Rhaenyra Targaryen, a Rainha dos Negros escrita por Pedroofthrones


Capítulo 1
Capítulo 1




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Rhaenyra estava acamada já havia um bom tempo. Estava faltando apenas dois meses para finalmente ter sua nova criança.

Daemon estava sentado ao lado de sua cama, lhe fazendo companhia.

—Vai ser outro menino, será? –Perguntou a doce Rhaena, filha de Daemon. Uma jovem espirituosa e amigável, sempre agradando a todos. Seria uma ótima esposa para Luke.

—Quem sabe? –Respondeu Rhaenyra, alisando a imensa barriga de grávida. –Eu já tive muitos filhos, ficaria feliz se dessa vez eu fosse agraciada por uma linda filha.

—Já me deu dois filhos–Disse Daemon–Seria bom ter uma filha dessa vez.

Sua doce prima, a falecida Laena, havia dado a Daemon duas filhas gêmeas. Rhaenyra queria ser agraciada pela mesma sorte.

Seu pequeno filho Aegon, de oito anos, se alinhou perto da barriga de Rhaenyra.

—Qual nome vai ter se for menina?—Perguntou Rhaena. —Já pensou em algum?

—Visenya. —Disse Rhaenyra.

Rhaena pareceu um pouco surpresa com a escolha.

—Como a esposa de Aegon? A mãe…

—Uma grande guerreira–interrompeu. –Ela vai ser corajosa como a original! Eu mesma vou trançar os cabelos dela.

Rhaenyra não se importava com o que os outros tinham a dizer, Visenya foi uma grande guerreira e rainha. Ela pode ter feito certas escolhas questionáveis, mas foi a verdadeira mulher-guerreira de sua Casa. Afinal, aqueles que usam coroas e tem o antigo sangue de Valíria não deviam nada àqueles abaixo deles.

—Vai ser tão linda quanto a mãe. –Disse Elinda Massey, a mais jovem das damas de companhia de Rhaenyra, enquanto fazia o trabalho de costura.

—Um bom nome. –Disse Damon, se levantando. —Sua madrasta má vai odiar.

Rhaenyra franziu o cenho.

—Aquela vadia velha pode pensar o que quiser de mim– Respondeu. —Ela vai reclamar de qualquer jeito mesmo.

—É exatamente esse seu temperamento que eu amo.

Daemon riu e deu um beijo nela. Apesar de seu tio já ter quase cinquenta, o fogo dentro dele ainda estava queimando em brasas. Assim como o dela.

Para interromper o momento romântico, o meistre Gerardys, fiel companheiro de Rhaenyra, veio correndo para os aposentos dela, interrompendo o beijo do casal.

—O que é? –Ela perguntou irritada.

O meistre estava pálido e quase sem fôlego.

—Minha Princesa, veio um corvo… de Porto Real.

Palavras escuras, asas escuras.

—Aconteceu alguma coisa com meu pai? –Ela perguntou, sentindo uma onda de medo tomar o seu corpo.

Ele assentiu.

—Sim, seu pai, ele… Ele se foi.

Aquilo a pegou de jeito.

—Meu pai? Ele está morto?

O meistre assentiu com a cabeça de forma nervosa.

—O que mais aconteceu? –Perguntou Daemon, se recompondo. –Não é só isso, não é? O que mais aconteceu?

Rhaenyra olhou para o marido. O que mais poderia ter acontecido?

—Vossa Graça–Disse o Meistre, se dirigindo novamente a Rhaenyra. —Seu irmão Aegon, ele foi coroado.

Aquilo não fazia sentido.

Não, não, não, não, não, não…

—Coroado? –a surpresa e a tristeza foram sendo deixadas de lado, dando espaço para a raiva. –Como assim coroado? Eu sou a herdeira do meu pai! Quem aquele idiota pensa que é!?

Isso é coisa da Alicent, aquela vadia velha vai me pagar.

 

—Majestade, por favor…–Disse o meistre.

Rhaenyra começou a tentar se levantar, mas a barriga e a criança dentro dela a atrapalhavam. Ela sentiu uma repentina dor, mas tentou não se abater. Esticou um braço para o marido ou a serva a sua dama lhe ajudarem.

