Margaery Tyrell: A Rosa Dourada de Highgarden 🌹 escrita por Pedroofthrones


Capítulo 13
A Fantasma de Winterfell




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Sansa estava jantando com Jon nos aposentos dele, Rickon foi dispensado mais cedo, pois era muito novo e eles tinham que discutir planos para o futuro.

—Seus tios partem amanhã, por que não vieram para uma última ceia? –Questionou Jon.

—Creio que meu tio-avô não queria partilhar da vossa companhia. –Ela disse, sabendo que ele já sabia disso. –E Edmure está cuidando dos lordes dos Rios, ele não quer nenhuma briga.

Jon assentiu, sem se interessar de fato.

—Bom, o Vale nos deus um bom número de grãos, acho que boa parte poderá ficar mais no norte; seus tios não poderão levar tudo.

—Na verdade –Ela disse–, é bom que boa parte não fique no Norte… Bom, pelo menos não em Winterfell.

Jon parou de olhar para os pergaminhos e olhou para ela, analisando-a com seus escuros olhos cinzas.

—Que tem em mente? Não podemos deixar Winterfell morrendo de fome.

—E não vamos. –Ela respondeu. –Com poucas pessoas aqui, não vai fazer falta, não por muito tempo.

—E quer levar tudo para o Sul?

Ela balançou a cabeça.

—Stannis quer ir para a Muralha certo? Ele vai levar seus soldados, vai precisar de grãos para eles e os patrulheiros.

Jon ficou em silêncio por um tempo.

—Quer entregar Winterfell para o inimigo. –Ele deduziu, não era uma pergunta. –Nem ao menos espera um cerco pelo que vejo.

—Bom, se as histórias de dragões forem verdadeiras, não acho que Winterfell teria muitas chances… E ele acabou de ser reconstruído.

Seu irmão assentiu lentamente, analisando cada palavra do que ela havia dito.

—Mas… E nós? –Ele perguntou, curioso com o que ela tinha planejado.

—Você disse que queria ir ajudar o Stannis na Muralha…

—Mas que não deixaria você e nossos irmãos. –Ele interrompeu. –Uma promessa que eu deveria cumprir, mas talvez eu possa abrir mão…

Ela assentiu.

—É só levarmos Rickon para Skagos e…

—E você para o Vale? Sem chance, é muito arriscado… Mas realmente, seu plano pode funcionar. –Ele admitiu. –Talvez você possa ir para a última Lareira dos Umber, ou quem sabe para Karhold, não acho que eles lhe fariam mal lá. Porto Branco seria bom, mas os inimigos podem passar por lá…

—Jon, eu não vou deixar nosso lar.

Ele parou de falar e a olhou, um tanto surpreso.

—Não.

—Sempre precisa ter um Stark em Winterfell! –Ela lembrou.

—E serei eu.

—Você é importante demais para manter o Norte unido. –Ela disse. –Rickon é só uma criança e precisaria de um regente, e não gostaria de Stannis tomando conta de nada por aqui, os lordes não iriam aceitar.

—Mas e você? –Ele perguntou. –Também é importante.

—Sim, mas não vou abandonar nossa casa. –Ela disse. –E Daenerys não vai querer me ferir e nem as ladies daqui.

Apesar de demonstrar confiança, Sansa tinha medo dentro de si, pois se lembrava do que Joffrey lhe fizera no passado, quando estava nas mãos dele.

—Perder Winterfell é perder o controle do Norte. –Jon rebateu. –Seremos reis sem reino?

— Perder nossas vidas é uma perda maior. –Ela disse. –Nós perdemos Winterfell antes, e depois o reconstruímos. Se estivermos em vários locais, será mais fácil para ter o inimigo, eles nem vão saber onde estamos mesmo.

—Mas não vai ser difícil imaginar…

—Mas já é um tempo precioso.

Jon estava prestes a lhe responder quando alguém bateu à porta do aposento. 

—Rainha Sansa– Disse o meistre Crassen. –Uma carta do Vale.

Sansa pegou a carta de suas mãos e o mandou embora com um gesto. Ela rompeu o lacre de cera e abriu o pedaço de papel.

—Sua amiga Myranda? —Perguntou Jon.

Sansa assentiu. Não era bom Jon estar ali agora.

—Ela…

—O que está escondendo Sansa? –Jon perguntou, cruzando os braços. –E onde está Arya?

Sansa suspirou.

—Desde quando você percebeu?

—Demorei para perceber, de fato, mas era óbvio que eu ia notar o sumiço de Arya e como você nunca fala dela. E então?

Antigamente, Sansa pensou, você nem sequer a deixaria sair um minuto de sua vista.

Sabendo que era inútil resistir, Sansa lhe entregou a carta.

Conforme Jon lia, ela pode ver seu rosto ficando minimamente surpreso e com raiva. Após terminar de ler, ele amassou o pedaço de papel com as duas mãos e deu um longo suspiro.

—Você mandou Arya para buscar sua amiga presa e não me disse nada? –Ele perguntou irritado. –Sansa, eu sou seu Rei e irmão!

Ela não se deixou abalar.

—Margaery é mais do que uma amiga–Ela se defendeu. –Ela é uma refém valiosa.

Jon abanou a cabeça.

—Os Tyrell são um grande exército. –Ele concordou. —Mas estão longe, e não controlam mais todos os vassalos. E, de qualquer forma, nem sequer sabemos se eles iriam nos apoiar.

—Mas nós estamos desesperados. —Ela disse. —Jon, nós não temos chance.

Jon soltou um grunhido.

