessão de alienígenas, era algo natural, que quem ele verdadeiramente era e não encontrava motivos para se envergonhar ou de não sentir orgulho disso.

No fim, a estrela realizou seu sonho, não era binário de fato, mas se descobrir como uma pessoa não-binaria, mais especialmente um demiboy, foi muito libertador.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá, amores! ♥
Aqui iremos descobrir mais sobre a vivência como pessoa trans do Darren. Tomei o máximo de cuidado para que esse capítulo saísse delicado e verdadeiro, sem cair em estereótipos.
Espero que tenham gostado.
Obs.: Ele é não-binário que usa os pronomes Ele/Dele.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre desafios e conquistas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.