Rhaena tentou lhe ajudar, mas Daemon fez um sinal para que a filha se afastasse e se virou para Elinda.

—Tire ela e Aegon daqui, leve-os para os seus aposentos.

A garota assentiu e pegou o jovem príncipe no colo, apesar dos choros e protestos dele, e pegou a princesa pela mão, os levando para longe.

—Chame Jace e os meus outros filhos. –ela ordenou.

—Querida, tente se acalmar…–Disse Daemon, afastando a serva e pegando Rhaenyra pelo braço, seu outro braço a pegou pelas costas, mas ele claramente não a queria de pé. –Você não pode se irritar nesse estado.

—Chame os meus filhos agora! –Ela gritou e depois se virou para o seu meistre. –Envie corvos para Derivamarca, eu preciso dos Velaryon aqui e agora! E para Ilha da Garra! Mande para todos os meus aliados! AGORA!

O meistre olhou meio indeciso e nervoso para ela e depois para Daemon, mas logo fez uma profunda e rápida reverência e girou os calcanhares.

Rhaenyra agarrou-se ao seu marido, ela estava tentando evitar a dor. A empregada a pegou pelo outro braço.

—Me levem para a sala da mesa pintada. –Ela disse.

Daemon arregalou os olhos.

—Você está louca? Não pode sair assim, está grávida.

Rhaenyra respirou fundo. A dor estava passando.

—Me leve!

 

Rhaenyra sentiu outra contração e gritou de dor. Era como se seu ventre estivesse sendo rasgado.

—É tudo culpa daqueles bastardos dos meus meio-irmãos! Eu vou ter a cabeça deles por isso! E a daquela puta Hightower também!

 

—Rhaenyra, se acalme! –Disse Daemon–Precisa se controlar, não está bem!

 

Ela rangeu os dentes, ignorando a dor.

 

—É claro que eu não estou bem! –Ela disse–Eu fui usurpada por aquele vagabundo, acha que eu estaria como? Agora, me leve para a mesa pintada!

Daemon não gostou daquela resposta, ele não era o tipo de homem que gostava de ser desafiado e nem de receber ordens.

Rhaenyra sentiu mais uma contração, e pareceu que algo espinhento se debateu dentro dela.

Ela gritou e perdeu todas as forças, teria caído se seu marido e a serva não a tivessem ajudado a se sentar com cuidado na cama. Sua barriga estava doendo, mais do que havia doído nas contrações em seus outros partos.

—Descanse–Disse Daemon após deixá-la na cama. —Os lordes ainda vão demorar para chegar, não tem porque lhe levar para o assento de pedra do dragão agora.

—É tudo culpa daqueles monstros traidores em Porto Real! –Ela disse–Eu vou acabar com eles, vou entregar eles aos homens torturadores das masmorras! Vou arrancar membro por membro deles e entregar para os dragões, vão me implorar para morrer!

Quando ela sentiu outra dor, sentiu algo molhado entre as pernas. Ela subiu as saias.

—Pelos deuses…–A serva ficou pálida ao ver o sangue surgindo.

Seu marido soltou uma praga ao ver a cena.

—Vou chamar o meistre! –Avisou Daemon, se virando e saindo em passos apressados.

A serva ajudou a tirar a roupa suja de Rhaenyra, a deixando apenas com a fina camisa de linho.

Rhaenyra sentia como se tivesse um dragão dentro dela. Não apenas em sua barriga, rasgando sua carne, mas um outro dragão furioso queimando dentro dela, enchendo o coração dela com chamas de ódio. Uma raiva vingativa a consumia como o fogo de dragão consome a carne de uma cabra.

—Alicent vai pagar por isso! –Ela gritou. –Ela vai sofrer a minha ira, vai pedir misericórdia pelos filhos amados dela e eu vou retribuir fazendo eles sofrerem mais! Aquela puta velha dos sete infernos vai rezar aos deuses pela minha misericórdia!

Rhaenyra agarrou a barriga ao sentir vários espinhos a perfurando novamente, ela gemeu de dor, e depois o gemido se transformou em choro que se tornou um grito de dor e fúria. O gritou se alongou até ela perder o ar e uma dor tomou conta da sua garganta. Uma fina película de suor se acumulou em seu corpo e passou a aumentar a ponto de todo o seu corpo estar brilhante e ela parecer encharcada.