—Acha que eu não sei? –Ele pergunta irritado–Os lordes não querem a paz!

—Garanto que eles irão ficar bem pacíficos quando encontrarem um dragão!

Seu irmão respirou bem fundo.

—E sobre o que Margaery disse para Myranda? –Jon perguntou. –Acha que ela diz a verdade? Aegon é falso?

Isso para Sansa ainda era um assunto nebuloso; não seria uma surpresa para ninguém que o tal "Aegon VI" fosse falso, mas filho de um Pentoshi e sobrinho de Varys? Isso seria um escândalo inimaginável… Mas Margaery poderia apenas estar mentindo para queimar a imagem do homem que matara a sua família? Se assim fosse, Arya iria permitir?

—Não sei… –Sansa respondeu. –Mas não vejo porque Margaery arriscaria uma mentira tão grande assim.

—Ela tem seus motivos. –Jon disse. –Aegon e Daenerys destruíram a vida dela. De qualquer forma, Daenerys é legítima, e isso ninguém dúvida. 

Ela assentiu.

—E os apoiadores deles não vão dar ouvidos a tais calúnias, tal qual fizeram com os Lannister. –Sansa disse, arrepiada ao pensar em como Cersei Lannister e sua corja eram piores do que ela imaginava. –Mas, ainda é algo que podemos usar.

Jon abanou a cabeça.

—Não. Não sei se será uma boa ideia, não agora. Deixe isso pra lá, Sansa. Não sabemos se será sensato usar algo assim, a fúria dos Targaryen pode ser terrível.

Sansa tinha mais a dizer, porém, preferiu se manter calada. Apenas assentiu.

Jon a olhou por um tempo, como se esperasse que ela falasse algo. Um silêncio pairou entre os dois até ele falar algo:

—Onde está Arya? –Ele quis saber. –No Vale?

Ela assentiu.

—Sor Albar mandou uma carta da capital, de uma coca que os levou–Explicou. –Ordenei que Myranda colocasse Arya em correntes e a jogasse nas masmorras se fosse necessário; mas ela não poderia deixar Arya sair do castelo.

—Acha que ela vai ter que fazer isso?

Ela deu de ombros.

—Arya está mudada. Antes já era necessário botar uma coleira nela, agora…

—Agora ela já deve estar fugindo, se é que já chegou no Vale. –Ele disse. –Sua colega nem deve ter levado a sério o que você disse, e mesmo que tenha, ela não estará rigorosa como deveria.

Infelizmente, ele devia estar certo. Se Arya tivesse chegado aos Portões da Lua, já devia ter fugido.

—Só espero que não machuquem o amigo dela. –Disse Sansa. –Ela parece gostar dele.

—Sansa, eles claramente são amantes.

Ela fez uma careta.

—Acha que eu não sei? –Ela disse–Jon, eu não sou idiota.

—Bem, eu só imaginei…

—Eu sei que eles são amantes, não sou uma criança inocente.

—Realmente, já está até desacatando seu irmão e tramando escondido dele. –Ele disse em um tom cortante. –Imagino que seu marido também não saiba.

Sansa ficou um pouco ruborizada.

—Não, Harry não sabe.

Jon estudou o rosto dela por um tempo.

—Ele é seu marido, que tipo de esposa faz esse tipo coisa?

Ela se manteve calma.

—Não se faça, você nem ao menos gosta dele! –Ela disse–E eu fiz o que fiz para nos salvar, ter Margaery pode trazer a Campina, e, caso não aconteça, também não vai piorar nossa situação.

Jon balançou a cabeça.

—Você colocou a nossa irmã em risco nessa missão–Ele diz— E colocou a irmã do atual lorde da Campina em risco, se ela morrer na viagem ou nas mãos dos Targaryen, será por sua causa, Sansa. Além do trono de ferro, isso pode nos dar problemas com a casa da Campina.

—Arya tomou a decisão dela, não a obriguei a nada. –Sansa diz, mas a verdade é que ela sabia que Jon não estava enganado. —E Willas pode nos ajudar, ela é irmã dele.

Seu irmão deu uma meia risada.

—Acha mesmo que ele fará isso? –Ele perguntou, como se ela tivesse falado uma piada. —Ele pode até querer, mas…

—Mas lordes dificilmente vão aceitar fazer algo pela irmã dele? –Ela perguntou, num tom cortante. Sabia exatamente o que ele iria dizer. —Meninas são menos importantes.

Um silêncio tomou conta do aposento.

—Sansa, eu não quis lhe ofender. –Jon disse–Mas é assim que as coisas são; Margaery é uma vida em comparação a todas as outras do reino da Campina, e Willas deve proteger seu reino.

Ela assentiu.

—Eu sei, se ao menos Arya tivesse conseguido salvar as primas dela também… Agora a Capital ainda tem mais reféns do que nós.

—Sansa–Disse Jon, com uma certa rispidez na voz–, sabe que isso não iria nos ajudar. Eu sei que doí, mas você sabe.

Ela abaixou a cabeça.

—Eu sei… Só que tinha que tentar, Jon.

Ele assentiu.

—Sei que fez o que fez com boas intenções, mas eu sou seu Rei e irmão mais velho, tem que acreditar nas minhas escolhas.

—Tal qual Robb? -Ela disse, nem sabendo de onde tinha tido coragem para falar, mas, finalmente, ela disse o que tanto a atormentara por tanto tempo desde que saira do Vale. –Eu achei que ele viria, mas ele não iria me libertar, não é? Eu não era assim tão importante.