O meistre e seu marido chegaram, junto de uma parteira. Eles se chocaram ao ver seu estado de agonia.

—Tire! Tire isso, agora! –Ela gritou em agonia– TIRE ISSO DE MIM!

O que quer que estivesse dentro dela se mexeu contra seu ventre e fez Rhaenyra soltar outro grito e chutou o ar. Sua cabeça balançava para todos os lados, quase desfazendo suas grossas tranças, como se ela fosse um animal em agonia.

—Pelos deuses! –Gritou Daemon novamente e se virou para o Meistre Gerardys–Faça alguma coisa.

O meistre correu até ela, junto da parteira.

—Está cedo demais–Ele diz ao ver a situação da princesa–Era para a criança nascer daqui uma volta da lua…

Rhaenyra o olhou com ódio.

—Mas já está nascendo, seu idiota incompetente! Faça alguma coisa!

Ela teve um espasmo de dor novamente, dessa vez, mais potente. A coisa dentro dela pareceu se empurrar para sair, fazendo Rhaenyra gritar e se debater, chutando e socando o ar.

—Talvez esteja virado. –Disse a parteira–Por isso tanta dor.

Rhaenyra apertava o próprio ventre, para tentar expulsar aquele ser dela.

—Está se mexendo–Ela disse–Não está virado, está se revirando!

—Oh, deuses, isso não está certo…

—É culpa daqueles traidores da Capital! –Rhaenyra gritou–Isso não aconteceria se não fosse por eles, que a fúria dos deuses joguem a sua ira contra eles! Que eles ardam no inferno ardente.

A fúria dentro de Rhaenyra a consumia, e parecia que o bebê em sua barriga sofria. Ela começou a apertar e arranhar o ventre, para tirar aquele ser dela; o meistre e a parteira a seguraram pelos pulsos para fazê-la parar.

—Princesa, por favor–Disse Gerardys–, isso vai lhe fazer mal!

—Sou eu quem vai fazer mal! Ah, aquela vagabunda da Alicent e a profanação mestiça que ela chama de filhos! Aquela puta me paga!  

—Mãe? –Uma voz infantil a chamou.

Quando Rhaenyra se virou, percebeu que era de seu filho Joffrey. Junto dele, estavam Luke e Jace. Baela também estava lá.

—Ouvimos gritos…–Disse Jace, chocado com a cena–O bebê já está nascendo? 

—Joff…–Ela disse, mas começou a gritar ao sentir mais pontadas de dor.

Daemon se virou.

—Saiam! –Ele gritou. –Vocês não podem ver isso!

 

Jaecaerys olhos para mãe, chocado e atordoado.

—Mãe, você vai ficar bem?

 

Daemon forçou um sorriso.

 

—Ora, sua mãe é uma mulher forte! Ela vai ficar ótima!–Ele se virou para a esposa na cama–Não é, querida?

 

—EU VOU DECAPITAR OS FILHOS DA ALICENT! –Ela berrou em uma fúria sem igual– DEPOIS EU VOU COLOCAR AS CABEÇAS DELES NOS ESPETOS SOB AS MURALHAS E OBRIGAR ELA A VÊ-LOS POR DIAS! DEPOIS EU VOU ENFIAR UM ESPETO PELO RABO DELA, VOU ARRANCAR A CABEÇA DELA E BANHAR EM BRONZE EM BOTAR NO MEU PENICO! E DEPOIS EU VOU DAR OS CORPOS DE TODOS ELES PARA SYRAX COMER!

 

—Viu? Ela está ótima! –Disse Daemon, nervoso, levando os garotos para fora e saindo junto—Cuidem dela. –Ele disse antes de fechar a porta dos aposentos, meio que como uma ordem, com uma ameaça naquilo que não foi dito.

 

—Não se preocupe, Vossa Graça–Disse o Meistre Gerardus– Vamos cuidar de você e… da sua criança.