Jon se mexeu desconfortável na cadeira.

—Sansa… Nosso irmão era Rei, isso não quer dizer que ele não se importasse com você ou com Arya.

—Mas quer dizer que nós não éramos prioridade.

Um silêncio tomou o local, novamente

Jon parece ter entendido para onde aquela conversa iria.

—Sansa, eu nunca vou deixar nada acima de você ou de Arya. –Ele esticou a mão na mesa, mas parou e depois recuou quando chegou perto da mão dela, como se tivesse medo de tocá-la. –Vocês são minhas irmãs, minha família. Nada é mais importante do que você duas.

Arya é sua irmãela pensounós nem mesmo temos esse laço.

Ela assentiu.

—Eu sei. –Ela disse, esticando a mão e tocando o longo rosto de seu irmão. Ele lembrava muito o pai deles. —Você também é minha família, Jon. Acredite ou não, eu só quero que tudo termine bem para nós.

Ele sorriu. Um sorriso triste e cansado.

—Mas você não tem porque fazer nada, Sansa.

—Por que não?

Ele riu.

—É minha irmã mais nova–Ele respondeu de forma simples. —Não têm motivos para fazer nada, não enquanto eu estiver aqui.

Ao ouvir aquilo, ela afastou a mão.

—Fui eu quem trouxe o Vale e a comida para o exército! –Ela disse. –Eu trouxe comigo um exército valente e que já ganhou batalhas na rebelião do Robert!

Seu irmão franziu o cenho, confuso.

—Eu sei… Mas já está em casa.

—Nem por isso estou segura…

Seu irmão a olhou como se ela estivesse louca, mas logo deu-lhe um olhar compassivo e colocou uma mão dela entre as suas.

—Acho que você tem que se acalmar agora, irmã. –Ele disse. – Está muito cansada, passou muito tempo perdida e com medo. Agora já está em casa, com seu irmão e seu exército.

Aquilo deveria ter acalmado ela, mas não o fez. Não conseguia simplesmente acreditar que ela teria de ficar sem fazer nada quando sua casa estava indo contra dois Targaryen.

—Eu estou em casa com meus dois irmãos. –Sansa concordou. –É por isso que eu não posso me dar ao luxo de não fazer nada! O norte precisa de toda a casa Stark unida se quiser sobreviver a qualquer que seja a ameaça.

Seu irmão pareceu ficar desconfortável com aquela conversa, mas assentiu.

—É claro que tem, e você já fez o que pôde. Por hora, descanse, irmã. A tempestade ainda não chegou aqui. Você já fez demais por agora.

Ela ficou um tanto irritada com a última frase, mas se calou sobre isso. Ao invés disso, ela deu um beijo na bochecha de Jon.

—Boa noite. –Ela disse, se levantando e se dirigindo até a porta.

—Sansa. –Jon chamou, fazendo-a se virar.

—Sim? –Ela perguntou, sem esconder a irritação.

—Vamos seguir o seu plano. –Ele disse.

Ela suspirou.

—Sério?

—Você acredita mesmo que vai dar certo? –Ele perguntou. —Se Daenerys ou Aegon a capturar…

—Eu estarei nas mãos deles. –Ela disse–Mas dessa vez, não vou precisar ser resgatada. Acredite em mim, Jon, deixe-me provar que sou útil. 

Jon franziu o cenho.

—É isso que você quer? –Ele perguntou. –Esse plano todo é para se provar?

Ela quase ficou sem palavras, mas logo conseguiu achar o que precisava dizer.

—Eu sou uma Stark. –Ela disse. –Uma loba. Não tenho medo dos usurpadores.

Jon assentiu, mas não lhe pareceu que ele acreditou em suas palavras.

—Certo, então… Boa noite, irmã.

Sansa fez uma reverência profunda e deixou os aposentos.

A verdade é que ela temia ser deixada de lado, temia novamente ser uma vítima ou um peão; fosse com os usurpadores, ou mesmo com os lordes do Norte e do Vale. Ela já sabia que Lady Anya, a outrora protetora de Harry, estava a cada dia mais petulante, em assuntos de estados e guerra. Amanhã ela devia ir falar com Sansa novamente sobre assuntos políticos.

Saudades de quando ela estava quieta, Sansa pensou, mas pelo menos ela não é nenhuma Cersei Lannister.

Isso a fez pensar em como estava a antiga rainha; sem coroa, despojada de poder, humilhada aos olhos do povo, e com tantos pecados em sua vida, Sansa sabia que a outrora rainha Lannister devia estar com seu orgulho ferido. Talvez, para ela, fosse até pior do que a morte.

Parte dela achou que deveria estar feliz pela desgraça da mulher que um dia traiu sua confiança, mas percebeu que não estava feliz.

Cersei perdeu tudo, mas onde isso me deixou mais perto da vitória?, ela se questionou. Talvez não tivesse vitória alguma para ninguém no fim desta tão longa e triste canção que era tocada desde a morte de seu pai.

Sansa só poderia torcer para que Margaery e, principalmente, Arya, estivessem em segurança no Vale. Se a jovem amiga dela estiver bem, ainda haveria como conseguir apoio da Campina… E ela não teria sangue inocente em suas mãos.

Antes de ir até seus aposentos, Sansa foi se encontrar com Petyr.

—Então, o que minha rainha quer de mim? –Petyr perguntou.

Sua cabeça numa bandeja de prata, ela pensou. Por hora, Baelish ainda poderia ter a sua utilidade.

—Recebi mensagens de Miranda sobre Margaery. –Ela disse.

Petyr levantou uma sobrancelha e afagou o bigode.

—Ah, então era isso que Arya estava fazendo! –Ele disse. –Muito bem, minha rainha, soube esconder isso muito bem!

Sansa ignorou os elogios.

—Margaery nos diz que Aegon não é filho de Rhaegar, mas de um Pentoshi. Um tal de Illyrio…

Os olhos de Petyr brilharam.

—Mopatis?

Ela balançou a cabeça.

—Isso importa? Ele não tem direito ao trono.

—Mas Daenerys tem! –Petyr a lembrou. –E, com ela sendo esposa dele…

—De qualquer forma –Sansa continuou. –Isso nos dá alguma vantagem, mesmo que mínima. Quem vai querer seguir o filho de um estrangeiro qualquer?

—Hmm… Deveras. Mas isso ainda pode nos dar problemas. –Ele lhe avisou. –Os usurpadores vão odiar saber disso.

Sansa assentiu. Ela sabia dos riscos, mas, já que paz não era uma opção, iria corrê-los do mesmo jeito.

—Tem mais. –Ela avisou. –Aparentemente, além de filho de um Pentoshi, ele é, ou pelo menos assim alega Margaery, descendente da antiga casa Blackfyre.

Petyr alisou o bigode.

—Por que Varys apoiaria o velho amigo nisso?

—Poder? —Sugeriu Sansa. Para ela, tudo feito por pessoas como Varys e Petyr era por isso.

Petyr, entretanto, abanou a cabeça.

—Não. —Ele disse, de forma enfática. —Deve ter mais... —Ele fanziu o cenho. —Mas não sei o poderia ser. Homens como Illyrio fariam loucuras por seu filho, isto eu sei. Mas não existe motivos para Varys ir tão longe ao apoiar o filho dele, a menos que...

—Ele também seja parente deste falso Aegon. —Sansa disse, chocada com o próprio raçiocinio.

Nessa vez, nessa única vez, Sansa pode finalmente ver o choque no rosto de Petyr Baelish. Seus olhos verdes mais esbugalhados do que nunca, o suspiro causado pelo choque, a mão levada até boca, escancarada pela surpresa. Neste momento, ela sabia que Petyr havia sido finalmente superado por outro jogador.

Mas, tão logo quanto veio, o choque passou, e deu lugar a um riso.

—Varys foi realmente tão longe não foi? Ele realmente conseguiu! Sim, Varys, o grande jogador!

Sansa se afastou um pouco, desconfortável com a risada dele.

—Não importa. –Ela disse entre dentes. –Quero que você faça as notícias voarem! Agora!

—Você está aqui apenas para isso? –Ele perguntou, intrigado. –Seu amado rei do Norte não mandou ele mesmo que o meistre mandasse as cartas?

Sansa ignorou as insinuações certeiras dele.

—Faça o que mandei. –Ela disse, e saiu andando, sem querer ficar mais um instante com ele.

Quando ela estava para botar a mão no ferrolho e abrir a porta, Mindinho disse:

—Não confia nele, minha rainha? –Ele perguntou. –Achei que se sentiria segura aqui, na sua casa, com a sua família.

Ela respirou profundamente. Não, ele não jogaria jogos com ela.

—Faça o que eu lhe mandei. –Ela abriu a porta e saiu.

 

Em seus aposentos, ela encontrou Harry, sentado em uma cadeira em frente a lareira.

Olha só, ela pensou debochadamente, ele não está com nenhuma prostituta desta vez!

Seu marido a olhou de forma vazia por um instante, até voltar a olhar para as chamas na lareira.

—Boa noite. –Harry disse, secamente. –Como foi o jantar?

—Nada demais. –Ela disse, não lhe contando nada sobre a conversa.

—hmm… –Ele nem parecia a ouvir.

Sansa pegou uma cadeira e se sentou ao lado dele. Não era frio em Winterfell, nunca seria, mas estava se sentindo tão sozinha, que aceitaria até a companhia do marido.

Apenas o crepitar da lareira podia ser ouvido, até que Harry quebrou o silêncio entre eles:

—Então, Sansa, vai me contar onde está Arya?

Ela se virou para ele.

—Por qual motivo você se importaria, posso saber?

—Os motivos de ser seu marido. –Ele disse, irritado, mas calmo. –Vamos, sei que planejam algo.

Sansa suspirou. Ele já a conhecia bem demais, de fato. E, além do mais, ele logo iria descobrir a verdade mesmo…

—No Vale. –Sansa disse, olhando para o rosto louro de Harry.

Harry respirou fundo, talvez para se acalmar, mas ela logo viu ele ficar vermelho e a olhar de forma raivosa..

—Eu sabia! –Ele disse. –Eu sabia! Estava escondendo algo de seu próprio marido! Colocou a sua irmã em meu reino, sem minha permissão? Myranda está nisso, não é? E aquela mula da Mya… Ah, e aquele dornês loiro e o bastardinho que segue a vossa irmã para todos os cantos como se fossem os cachorrinhos dela, não é? As putinhas dela... Seu irmão também está nisso? Ou Petyr?

—Fale baixo, Hardyng! –Ela disse, sabendo que ele odiava ser chamado assim pelo antigo nome. –Não se atreva a falar assim comigo, não na minha casa!

Harrold se levantou da cadeira com uma enorme fúria, empurrando a cadeira e fazendo-a cair no chão e soltar um baque surdo retunbante.

—Eu deveria lhe bater por me destratar assim! –Ele gritou, apontando um dedo para ela. Seus olhos azuis brilhavam graças a luz das chamas. –Não se atreva a me destratar assim.