 

Mas não foi como o meistre pensava; depois de um dia inteiro, Rhaenyra foi colocada no chão em um momento, em cima de uma manta, com os servos segurando cada lado e a levantando… E depois eles a deixavam cair com tudo no chão. O seu corpo fazia um baque surdo ao atingir o chão, uma dor lancinante afetava as suas costas, fazendo-as arder em brasas. 

Ela foi jogada cerca de três ou quatro vezes, mas sem resultado. Durante todo esse tempo, era possível ouvir Syrax rugindo com ódio e agonia no pátio.

Foram três dias. Por três dias Rhaenyra se enfureceu e sentiu dor. Três longos dias de agonia, onde Rhaenyra diversas vezes queroa apenas morrer. Dias onde ela gritou e disse todo o tipo de praga de sua boca, juras de vingança contra seus inimigos… E ao bêbe dentro dela. O ser rasgava sua carne, machucava de uma forma que nunca ocorreu em seus outros cinco partos. Era como se aquele ser fosse a raiva dentro dela, lutando para sair de seu frágil corpo e liberar as chamas da raiva.

Foram trazidas várias cordas para Rhaenyra segurar e ajudar a fazer força, mas em nada ajudaram.

Quando tudo estava quase acabando, foi quando as dores pioraram. Ela podia sentir a dor daquele ser monstruoso, se estreitando dentro dela, rasgando mais a sua pele enquanto era expelido para fora do corpo dela.

 

—Está quase acabando! –Disse o cansado meistre Gerardys, exausto, mas mantendo suas energias por ela.

 

Apesar do meistre estar certo, isso não fazia a dor dela diminuir, pelo contrário, Rhaenyra gritou como nunca.

 

— Monstro, monstro, saia, saia, SAIA!

— Pelos Deuses–Disse o Meistre, ao pegar a criança. –É… É uma… Uma menina…

Quando finalmente tudo pareceu acabar, Rhaenyra estava tonta, frágil, cansada, e coberta de suor; seus músculos e seus ossos estavam doloridos, principalmente nas partes íntimas. Ela respirava fraca e dolorosamente, enquanto sua visão ficava turva.

 

O meistre lhe deu leite de papoula para acalmar a dor, junto de uma pasta preparada para ela não passar fome e não precisar fazer força para comer.

 

A parteira que segurava a criança ficou horrorizada ao ver a criança, uma das serviçais deu um grito e saiu correndo e outra vomitou.

—Deixe-mvê-la...–Disse a Rhaenyra, fracamente–Eu quero vê-la…

 

—Majestade…–O meistre tentou intervir.

—Me deixe ver ela… Me deixe ver… Minha filha…

O meistre fez um sinal para que a parteira se aproximasse, apesar de relutante, ela fez o que era mandada.

Era possível ver a cauda da criatura caindo por um dos lados. Rhaenyra esticou um braço para alcançar o bêbe coberto por panos. 

Quando ela viu, ficou horrorizada.

Era um ser disforme, cheio de escamas e espinhos. Seus olhos eram cegos e enormes chifres coroavam sua cabeça.

Rhaenyra se afastou, enojada com a visão daquele monstro. A ideia de que seu belo corpo havia parido aquele horror a deixava enojada.

—Tire daqui! –Ela disse, virando a cara–Afaste essa coisa nojenta de perto de mim! Jogue isso fora!

 

Depois disso, a parteira cobriu a horrenda criatura novamente e saiu às pressas do aposento. A visão daquele monstro a deixou enjoada, tonta… tudo girava ao seu redor enquanto seu corpo perdia as últimas forças e tudo ficava escuro.

 

Quando ela acordou, Daemon estava ao seu lado.

Rhaenyra passou a mão no ventre. Ainda estava inchado, dolorido… Mas sentia um vazio nele também, e isso era o que mais doía nela. O vazio que deveria ser preenchido com o riso de um bebê, tinha apenas dor e sangue dentro dele.

—Daemon? –Ela chamou, fracamente.

Ele a ouviu e se virou para ela.

—Finalmente você acordou. –Ele disse, sem emoção.

—Quanto tempo? –Ela perguntou. –Quanto tempo dormi?

—Um dia inteiro. –Ele respondeu. –O meistre Gerardys lhe deu leite de papoula, para você suportar a dor.