Sansa conseguiu se manter calma –ou pelo menos transparecer assim– e se levantou.

—Vai me bater? Bata! –Ela disse. –Você não tem coragem, Hardyng! Os lordes do norte vão fazer uma guerra aqui mesmo se me virem machucada, e meu irmão me daria sua cabeça, caso sequer suspeite que foi cruel comigo.

—Sua vaca, psicopata! –Ele berrou. –Eu te amei, dei o exército do Vale inteiro para você,te trouxe para casa, e é assim que você me trata?

—Ha! Me amar? Você amava a ideia de uma coroa na vossa cabeleira! –Ela disse, se sentindo tão malvada quanto Arya. Estava em Winterfell, e ela não iria aguentar insultos ali.

—Você não tem o direito de dizer o que eu sinto! Não sabe como é viver com você; fria, distante, falsa, cínica…

Ele está me chamando de Cersei Lannister!?

—Oh, é por isso que você vai atrás de cada mulher na vista? Por quê está triste com a esposa independente que não te elogia aos céus como todos os seus vassalos?

—Sansa, estou lhe avisando!

—Não! Eu estou lhe avisando! Toque em mim, ou mesmo sequer use esse tom comigo novamente, e será a última vez que o fará! Sou uma Stark de Winterfell, e não tolerarei isso em minha casa!

Harry não se encolheu com o pensamento, como acontecera em outros momemtos. Desta vez, ele a agarrou pelo pescoço, e a puxou para si. Sansa perdeu a compostura e começou a tentar soltar a mão dele, batendo-a com as suas, mas era inútil.

—Onde está toda a coragem dos Stark, agora? –Ele perguntou, e Sansa sentiu o bafo quente dele, fedendo a vinho. –Vamos, esposa, onde está a sua ousadia? Não é mais uma Rainha acima das outras?

Sansa tentou arranhar o rosto dele, mas ele permaneceu impassível. Ela ainda conseguia respirar, mas o ar entrava com dificuldade.

—Só um mísero aperto, e eu acabo com o seu sofrimento –Ele disse, parecendo insano, com umalágima caindo de seu olho esquerdo e deslizando pela bochecha. –E o meu também…

Para sua sorte, ele a soltou e ela voltou a pegar ar, mas suas pernas estavam bambas. Tossindo, ela fez esforço para não cair no chão e se deixou despencar com força na cadeira.

Quando Sansa olhou para Harry, realmente sentiu medo. Terminando de tossir e com a mão na garganta, ela fixou seu olhar no corpo dele, pintado de dourado de um lado e escuro do outro, graças as chamas, ele tinha um ar amedrontador. Ela se sentiu minuscula, sentada ali, enquanto ele ainda estava de pé, como um gigante.

Harry olhava para as mãos de forma perdida, como se nem soubesse o que elas eram. Depois, ele olhou para Sansa, fazendo-a se encolher.

Quando ele se aproximou, esticando as mãos até ela, Sansa soltou um som assustado e colocou as mãos sobre o pescoço pálido.

Harry se encolheu, e ela viu que ele até parecia quase tão assustado quanto Sandor quando ele veio ao seu quarto na batalha de Água Negra. Sim, o fogo, a brutalidade… as lágrimas… toda a situação com o Cação de Caça voltou em sua mente.

Harry se ajoehou em frente a ela, chorando.

—Pelos Deuses…–Ele disse, afundando a cabeça loira e chorosa dele no colo de Sansa. –Por favor, me desculpe… Eu… Oh, deuses, o que me tornei? Eu sinto muito, Sansa, eu lamento…

Sansa, tentando se manter calma e sabendo que não poderia correr risco algum de irritá-lo. Era quase como voltar a conviver com Joffrey, ela tinha que saber o que dizer.

—Está tudo bem, está tudo bem…–Ela disse, acariciando o louro dele. –Está tudo bem agora, Harry.

Harry balançou a cabeça nas vestes dela, agora um pouco molhadas pelas lágrimas.

—Não, não está…–Ele disse, terminando de chorar.

 

Quando amanheceu, Sansa acordou na cama dela. Inicialmente, ela não entendeu, até ver Harry se vestindo e botando uma bota de montar.

—Você me colocou na cama? –Ela perguntou. 

Ele assentiu, e se sentou beirada, ao lado dela.

—O que eu fiz ontem foi algo imperdoável, Sansa. –Ele disse, sua voz era calma e triste. –Não sei se foi a bebida ou puro ódio, mas aquilo não sou eu. Pelo menos não deveria ser…

Sansa semanteve em alerta, sabendo que ele poderia fazer algo; porém, podia sentir a tristeza e o desprezo na voz dele.

—Harry…

—Por favor, me deixe terminar, esposa. –Ele disse. –Eu percebo que falhei em te proteger, e, por isso, prefiro ir até o sul, com os vossos tios.

Uma parte dela queria dizer para ele ir, mas, apesar de tudo, ela sabia que Harry estaria apenas se matando ao descer o Gargalo… E tinha medo da parte dela que queria vê-lo morto.

—Ir para o Sul é suicídio. –Ela lhe disse. –O Norte é seguro. E, sinceramente, você não é um grande guerreiro.

Ele deu um sorriso triste.

—Você quer mesmo que eu fique, depois de tudo ontem a noite?

Não, ela pensou, mas disse nada. Ao invés disso, o que disse foi:

—Você é meu marido. Não lhe quero morto, mesmo que seja um marido ruim. –Ela disse, mas as palavras saíram vazias. –Vá para o Vale, se não para os Portões Sangrentos, para Ferrobles.

Harry pareceu de desgostar dela falar sobre o Vale.

—Ninguém me respeita no Vale. Não como respeitavam Jon Arryn e a memória de Lorde Eddard. –Harry disse, ressentido. –E não como o Norte respeita você, Sansa.

—Vai mesmo ir para Harrenhal?

Ele fez que sim com a cabeça.

—Posso morrer, mas será uma morte honrosa.

—Os homens deviam parar de procurar mortes honrosas…–Ela disse, tristemente. —Deviam se preocupar em viver, em ter paz na vida.

—Estranho ouvir isso logo da filha de lorde Eddard. –Harrold rebateu. —Pensei que honra fosse tudo para vocês.

Se sentindo cansada, e ainda apreensiva com a presença de Harry, Sansa apenas suspirou e o deixou ir.

—Faça o que quiser. –Ela disse.

A memória dele a enforcando a fez sentir um arrepio e levou uma mãe até o pescoço.

Harry pareceu ver aquilo e pareceu que ia esticar uma mão até ela, mas se segurou. Ele se levantou e foi até a porta, mas, ao tocar no aro de ferro, ele parou e se virou.

—Quando eu disse ontem que te amei era verdade –Ele disse. –Eu te amei quando era Alayne, e te amei como Sansa.

Sansa ainda se lembrava desse dia. De quando ela havia deixado a tinta escura de lado e seus cabelos acobreados estavam finalmente à mostra de todos; brilhando ante a luz dos archotes. Suas vestes não eram mais escuras e simples como a de uma bastarda, mas branco-prateadas. As cores Stark. Em seu pescoço, uma corrente estava presa, segurando o manto branco com um lobo costurado com fios de prata.

Todos estavam chocados, menos Petyr e Myranda –E, como ela descobriria mais tarde, Lady Waynwood, que apenas fingira estar surpresa no dia. Harry sorrira para ela e pegou em sua mão.

—Minha rainha. –Ele havia dito, e ela sentiu o amor em sua voz. Sorriu de volta para ele.

—Meu Rei.

Foi um momento lindo, como uma canção. Mas, como todas as canções, era só fantasia. Algo falso.

Como se lesse seus pensamentos, Harry disse:

—Eu achava que era o início de uma canção. A sua e a minha. Que eu iria levar uma donzela pra casar e ser seu salvador… Mas não era canção nenhuma, só os sonhos de um idiota manipulável. –Ele torceu a boca em desgosto. –Até minha protetora sabia e não me disse nada.

Sansa nada disse. Não sabia o que dizer, e, na verdade, ela nem queria. Estava farta de tudo. Farta de Harry e suas lamúrias, ela sempre foi uma boa garota e a vida não lhe dera nada em troca; seu marido a enforcaria e ela tinha que sentir pena? Não. Ela estava cansada disso.

—Você nunca me amou? –Ele perguntou. –Eu lhe dei exércitos, suprimentos, lhe trouxe para casa, e nada disso fez com que você amasse? Você só amou o Vale.

Ela sabia o que devia dizer; que o amava, que queria que ele ficasse, que eles podiam ser felizes… Mas o que falou foi:

—Não. –Ela respondeu. –Eu não o amei nem pelo Vale. Eu apenas queria Norte, e para tê-lo, tinha que ter você. Foi o preço que paguei.

Seu marido torceu a boca, como se o tivesse socado-o no queixo. Ele saiu sem nem lhe dizer adeus.

 

Antes de sair para se despedir, Sansa teve que tomar cuidado para esconder as marcas que Harry havia deixado em seu pescoço. Fazer isso não era algo novo para ela, pois sempre tinha que esconder os vários henatomas que Joffrey lhe infligia. Eram mais fáceis de esconder quando os ferimentos se encontravam em seus braços ou barriga; mas era mais complicado quando eram feitos em seu rosto.

Por sorte, Harry não havia deixado qualquer marca em suas bochechas, mas seu pálido pescoo tinha algumas marcas vermelhas escuras. Não eram tão feias e graves quantas marcas roxas que os soldados de Joffrey lhe infligiam. Esconde-las não seria mais fácil do que esconder uma marca no braço ou perna com mangas ou com saias de um vestido, mas era mais fácil do que rosto, pelo menos.

Sansa evitou chamar as empregadas e se vestiu sozinha, pegando um vestido de lã grossa, com a gola bem alta e com pele de lobo grossa. Por garantia, colocou um manto por cima. Sim, assim ninguém iria ver nada, pelo menos até Harry ir embora.

Parte dela queria falar tudo para Jon e seus lordes, farta de ser atacada por Harry... Mas isso só traria mais problemas para ela; não queria uma briga contra o Vale neste momento, precisava dele, e não era tola de achar que os lordes iriam todos se compadecer dela e defendê-la. Alguns podiam perfeitamente dar de ombros e falar que, por mais que não concordassem, Harry tinha esse direito sobre ela. Outros, iriam dizer que ela mereceu por ser afrontosa.

Ela já estava acostumada com ser culpada pelas próprias dores que lhe eram infligidas.

Após se arrumar, Sansa saiu para o pátio, onde seus tios e Harry –que os estava atrasando, pois decidiu sair de última hora–, estavam se preparando para partir com seu exército do tridente. Alguns cavaleiros do Vale também estavam lá, para seguir seu rei, mas era um número pequeno.

Olhou ao redor, mas não viu Rickon, apenas Jon.