Rhaenyra descansou a cabeça no travesseiro. Apesar do apoio do bom meistre, ela ainda sentia dor. Não apenas em seu ventre e em suas pernas, mas em seu coração. Essa era a parte mais destruída em seu corpo.

—Seus vassalos já chegaram–Disse Daemon–Lorde Corlys e Rhaenys já chegaram no primeiro dia, junto da tropa Velaryon, Staunton de Pouso de Gralhas, Massey de Bailepedra, Bar Emmon de Ponta Afiada, Sor Steffon Darklyn da de Valdocaso entre eles, trouxe a coroa de seu pai e um punhado de apoiadores com ele.

Ao ouvir aquilo, a raiva de Rhaenyra voltou a tomar conta de seu corpo. Suas mãos apertaram as cobertas. Aqueles lordes eram uma ninharia.

—Então não foi um pesadelo. –Ela disse com amargura na voz–, meu meio-irmão realmente roubou o que é meu.

Seu marido assentiu.

—Alicent e seus verdes o coroaram no fosso dos dragões. –Ele disse. —Já fazem mais de dez dias, mas esconderam tudo muito bem.

Aquilo a deixou chocada.

—Dias? Esconderam a morte de meu amado pai por dias? 

Ele confirmou com a cabeça, novamente. A mão dele se fechou em um punho.

—A vadia da filha de Otto é uma víbora astuta, assim como o pai–Ele disse. –Seu meio-irmão foi coroado por Criston, com a coroa do conquistador e a espada do mesmo, toda a população foi vê-lo, junto de seu dragão dragão dourado. Foi a merda de um grande espetáculo.

—Foi apenas uma pantomima. –Rhaenyra respondeu, com a vida voltando em sua voz. –O trono é meu. Eu sou a herdeira do meu pai!

Seu tio assentou.

—É claro que é, mas Westeros talvez não aceite tão facilmente.

—Westeros vai defender a rainha de direito. –Ela disse–Ou vai sofrer as consequências!

Daemon a analisou.

—O quê quer dizer?

—Lembra de Vaemond? –Ela perguntou.

Daemon ficou em silêncio ao ouvir o nome do homem que há muito tempo ousou falar que os filhos de Rhaenyra eram ilegítimos; ela o mandou decapitar e dar o corpo de comer a Syrax. Ninguém ficaria no caminho dela e ficaria impune.

—Temos dragões–Disse Rhaenyra–Nosso poder reside nisso, se algum lorde nos desafiar, vai sofrer por isso.

—É, pode até ser. –Disse Daemon–Mas você está fraca agora, e não podemos arriscar uma guerra tão cedo. Não ainda.

—O quê pretende? –Ela perguntou, curiosa.

Daemon levantou a mão.

—Agora não–Ele disse. –Temos que tratar de outras questões agora; sua recuperação, sua coroação e…–Ele hesitou 

—Nossa filha? –Ela perguntou.

Seu tio-marido assentiu.

—Ela… Nós nos preparamos para a crema-lá. Você acha que aguentaria.

Rhaenyra se ergueu, com dificuldade.

—Leve-me até minha filha. Ela precisa de mim.

O Meistre foi chamado para lhe dar mais leite de papoula e apaziguar a dor dela, apesar de seus protestos de que ela não deveria se levantar.

Sua dama de Companhia, Elinda, ajudou o príncipe a levantar a rainha. Rhaenyra rangeu os dentes e aguentou a andar. Suas pernas estavam bambas e bem afastadas, sua coluna doía e seu ventre ainda estava ferido.

Foi com grande dificuldade que ela foi vestida e seu cabelo trançado. Ela usava tranças como a rainha Visenya, e em seu coração, tinha a mesma coragem dela. A passividade da Rainha Rhaenys ou mesma da amada Rainha Alysanne não iria ajudar ela em uma guerra, ela tinha que ser forte.

Ela saiu da torre do Dragão Marinho com dificuldades, cada passo era uma luta.

No pátio do Castelo, uma pequena pira foi montada para onde sua filha seria queimada. Apesar da chuva, não haveria problema para acenderem o fogo, pois a dragão de Rhaenyra, Syrax, ainda presa em suas enormes correntes, estava no pátio como sempre, ela seria usada para queimar seu bebê. Diversos lordes estavam esperando por ela lá, o velho lorde Celtigar junto de sua esposa Rhaenys, a ex-sogra de Rhaenyra; os lordes se Staunton, Lorde Massey, e o rico lorde Bartimos Celtigar, da Ilha da Garra; o cavaleiro Darklyn que havia trazido sua coroa estava lá, assim como Erryk Cargyll, gêmeo de sor Arryk, e sor Lorent Marbrand, das terras ocidentais; junto de todos esses lordes estavam os filhos de Rhaenyra, Jace, Luke, Joff, Aegon e Viserys; assim como suas enteadas e primas, Rhaena e Baela.

O manto branco que fugira de Porto Real foi até Rhaenyra.

—Minha Rainha, que os deuses sejam bons, fugi assim que pude, mas não… Mas não pude evitar o pior.

—Você não podia fazer nada. –Ela o acalmou–Porém, trouxe-me seu apoio e a coroa de meu pai. Isso já é mais do que os seus irmãos traidores.

Sor Erryk abaixou a cabeça ao ouvir aquilo, afinal, seu irmão de sangue estava do outro lado.

 

Daemon a levou para perto dos filhos, eles a rodearam, mas nenhum disse nada. Todos estavam tristes e desnorteados com a chocante mudança de rumo que a pacífica vida deles em Pedra do Dragão tomou.

Rhaenyra se virou e olhou para a pequena pira no centro do pátio. Era tão minúscula… Nada como a grande pira dos Reis e Rainhas Targaryen.

—Onde está? –Ela perguntou e se virou para Daemon–Onde está o bebê?

Seu marido ergueu um braço e fez um sinal com a mão, mandando alguém se aproximar.

Quando Rhaenyra se virou, viu seu bobo, Cogumelo, levando a disforme bebê em seus braços.

—O bobo da corte? –Aquilo a deixou estarrecida

—Ela é muito pequena e frágil–Daemon tentou explicar, embora claramente desconfortável e infeliz com a situação.

Quando o bobo estava perto da pira, Rhaenyra se moveu, com certa dificuldade, até ele.

—Me dê– Ela ordenou.

—Rhaenyra…–Daemon tentou acalmá-la.

Ela o ignorou e pegou com cuidado a bebê enrolada em panos dos braços do anão. Ela a embalou, como se estivesse viva. Como fez com seus outros filhos no passado.

Ela afastou o pedaço de pano e viu a face daquela que deveria ser sua filha. Lágrimas brotaram de seus olhos, se perdendo na chuva.

—Desculpe–Ela disse–Não era para ser assim… Não era assim que você deveria ser recebida pelo mundo. Eu sinto muito.

Ignorando a dor e as lágrimas, ela andou com dificuldades até a pira funerária, rangendo os dentes. Cuidadosamente, Rhaenyra cobriu a filha e a deitou na pira, como se estivesse deitando um de seus filhos no berço.

—Adeus–Ela disse–Eu queria que você tivesse sido perfeita como deveria ser. Como todos os seus irmãos foram. –Ao soltar ela, suas mãos tremiam nervosamente.

Daemon a ajudou a se afastar mais facilmente da Pira.

—Você sempre quis uma filha. –Ele disse. –E Rhaena iria amar ter uma irmãzinha. –Apesar de seu marido não dizer, ela sabia que ele também queria mais uma filha para cuidar. Ele sempre era mais feliz com os filhos.

Ao se afastarem, Syrax se aproximou um pouco da pira arrastando os enormes elos de sua corrente pelo pátio.

Sua dragão abriu as asas e cuspiu seu fogo amarelo em direção a construção de madeira.

Rhaenyra viu as chamas consumirem a única filha que os deuses lhe deram. A filha que ela perdeu antes de sequer criar boas memórias. Tiraram isso dela, assim como tiraram seu pai e agora querem tirar o seu trono.

Tal qual as chamas consumiam o corpo de sua deformada filha, chamas de ódio consumiam Rhaenyra.

Chega de lágrimas, pensarei em vingança 

—O nome dela era Visenya. —Ela disse enquanto observava as chamas. — Ela foi minha única filha, e eles a mataram. Roubaram minha coroa e assassinaram minha filha, e vão responder por isso.


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