—Onde está Rickon? –Ela perguntou para Jon.

—Acho que ele ainda não se acostumou com as despedidas, Sansa. –Ele respondeu. –Ele nunca nem viu os tios antes, mas… Parece que não suporta mais perdas.

E nem eu, pensou, se sentindo cansada.

Sansa foi até o seus tios, antes de ir falar com o seu marido.

—Não confie em Jon. –Seu tio-avô lhe disse. –Eu ainda acho que ele está tramando algo.

—Jon é meu irmão, tio. –Sansa disse, sorrindo. –O lema da minha mãe não lhe diz nada sobre família?

Pena que tia Lysa não o seguiu…

—Ele é seu meio-irmão. –Ele a lembrou. –E está no trono de seu irmão, Rickon.

—Rickon é seu herdeiro.

—Se viver. –Ele disse. –E se Jon não casar.

—Ele não vai… Recusou todas as prometidas, mesmo que não de forma oficial.

—Se você diz.

Edmure veio em auxílio de Sansa.

—Deixe-a, tio… –Disse Edmure, botando a mão no ombro do tio. –Temos que confiar em nossa sobrinha!

—Claro que confio nela. –Ele disse. –Não confio no meio-irmão dela!

—Calma, tio! –Sansa disse, cautelosa. –Fake com cuidado.

—Cuidado uma ova! –Ele disse e foi até o cavalo.

Edmure suspirou e balançou a cabeça.

—Ele se preocupa muito, mas é um bom homem.

Desde que não se preocupe como Lysa se preocupava com o filho…

—Sabe, você me lembra muito a sua mãe.

—Petyr diz o mesmo.

—Oh, você será uma lady tão bela quanto ela. –Ele disse, sorrindo. –Você… Não teria indicios de estar a espera de um herdeiro?

Sansa balançou a cabeça. Seu tio apenas assentiu e beijou sua testa.

—Você é uma grande rainha. –Ele disse. –Cat ficaria orgulhosa de você, acredite.

—Assim espero, tio. –Ela disse. –E, por favor, tome cuidado.

Após falar com os dois, Sansa tomou coragem e foi até Harry, mas a sacerdotisa de Stannis apareceu em seu caminho.

—Adeus, majestade. –Ela disse, com seu forte sotaque das terras das sombras. –Que o senhor da luz ilumine nossos caminhos.

Sansa franziu o cenho.

—Você vai com a comitiva? Mas e Stannis?

A alta mulher sorriu. O rubi em sua gargantilha brilhava.

—Stannis tem seu lugar a norte daqui. –Ela disse. –Meu rei quer ir para onde a verdadeira batalha vai se iniciar. Nada me agradaria mais do que ir com ele, mas meu Deus me chama no sul.

Sansa assentiu, tentando se afastar daquela mulher estranha.

—Bem, boa sorte. –Sansa disse, tentando se afastar. –Se me dá licença…

A mulher vermelha colocou as mãos nos ombros de Sansa, e aproximou o rosto para beijar sua bochecha.

—A rainha dragão se aproxima. –Ela sussurrou. –Eu vi nas chamas. Também vi você, criança.

Um arrepio subiu pela espinha de Sansa.

—O que você viu? –Sansa perguntou, sabendo dos poderes da sacerdotisa.

—Você, matando um gigante –ela revelou. –E enfrentando um dragão. Das cinzas que cairam no mundo, você, minha rainha, se reerguerá, como a grande rainha que seu povo precisa.

Sansa se afastou um pouco, mas acenou com a cabeça. Se sentia meio perdida ao ouvir aquilo.

—Obrigada pelo aviso –Disse, por fim. –E boa sorte em Harrenhal.

Melisandre sorriu.

—Eu irei proteger o mundo usando as antigas magias das pedras, Majestade. Acredite, todo o poder emana de Harrenhal.

Sansa assentiu mais uma vez, mas, dessa vez, conseguiu se afastar e ir até seu marido.

Harrold já estava praticamente pronto para montar e deixar Winterfell. Deixar sua esposa.

—Acho que isso é um adeus. –Harry disse ao vê-la, enquanto botava as luvas de montar.

—Vai mesmo aceitar a morte assim?

Harry terminou de colocar a última luva e se virou para falar com ela.

—Este é o fim, Sansa. –Ele disse. –Mesmo que ganhemos -o que, particularmente, acho difícil-, o que nós tínhamos já acabou há tempos, amor.

—Então o que será de mim? –Ela perguntou. –Vai mandar o Vale embora? Anular o casamento?

Ele riu, como fazia antes.

—Sempre pensando no que mais importa, esposa! –Ele brincou, mas seu sorriso era triste. –Não, Sansa, ainda estaremos casados no papel… Bom, ou quase, já que a fé não permite a bigamia, mas que os outros comam o cu de cada um dos sete deuses, eu te tive e é isso que importa.

Ela deu um risinho e corou ao ouvir aquilo.

—Se vivermos, eu volto para o Vale, e, você, pode ficar em sua casa, em Winterfell, com aqueles que realmente te amam como merece. –Ele disse. –Sei que é feliz aqui como nunca foi no vale, prefere essas muralhas frias e quebradas do que as do Ninho da águia; que assim seja. Fique aqui.

Sansa abaixou a cabeça. Se sentia um pouco culpada, pois a notícia de seu casamento ser um fracasso e que Harry nunca mais a veria deveria deixá-la triste, mas apenas a deixou aliviada e contente.

—Sinto muito, meu rei… –Ela disse.

Harry riu.

—Não sente não. E, mesmo que sinta, não é necessário. Nós nunca fomos feitos para sermos felizes, esposa. E, depois de ontem, matei as últimas chances que tinham… Se é que ainda existiam.

Isso a fez levar uma mão ao pescoço, por reflexo, e Harry fez uma cara de culpado. Apesar disso, ele se aproximou e pegou a cintura dela com um braço. Ela estremeceu, se segurando para não se afastar.

—Você merece alguém que a ame como deve. –Ele disse, afastando uma mecha do cabelo dela. –Alguém que lhe apoie e dê todo o amor que precisa e merece. Eu não consegui, mas pelo menos te trouxe para casa.

—Harrold…

Ele a puxou para si, beijando-a. Ela sentiu a língua dele se empurrando para dentro de sua boca e ela permitiu que entrasse e lambesse a sua língua. Era grosseiro e melado, mas ela aceitou como seu dever… Mas quando Harry empurrou a cabeça dela para frente e a apertou mais para perto de si, Sansa percebeu que ele realmente acreditava que ela ainda o amava.

Mas ela não o amou. Ela queria e até tentou, mas Harry já não tinha lugar em seu coração. Na verdade, estaria feliz de nunca mais vê-lo novamente.

Quando ele a soltou, ela estava sem fôlego.

—Adeus Sansa. –Ele disse. –Você foi o meu amor e minha perdição, mas eu faria tudo de novo.

Ela tocou nas covinhas dele, como fizera tantas vezes antes.

—Eu sempre lembrarei de você. –Ela disse. Pelo menos isso era verdade. –E de como você foi o cavaleiro que me trouxe para a casa e me reuniu com a minha família.

Ele sorriu e subiu no cavalo.

—E eu –Ele disse olhando-a por cima do ombro.  –Nunca esquecerei da donzela bastarda que conheci no Vale.

Os portões se abriram e a porta-elevadiça foi abaixada, Edmure deu um grito e ele, Peixe Negro e Harry, junto de todos os outros lordes, bateram as esporas em seus cavalos e foram cavalgando até atravessar os portões.

E lá eles se foram… sabia que dificilmente iria vê-los novamente.

—Imagino que deva ser difícil para você ficar sozinha. –Disse Petyr, átras dela. –Gostaria de companhia, minha rainha?

Sansa não se virou, observando os cavaleiros diminuindo com a distância.

—Fez o que mandei?

—Sim, Vossa Alteza.

—Ótimo. –Ela disse, se afastando, sem olhar para ele. –E eu não quero companhia agora, tenho que ir rezar.

—Certo, vossa graça. –Disse Petyr, e ela sabia que ele devia estar sorrindo. –E eu estarei esperando vossos serviços.

 

O bosque sagrado era um dos poucos lugares em que Sansa se sentia bem. Era vazio, mas não a deixava se sentindo solitária. Não era como o bosque de Porto Real, existia vida ali.

Ali, seu pai várias vezes rezara, poliu a Espada ancestral da família –agora perdida, graças aos Lannister, como sempre–Gelo.

Sansa se ajoelhou em frente a árvore coração. Seu olhar choroso como sangue parecia observa-lá.

Rezara tanto por Winterfell, mas não estava segura ali. Se sentia segura, de certa forma, mas sabia que não estava.

Edmure havia dito que ela era uma grande rainha, que sua mãe sentiria orgulho dela… Será? Ela já nem sabia mais o que os pais pensariam dela; se sentia tão diferente, que nem sabia mais se ainda era a velha Sansa Stark.

Olhou na árvore, em um pedido de ajuda.

—Me diga o que fazer –Ela pediu. –Estou perdida, pai…

Por um tempo, o silêncio pairou, até que a árvore falou.

Você é uma Stark de Winterfell, a Árvore Coração disse, tomando a forma do rosto de seu pai, enquanto o vento corria para todos os cantos, fazendo as folhas voarem. Em suas veias, correm os sangue dos primeiros homens. Lembre-se de nossas palavras.

—O inverno está chegando. –Ela disse, mas sabia que o inverno já estava entre eles. –Pai, me ajude…

Apesar de seu apelo, o rosto do pai sumiu, mas outro rosto começou a se formar. Uma aparência jovem.

Sansa…, ela o ouviu chamar no vento. Sansa…

E então, ela começou a reconhecer o rosto de seu irmão na árvore.

—Bran? –Ela perguntou, chocada. –Você realmente se foi?

Não, Sansa. Eu estou vivo, estou chegando.

Sansa estava atordoada. Estaria ficando louca? Será que finalmente os deuses lhe tiraram seu juízo?

Você precisa lembrar de quem você é, irmã, Bran lhe disse, através do vento. Nossa casa não está morta, nem você.

Uma folha vermelha caiu de um dos galhos e caiu ba testa de Sansa, como se fosse uma mão lhe tocando. Ela sentiu o toque de Bran sobre ela. Sem saber o porque, lágrimas brotavam de seus olhos, sem serem convidadas.

Ela pegou a folha com uma das mãos e a levou até o peito. Teria tudo sido um delírio?

Não, disse a si mesmafoi a magia de Winterfell falando comigo.

Se levantando do Bosque, Sansa já não se sentia mais amedontrada, nem solitária. Seu irmão estava vivo, e estava voltando para casa. Rickon e Jon podiam ir embora, mas logo iriam voltar. Arya também.

Logo, a alcateia iria se reunir. A casa Stark não estava morta.

Assim como eupensoueu também não estou morta, e minha canção só está começando.

Que a Rainha dragão viesse, ela iria lidar com ela.




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